sexta-feira, 24 de junho de 2016

A EUROPA, A ILHA E O FASCISMO



Rui Peralta, Luanda

Um detalhe que ressalta das declarações de testemunhas do assassinato da deputada trabalhista Jo Cox é o facto do alegado assassino ter gritado “Britain First” (Grã-Bretanha primeiro) enquanto disparava. Enquanto este detalhe é, ou não, confirmado o líder do grupo de extrema-direita Britain First (BF), Paul Golding, nega as ligações do grupo ao assassino e considera que a morte da deputada trabalhista foi um “crime desprezível”, em declarações muito pouco convincentes, atendendo á usual terminologia do bando em questão (por norma os discursos do senhor Golding e os comunicados do seu bando utilizam uma terminologia muito pouco “british”).

Formado em 2011 por Jim Dowson, um pastor protestante e ex-militante de um outro grupo de extrema-direita o Partido Nacional Britânico (BNP), o BF marca presença nas ruas, através de acções diversas e é particularmente activo nas redes sociais (no facebook goza de 1,5 milhões de “gostos”). Os seus protestos incidem sobre a comunidade islâmica e as mesquitas são o seu alvo preferido (muitas vezes em acções conjuntas com a English Defence League, EDL um grupo anti-islâmico, formado em 2009), embora o grupo proclame o seu “anti-racismo” e negue ser uma organização racista.

Claro que o Brexit não é um exclusivo da extrema-direita ou das facções mais direitistas dos Conservadores, mas sim um assunto transversal a todas as formações políticas britânicas e que divide internamente conservadores e trabalhistas. O Brexit é um sentimento legítimo e soberano, tal como a permanência do país na U.E. e poderia ter representado um momento de discussão e de reflexão sobre a Europa e o seu futuro. Acabou, no entanto, por representar um renascimento do fascismo (que nunca teve muitos adeptos ingleses), na ilha.

A extrema-direita movimenta-se por toda a Europa, do Norte ao Sul. França, Alemanha, Áustria, Bélgica, Holanda, Dinamarca e mesmo a fina flor da social-democracia nórdica (Suécia, Noruega, Finlândia) sofrem fortes pressões eleitorais da extrema-direita, através de intensas campanhas racistas e xenófobas contra os imigrantes e refugiados. A islamofobia e a homofobia fazem parte do discurso fácil e incendiário do populismo. Grupos como o PEGIDA (acrónimo de Patriotas Europeus Contra a Islamização do Ocidente) formado na Alemanha, em 2014, na cidade de Dresden, surgem por quase toda a Europa. Os grupos nacionalistas da extrema-direita europeia ganharam protagonismo com a questão dos refugiados e dos imigrantes.

A Frente Nacional, em França, o Partido da Liberdade na Áustria e na Holanda, os Democratas Suecos, têm o mesmo discurso islamofóbico e anti-imigração e em defesa dos “valores ocidentais”. Os medos da classe média, o seu poder de compra em declínio, o desemprego e as faltas de perspectivas profissionais, as incertezas económicas, geram o ambiente necessário á expansão do populismo nacionalista da extrema-direita. Em simultâneo as organizações de extrema-direita ganham respeitabilidade aos olhos das classes médias.

Quanto ao Brexit terminou com a vitória dos que pretendem a saída da UE. Com este processo cai o mito da irreversibilidade da integração europeia e da intocabilidade dos tratados europeus. Inicia-se um processo de incertezas com fortes impactos na economia-mundo. A fortaleza britânica separa-se da fortaleza-europa. E no meio de tantas fortalezas imperiais estabelece-se uma imensa fortaleza da angústia.

Talvez seja o momento de erguer as barricadas da esperança...

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