segunda-feira, 18 de setembro de 2017

AGÊNCIAS DO LIXO QUE NOS LIXOU E QUE CONTINUAM A LIXAR-NOS



Bom dia, hoje voltamos à normalidade do Página Global. Esteve tudo de férias e nós também. Por isso andámos a modos que aos soluços, uns dias havia uma ou outra postagem, outros não. Mas foi tudo muito pobre. Pobre como este país à beira.mar plantado e esmifrado pela alta-finança e salafrários que a servem. Um lixo. Lá está, e porque não querem ser lixo sozinhos decidiram argumentar que Portugal também era lixo. Só se assim diziam porque nos lixaram à bruta e agora estão mais meigos… Estão? Não se nota nada.

Este vai ser o habitual veículo blogado do Expresso Curto, do tio Balsemão Impresa Bilderberg. Pois. Mas enquanto não dá de caras com a prosa opinada dessa cafeína azurrapada, às vezes, que hoje é servida por Filipe Santos Costa, jornalista lá do burgo, entretenha-se a ler aquilo que poderá ser a introdução… Poderá, não quer dizer que seja.

Vamos lá então aos grãos enquanto o moinho aquece e os transforma em pó de… café. É uma máquina parecida com as fábricas e outros locais de trabalho onde moem a ralé fedida e mal-paga. Fedida porque chegam a casa a cheirar a suor – depois de tanta moídela laboral. Mal-paga porque está na cara que os vampiros patronais - gestores e outros dessa gandaia - querem comer tudo e não deixar nada. E aí a lei diz que ao menos os trabalhadores merecem umas migalhas daquilo que produzem. Pois. Isso para os que cumprem a lei. Mas como a chamada Autoridade do Trabalho passa os dias e noites a dormir e não fiscaliza como deve, nem por sombras, a lei passa a habitar o lixo. “Também tu!” Exclamam as agências de notações instaladas na lixeira….

Basta de lixeira. Vamos ao que sai em espécie de nata no tal expresso que passa a um café maricas e meio esbranquiçado. Café com leite. Talvez. Pois.

Que Portugal saiu do lixo. Ora, ora, nunca lá esteve. O que aconteceu é que uns quantos distraíram-se e roubaram demasiado, encontrando pretexto para ainda roubarem mais o povoléu. Chamam a esse estágio “crise”. E vá de roubar. Vai milhões para os ladrões habituais. Lá vai para os bancos, para banqueiros, para políticos, para os grandes salafrários, para aquilo que os antigos diziam deverem ir: para o “raio-que–os-parta”. Pois. Para partidos submarinados e etc. Mas todos partidos ficamos nós, os plebeus. E é a fome, a miséria, que fielmente passam a ser as nossas companheiras.

Quer parecer que já chega por hoje de introdução. Nota-se perfeitamente o destreino. Desculpem qualquer coisinha e vão lá ler o Curto deste senhor do burgo Balsemão Bilderberg do Quintal da Marinha do Guincho. Se é que também não se mudou para a Comporta, como os de sua laia.

Adeus, até amanhã. Boa degustação e leitura que se segue.

MM | PG

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Costa decidiu: as agências de rating já não são lixo

Bom dia.

Bem-vindo ao país que saiu do lixo. Esta segunda-feira é o primeiro dia útil depois da Standard&Poor's surpreender, na sexta-feira ao fim do dia, com a decisão de subir o rating de Portugal. Foi só uma das três grandes agências de notação a tirar Portugal do lixo, é preciso mais, avisa quem sabe de colocação de dívida, mas tudo indica que será uma questão de tempo. É expectável que a reacção dos mercados seja boa e, aposto, sem o evidente ar embaraçado do comissário Dombrovskis, um dos mais céticos responsáveis europeus em relação ao desempenho de Portugal.

