Junts
per Catalunya foi a força independentista mais votada. Ex-presidente da
Generalitat afirma que a "república catalã ganhou à monarquia do 155"
na noite eleitoral de ontem
Carles
Puigdemont fez ontem um discurso de vitória do independentismo catalão, numa
noite eleitoral "atípica", perante duas centenas de apoiantes numa
sala de conferências, em Bruxelas. O autointitulado presidente legítimo da
Generalitat felicitou "o povo da Catalunha", reclamando que a
"república catalã ganhou à monarquia do [artigo] 155".
"O
Estado espanhol foi derrotado. Rajoy, a sua aliança e os seus aliados perderam,
levando uma bofetada dos catalães. Perderam o plebiscito que buscavam com o
155. E a Catalunha não ajudou a tornar isso [golpe de Estado] possível",
disse o cabeça-de-lista do Junts per Catalunya, que conseguiu ontem 34
deputados, sendo a segunda força mais votada.
Perante
os aplausos na sala e num tom vitorioso, Carles Puigdemont deu "um mês"
ao governo espanhol para fazer "uma reparação e retificação" com um
"pedido de desculpas a muita gente a quem fez mal", nomeadamente
"no 1 de Outubro", referindo-se à data do referendo. "Os presos
devem sair já da prisão e o governo legítimo deve regressar já ao palácio da
Generalitat", disse ainda Carles Puigdemont, frisando que "é isso que
querem os cidadãos".
No
entanto, o ex-líder do governo catalão pode encontrar dificuldades para
concretizar essa "vontade" dos cidadãos, tendo em conta que o
regresso a Espanha o levará a enfrentar a justiça. Mas o porta-voz de Carles
Puigdemont, Joan Maria Piqué, acredita que não vai haver "nenhum
problema". "Pensamos que se o povo da Catalunha rejeitou o [artigo]
155 e revalida a confiança no seu presidente legítimo não tem de haver nenhum
problema para que o presidente Puigdemont volte e tome o lugar como presidente
da Generalitat, porque esta foi a opção do povo da Catalunha", disse.
Os
membros do antigo governo da Catalunha foram saudados numa noite eleitoral em
Bruxelas que é muito atípica, tendo em conta que "alguns dos candidatos
estão no exílio e outros ou estão ou estiveram na prisão", afirmou Juan
Maria Piqué, considerando que "isto indica que não houve igualdade de
condições". "Estas eleições não cumprem nenhum dos requisitos da Convenção
de Veneza, para serem consideradas umas eleições justas", acrescentou,
avisando que "isto vai ser denunciando constantemente".
O
homem que tornou possível a candidatura de Puigdemont a partir do estrangeiro
denunciou ainda "o enorme gasto económico de alguns partidos",
referindo-se especialmente ao Ciudadanos, "que inundaram a Catalunha com a
sua propaganda eleitoral".
"A
nossa candidatura gastou menos de metade do limite que tinha autorizado.
Estamos convencidos de que há outros partidos que ultrapassaram muitíssimo esse
montante", disse ainda, frisando que "isso vai acabar por se
saber".
Sobre
a atuação do governo de Madrid, Joan Maria Piqué entende que ficou provado que
"a receita de Rajoy para resolver o problema foi um fracasso", tendo
em conta que "o povo da Catalunha, uma vez mais, revalida a maioria
independentista [e] isto significa que o governo espanhol, de uma vez por
todas, tem de se sentar à mesa e procurar uma saída política para aquilo que é
um conflito político".
João
Francisco Guerreiro | Diário de Notícias
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