António
Pinho Vargas*
O
que é que mais detesto em Cavaco? Nem sequer é propriamente o político, em
sentido estrito. Mas antes o facto de sermos todos, sobretudo os nascidos nos
seus consulados de 80 e 90, "filhos de Cavaco". Entendam-me, por
favor.
Que
valores transmitiu? Que formas insidiosas conseguiu fazer penetrar nas nossas
formas de vida? Que estragos provocou? O mais feroz individualismo, a ideia
fixa de conseguir sucesso a qualquer preço, a corrosão do carácter, a razão
profunda que conduziu muitos às maiores vigarices, aos maiores assaltos aos
bancos e ao enriquecimento acima de tudo o resto, a incultura colossal, a
ausência de qualquer pensamento de amizade, de amor, de solidariedade, de
respeito pelo outro, sempre pronto a ser reduzido a nada à cotovelada, a
cedência aos interesses mais mesquinhos como regra, tudo isto se espalhou na
nossa sociedade como um vírus, como uma doença mortal, como uma desgraça
colectiva, da qual apenas sobrevivem e mal aqueles que tiveram por trás de si,
ou dentro de si, uma força quase impossível de passar à prática perante uma tal
intoxicação semi-voluntária, semi-imposta sem nos darmos conta. Em suma, uma
profunda crise moral, que, concedo, surgiu em muitos lugares do mundo a par com
o triunfo do neoliberalismo, ideologia que apenas deixa livre a possibilidade
de querer vencer, enriquecer, humilhar e ignorar tudo o resto e todos os
vencidos.
É uma ideologia nefasta de todos os pontos de vista - nem na economia funcionou dada a sua ligação intrínseca à crise de 2008, a crise mundial do dinheiro virtual, do crédito a 0%, do endividamento tresloucado com o qual só alguns lucraram, crédito que, antes e depois de ser considerado mal-parado, provocou em 3 ou 4 décadas o aumento brutal das desigualdades no mundo. Não a inventou mas em Portugal foi o seu introdutor e principal instigador até hoje. Desta herança nunca poderá ter nenhuma espécie de desculpa ou de atenuante.
Sem perdão.
*António Pinho Vargas, em Facebook
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