O líder da bancada parlamentar da
UNITA, maior partido da oposição em Angola, disse hoje que vai submeter ao
Parlamento um pedido para constituição de uma comissão de inquérito à dívida
pública, defendendo igualmente a realização de uma auditoria. De derrota em
derrota até à vitória final, espera o Galo Negro.
Adalberto da Costa Júnior falava
à imprensa no final da sessão de aprovação do Orçamento Geral do Estado (OGE)
para o exercício económico de 2018, que contou com voto contra da UNITA.
“Nós temos ainda o inquérito ao
BESA [Banco Espírito Santo Angola] não foi feito, à Sonangol não foi feito, ao
Fundo Soberano, anda nos gabinetes, nas gavetas, mas posso dizer-vos que vai
entrar uma [pedido de constituição] comissão parlamentar de inquérito à dívida
pública. Já temos tudo pronto”, disse.
O deputado referiu que o
executivo manifestou publicamente estar aberto a uma auditoria à dívida
pública, mas “não faz”, como também até ao momento não foi entregue a lista das
organizações financiadas de utilidade pública prometida pelo ministro das
Finanças.
“Nenhuma das iniciativas
fundamentais, a despartidarização do OGE é fundamental, não fizeram,
continuamos com os mesmos vícios tal como aqui foi dito e sobre estas matérias
lamentamos, porque nós pedimos essas mudanças e o Governo não foi corajoso o
bastante para as fazer e não pode. Não se formata o futuro desta forma”, disse
Adalberto da Costa Júnior.
Questionado pelos jornalistas à
saída da sessão de hoje no Parlamento sobre a meta da dívida pública angolana,
o ministro de Estado para o Desenvolvimento Económico e Social, Manuel Nunes
Júnior, disse que é preciso trabalho para garantir níveis de crescimento que a
tornem sustentável.
“Porque mesmo as economias mais
avançadas do mundo têm défice nos seus orçamentos, o importante é fazer com que
haja um crescimento que seja sustentável e permita fazer com que essa dívida
não se torne uma dívida problemática”, disse.
Sobre se o Governo se mantinha
aberto a uma auditoria à dívida pública, como proposto pela UNITA, Manuel Nunes
Júnior não respondeu.
Agora o ministro não responde
porque o mandaram estar caladinho quanto a este assunto. Recorde-se que a
admissão dessa possibilidade foi feita aos deputados pelo próprio ministro de
Estado e do Desenvolvimento Económico e Social, Manuel Nunes Júnior, durante a
discussão da proposta de lei do OGE na Assembleia Nacional.
“Em nome do rigor e da
transparência da gestão pública, não nos opomos para que sejam accionados todos
os elementos legais que assegurem a concretização deste princípio, incluindo
auditorias”, disse Manuel Nunes Júnior.
Recordando que “ninguém pode
ficar acima da lei”, o ministro explicou, ainda assim, que o Tribunal de Contas
já pode, actualmente, ao preparar o seu parecer, fazer as averiguações
necessárias sobre qualquer parte da gestão do país, incluindo a dívida pública.
“Portanto, não vemos que esse
aspecto não possa ser implementado”, disse Manuel Nunes Júnior.
A dívida pública governamental
(que exclui a contraída pelas empresas públicas angolanas), já ultrapassou o
equivalente a 67% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, segundo dados de
Janeiro do Ministério das Finanças.
A despesa do OGE para 2018 com a
dívida pública é uma das maiores preocupações admitidas pelo Governo angolano,
que assume o objectivo, segundo o ministro das Finanças, Archer Mangueira, de
“alterar a actual trajectória”, através de um “exercício de consolidação
fiscal”.
O ministro das Finanças explicou
a 18 de Janeiro que o Estado vai precisar de contrair 1,128 biliões de kwanzas
de dívida (4.370 milhões de euros) em 2018, enquanto necessidades líquidas,
acrescido de 4,153 biliões de kwanzas (16.000 milhões de euros) para pagar o
serviço da dívida actual, respeitante a este ano.
Recorde-se que a agência de
notação financeira Moody’s prevê que a dívida pública de Angola suba para mais
de 70% do PIB no primeiro trimestre deste ano, crescendo 10 pontos percentuais
só desde Outubro.
“A dívida global de Angola face
ao PIB já subiu 10 pontos percentuais para além do nível que a Moody’s
antecipava em Outubro de 2017″, quando a agência de notação financeira desceu o
‘rating’ do país para B2, ainda mais abaixo na recomendação de não
investimento, escrevem os analistas na nota que acompanha a decisão de colocar
a avaliação da qualidade do crédito em revisão negativa.
O aumento da dívida pública
angolana deveu-se essencialmente “à depreciação do kwanza face ao dólar e ao
apoio financeiro dado às empresas públicas no ano passado”, o que faz com que a
Moody’s estime que a dívida pública tenha chegado aos 74 mil milhões de
dólares, cerca de 66% do PIB, no final do ano passado”.
Isto, “juntamente com o
ajustamento cambial em curso e com a eliminação de 5 mil milhões de dólares em
atrasos a fornecedores, [faz com que] o rácio da dívida deva ultrapassar os 70%
no final deste trimestre”.
Folha 8 com Lusa
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