terça-feira, 13 de outubro de 2015

Portugal. BASES SOCIALISTAS CONTRA GOVERNO DE DIREITA. QUEREM GOVERNO PS



Hélder Semedo, Coimbra

Foi a dirigente do Bloco de Esquerda que usou o termo que anunciou que o governo Passos, da coligação, já não era governo. Também Mariana Mortágua escreveu um artigo de opinião no Jornal de Notícias intitulado “Adeus, Passos”. O que os do bloco sabem, para dizerem o que dizem, a maioria dos portugueses não sabem, nem as bases do Partido Socialista sabem de fonte segura se o PS vai constituir o governo de uma esquerda unida. A vontade de que assim aconteça, entre a maioria das bases socialistas, é auscutável e num referendo interno vai vencer – se acaso António Costa declarar a sua vontade e concordância em ser primeiro-ministro com o apoio dos partidos à esquerda. Ao fim e ao cabo esta é a vocação do Partido Socialista e não o que tem acontecido em contra-natura, aliar-se à direita. O PS já perdeu muitos votos por se virar para a direita e fazer parte de alianças de uma direita que veio ao longo de décadas abusando e operando no regresso ao passado. Passos e Portas, neste governo que resistiu quatro alucinantes e malfadados anos, deu a machada final em tal tipo de políticas socialistas aliadas à direita. É evidente que Cavaco Silva contribuiu bastante para esta viragem escandalosa à direita, protegendo o governo a que chamou seu. Sendo pela calada seu mentor em determinados aspetos e políticas executadas. O extremismo desta direita fez com que a inquietante verdade sobressaísse. Por tal os portugueses deram a maioria à esquerda, Não há como negá-lo.

Vêm agora os detratores desenterrar o machado de guerra com o papão do PCP (que come criancinhas ao pequeno-almoço), perfilando-se nas fileiras reacionárias e antidemocráticas. Vimos isso em comentadores nas televisões, nas rádios, nos jornais. Mas também o vimos na elaboração de peças jornalísticas em vária imprensa escrita. Até parece que está tudo por conta do reacionarismo da direita saudosista. A chantagem psicológica exercida aos espetadores, aos ouvintes, aos leitores, é selvática e inadmissível. Assim se percebe quanto os meios de comunicação social estão na posse de uma direita com cores pseudo-democráticas em que aparece o cinzentão salazarista. Mais de quatro décadas depois do derrube do fascismo salazar-marcelista bastou elegerem um pseudo democrata como Cavaco para PR e, para o governo, uns meninos-prodigio parasitas - que quase nunca trabalharam e têm navegado na vida repimpadamente à custa dos seus partidos e da política - para que o tempo tivesse voltado para trás. Mais quatro anos e voltávamos a um fascismo moderno a que chamam neoliberal mas que deve ser conotado com a radicalização de políticas de direita perigosa antidemocrática e desumana. Razão mais que suficiente para o PS ter de estar, por vocação e vontade das suas bases militantes, dos socialistas, em oposição a isto.

Portugal é uma nação quase milenar que não deve rejeitar o seu europeísmo, mas que tem a obrigação de saber defender a sua soberania, em vez de bajular escandalosamente a senhora Merkel, toda poderosa da UE, e os mercados. Muito menos tem de ver as suas empresas estratégicas vendidas ao desbarato, quase oferecidas. Tudo isso e a miséria instalada são vergonhosamente gritantes. A favor disso tem sido a política e a prática do governo ainda instalado e dirigido por Passos e Portas. É contra tais políticas e práticas que as bases socialistas estão contra e querem uma mudança, querem que o PS seja governo com o apoio de uma esquerda unida. É assim a auscultação na zona centro de Portugal, no sul e também no norte. O PS tem de ser governo por ter legitimidade para tal. Cavaco Silva não tem espaço para o evitar e se nomeasse Passo e um governo da PaF, logo veria na Assembleia da República que a sua teimosia saudosista de fazer perdurar a direita nos destinos de Portugal estava condenada a ser derrubada logo no inicio da legislatura. Por muito tacanho e absoluto que Cavaco é não se disporá a cair nesse ridículo.

Portugal. “NÃO AVANÇÁMOS RIGOROSAMENTE NADA”, afirma Passos



Passos Coelho admitiu esta terça-feira que da reunião com António Costa nada resultou. Se o primeiro encontro correu mal, o líder do PSD considerou que esta segunda conversa com o secretário-geral acabou sem qualquer agendamento de voltarem a reunir.

Na prática, mantém-se o cenário de incógnita quanto a quem se segue na liderança de um governo.

Passos sublinhou que a coligação PSD/CDS-PP espera agora que o PS "faça chegar uma contraproposta", de modo a que se possa caminhar para "um guião" comum.

Recusando revelar se António Costa lhe transmitiu que pretende constituir uma solução governativa à Esquerda, com o PCP, Bloco de Esquerda e PEV, o presidente do PSD disse que aguarda do secretário-geral diga "se há ou não há vontade política de chegar a um entendimento".

Já António Costa considerou que o documento enviado pela coligação para esta reunião "não traduziu um esforço suficiente", "nem revela uma compreensão do quadro parlamentar em que estamos".

"Tivemos oportunidade durante a reunião de mostrar insatisfação perante o documento", disse o líder socialista, acrescentando que deu a Passos e Portas "17 ou 18 exemplos de lacuna", por o texto recebido ontem por email não ter como eixo central "o emprego".

Para Costa, PSD/CDS-PP falharam ainda ao não fornecerem "informação indispensável ao suporte financeiro", para que se pudesse compreender o impacto das "medidas que apresentaram". "Para avaliar da credibilidade", sublinhou.

Centralizando quase todas as suas palavras no documento que esteve em cima da mesa nesta reunião, António Costa avisou que pretende ultrapassar à Esquerda "um muro na democracia portuguesa que existe desde 1975".

O socialista concluiu dizendo que não é o PS que foge de um acordo com a Direita, "o tempo é que se está a encurtar". "Gostaria que o esforço que o PS tem feito tivesse igual correspondência", disse.

Nuno Miguel Ropio – Jornal de Notícias – Foto Hugo Correia / Reuters

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Portugal. A ESQUERDA PODE ESPERAR?



