A
FRELIMO aprovou no Parlamento esta quarta-feira (26.04.) a Conta Geral do
Estado de 2015, que inscreve as dívidas ocultas contraídas por duas empresas
com garantias do Estado e sem o conhecimento do Parlamento.
As
chamadas dívidas ocultas contraídas pelas empresas Proíndicus e Moçambique
Asset Management com garantias do Estado e sem o conhecimento do Parlamento, em
2013 e 2014, passam a estar inscritas na Conta Geral do Estado. Estas dívidas
totalizam mais de mil e cem milhões de dólares.
A
Conta Geral do Estado de 2015 não indica os motivos da não inclusão destes
empréstimos, nas Contas Gerais dos respetivos anos (2013 e 2014), conforme
observa o Tribunal Administrativo, instituição que fiscaliza as contas do Estado.
Este
Tribunal Administrativo refere, igualmente, que o valor das Garantias emitidas
a favor das duas empresas, excederam os limites permitidos por lei. Um
inquérito realizado por uma comissão parlamentar concluiu igualmente ter havido
violação da lei na contração das duas dívidas.
A
decisão aprovando a Conta Geral do Estado de 2015 foi tomada com o voto da
bancada da FRELIMO, partido no poder, à semelhança do ano passado quando o
Parlamento aprovou a inscrição de um outro empréstimo, contraído, igualmente,
sem o conhecimento do Parlamento, a favor da empresa EMATUM, em 2014.
A
aprovação da presente resolução acontece numa altura em que as três dívidas,
num valor estimado em cerca de dois mil milhões de dólares, estão a ser
investigadas através de uma auditoria internacional, que deverá apresentar os
resultados ainda esta semana, no próximo dia 28 de abril.
RENAMO
boicota sessão
O
maior partido da oposição, a RENAMO, não participou no debate da resolução esta
quarta-feira (26.04.), tendo abandonado a sala da plenária.
A
chefe da bancada da RENAMO, Ivone Soares, disse numa conferência de imprensa
que a contração destas dívidas conferia um crime de burla ao Estado e aos
credores internacionais e cria um maior empobrecimento às populações
moçambicanas.
A
deputada considera que "é inaceitável que o Estado moçambicano assuma
dívidas particulares e as transforme em dívidas em que todos os moçambicanos
são chamados a pagar. É nosso posicionamento dizer que é inaceitável que o
Estado assume essas dívidas ilegais, onde não houve nenhum respeito pela
nossa Constituição na altura em que as mesmas foram contraídas.”
Na
opinião da RENAMO, a única forma de se resolver o problema é qu e sejam
incriminados os autores da violação da lei.
Por
seu turno, o porta-voz da bancada do MDM, a segunda maior força da oposição,
Fernando Bismarque, o seu partido votou contra porque "nós julgamos que é
uma conta ilegal porque tenta utilizar uma coisa [dívidas] que
foi contraída à revelia da Assembleia da República. A Conta
Geral do Estado de 2015 enferma de inconstitucionalidade porque viola a Lei
orçamental, a lei do SISTAFE (Sistema de Administração Financeira) e a
Constituição da República.”
FRELIMO:
"A Assembleia da República é soberana"
A
FRELIMO votou a favor da resolução. Para o porta-voz da bancada, Edmundo Galiza
Matos Júnior, a inscrição das dívidas contraídas pelas duas empresas não
decorrem de um processo ilegal. Galiza Matos acrescentou que o Governo teve a
oportunidade de esclarecer o que é que terá acontecido e como é que
contabilísticamente processos desta natureza são feitos quando há eventuais
erros.
Matos
justifica que "houve um pedido do Governo para a inscrição daquilo que
foram as dívidas públicas no âmbito da conta geral do Estado de 2015. Fomos
fazer esse exercício contabilísticamente. A Assembleia da República é soberana
e com os votos que existem ela o fez."
Leonel
Matias (Maputo) | Deutsche Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário