As
forças especiais norte-americanas estão ficando cada vez menos
"especiais", já que os estrategistas de Washington estão envolvendo
cada vez mais este tipo de forças em quaisquer missões, mesmo as de menor
importância.
Pela
primeira vez na história, em 2016 as perdas das forças especiais dos EUA
superaram as das tropas convencionais; a mesma estatística caracteriza o
ano seguinte. Os melhores soldados estadunidenses lutam e morrem muito longe da
sua Pátria. A edição russa Lenta.ru estudou
como os EUA estão mudando seus métodos de guerra moderna e o que está
acontecendo com os soldados norte-americanas mais corajosos.
"Não
sabemos com precisão onde estamos presentes no mundo e o que lá fazemos",
afirmou o senador Lindsey Graham, coronel norte-americano e membro do Comitê
das Forças Armadas, que devia dispor de informações sobre a presença militar
dos EUA por todo o mundo.
"Eu
não sabia que temos mil soldados no Níger", confessou ele em entrevista à NBC News depois de os terroristas terem morto quatro
soldados das forças especiais neste país africano.
Contudo,
isso é explicável. De acordo com o Comando Conjunto de Operações Especiais
(JSOC) dos EUA, as forças estadunidenses estão presentes em permanência em
mais de 80 países do mundo. Elas ajudam a vigiar e eliminar terroristas, a
combater o tráfico de drogas e a treinar os militares locais.
"O
número do contingente das forças especiais dobrou, os soldados são enviados
para missões com mais frequência e por prazos cada vez maiores. Hoje em dia,
seu comando inclui quase 70 generais e almirantes, enquanto 10 anos atrás eles
eram apenas 9", escreveu ainda em 2013 a funcionária da Rand Corporation,
Linda Robinson.
Vale
destacar que, em 2001, em várias partes do mundo operavam 2,9 mil soldados de
forças especiais dos EUA; no momento, este número corresponde a 8 mil.
Soldados
para todas as ocasiões
"É
importante entender por que as forças especiais se transformaram de um
meio de apoio em protagonistas principais. Assim será mais fácil entender por
que os EUA passam dificuldades em suas campanhas militares atuais, no
Afeganistão e Iraque, contra o Daesh e Al-Qaeda [duas organizações terroristas
proibidas na Rússia e em vários outros países] e suas filiais na Líbia e Iêmen,
e nas campanhas não declaradas nos países do Báltico, Polônia e Ucrânia, que
não encaixam no modelo de guerra tradicional norte-americano", assinalou
em entrevista ao Combating Terrorism Center o ex-chefe do JSOC, Charles
Cleveland.
Há
muitas vantagens em envolver as forças especiais: o custo de uma missão
com sua participação é mais baixo do que enviar um enorme contingente militar.
Os soldados deste tipo de forças são mais universais, sendo capazes de eliminar
algum terrorista influente ou assegurar o cumprimento de qualquer acordo
diplomático temporário entre os lados em confronto.
Além
do mais, o envio de forças especiais não provoca um descontentamento público,
já que aos conflitos em selvas distantes ou a desertos cheios de jihadistas não
são enviados seus vizinhos, que se juntaram ao exército para conseguir um
emprego ou formação académica gratuita, mas profissionais que combatem
voluntariosamente em destacamentos de elite.
Sendo
assim, os resultados dessa realidade são controversos. Os presidentes
norte-americanos têm a tentação de resolver qualquer problema militar através
do envolvimento de forças especiais a fim de evitar uma intervenção militar e
negociar um compromisso político.
Soldados
se cansaram
O
uso ativo de forças especiais às vezes falha. Por exemplo, no fim de janeiro,
durante um ataque contra objetivos da infraestrutura da Al-Qaeda no Iêmen,
morreu um dos soldados dos Navy SEALs, a força de operações especiais da
Marinha dos EUA, três outros ficaram feridos. Em outubro, quatro soldados
norte-americanos morreram em resultado de um ataque terrorista no Níger.
Aparentemente,
a eficácia das operações especiais vem diminuindo dramaticamente: desde 2001,
os soldados estadunidenses eliminaram milhares de terroristas e seus chefes no
Paquistão e Afeganistão, contudo, os talibãs continuam mais fortes do que
nunca.
De
acordo com os dados do Departamento de Estado, durante os últimos oito anos,
apesar de mais de 200 ataques aéreos do JCOS e parcialmente da CIA,
as forças da Al-Qaeda na península da Arábia subiu de algumas centenas
para quatro mil.
Contudo,
a culpa não é das próprias forças especiais, mas sim dos líderes políticos e
comandantes de alto escalão, que não conseguem elaborar uma estratégia inteligente
de utilização desses soldados de elevado profissionalismo.
Não
é a nossa guerra
Por
sua vez, a atitude dos norte-americanos comuns perante as tropas mais
competentes do país vem mudando também.
"As
forças especiais norte-americanas viraram uma espécie de versão da Legião
Estrangeira francesa. A força da Legião é que ela é toda composta de
estrangeiros. Os parisienses não ficarão preocupados se em algum lugar do mundo
morrerem vários legionários, já que eles não são 'dos nossos'. As nossas forças
especiais se tornaram em uma força desse tipo", assinalou em entrevista ao VICE um sargento norte-americano de forças especiais
pedindo anonimato.
De
acordo com ele, as forças especiais atuais dos EUA são percebidas como se
fossem um exército composto de estrangeiros. Os cidadãos do país não sentem uma
ligação com os combatentes. Por sua vez, os próprios soldados destas tropas não
recebem o devido reconhecimento por parte das autoridades e da sociedade.
É
difícil que alguma coisa mude no futuro mais próximo. Sendo assim, cedo ou
tarde Washington vai ter de encarar a necessidade de reformar suas tropas mais
competentes.
Fotos: 1 - Public
domain. 2 - AP PHOTO/ PFC. LANE
HISER/ U.S.
ARMY.
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