Miguel Guedes – Jornal de Notícias, opinião

O velocímetro da política, de tanto acelerar, quase bate nos limites máximos do PREC. E não bate num limite vermelho ou num cordão sanitário. Por muito que custe a alguns, é apenas a democracia a funcionar com todo o espectro político em jogo. O que muitos parecem temer. Nos últimos dias, para uma boa parte dos responsáveis partidários e grande parte dos comentadores e analistas político-económicos, passamos de um país sentado bem no centro do novo oásis da retoma para um país no limite do abismo. Perante a hipótese do lobo mau rumar em viagem de negócios com o capuchinho vermelho, agitam-se as bandeiras da demagogia e do papão, do golpe de Estado e da tomada do poder, os vales para entradas súbitas no campo pequeno e equaciona-se o menu de degustação dos comunistas ao pequeno-almoço. Marques Mendes (também ele?) tem a ousadia de comparar resultados eleitorais com classificações de futebol. Aos inspiradores do medo, talvez servisse rasgar a Constituição contra a qual governaram durante 4 anos. Mas a Constituição democrática é esta e as legislativas não são uma corrida para primeiro-ministro. Em qualquer país com semelhante regime, nada haveria a discutir. Dinamarca, Bélgica, Luxemburgo, Letónia, quatro países da UE onde quem formou Governo não foi quem obteve mais votos ou ganhou as eleições. Mas em Portugal, o défice de democracia corre em paralelo com o défice de politização e de entendimento sobre o que é o nosso regime democrático. Sim, a maioria é de Esquerda e - pasme-se - parece entender-se. E agora? Venha de lá esse medo ou "isto é só fumaça"? Exercitem a calma, "o povo é sereno".

Este pode ser o grande acto único da Esquerda em Portugal. Não há memória de algo assim e para um exemplo de proximidade é necessário recuar ao apoio de Álvaro Cunhal a Mário Soares na segunda volta das Presidenciais de 86. A capacidade de reacção deste PCP ao resultado eleitoral foi extraordinária. Em poucos dias, Jerónimo de Sousa, envolto num resultado seguro mas algo ambíguo devido à ultrapassagem do BE, afasta o cenário da sucessão nomeando o ex-padre Edgar Silva para futuro desistente nas próximas presidenciais, disponibiliza-se para um inédito entendimento de governo com o PS de António Costa (admite-se até que António Filipe tenha sido aventado para o Ministério da Justiça) e enche um comício em Lisboa. Pressionado ou não pelo seu poder autárquico, o PCP posiciona-se para dar a volta ao seu mundo, dando um passo para novas construções. Catarina Martins foi a vencedora mais inequívoca destas eleições e sabe-o. Já na campanha eleitoral estabeleceu pontes para o PS. Quando declara, após o encontro com Costa, que pelo BE "o Governo de Coelho e Portas acabou hoje", não nos fala pelo lado do seu optimismo. A declaração política é notável e pressiona o PS a assumir a sua inteira culpa se não quiser governar à esquerda em Portugal.

A possibilidade de entendimento existe e é confirmada por movimentos contrários: as declarações de António Arnault e a demissão de Sérgio Sousa Pinto. Resta saber se o PS é capaz de enfrentar as suas próprias clivagens, ultrapassar a pressão dos seus pares europeus e pensar em dois planos: se e quando. António Costa quer avançar já que não pode chegar ao Congresso do PS com duas derrotas eleitorais no bolso. Por outras palavras, só continuará líder se for primeiro-ministro. Já "quando" é uma palavra incerta. Pode votar, desde já, com a anunciada moção de rejeição do BE e PCP ou esperar pelo Orçamento do novo Governo. Esperar pelo Orçamento, caso o PS consiga resistir a dois meses de pressão internacional para se desligar de entendimentos com BE e PCP, poderia ser o melhor movimento táctico da Esquerda. A Esquerda, recusando o Orçamento de Direita, ganharia tempo, massa crítica, compreensão do fenómeno e saberia dizer, com toda a propriedade, que - mesmo viabilizados - Passos e Portas nada perceberam do que lhes foi dito. E, já agora, poderia ter acesso à execução orçamental das contas do país que a Direita teima em não querer apresentar (quais os reais números do défice e da segurança social?).

Solitário, Cavaco Silva teima em fazer a rodagem a um veículo que já foi para abate. Como se ainda conduzisse o seu Citroën BX pela Figueira da Foz em 85, desiste do seu 5 de Outubro para pensar em todas-as-hipóteses-do-seu-único-cenário e pode ser obrigado a não ter alternativa senão à de assistir ao BE e PCP a dar entrada no arco da governação durante o seu mandato. Em nome da estabilidade que tanto pediu... Esta coisa da democracia é lixada.

*Músico e advogado

Portugal. O PCP NUNCA SE DEMARCOU DO ESTALINISMO?



PAULO PENA  - Público

O jornalista José Milhazes afirmou que o PCP continua a ver Estaline e Lenine como “timoneiros do povo”. Terá razão?

A frase

“O Partido Comunista Português, ao que eu saiba, nunca se demarcou dos hediondos crimes cometidos por Lenine e Estaline, continua a ver nestes dois carrascos “timoneiros do povo”, sempre foi fiel e servo do Partido Comunista da União Soviética até ao fim deste.”

O contexto

Esta frase foi publicada num artigo de opinião do jornalista José Milhazes no jornal online Observador. O título: “Não quero participar a segunda vez no mesmo filme” sobre a possibilidade de um acordo entre PS, PCP e BE para viabilizar um possível Governo em Portugal. Como se trata de uma opinião, procuramos analisar a veracidade de um dos pontos da argumentação, tendo em conta uma latitude de interpretações que não se esgota num mero “sim” ou “não”. Uma demarcação política, como aquela que Milhazes sugere faltar ao PCP, é sempre relativa. Depende de quem avalia a demarcação. Para uns, uma demarcação será sempre insuficiente, para outros, uma mera distanciação já será uma demarcação bastante. Tentemos olhar para esta questão com distância: Haverá sempre quem considere que alguém não se demarcou suficientemente de um facto embaraçoso. A nossa vida política tem disto inúmeros exemplos.

