António
Capucho saiu do PSD há dois anos, mas segue a vida política e antecipa um
congresso social-democrata 'sem história', que será apenas o cumprimento do
calendário num partido transformado em "rebanho fiel" que não
contraria o líder.
"Sigo
a vida política e de todos os congressos este é talvez o menos interessante, na
justa medida em que está tudo decidido, não há alternativa à liderança ou, se
há, não apareceu, não se assumiu como tal por enquanto", disse à Agência
Lusa o ex-autarca de Cascais, em jeito de antecipação do 36.º congresso do PSD,
que decorre entre sexta-feira e domingo em Espinho.
Com
a liderança do partido decidida em diretas e uma única moção de estratégia
global em discussão, António Capucho lamenta a ausência de debate, considerando
que a reunião magna dos sociais-democratas será "apenas o cumprimento do
calendário" e "mais nada do que isso".
"Sinceramente
não tenho nenhuma expetativa que seja o que for de relevante possa acontecer
neste congresso", confessa, admitindo, contudo, ter alguma esperança que o
líder social-democrata renove a direção, porque "há companhias de que
certamente Pedro Passos Coelho se deve querer libertar".
"Só
se não tem o mínimo discernimento é que não fará alguma renovação. Mas isso em
nada vai alterar, porque se ele fizer renovação é para continuar rodeado de
'yes man'", acrescenta.
Atribuindo
a baixa nas sondagens "fundamentalmente a fenómenos de tiros no pé",
como o apoio "desnecessário e disparatado" à ex-ministra das Finanças
no caso da sua contratação pela gestora de crédito britânica Arrow Global, ou a
"birra" de Passos Coelho na discussão do Orçamento do Estado para
2016 (em que o PSD não apresentou propostas de alteração), o antigo deputado
disse não acreditar, contudo, que algum delegado queira levantar ou suscitar
estas questões ou mesmo falar sobre o "grito de Ipiranga" do CDS-PP,
que mudou a liderança.
"O
CDS, como qualquer partido pequeno que esteja fora da bipolarização PSD/PS,
sofre com o voto útil, evidentemente que tende a não crescer à sombra, debaixo
das saias do PSD. Eu compreendo perfeitamente a atitude do CDS", sustentou
António Capucho, considerando, contudo, que os sociais-democratas deviam
reagir.
"O
CDS deixou de estar à direita do PSD, portanto, não espanta esta atitude do
CDS, julgo que é uma atitude inteligente, mas que merecia uma reposta do
PSD", sublinhou.
Numa
análise critica à direção de Pedro Passos Coelho, o também antigo conselheiro
de Estado recusa elaborar cenários para o futuro, porque ainda "vai passar
muita água debaixo das pontes", mas diz que se o atual líder
social-democrata voltar ao poder "não será por mérito próprio, mas porque
a outra parte ou a outra alternativa não levou a água ao seu moinho".
Quanto
à ausência de opositores, António Capucho atribui a falta de alternativas ao
facto do partido estar "transformado num conjunto de lideranças de âmbito
distrital e concelhio que a única coisa que fazem é garantir a fidelidade ao
chefe".
"Não
aparece ninguém porque não vale a pena, os dados estão lançados e o partido
como rebanho fiel não está ali para contrariar o líder", argumentou,
lamentando, porém, se não existir pelo menos uma alternativa ao conselho
nacional do partido, o órgão máximo do partido entre congressos, onde se
assumisse "uma tendência social-democrata a sério".
De
qualquer forma, acrescenta António Capucho, Pedro Passos Coelho ainda tem a
simpatia dos militantes, porque estiveram a gravitar à volta do Governo e têm a
expetativa que possam voltar ao poder.
António
Capucho, antigo presidente da Câmara de Cascais e ex-secretário-geral
social-democrata, foi expulso do PSD em fevereiro de 2014, ao fim de 40 anos de
militância por ter apresentado uma candidatura independente à Assembleia
Municipal de Sintra, adversária à do partido.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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