(Melhor do que a cara de caso do vice-presidente da Comissão Europeia ao comentar a decisão da S&P, só mesmo a declaração de Mário Centeno, que quer exportar "as ideias e os ideais que o Governo português tem para a Europa" - o que soa mesmo a candidatura ao cargo de presidente do Eurogrupo, como nota o i.)

O ministro Santos Silva já elencou as vantagens de que o país poderá beneficiar com esta decisão. Porém, não fosse dar-se o caso de esta segunda-feira ser incrivelmente parecida com a sexta-feira passada, o Governo decidiu fazer política e marcar a agenda: Mário Centeno foi ontem à noite à RTP anunciar que no Orçamento de 2018 haverá redução de impostos para todos os escalões de IRS. "A fórmula" é que "ainda não está fechada", esclareceu.

O que não muda, já se percebeu, é a massa de que são feitos os nossos responsáveis políticos. Perante uma notícia que é boa para o país, o jogo político do momento consiste em reclamar os louros de um processo que envolveu todo um povo.

Na sua primeira reação, na sexta-feira, Pedro Passos Coelho relevou o papel da coligação para este desfecho, repartindo com o atual governo o mérito por esta decisão da S&P. António Costa é que não perdeu tempo com simpatias. Nem uma palavra do atual primeiro-ministro de reconhecimento pelo trabalho do antecessor. Pelo contrário: Costa repisou argumentos que já usava na campanha eleitoral de 2015, reciclando-os para as autárquicas de 2017: “Diziam que para podermos crescer era necessário empobrecer e destruir direitos laborais porque só assim seriamos competitivos, era necessário cortar salários, aumentar impostos e cortar as pensões”.

Passos acusou o seu sucessor de “sectarismo e mesquinhez” sem paralelo na democracia. E acrescentou ontem, entre citações de Cavaco Silva (estranha escolha: PPC anda de faca afiada em relação a Marcelo, o Presidente campeão da popularidade, mas traz para o seu discurso Cavaco, o Presidente campeão da impopularidade), que “as retóricas mentirosas têm perna curta”.

Assunção Cristas comentou que a atitude de Costa “não fica bem e as pessoas não entendem isso”. Jerónimo de Sousa fingiu que o rating da S&P não interessa nada, e Catarina Martins imaginou que a decisão da agência se deveu a este Governo ter feito o contrário do que os mercados exigiam.

Enquanto os líderes do PCP e do BE proclamam estas fantasias, Centeno e Costa prometem fazer exatamente o que os mercados e as agências de rating reclamam e garantem que o próximo objetivo é a da redução da dívida pública. Será "a maior redução dos últimos 19 anos", prometeu o ministro das Finanças na entrevista de ontem. (“Finalmente”, comentou Cristas, que exige que o Governo se comprometa com objetivos concretos de redução da dívida).

Com a saída do lixo transformada em bandeira eleitoral do PS, a outra grande notícia destes dias é que António Costa reviu a notação das agências de notação. Há tempos, no Jornal de Negócios, dizia que “as agências são lixo”. Parece que mudou de ideias. Presume-se que as agências de rating suspirem de alívio.

Outras notícias

Cá dentro

Prepare as pipocas. Hoje o ministro da Defesa vai ao Parlamento falar, outra vez, do desaparecimento de material militar dos paióis de Tancos. A julgar pela última entrevista do ministro sobre o assunto, será o melhor programa do dia na tv. Ia escrever "roubo", mas, uma vez que Azeredo Lopes diz que pode não ter havido roubo nenhum, opto por "desaparecimento", pois parece que as armas desapareceram mesmo. E agora hesito... escrever "desaparecimento" será ir longe demais? Com as suas lógicas implacáveis de Azeredo Lopes, nunca se sabe...

O jornal i escreve que Azeredo "já não tem a confiança do Presidente Marcelo". Surpreendente.