Mas para responder à pergunta desta Prova dos Factos existem várias fontes disponíveis. O PÚBLICO contactou para isso vários historiadores portugueses, especialistas em História do PCP. Estas são as principais conclusões. A primeira crítica do PCP a Estaline surgiu no V Congresso do partido, na clandestinidade, em 1957, na sequência da “desestalinização” promovida por Nikita Krushov. O PCP, na altura, vivia um “desvio de direita”, que Cunhal viria a “corrigir”, depois da sua fuga de Peniche, em 1961. Mas isso são outras histórias… É o próprio Cunhal que, no seu livro Partido com Paredes de Vidro retoma a crítica: “O V Congresso, realizado em 1957, estimulado também pelo desvendar do culto da personalidade de Stáline e de todas as suas negativas consequências, instituiu normas de democracia interna e inseriu-as nos Estatutos do Partido então aprovados." (p.88). Pode-se alegar que a crítica a Estaline é mitigada. Cunhal, mais uma vez, em 1990, já depois da queda do Muro de Berlim, deu uma entrevista mais clara. Os entrevistadores, do Independente, eram Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas. Sobre Estaline, Cunhal disse o seguinte: “Eu não vou aqui propor ou sugerir a leitura, mas eu escrevi muitas páginas sobre a caracterização do estalinismo. O estalinismo é isto, e isto, e isto. E uma coisa que não queremos e que repudiamos. O estalinismo como ideologia, como acção política, como organização do Estado, como organização do partido, como intervenção antidemocrática interna ou externa do partido. Naturalmente que rejeitamos. Aliás, há um país muito acusado de métodos estalinistas, a Roménia. Já nós, os comunistas portugueses, tínhamos grande dificuldade de contactos com o Partido Comunista Romeno.”

Outra questão, completamente diferente, é a da relação do PCP com Lenine. Neste caso, o partido não só se continua a afirmar como “marxista-leninista”, como não concordará com a expressão “hediondos crimes” usada pelo jornalista. Porém, no mesmo livro de Álvaro Cunhal, existe uma crítica à “infalibilidade” das referências comunistas: “Mas ser leninista não consiste em endeusar Lénine, em utilizar cada frase de Lénine como verdade universal, eterna e intocável, em substituir a análise pela citação, em responder aos acontecimentos através de afirmações de Lénine, mesmo quando se trata de novos fenómenos que Lénine não conheceu no seu tempo, em abafar, com a transcrição de textos e com a presença dominadora do nome e da efígie e da autoridade desse nome e dessa efígie, a investigação, a análise e o espírito criativo no estudo e interpretação dos novos fenómenos .” (pág.140)

Os factos

Para o PCP, a “demarcação” bastante faz-se quando o partido afirma que “tem a sua própria concepção de socialismo e o seu próprio projecto para a edificação em Portugal de uma sociedade socialista”. O que significa que não vê em Lenine ou Estaline, ou Castro, ou qualquer outro modelo de sociedade socialista, um exemplo a seguir. Pelo contrário, o PCP afirma ter objectivos que se “diferenciam e distanciam” dessas práticas. No seu programa “Uma Democracia Avançada no Limiar do Século XXI”, o partido demarca-se da experiência da URSS e do antigo “bloco de Leste”. “Nesses países (…) acabou por instaurar-se (…) um "modelo" que violou características essenciais de uma sociedade socialista e se afastou, contrariou e afrontou aspectos essenciais dos ideais comunistas.” Exemplos disso? “Um poder excessivamente centralizado nas mãos de uma burocracia (…) a acentuação do carácter autoritário do Estado (…) uma economia excessivamente estatizada (…) um centralismo burocrático baseado na imposição (…) confusão das funções do Estado e do partido (…); “um distanciamento entre os governantes e as massas, o uso indevido do poder político, o abuso da autoridade, a não correspondência da política e das realidades com os objectivos definidos e proclamados do socialismo, desvios e deformações incompatíveis com a sua natureza.”

Em resumo

Cada um fará a sua interpretação, à luz das suas próprias convicções, se a demarcação face a Estaline é proporcional à gravidade dos crimes conhecidos do ex-líder soviético. Mas neste caso, parece indiscutível que houve um repúdio público do PCP e do seu histórico líder Álvaro Cunhal sobre aquele período histórico. Uma situação diferente é a de Lenine. Aí, o PCP continua a defender o seu legado teórico, embora procure distanciar-se de qualquer “culto da personalidade”. Ou seja, a expressão “timoneiros do povo” não é aplicada a nenhum dos dois por nenhum documento do PCP. Quanto ao “seguidismo” em relação à União Soviética, essa ainda é uma matéria controversa na historiografia. 

Moçambique. RENAMO QUER MANTER A SUA PRÓPRIA SEGURANÇA



O porta-voz do líder da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), António Muchanga, disse em conferência de imprensa, que o seu partido não confia na Polícia da República de Moçambique (PRM) e quer a criação de uma força de altas individualidades constituída por seus homens.

Onélio Duarte, Moçambique – Folha 8

Estes pronunciamentos surgem dias depois das Forças de Defesa e Segurança (FDS) terem invadido a casa do líder do maior partido da oposição, Afonso Dhlakama, na cidade da Beira, de onde recuperaram vário material de guerra que estava na posse dos seguranças da RENAMO, depois do ataque do dia 25 de Setembro, no distrito de Gondola, em Manica, na região central de Moçambique.

“Achamos que é tempo de seguirmos em frente dando prioridade a criação urgente de uma unidade de protecção de Altas Individualidades constituída por elementos da PRM e Forças de segurança da RENAMO porque nós não confiamos na PRM e ninguém deve ser obrigado a ser guarnecido exclusivamente por pessoas que não são da sua confiança”, disse Muchanga.

O Partido liderado por Afonso Dhlakama, quer que a questão da segurança de altos dirigentes seja a prioridade, enquanto procuram-se pontos de agenda convergentes para o encontro ao mais alto nível entre o líder da RENAMO e o Presidente da República, Filipe Nyusi, de modo a resolver vários problemas políticos que o país enfrenta.

Contudo, Muchanga afirmou que a presença das Forças de Segurança da RENAMO, é legal, porque resulta do incumprimento por parte do Governo moçambicano, do Acordo Geral de Paz (AGP) assinado a 4 de Outubro de 1992, na capital italiana, Roma.

Moçambique. Polícia admite ter actuado sem mandado na casa do líder da oposição



A operação na casa do líder da Renamo aconteceu um dia depois da chegada de Afonso Dhlakama à Beira.

A Polícia moçambicana admitiu esta terça-feira não ter mandado judicial para a invasão da casa do líder da Renamo na sexta-feira, justificando que a intenção era protegê-lo e evitar um eventual "aproveitamento maléfico" que pudesse atentar contra a sua segurança.

"Nós respeitamos os termos legais, mas, neste caso, foi uma acção para recolha de armas que estavam ilegalmente em mãos alheias e a criar situações de insegurança", disse Inácio Dina, porta-voz do comando geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), durante a apresentação do balanço da actividade policial na última semana.

