O panorama político que os
guineenses vivem nos últimos dias, é para muitos uma espécie de "carnaval
dos políticos". Os partidos contestam o novo primeiro-ministro e deixam o
Presidente, José Mário Vaz sozinho.
O sétimo primeiro-ministro, em
apenas três anos, na era José Mário Vaz, Presidente da Guiné-Bissau, poderá ser
brevemente uma realidade tendo em conta a nova dinâmica política que se compara
com uma espécie de "carnaval político". Várias opiniões dos atores
políticos indicam que Artur Silva, novo primeiro-ministro, empossado no
final de janeiro, não terá pernas para andar a frente dos destinos do Governo
que terá a missão de organizar as próximas eleições legislativas como lhe
incumbiu o chefe de Estado.
Perda de apoio
Observadores em Bissau notam que
o evoluir da situação deixou clara a ideia de que o Presidente guineense, está
praticamente encurralado com a nomeação de Augusto Silva, contestado por
todos os blocos políticos antagónicos no país. Na opinião desses
observados, citados pela imprensa local, o grupo dos 15 deputados expulsos
do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) e o PRS
(Partido da Renovação Social) que têm sido aliados do Presidente, suportando os
últimos dois Governos, já começaram a distanciar-se de José Mário Vaz. Um
cenário que coloca o chefe de Estado numa situação complicada e isolada. Mas,
será que foram as sanções da CEDEAO que provocaram este distanciamento?
O PRS que é a segunda força
política do país, até aqui aliado do Presidente, está a exigir agora que José
Mário Vaz cumpra o Acordo de Conacri. Para Víctor Pereira, porta-voz do
partido, sem o cumprimento do Acordo, o partido ficará fora do próximo Governo.
"No âmbito da formação do
novo executivo, o PRS leva à informação ao povo guineense, a comunidade
internacional, e em particular a CEDEAO, de que depois de, formalmente,
contactado pelo primeiro-ministro, confirmamos que a nossa formação política só
participará num próximo Governo no estrito cumprimento dos compromissos
firmados no Acordo de Conacri, como um dos subscritores", afirmou Víctor
Pereira.
Se até há duas semanas, o grupo
dos 15 defendia a implementação de um roteiro apresentado pelo Presidente
guineense como solução para a saída da crise, com a nomeação de Artur Silva,
esse mesmo grupo exige agora que José Mário Vau nomeie um
primeiro-ministro de consenso. Os15 já deixaram claro que só assim
irão participar num próximo Governo, resultante da implementação
consensual do Acordo de Conacri.
O que diz o Acordo de Conacri?
O Acordo de Conacri, com 10
pontos, prevê, nomeadamente, a nomeação de um primeiro-ministro de consenso e
de confiança do chefe de Estado, para além da formação de um Governo
consensual integrado por todos os partidos representados no Parlamento. Os três
nomes propostos pelo Presidente guineense são, Augusto Olivais, Mamadú Fadia e
Umaro Sissoco Embaló. O nome do atual primeiro-ministro, Artur Silva não
consta da lista.
Se a nomeação de um
primeiro-ministro de consenso não se concretizar, Artur Silva já avançou a
ideia do cumprimento de outros pontos que fazem parte do Acordo , para a
resolução definitivamente do problema: "como sabe o Acordo de Conacri tem
10 pontos, nós pensamos que os pontos restantes, para além da nomeação do novo
primeiro-ministro, poderiam servir como base para a formação de um Governo
inclusivo que se pretende fazer", assegurou Silva.
Demissão de Artur Silva?
Os cinco partidos com assento
parlamentar insurgiram-se contra a nomeação de Artur Silva, a quem reconhecem
qualidades e experiência, mas alegam que a sua indigitação está fora
da lei. O seu antecessor, Umaro Sissoco Embaló, também se posicionou contra,
considerando que o primeiro-ministro indigitado viola o Acordo de Conacri.
"Nem vou falar do Artur. Ele
foi indigitado. Não está no Acordo. Foi nomeado na base do cumprimento do
Acordo de Conacri", destacou Embaló.
Perante este cenário, tudo indica
que o Presidente da República não terá outra saída se
não demitir Artur Silva.
Entretanto, no meio desta crise,
o Presidente guineense encontra-se há mais de quatro dias em Portugal, numa
visita privada e deverá regressar ao país, no fim de semana, indicam fontes da
presidência guineense.
José Mário Vaz deverá interromper
as "mini-férias" em Portugal para vir resolver o
"imbróglio".
Braima Darame (Bissau) | Deutsche
Welle
Na foto: José Mário Vaz, PR.
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