Por falar em ministros em plano inclinado: o Público conta mais algumas peripécias da relação de Constança Urbano de Sousa com a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) nesta época de fogos. Depois do caos de Pedrógão, a ministra da Administração Interna pediu à ANPC um novo plano de articulação no terreno. Um pedido avisado, tendo em conta as provas de descoordenação durante o incêndio do Pinhal Interior. A ANPC recusou. Respondeu que o plano que existe chega. Assim mesmo. A ministra engoliu a desautorização. O presidente e o comandante operacional nacional da ANPC continuaram em funções...

Agora que o comandante nacional Rui Esteves saiu (por causa de uma licenciatura manhosa, não por razões de incompetência), o Expresso noticiou na manchete de sábado que deverá acontecer uma vassourada na ANPC. Mas é duvidoso que isso devolva à ministra uma grama de autoridade.

Em clima pré/pré (pré-eleitoral e pré-orçamental), a dança da geringonça faz-se com reivindicações e bravatas. Os líderes do BE e do PCP passaram o fim-de-semana de campanha autárquica a puxar os galões por tudo o que foram medidas populares do governo, e a reclamar mais. Jerónimo retomou a reivindicação da reposição dos 25 dias de férias na função pública (vai avançar com essa medida nas autarquias que governa) e lançou a exigência de manuais escolares gratuitos nos 2º e 3º ciclos (convinha, antes disso, que no 1º ciclo, onde já são gratuitos, o Ministério da Educação se impusesse às editoras para que estas editem manuais verdadeiramente reutilizáveis).

Catarina Martins, por seu lado, prometeu bater-se pela reversão das leis laborais e respondeu a uma provocação de António Costa. Na entrevista ao DN, o PM garantiu que, no seu lugar, nem Jerónimo nem Catarina teriam feito mais; a líder bloquista deu-lhe o troco: “Os dados da economia e a própria execução orçamental mostram que António Costa já podia ter ido mais longe, e por isso mostram como é essencial a força do BE”.

Nada de grave. Na sua análise semanal na SIC, Marques Mendes assegurou ontem que a geringonça não tremerá. PCP e BE não faltarão com o apoio ao PS.

Acrescentando mais uma boa notícia ao fim de semana de António Costa, José Sócrates fez-lhe o favor de confirmar publicamente que já não são "amigos" (sic). A "relação boa” (sic) entre ambos acabou depois de ser conhecido o processo em que o ex-PM é suspeito de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais. "Tudo acabou quando me detiveram e tanto ele como a cúpula do PS me viraram as costas", lamentou Sócrates, em entrevista ao La Voz de Galícia (Sócrates já deu entrevistas a títulos mais relevantes... ter-lhe-ão virado as costas?). Costa agradece.

O Jornal de Notícias tem uma sondagem sobre Lisboa que dá a Fernando Medina uma vitória folgadíssima (41%), embora com a maioria absoluta em risco. Cristas surge em segundo lugar (17%), à frente de Teresa Leal Coelho, do PSD (16%), o que a confirmar-se seria um terremoto político. Os candidatos do PCP e do BE surgem empatados com 8%.

Lá fora

Dez anos depois de ter tomado o poder pela força na Faixa de Gaza, reduzindo a Autoridade Palestiniana à governação da Cisjordânia, o Hamas anunciou que está pronto a aceitar eleições e a promover um governo de unidade na Palestina, desmantelando a administração que na última década dirigiu Gaza.

O Governo britânico baixou o nível de ameaça terroristade critico para severo.

A Assembleia Geral da ONU acontece esta semana e parece que António Guterres quer mudar muita coisa na organização. O Público está atento e conta-lhe tudo sobre os planos do secretário-geral para reformar as Nações Unidas.

As Caraíbas e a Flórida continuam a ser fustigadas por uma época de furacões como não há memória. Agora a ameaça chama-se Maria.