A operação na casa do líder da Renamo (Resistência Nacional Moçambique), na cidade da Beira, aconteceu um dia depois da chegada de Afonso Dhlakama à Beira, oriundo de Gorongosa, na província de Sofala, onde reapareceu após quase duas semanas em lugar incerto, na sequência de um incidente entre as forças de defesa e segurança e a caravana do presidente da Renamo, no passado dia 25, em Gondola, província de Manica.

Durante a operação na casa do líder do maior partido de oposição, as forças especiais da polícia moçambicana, Unidade de Intervenção Rápida (UIR) e Grupo Operativo Especial (GOE), fortemente armados, invadiram a casa do presidente da Renamo, num bairro de elite na Beira, tendo detido guardas do partido.

De acordo com o porta-voz da PRM, a acção da polícia tinha a intenção de garantir a própria segurança de Dhlakama, evitando "um aproveitamento maléfico" que pudesse atentar contra o próprio líder da Renamo.

"O que aconteceu foi apenas uma recolha de instrumentos que poderiam ser perigosos para o próprio Dhlakama. As armas de fogo devem ser detidas pelas forças de segurança", salientou Inácio Dina, evocando a lei moçambicana, mesmo que, no entanto, admita que não houve um mandado judicial.

"Agora [Afonso Dhlakama] está em condições bem seguras", declarou o porta-voz da PRM, sublinhando que "a polícia sempre esteve atenta à sua protecção".

Rebatendo a versão da Renamo, segundo a qual a operação tinha como objectivo a recuperação de três armas de fogo esquecidas pelas forças policiais num suposto ataque à caravana de Dhlakama, Inácio Dina sublinhou que a intenção era desarmar um "grupo armado" que, contra o que anteriormente foi acordado, começava a colocar em causa a ordem pública, não se limitando à protecção do seu líder.

"Nós estamos a falar de várias armas que estavam a ser detidas ilegalmente por indivíduos e serviam para hostilizar as populações, criando uma instabilidade", afirmou Dina, enaltecendo a importância da "colaboração pacífica" do líder da Renamo.

Questionado sobre a exigência da Renamo de criação de uma equipa conjunta para a protecção de Dhlakama, o porta-voz da PRM disse que a decisão virá das lideranças políticas, considerando que esta não é a primeira vez que se discute a integração na polícia e no exército dos militares do maior partido de oposição em Moçambique.

"Nós estamos a espera de uma decisão", declarou Dina, salientando que, dentro do quadro legal moçambicano, a polícia está pronta para cumprir, mantendo a ordem e segurança pública.

Em menos de um mês, houve quatro incidentes graves entre Renamo e forças de defesa e segurança, três dos quais envolvendo directamente Afonso Dhlakama.

Moçambique vive novos momentos de incerteza política, provocada pela recusa da Renamo em reconhecer os resultados das eleições gerais de 15 de Outubro do ano passado e pela sua proposta de governar nas seis províncias onde reclama vitória, sob ameaça de tomar o poder pela força.

Lusa, em jornal i

TRIPULANTES DO NAVIO “TUNDER” CONDENADOS EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE



Os três principais arguidos no processo do navio pesqueiro afundado deliberadamente em águas são-tomenses, em abril, foram condenados a penas de prisão. E também terão de pagar 15 milhões de euros em indemnização.

Três tripulantes do navio pesqueiro "Thunder" foram condenados esta segunda-feira (12.10) por um tribunal de primeira instância de São Tomé e Príncipe. As penas variam de dois anos e oito meses a três anos de reclusão por falsificação de documentos, danos contra a natureza e poluição e condução perigosa de meio de transporte.

O chileno Alfonso Cataldo, capitão do navio, bem como os espanhóis Augustin Rey, chefe de máquinas, e Luis Miguel Fernandez, seu adjunto, também terão de pagar, em conjunto com a agência de viagens Equador, uma indemnização de 370 mil milhões de dobras (cerca de 15 milhões de euros), pelas consequências ambientais do naufrágio da embarcação.

O "Thunder" foi afundado deliberadamente em águas territoriais são-tomenses em abril. O navio de bandeira nigeriana foi perseguido durante mais de três meses pela ONG ambiental Sea Shepard desde a Antártida, onde os tripulantes foram localizados a pescar merluza negra, que rende bom dinheiro no mercado negro.

O juiz Jesuley Patrick Lopes esclareceu que, por serem réus primários em São Tomé e Príncipe, as penas dos condenados podem ficar suspensas por cinco anos, desde que a indemnização seja paga nos próximos 30 dias.

Os réus também receberam a pena acessória da expulsão do país por constituírem um perigo. O advogado dos réus, Pascoal Daio, afirmou que vai recorrer da decisão.

No julgamento, que durou várias semanas, foram ouvidas dezenas de testemunhas.

Condenação "serve de exemplo"

O procurador-geral de São Tomé e Príncipe, Frederique Samba d'Abreu, manifestou-se satisfeito com o desfecho do processo. "É uma vitória para o Ministério Público e o Estado são-tomense, tendo em atenção o contorno transnacional das atividades praticadas pelos tripulantes do navio Thunder", afirmou.

Frederique Samba d'Abreu agradeceu a colaboração de vários países, entre os quais a Alemanha, e de instituições na fase de recolha de provas.

"Consideramos que, de facto, essa condenação vai servir de exemplo ao nível da criminalidade organizada transnacional", diz. "Penso que é uma mensagem que será passada aos indivíduos que eventualmente possam circular nos nossos mares, uma vez que temos uma área territorial muito grande. Apesar de sermos um país muito pequeno, o sistema judiciário fará um bom trabalho de investigação para responsabilizar essas pessoas."

Juvenal Rodrigues (São Tomé) – Deutsche Welle

“SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE PODE SER PORTO SEGURO PARA BARCOS PIRATAS”



O alerta é lançado pela ONG ambientalista MARAPA, depois do recente naufrágio ao largo da costa são-tomense de um navio procurado pela Interpol. A embarcação, de bandeira nigeriana, é suspeita de prática de pesca ilegal.

O navio "Thunder" afundou na noite de segunda-feira (06.04) a cerca de 9.500 milhas da costa de São Tomé e Príncipe. Vários membros da tripulação, formada maioritariamente por indonésios, foram resgatados por ativistas da Sea Shepherd, uma organização internacional sem fins lucrativos ligada à protecção do ambiente marinho. A organização não governamental (ONG) seguia há mais de três meses a embarcação suspeita de pescar ilegalmente na Antártida.

De acordo com informações da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) citadas pela agência de notícias Lusa, o navio "já mudou várias vezes da cor, de bandeira e de nacionalidade" e pratica "atividades ilegais que podem incluir tráfico de drogas".

