Rafael
Barbosa | Jornal de Notícias | opinião
1. Os
assassinos voltaram a atacar uma cidade europeia, de novo usando um veículo
para matar de forma indiscriminada. Foi nas Ramblas de Barcelona, como já antes
tinha sido na marginal de Nice, num mercado de Natal de Berlim, no Parlamento e
na ponte de Londres (dois ataques), ou numa zona pedonal de Estocolmo. É cedo
para tirar conclusões, mas há coincidências óbvias que não podem ser ignoradas.
Tudo indica que o ataque de Barcelona corresponda ao perfil dos anteriores: um
ato brutal de terroristas islâmicos. Os ataques foram sempre levados a cabo por
estes radicais, tal como foram sempre reivindicados pelo Estado Islâmico, cujos
líderes são os promotores deste género de terrorismo de baixo custo, fácil de
planear e executar, aleatório e, por isso, ainda mais assustador. Como sempre
acontece nos primeiros momentos, fica a amarga sensação de que os terroristas
estão a ganhar esta guerra, que não tem campo de batalha, nem exércitos, nem
regras de combate, nem objetivos. Resta-nos esperar que o tempo, como também
sempre tem acontecido, esbata a sensação de desespero e que a vida prossiga.
Talvez pareça um pouco pueril, quando o sangue ainda mancha as Ramblas, mas
vale a pena citar Anne Hidalgo, presidente da Câmara de Paris: "Barcelona
e Paris são cidades de partilha, de amor e de tolerância. Estes valores são
mais fortes do que o terrorismo hediondo e cobarde". Se não acreditarmos
nisto, vamos acreditar em quê?
2. Chamava-se
Heather Heyer, tinha 32 anos, e morreu, no passado sábado, em Charlottesville,
no Estado da Virgínia (EUA), vítima de um atentado terrorista. Seria apenas
mais uma da já longa lista de vítimas de um veículo lançado contra uma
multidão, não fossem alguns factos distintivos: o automóvel ser conduzido por
um compatriota americano, tão branco quanto ela; o terrorista ser um neonazi
que defende a supremacia branca, o antissemitismo, o racismo e a xenofobia; e,
finalmente, porque o presidente da mais poderosa democracia do Mundo, em vez de
condenar o atentado, se enredou numa vergonhosa desculpabilização, repartindo
culpas entre assassinos e vítimas. É certo que o atual presidente se chama
Donald Trump, o homem que já sugeriu que ser mexicano é o mesmo que ser um
violador de mulheres, que ser um muçulmano é o mesmo que ser um terrorista
islâmico, o homem que diaboliza os imigrantes numa nação construída por
imigrantes. Mas, mesmo sendo Trump, já não há quase ninguém disponível para dar
um desconto. À exceção, naturalmente, dos membros do Klu Klux Klan, que não são
assim tão poucos nem tão inofensivos. Sobretudo quando sabem que podem contar
com a compreensão do presidente dos EUA. O terrorismo tem muitas caras.
*Editor-executivo
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