A Casa Branca continua a negar as alterações climáticas, mas ontem o secretário de Estado, Rex Tillerson, anunciou que, afinal, os EUA podem manter-se vinculados aos Acordos de Paris . Uma reviravolta espetacular. Ou não. Veremos. Enquanto isso, Donald Trump continua a ameaçar a Coreia do Norte, e o seu líder, a quem se referiu como "rocket man" (é o título de uma música do Elton John. Não é sobre a mesma coisa, mas se puder veja este novo video do velho sucesso do cantor inglês, realizado por Majid Adin, um artista iraniano refugiado no Reino Unido).

A noite passada foi noite de Emmys, a celebração dos tempos de ouro que vive a televisão. “The Handmaid’s Tale”, “Saturday Night Live” e “Big Little Lies” foram os grandes vencedores (o Pedro Candeias escreveu há dias sobre a série que arrebatou os prémios na categoria de drama). Stephen Colbert, o mestre de cerimónias, deu pancada de fazer bicho em Trump, e a surpresa da noite foi Sean Spicer, o ex-porta-voz da Casa Branca (que está apostado em refazer a sua imagem - já lá vamos).

As manchetes de hoje

Diário de Notícias: SIRESP moveu quatro processos contra o Estado ainda antes de Pedrógão

Jornal de Notícias: Medina tem maioria absoluta em risco em Lisboa


i: Centeno já admite que vai ser presidente do Eurogrupo


Correio da Manhã: Mãe de Sócrates na lista VIP do fisco

O que ando a ver

Se segue esta newsletter, ja percebeu que sou fascinado pela política norte-americana. Uma das formas mais simples e divertidas de acompanhar o que se passa na Trumplândia são os monólogos iniciais dos talk-shows da noite nos canais por cabo, apresentados por comediantes que fazem o seu resumo muito pessoal das peripécias políticas do dia. Desde que Jon Stewart se afastou, Stephen Colbert e Trevor Noah são os meus favoritos, mas Seth Meyers e Jimmy Kimmel também dão boa conta do recado (e aos domingos há o genial John Oliver). Têm um olhar politicamente muito parcial (Trump e os republicanos são os bombos da festa), e a enorme vantagem da inteligência, humor e, muitas vezes, excelente fact-checking. O New York Times todas as manhãs faz o resumo dos melhores momentos dos late night talk shows da véspera.

Para além dos monólogos que abrem cada programa, as entrevistas que se seguem tornam-se, muitas vezes, factos políticos. Aconteceu muitas vezes com Obama, e até com Bill Clinton antes dele, quando ainda estávamos na pré-história desta história. Esta semana, Hillary Clinton estará no Late Show, de Colbert, para promover o seu livro sobre as eleições que perdeu para Trump.

Por falar em Trump, vale a pena recuperar um programa de Jimmy Kimmel da semana passada, com uma entrevista a Sean Spicer, o saudoso porta-voz da Casa Branca durante os primeiros meses de mandato do atual inquilino. O homem que iniciou funções na mítica conferência de imprensa em que ralhou aos media por não terem dito que a multidão que assistiu à tomada de posse de Trump era muito maior do que nas tomadas de posse de Obama. Era mentira, mas Spicer, espicaçado por Trump, nunca cedeu às evidências. "Why is he so concerned with size? Have you ever seen the president naked?", pergunta o entrevistador a um Spicer que ri muito e explica pouco.

A obsessão de Trump pelo Twitter, a relação com os jornalistas, a frustração com as “fake news” e com o corporativismo dos media, a caricatura feita no Saturday Night Live por Melissa Mccarthy (a que Spicer achou “alguma piada”, mas Trump nem por isso - e que valeu à atriz um Emmy), são assuntos de uma conversa em que às tantas Spicer aponta o dedo aos jornalistas que vão para o Twitter “perpetuar mitos”. “Wait a minute!” - interrompe-o o entrevistador, às gargalhadas - “os jornalistas vão para o Twitter perpetuar mitos? Então e o presidente?”

Se puder, espreite.

Por hoje fico por aqui. Tenha uma boa segunda-feira.

Sem comentários:

Mais lidas da semana