Segundo o comandante da Capitania dos Portos de São Tomé, Rui Costa, o objetivo do "Thunder" era "vir a São Tomé fazer o transbordo da carga, a mudança de tripulação e posteriormente permanecer em São Tomé para preparar um novo registo e mudar de atividade de pesca, para assim obter uma nova licença".

Naufrágio planeado?

Os 40 tripulantes do navio encontram-se agora à guarda das autoridades são-tomenses, que prosseguem as investigações. O comandante da guarda costeira, Idalécio João, congratulou-se com a operação de resgate desencadeada pelos fuzileiros navais são-tomenses e negou que o país tivesse informação de que o navio estava a ser procurado pela Interpol. "Não recebi nenhuma carta da Interpol a dizer que o navio estava a ser seguido", sublinhou.

Entrevistado pela DW África, o capitão Sid Chakravarty do "Sam Simon", um dos navios da ONG Sea Sheperd, diz que as provas recolhidas evidenciam que houve uma intenção deliberada da tripulação em fazer desaparecer o barco.

"O navio afundou seis horas depois, o que indica que foi planeado. Se o meu barco fosse atingido e estivesse a entrar água, eu não evacuaria a minha tripulação enquanto a situação estivesse sob controlo", explicou.

Sid Chakravarty diz ter ficado surpreendido pelo facto de o navio ter sido agenciado pela Equador, em São Tomé. Uma prova que, segundo o capitão, alimenta a tese segundo a qual o proprietário e operador do navio, até ao momento desconhecidos, planearam e anteciparam esta operação de naufrágio.

"Contactámos o senhor Wilson Morais, [o funcionário da agência são-tomense Equador, que agenciou o navio que naufragou] que me disse que tinha sido contactado por uma agência espanhola para retirar a tripulação. Não lhe foi dito que o barco era procurado pela Interpol."

Sid Chakravarty acrescenta que o funcionário da agência são-tomense pensava estar perante "uma situação comum, em que a tripulação passa pelos controlos fronteiriços, é enviada para casa num avião e substituída por uma nova equipa."

"Porto seguro para piratas"

Para o ambientalista Bastien Loloum, da ONG MARAPA - Mar, Ambiente e Pesca Artesanal, o caso tem outras leituras. "O Thunder, que tinha como objectivo vir para São Tomé para poder descarregar material capturado de forma fraudulenta, carga ilegal, estava também a usar ferramentas nacionais e locais para poder continuar a sua atividade com cobertura administrativa", defende.

Bastien Loloum encara o episódio com preocupação. "Porque significa que as autoridades locais não têm tanto domínio daquilo que se passa no nosso porto, com barcos que vão e vêm - e que se calhar estão envolvidos em atos criminosos - e não temos capacidade de fiscalização dessas atividades."

Na opinião do ambientalista, "isso poderá significar que São Tomé pode ser um porto seguro para barcos piratas".

Esta foi a primeira que um navio de pesca naufragou em águas territoriais são-tomenses com tão elevado número de marinheiros.

Ramusel Graça (São Tomé) – Deutsche Welle

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE À PROCURA DE INVESTIMENTO EM LONDRES



O governo de São Tomé e Príncipe efectua esta semana em Londres reuniões com investidores e parceiros de desenvolvimento para procurar atrair investimentos para projectos no arquipélago, disse o primeiro-ministro segunda-feira em São Tomé.

Patrice Trovoada disse à agência noticiosa Lusa que o governo, no decurso das reuniões a decorrerem quarta e quinta-feira, pretende angariar meios financeiros para projectos considerados estruturantes, especificamente porto e aeroporto, turismo, prestação de serviços e transportes.
“Somos um país extremamente dependente da ajuda internacional, há um envelope previamente definido, vamos avaliar esse envelope (com os parceiros), vamos tentar reorientar alguns projectos e procurar que o montante da ajuda seja aumentado”, disse o primeiro-ministro.

O encontro com representantes do sector privado, na quarta-feira, é justificado pelo chefe do governo com o facto de ser o investimento privado “aquele que cria riqueza” e porque “o dinheiro público disponível para ajuda ao desenvolvimento está cada vez mais difícil.”

Entre os projectos qualificados de estruturantes estão o alargamento da pista e a modernização do aeroporto internacional de São Tomé e a construção do porto de águas profundas.

Angola, Portugal, União Europeia, Taiwan, Suécia, Noruega, Guiné Equatorial, Estados Unidos da América, Azerbaijão, Israel, Irão, Brasil, Agência de Desenvolvimento do Brasil, Arábia Saudita e Dubai figuram entre os países e instituições que vão estar presentes neste evento. (Macauhub/ST)

Angola. A IMPORTÂNCIA FUNDAMENTAL DA VERDADE



Rui Peralta, Luanda 

O diálogo franco entre o Governo angolano e a sociedade é um factor de grande importância, para que haja confiança no que está a ser feito. E nesta confiança reside a capacidade de superar os obstáculos. É na verdade e com a verdade que se gera confiança e com a verdade que o Povo angolano tem superado todos os momentos difíceis através da História.

É claro que tem importância fundamental destacar todas as frentes em que o actual executivo se encontra envolvido, mas sempre com verdade, com espirito critico e autocritico e nunca através de propaganda fútil e demagógica. A propagando só chega ao povo se falar verdade. Devemos ressaltar a importância da integração regional, que nos permitirá aceder ao mercado da SADC com mais de 200 milhões de consumidores e ao mercado da CEAC. Devemos realçar o fortalecimento do tecido empresarial, também em curso e explicar que promove a criação de emprego e permite a inserção dos jovens, no mercado de trabalho.

Devemos explicar que para reduzir a dependência das receitas provenientes da produção do petróleo é necessário consolidar e diversificar as fontes de receitas fiscais e avançar para um política fiscal racional que seja um instrumento para o desenvolvimento económico-social e para a efectivação da cidadania e dos direitos sociais. Devemos demonstrar a todos os cidadãos que existe uma benéfica relação onde há ganhos mútuos entre o Estado, o empresariado nacional e os mercados. Pôr o Estado a cumprir os seus papéis de coordenador, estruturador e regulador. É necessário desencadear a aceleração dos grandes investimentos públicos em diferentes frentes e explicar como isso vai ser feito. Sempre com verdade. Sempre com espirito critico. Sempre com uma atitude autocritica. Sempre confiante. Nunca mentindo e saber, sempre explicar, de forma convincente o porque é que tanto do que se pretende fazer e está a ser feito, não foi executado quando o momento foi mais propício, quando não estávamos num período de crise.

