quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

PORTUGAL | A doença da Saúde

Vítor Santos* | Jornal de Notícias | opinião

Só há duas maneiras, ambas nada abonatórias, para justificar o facto de alguém considerar que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não presta: desconhecer, em absoluto, a realidade de outros países, ou ser político na Oposição. Mas isso não significa que o SNS esteja isento de críticas. Bem mais grave, no entanto, é percebermos que um dos grandes males, aparentemente, sem remédio, continue a ser a falta de programação e antecipação de medidas para bloquear os problemas, mais, até, do que a canalização de meios financeiros para um setor fundamental na vida das pessoas.

A gripe, e ainda não atingimos a fase crítica, começa a provocar o caos nas urgências dos hospitais. Quando vamos tentar perceber como é possível não estarmos bem preparados para um surto mais previsível do que chover no inverno vemos que, por exemplo, os hospitais chocam com dificuldades incompreensíveis ao acionarem os planos de contingência, designadamente na abertura de mais camas e respetivo aumento de profissionais. As armadilhas - ou a demora na autorização para executar despesas - são colocadas no caminho pelo Ministério das Finanças. O processo atrasa, as unidades de saúde entopem, e o pior que pode acontecer é mesmo o processo ficar concluído quando o período crítico passar, desperdiçando-se, assim, meios e muito dinheiro, esse bem escasso na gestão de um país que tem a quarta dívida mais alta entre as economias desenvolvidas. Ou seja, no poupar, neste caso, pode estar a perda de Mário Centeno.

Mesmo sem grandes folgas orçamentais, o acesso à saúde em Portugal deve continuar a justificar crédito e a merecer investimento, sendo, por isso, uma inadmissível falta de respeito António Costa esquecer-se de cumprir a promessa de criar 25 novas Unidades de Saúde Familiar (USF) por ano durante a atual legislatura. O primeiro-ministro contou 23 em 2017, mas apenas foram abertas cinco, num exercício de matemática nível zero tão característico dos políticos na hora em que lhes escrutinam as promessas.

Mais do que a preocupação com as mordomias de sedução aos médicos para se deslocarem para fora dos grandes centros urbanos (como seria se tivessem de viver com o ordenado dos professores?), importa olhar com respeito uma área fundamental, sobretudo para as pessoas cuja bolsa não permite estacionar nos hospitais privados. E isso não se consegue com travões burocráticos de ministérios, seja por causa de cativações, desorganizações ou outra habilidade qualquer.

*Editor-executivo-adjunto

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