Uma equipa médica
multidisciplinar portuguesa da Fundação Calouste Gulbenkian, está a estudar
várias hipóteses e cenários para determinar a origem da celulite necrotizante que
se alastra em Sao Tomé e Príncipe.
Ainda não se conhece a origem da
doença que inquieta as autoridades locais por constituir mais um problema de
saúde pública em São Tomé e Príncipe. Várias hipóteses e cenários estão a ser
estudados por uma equipa multidisciplinar portuguesa para determinar a causa e
como combater a celulite necrotizante.
A componente laboratorial e
clínica reforça a pesquisa, como refere Maria Hermínia Cabral, diretora do
Programa Parcerias para o Desenvolvimento da Fundação Calouste Gulbenkian.
"Todos estão a fazer em prol
do mesmo objetivo e todos coordenados, designadamente até através da componente
clínica que cada uma das análises vai exigir", assegurou.
Celulite necrotizante resistente
ao tratamento
A celulite necrotizante não é
contagiante "ela manifesta-se por úlceras da pele, (sobretudo nos membros
inferiores), que evoluem muito rapidamente de forma profunda e muito resistente
ao tratamento" explica Maria João Simões, responsável da Unidade
Laboratorial Integrada do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, que
volta a São Tomé em maio.
"É uma doença que,
seguramente, é causada por bactérias toxinogénicas. Ou seja, há toxinas
responsáveis por esta evolução clínica tão rápida e tão alastrada. Tudo nos
leva a crer que existem duas bactérias que são responsáveis por essa doença,
mas não percebemos como é que essas bactérias se transmitem." diz.
Maria João Simões, avança ainda
que a celulite necrotizante " não é transmissível. Aliás, houve evidências
disso porque numa parte do estudo epidemiológico que se conhece, numa mesma
casa não há mais do que um doente. Ou seja, parece não se transmitir aos convivas
da mesma casa. E se fosse transmissível eu creio que o número de casos seria
muitíssimo maior".
Resposta ao surto da doença
De acordo com a Organização
Mundial da Saúde (OMS), a infeção já afetou aproximadamente 2550 pessoas desde
setembro de 2016 até meados deste mês de abril. Não há registos de mortes
reportados unicamente a esta doença.
O pico da infeção ocorreu entre
setembro e novembro daquele ano, segundo Luzia Gonçalves, técnica de
bio-estatística na Unidade de Saúde Pública Internacional do Instituto de
Higiene e Medicina Tropical.
Esta responsável analisou os
dados divulgados pela OMS e considera que, nos últimos meses, tem havido menos
casos. "Os números têm oscilado bastante nas últimas semanas. A tendência
tem sido de diminuição para cerca de 20 a 30 casos semanalmente», acrescenta.
"Sabe-se que os números dos
finais de 2016 e início de 2017 são superiores aos que estão agora a acontecer
durante estes primeiros meses de 2018", refere Luzia Goncalves.
De modo a reforçar o trabalho já
efetuado pela OMS, decorre entre abril e maio um inquérito epidemiológico que
visa recolher informações acerca das variáveis que possam ajudar a identificar
os eventuais fatores de risco associados a esta doença.
"Aquilo que tencionamos
fazer é alargar essa recolha de dados a um maior número de variáveis no sentido
de poder, eventualmente, identificar algumas variáveis e mesmo algumas medidas
de prevenção que as pessoas possam realizar no seu dia-a-dia com vista à
prevenção da doença", precisa Luzia Gonçalves.
Campanha de sensibilização a doença
Para dar resposta ao surto da
doença, o Governo são-tomense lançou um apelo internacional, na sequência do
qual surgiu este projeto, coordenado pela Fundação Calouste Gulbenkian. Conta
com o financiamento português e conhecimento técnico de entidades como o
Instituto Gulbenkian de Ciência, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo
Jorge e o Instituto de Higiene e Medicina Tropical, bem como o apoio da
indústria farmacêutica portuguesa.
A par disso, também será lançada
uma campanha de sensibilização à população, em parceria com o Ministério da
Saúde de São Tomé e Príncipe.
Segundo Maria Hermínia Cabral o
"objetivo deste projeto é também dar contributos para essa campanha de
sensibilização. Porque a campanha só faz sentido se tiver uma evidência
científica também", indica.
Com uma antibioterapia
correta e, nalguns casos, com intervenção cirúrgica de limpeza da ferida, a
evolução será positiva, segundo os conselhos de Maria João Simões.
"Naturalmente, uma boa higiene pessoal e o ambiente cuidado são medidas
generalistas recomendáveis", adianta. Mas, "as medidas de prevenção
serão muito mais efetivas e eficazes depois de se conhecer melhor a
epidemiologia e a causa da doença", refere a técnica do Instituto Ricardo
Jorge.
João Carlos (Lisboa) | Deutsche
Welle
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