Explicar com verdade e assumir erros. Nunca ter medo de assumir os erros cometidos e aplicar sempre as análises critica e autocritica como mecanismos de correção e de optimização. Mobilizar o Povo e nunca escamotear os mecanismos de participação democrática e cidadã. Ouvir as massas, auscultar a sociedade e decidir em conjunto, sempre sob a orientação da soberania popular e nos princípios constitucionais.

Um exemplo e um modelo deste tipo de actuação é o Plano Director Geral da Província de Luanda, um instrumento fundamental (“de grande profundidade” como salientou o Camarada Presidente José Eduardo dos Santos) que transformará Luanda numa cidade eficiente, criativa e solidária, um passo de grande significado para cumprir com o Programa de Governo do MPLA, sufragado pelo povo angolano em 2012, que prevê a transformação qualitativa das capitais de províncias. Cidades democráticas, adequados ao exercício da cidadania e compatíveis com as necessidades do desenvolvimento e das dinâmicas de inserção na economia-mundo.

Falar verdade. Mobilizar com a verdade. Este é o princípio inerente aos que servem o Povo. Foi com a verdade que Angola nasceu e foi com a verdade que a Nação se afirmou. Por isso a certeza da vitória.

Angola. INFORMAÇÕES CONTRADITÓRIAS SOBRE ESTADO DE SAÚDE DE LUATY BEIRÃO



Autoridades garantem que a saúde de Luaty Beirão é estável, apesar de estar bastante debilitado. Família e amigos não traçam um cenário otimista relativamente à saúde do ativista angolano, em greve de fome há 22 dias.

De Angola chegam informações contraditórias sobre a saúde de um dos 17 ativistas acusados de planearem um golpe de Estado em junho passado. De um lado, os familiares e amigos descrevem um cenário crítico e preocupante. Por outro lado, as autoridades apresentam um diagnóstico menos alarmante.

"Clinicamente, Luaty está estável, embora debilitado pelo tempo que leva sem ingestão de alimentos. Neste momento está a ingerir apenas água e chá com um pouco de açúcar", disse à agência de notícias Lusa o médico Manuel Freire, chefe nacional do departamento de saúde dos Serviços Prisionais.

"Neste momento há risco de vida nenhum", afirma o médico. "Todos os órgãos estão em funcionamento. Ele está numa situação razoável, não vou dizer que está bem, bem, porque está debilitado. Mas até ao momento não corre risco de vida", assegura Manuel Freire.

Em perigo de vida

Entretanto, o ativista foi transferido da cadeia de Calomboloca para o hospital-prisão de São Paulo na passada sexta-feira (09.10). Dias antes, Luaty Beirão já tinha estado no hospital-prisão, sem no entanto ter recebido assistência médica, de acordo com a sua família.

Familiares do ativista dizem que continua a correr risco de vida. O ativista Carbono Casimiro, amigo de Luaty, visitou-o recentemente e manifesta-se otimista quanto ao desfecho do caso. "Psicologicamente ele está forte, não obstante o estado de debilidade física. Psicologicamente Consegui sentir muita firmeza no Luaty", disse à DW África. "Acho que a situação vai melhorar", acrescentou Carbono Casimiro.

O prazo de prisão preventiva de 90 dias foi desrespeitado neste caso. Mais recentemente, na última semana, o Ministério Público acusou os17 jovens da preparação de uma rebelião e de um atentado contra o Presidente da República, prevendo barricadas nas ruas e desobediência civil que aprendiam num curso de formação.

"Insensibilidade humana"

A condução deste caso mereceu novamente duras críticas do ativista e jornalista angolano Rafael Marques. "O regime sempre foi autoritário e sempre foi brutal e sempre teve uma grande capacidade em esconder e disfarçar a sua insensibilidade humana", disse à Lusa.

"Temos um Presidente [José Eduardo dos Santos] que é insensível ao sofrimento dos seus concidadãos e neste momento ele continua a não conseguir disfarçar essa insensibilidade", critica Rafael Marques.

Têm sido feitos vários apelos para que Luaty Beirão desista da greve de fome, que já dura há três semanas, mas o jovem segue firme na sua decisão. Nem os seus familiares conseguem dissuadi-lo.

Nádia Issufo / Lusa – Deutsche Welle

PR GUINEENSE NOMEOU NOVO ELENCO GOVERNAMENTAL, CHEFIADO POR CARLOS CORREIA



O Presidente da República, José Mário Vaz nomeou ontem a noite através do decreto presidencial N° 12/2015, novo elenco governamental constituído por 15 ministros e 14 secretários de Estado. Contudo, ficam por preencher as pastas da Administração Interna e dos Recursos Naturais, interinamente sob controlo directo do Primeiro-ministro, Carlos Correia.

No decreto presidencial, o Chefe de Estado lembra que a “nomeação dos membros do Governo é uma competência partilhada entre o Primeiro-ministro e o Presidente da República, devendo refletir uma convergência que não foi possível na totalidade dos nomes propostos”.

“Reconhecendo que o prolongamento das discussões tendentes a uma melhoria substantiva da proposta do elenco governamental não é compatível com a necessidade e urgência na nomeação do novo Executivo, por um lado, e por outro, que o benefício resultante dessas discussões é menor do que os prejuízos causados pela não nomeação do Governo”, lê-se no decreto.

O Decreto Presidencial N° 12/2015, nomeia os seguintes ministros para o Governo liderado por Carlos Correia:

MINISTROS

– Malal Sane, ministro da Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares;
– Adiatu Nandigna, ministra da Defesa Nacional;
– Valentina Mendes, ministra da Mulher, Família e Coesão Social;
– Artur Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, Cooperação Internacional e Comunidades;
– Geraldo Martins, ministro da Economia e Finanças;
– Vicente Fernandes, ministro do Comércio e Indústria;
– Agnelo Regala, ministro da Comunicação Social;
– Odete Semedo, ministra da Educação;
– João Aníbal Pereira, ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural;
– Cadi Seidi, ministra da Saúde Pública;
– José António Almeida, ministro das Obras Públicas, Construção e Urbanismo;
– Aida Fernandes, ministro da Justiça;
– Wasna Papai Danfa, ministro da Energia;
– Luís Vaz Fernandes, ministro da Função Pública e Trabalho;
– Malam Jaura, ministro do Turismo e Artesanato;

SECRETÁRIOS DE ESTADO

– Conduto de Pina, secretário de Estado da Juventude, Cultura e Desportos;
– João Bernardo Vieira, secretário de Estado dos Transportes e Comunicações;
– Ildefonso de Barros, secretário de Estado das Pescas e Economia Marítima;
– Sana Nahada, secretário de Estado dos Combatentes da Liberdade da Pátria;
– Seco Cassamá, secretário de Estado do Ambiente;
– Luís Manuel Cabral, secretário de Estado da Ordem Pública;
– Ester Fernandes, secretária de Estado da Administração do Poder Local;
– Suzi Barbosa, secretário de Estado da Cooperação Internacional e Comunidades;
– Degol Mendes, secretário de Estado do Plano e da Integração Regional;
– José Djo, secretário de Estado do Tesouro;
– Tomásia Manjuba, secretária de Estado do Orçamento e Assuntos Fiscais;
– Fernando Jorge Dias, secretário de Estado do Ensino Superior e Investigação Científica;
– Martilene Fernandes dos Santos, secretário de Estado da Gestão Hospitalar;
– Abu Camara, secretário de Estado do Ordenamento do Território.

