Rui Peralta,
Luanda
Um detalhe que ressalta das declarações de testemunhas do assassinato da
deputada trabalhista Jo Cox é o facto do alegado assassino ter gritado “Britain
First” (Grã-Bretanha primeiro) enquanto disparava. Enquanto este detalhe é, ou
não, confirmado o líder do grupo de extrema-direita Britain First (BF), Paul
Golding, nega as ligações do grupo ao assassino e considera que a morte da
deputada trabalhista foi um “crime desprezível”, em declarações muito pouco
convincentes, atendendo á usual terminologia do bando em questão (por norma os
discursos do senhor Golding e os comunicados do seu bando utilizam uma
terminologia muito pouco “british”).
Formado em 2011 por Jim Dowson, um pastor protestante e ex-militante de um
outro grupo de extrema-direita o Partido Nacional Britânico (BNP), o BF marca
presença nas ruas, através de acções diversas e é particularmente activo nas
redes sociais (no facebook goza de 1,5 milhões de “gostos”). Os seus protestos
incidem sobre a comunidade islâmica e as mesquitas são o seu alvo preferido
(muitas vezes em acções conjuntas com a English Defence League, EDL um grupo
anti-islâmico, formado em 2009), embora o grupo proclame o seu “anti-racismo” e
negue ser uma organização racista.
Claro que o Brexit não é um exclusivo da extrema-direita ou das facções mais
direitistas dos Conservadores, mas sim um assunto transversal a todas as
formações políticas britânicas e que divide internamente conservadores e
trabalhistas. O Brexit é um sentimento legítimo e soberano, tal como a
permanência do país na U.E. e poderia ter representado um momento de discussão
e de reflexão sobre a Europa e o seu futuro. Acabou, no entanto, por
representar um renascimento do fascismo (que nunca teve muitos adeptos
ingleses), na ilha.
A
extrema-direita movimenta-se por toda a Europa, do Norte ao Sul. França,
Alemanha, Áustria, Bélgica, Holanda, Dinamarca e mesmo a fina flor da
social-democracia nórdica (Suécia, Noruega, Finlândia) sofrem fortes pressões
eleitorais da extrema-direita, através de intensas campanhas racistas e
xenófobas contra os imigrantes e refugiados. A islamofobia e a homofobia fazem
parte do discurso fácil e incendiário do populismo. Grupos como o PEGIDA
(acrónimo de Patriotas Europeus Contra a Islamização do Ocidente) formado na
Alemanha, em 2014, na cidade de Dresden, surgem por quase toda a Europa. Os
grupos nacionalistas da extrema-direita europeia ganharam protagonismo com a
questão dos refugiados e dos imigrantes.
A
Frente Nacional, em França, o Partido da Liberdade na Áustria e na Holanda, os
Democratas Suecos, têm o mesmo discurso islamofóbico e anti-imigração e em
defesa dos “valores ocidentais”. Os medos da classe média, o seu poder de
compra em declínio, o desemprego e as faltas de perspectivas profissionais, as
incertezas económicas, geram o ambiente necessário á expansão do populismo
nacionalista da extrema-direita. Em simultâneo as organizações de
extrema-direita ganham respeitabilidade aos olhos das classes médias.
Quanto
ao Brexit terminou com a vitória dos que pretendem a saída da UE. Com este
processo cai o mito da irreversibilidade da integração europeia e da
intocabilidade dos tratados europeus. Inicia-se um processo de incertezas com
fortes impactos na economia-mundo. A fortaleza britânica separa-se da
fortaleza-europa. E no meio de tantas fortalezas imperiais estabelece-se uma
imensa fortaleza da angústia.
Talvez
seja o momento de erguer as barricadas da esperança...
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