O
polêmico tema do envolvimento da Turquia no comércio de petróleo do grupo
terrorista Daesh (Estado Islâmico) voltou à tona com recentes declarações dos
ministros da Defesa de Israel e da Grécia, que acusaram os turcos de comprar
petróleo dos terroristas.
Sputnik,
opinião
O
fato ganhou repercussão especial por ter sido anunciado por um representante
oficial de um país parceiro da Turquia, bem como pelas declarações terem sido
feitas numa coletiva de imprensa, em Atenas, após uma reunião de Jalonen com
seu colega de pasta da Grécia.
Entrevistado
pela Sputnik, o cientista político e escritor turco Özgür Şen, autor do livro
"Secularismo e esquerda na Turquia", acredita que as revelações
do ministro israelense, feitas na capital grega, expuseram ainda mais a difícil
situação da Turquia na arena internacional.
O
especialistas atentou para o fato de as declarações de Jalonen terem sido
feitas num período de aproximação das relações turco-israelenses.
"O governo turco do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), que vem gradativamente perdendo suas posições na arena internacional, passou a sofrer abertamente uma séria pressão por parte da comunidade internacional. Israel decidiu se aproveitar dessa oportunidade. Apesar de observarmos uma melhora nas relações turco-israelenses nos últimos tempos, Tel Aviv quer lucrar com a difícil situação do AKP, que se viu praticamente conduzido para um beco sem saída após o surgimento de informações sobre sua cooperação com os jihadistas" – explicou Şen.
O
observador destacou ainda que uma parte significativa do petróleo do Daesh
chega aos mercados internacionais através da Turquia, onde é disfarçado ao ser
misturado com petróleos vindos de outras regiões, para então ser comprado por
outros países.
"Para
organizar esse processo é ativamente utilizado o petróleo vendido pelo
Curdistão iraquiano, contornando o governo central do Iraque. Há provas
comprovando isso. O mais interessante é que Israel supre 75% de sua demanda por
petróleo graças a compras do Curdistão iraquiano, e a Turquia é um ponto de
trânsito nesse comércio" – explicou o especialista.
Şen
destacou que o petróleo curdo é igualmente comprado por Chipre, Grécia, Itália
e França, em um comércio regido por métodos totalmente contraditórios com relação
às normas internacionais.
"Turquia,
Grécia, Chipre, Curdistão iraquiano e Israel… Essa lista reflete a atual
situação não apenas no Oriente Médio, mas no mundo como um todo. Um quadro
sombrio comprovando que todos pensam, antes de tudo, em seus próprios lucros, e
que o problema do comércio do petróleo do Daesh é muito mais sério, complexo e
multifacetado do que parece, ou do que estão tentando nos convencer" –
concluiu Şen.
Na quarta-feira (27) os ministros da Defesa de Israel e Grécia denunciaram o envolvimento direto da Turquia no comércio de petróleo ilegal do grupo terrorista Daesh (Estado Islâmico), confirmando as acusações da Rússia contra o governo de Erdogan nesse sentido. Os ministros disseram que, há tempos, grande parte do petróleo comercializado pelo Daesh passa pela Turquia, que acaba financiando o terrorismo através dessas transações.
REUTERS/
Christian Hartmann
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