Assana Sambú – O Democrata

Cabo Verde. BOA GOVERNAÇÃO NÃO RIMA COM ILUSIONISMO



Expresso das Ilhas - editorial

O Primeiro Ministro José Maria Neves na segunda-feira passada declarou total confiança no ministro do Ambiente, Habitação e Ordenamento do Território, Antero Veiga. O PM ausente do país há mais de duas semanas em digressão pela Ilha da Madeira, Portugal e várias cidades dos Estados Unidos para, entre outras actividades, fazer o lançamento do seu livro, homenagear personalidades nas comunidades cabo-verdianas e discursar na Assembleia Geral das Nações Unidas não tinha ainda assumido uma posição sobre o caso do Fundo do Ambiente. Aliás, pelo longo tempo que se levou para esclarecer a opinião pública depreende-se que nem o próprio ministro tinha os dados todos para isso. Não quis pronunciar-se nem antes nem depois das revelações apesar de solicitado pelos jornalistas e só veio a convocar uma conferência de imprensa 19 dias depois da manchete do jornal A Nação. Nas declarações à imprensa presente, o ministro acabou por confessar que o Fundo de Ambiente nunca tinha apresentado contas ao Tribunal de Contas e que ainda estavam a ser auditadas as contas de 2012, 2013 e 2014. Se se juntar a isso as intervenções designadamente de beneficiários do Fundo do Ambiente ligados ao partido no governo e as omissões governamentais em dotar o Fundo de órgãos próprios de decisão e de os fazer funcionar dificilmente se compreende a razão do Sr. PM em proclamar total confiança no Ministro Antero Veiga. Será que é para o colocar acima de qualquer crítica?

O PM, nas suas declarações de apoio ao Ministro, diz não concordar com a prática de não prestação de contas de recursos que ele próprio relembra que são dos cabo-verdianos e cabo-verdianas. Enfraquece a sua posição a partir do momento em que assevera que todos os fundos públicos devem prestar contas para logo a seguir afirmar categoricamente que no seu governo tem sido sempre assim, quando se sabe, da própria experiência do Fundo do Ambiente, que há uma prática contrária. Continua a enfraquecer a sua posição ao procurar desvalorizar as críticas, referindo-se ao ambiente de pré-campanha que diz já existir no país. Primeiro, porque o governo não deve assumir perante críticas públicas uma atitude sobranceira de quem não tem contas a apresentar a ninguém. Segundo, não pode escudar-se em pretenso tempo de campanha ou pré-campanha para desvalorizar revelações, críticas ou denúncias. Podia-se dizer que fazer isso é realmente um acto de campanha. E se a recusa em prestar contas é já estar em campanha pré-eleitoral, o que o público poderá pensar das viagens incessantes que os membros do governo fazem pelas ilhas protagonizando eventos múltiplos e aparecendo sistematicamente em situações que qualquer pessoa poderia classificar de campanha eleitoral pura e dura.

Aliás, é interessante que na sua alocução o PM faça um apelo que talvez fizesse mais sentido vindo do presidente da república. Pede serenidade aos partidos políticos, às câmaras municipais e a todos os órgãos de soberania neste período que já considera de pré-campanha eleitoral. Parece paradoxal que um chefe de um governo suportado por um partido político dirija a outros actores políticos tal pedido, mas não é. Está-se, de facto, perante um acto de ilusionismo puro: um chefe de governo partidário que já não é líder partidário e assume postura suprapartidária de quem não está em lides partidárias. Com que propósito, pergunta-se. Obviamente só pode ser por razões partidárias: a curto prazo, para deflectir críticas da sua governação, desarmar a oposição e ficar solto para demonstrar ao país em inúmeros momentos os exemplos da sua “gestão de impossibilidades”. A médio prazo, para deixar tudo em aberto. Entretanto vai estendendo o seu manto “mágico” de protecção aos ministros partidários que de alguma forma tropeçarem nos resultados omissos ou menos bons da governação e ficam sujeitos às críticas das pessoas e da oposição.

Accountability (responsabilização e prestação de contas) está no centro da própria ideia da democracia. Conseguiu-se em Cabo verde desviar um bocado desse princípio básico com ganhos claros para quem realmente governa e gere os recursos colectivos e com alguma estupefacção e desorientação para os cidadãos. Estes quando questionam falhas designadamente na economia, na sociedade, na segurança ou no emprego e procuram quem responsabilizar, recebem invariavelmente a resposta: a responsabilidade é de todos, mas o governo já fez a sua parte e está bem-feita. Se os resultados não são os melhores, do tipo crescimento raso, desemprego excessivo, insegurança e delinquência juvenil, os responsáveis só podem ser outros.

Todas as imbricações do Fundo do Ambiente apontam para o que não se devia fazer na gestão dos recursos público: não seguir os procedimentos previstos para a sua disponibilização; alimentar suspeitas de canalização para organizações de alguma proximidade política; cair na tentação de usar fundos no embate político com as câmaras municipais e no condicionamento eleitoral dos cidadãos; e negligenciar na apresentação de contas às autoridades de fiscalização competentes. Proliferam fundos públicos no país. É da maior importância que a sua utilização seja judiciosa. A via principal para que assim seja é manter claras as linhas de decisão e de responsabilização. Evita-se desta forma que sejam capturados por interesses particulares e não sirvam os objectivos de fraternidade, de solidariedade e de igualdade de oportunidades com que foram criados. Assim como também que se constituam em instrumentos de ambição política de quem não olha a meios para realizar os seus fins.

Cabo Verde. José Veiga: “Juventude cabo-verdiana está preparada para liderar o país”13



O vice-presidente do PAICV, José Veiga, afirmou que o seu partido “vai iniciar uma grande jornada rumo às vitórias de 2016”. A estratégia do PAICV está baseada na força da mulher e da juventude cabo-verdianas para dar um “bom Governo” a Cabo Verde, disse este responsável na antevisão do novo ano político tambarina, que tem a sua abertura marcada para o dia 16 em Santo Antão.

“Teremos Janira Hopffer Almada como primeira-ministra em 2016: esta é a mensagem de motivação mais poderosa que podemos passar à juventude e à mulher cabo-verdiana. Significa que tudo é possível, desde que acreditemos e trabalhemos de forma árdua e organizada. A mulher cabo-verdiana não poderá perder esta oportunidade”, enfatizou.

Veiga aproveitou para pedir uma “efectiva” participação da juventude, lembrando que “foi assente na capacidade de resistência e sacrifício da mulher e com a força da juventude que Cabo Verde chegou até aqui, hoje”. Confiante, pediu aos cabo-verdianos que dêem ao país um “bom governo”, para o que é necessário ter ainda “uma grande mobilização para o recenseamento eleitoral”.

Questionado sobre a estratégia do PAICV focada nos jovens – os que mais reclamações têm a fazer ao Governo, entre outras, por causa da alta taxa de desemprego juvenil – , Veiga explicou que a equipa liderada por Janira Hopffer Almada já está a trabalhar numa “nova agenda económica para dinamizar a economia e gerar empregos que é a reivindicação da juventude cabo-verdiana”. Mais: “A juventude de Cabo Verde está capacitada e esclarecida e sabe fazer as leituras sobre as conjunturas em que vivemos e todo o impacto que a crise internacional teve no país".

José Veiga defendeu que “a juventude sabe que mesmo nos momentos de dificuldade, os cabo-verdianos nunca baixaram a guarda", nunca "deixaram de acreditar num amanhã melhor”.

O PAICV tem agendado actividades para assinalar a abertura do ano político nas várias ilhas e na diáspora, naquilo que será o arranque das campanhas num ano que promete chumbo grosso.

Sanny Fonseca – A Semana

Portugal. E O JEREMY CORBYN?



A vontade popular impôs como seus representantes uma maioria de deputados que se propuseram lutar contra a austeridade em defesa da democracia e do Estado social tendo como suporte a Constituição da República.

Mário Tomé

Um enxame de vespas bem apessoadas zumbe ameaçador.

A situação não é para menos: inesperadamente do ventre do monstro, um suposto allien vem perturbar a tranquilidade pachorrenta da alarve devoração.

A direita dos negócios e das rendas mais os debicadores de migalhas garantidas entraram em pânico.

O centrão passou a sofrer de angustiosa ansiedade .

A derrota imposta à ousadia do Syriza pela parceria dos neoliberais com os sociais-democratas europeus, com inusitada e, apesar de tudo, inesperada violência por parte destes últimos, parecia assegurar que a sudoeste nada de novo viria perturbar o regular funcionamento da hegemonia troikiana: a aceitação da aldrabice orquestrada pelo executivo e pela docilidade do legislativo sob a vigilância do cinismo presidencial dava sinais de resultar em pleno, com a previsão de uma vitória eleitoral dos caudatários domésticos de Merkell e Schäuble.

O PS, invocando em vão os valores republicanos e social-democratas , esforça-se estrenuamente por ignorar que a defesa desses valores em tempo de global financeirização da economia pertence objectivamente à política radical proposta à sua esquerda.

Podia ter aprendido alguma coisa com a mudança profunda no Partido Trabalhista com a eleição de Jeremy Corbyn por um lado e, pelo lado negativo, com o comportamento vergonhoso dos seus congéneres europeus no esmagamento da vontade do povo grego.

O resultado das eleições de 4 de Outubro veio obrigar os socialistas a terem que considerar uma resposta para a qual não estavam devidamente preparados e abriu a caixa de Pandora do reaccionarismo mais boçal e imbecil por parte dos agentes da coligação do PSD com o CDS e dos propagandistas, comentadores e jornalistas que prosperam à sombra da política do centrão, construindo a narrativa (cá vai ela) de que política é a arte de fintar, esconder e enganar e que a aldrabice é o mais sofisticado método de compor a realidade.

A vontade popular impôs como seus representantes uma maioria de deputados que se propuseram lutar contra a austeridade em defesa da democracia e do Estado social tendo como suporte a Constituição da República.

O CDS, levado ao colo pelo PSD sem arriscar a contagem dos votos, ficou atrás do Bloco e, onde enfrentou o eleitorado cara a cara, na Madeira, perdeu directamente o deputado que já elegera para o Bloco de Esquerda.

A composição do Parlamento revela a derrota dos partidos da PAF que ficaram em minoria perante uma maioria clara anti-austeritária.

A obstrução ideológica à constatação da vitória das forças anti-austeridade e à legitimidade da formação de um governo apoiado nessa maioria que o povo determinou com o seu voto para travar e acabar com a brutalidade do regime austeritário, tem assumido aspectos sórdidos e também ridículos, revelando em toda a sua nudez não apenas a rasteirice da direita mas, talvez o mais significativo, a sabujice colaboracionista dos media subordinados sem apelo nem agravo às exigências dos patrões da comunicação social.

As esquerdas, sistematicamente acusadas de não quererem assumir responsabilidades na procura e sustentação de soluções governativas, quando se propõem dar passos nesse sentido, em função dos resultados eleitorais que apelam à governação pela esquerda, passaram a ser anatematizadas, insultadas e, pelos mais ternurentos, aconselhadas a manterem-se no seu lugar de protesto e oposição.

A situação é propositadamente baralhada, tornada confusa e inextricável, por forma a dar saída à solução cavaquista-passista-portista.

A perícia troca-tintas de Paulo Portas, foi posta a nu pela divulgação de um passo do seu debate com Passos Coelho na campanha legislativa de 2011 em que argumentava exactamente o contrário do que hoje defende; ou seja na altura defendia que a formação do governo devia e podia ser assegurada por quem assegurasse uma maioria de deputados no caso de uma força política vencer sem apoio maioritário garantido.

As hesitações e divisões dentro do PS em trabalhar seriamente para reunir as condições, conjuntamente com as forças de esquerda anti-austeritária para assumir a formação de um governo com esse apoio maioritário garantido, deve-se exclusivamente à sua já velha capitulação perante os status quo neoliberal.

Tony Blair ou Jeremy Corbyn eis a escolha que tem pela frente.


Mário Tomé (na foto) - Coronel na reforma. Militar de Abril. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990

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