No Pavilhão Polidesportivo Kiko
Narvaez, em Jerez de La Frontera, todos os dias chegam migrantes que fazem a
travessia do mediterrâneo. Trazem histórias de desespero para contar.
Está à porta do Pavilhão, a
conversar com outros homens nas mesmas condições. É alto, esguio, tem a pele
muito escura. Anda há quatro anos em viagem desde os Camarões, o país de
origem. Primeiro não quer falar. Depois acede a contar a sua história e a
travessia por diversos países.
"Conhece o Deserto? Não é
fácil. Eu tive sorte porque só fiz três dias no deserto", conta Jacques.
"Por vezes morres no deserto. Não há água, não há nada. Só a areia e o
sol, mas Deus ajudou e eu consegui passar".
Jacques tem um longo percurso de
vida para contar. Ali todos têm. Tiabi Suleiman, por exemplo, saiu da Costa do
Marfim há oito anos. Tem andado de país em país. Em Marrocos foi obrigado a
mendigar pelas ruas."Por vezes perto de um Palácio ou na via pública a
pedir 1, 2 dirhams para comer."
Decidiu juntar-se a outros homens
e arriscar a vida para atravessar o Mediterrâneo. "No Zodíaco, um barco de
5 metros. Viemos a remar até à costa Espanhola".
Jacques conta que quando
atravessou o deserto viu cadáveres à sua volta. De homens e animais. "No
deserto há esqueletos de uns e outros que morreram. Há também corpos de
camelos. O deserto é como o mar mediterrâneo". Um cemitério a céu aberto.
São cerca de 160 homens que estão
num pavilhão polidesportivo em Jerez de La Frontera. São auxiliados pela Junta
da Andaluzia e a Cruz Vermelha. Dão-lhes roupas, comida, cama, um local para
tomarem duche. E também acesso a um telemóvel por dois minutos para que
contactem a família ou amigos.
Nenhum destes imigrantes sabe
como vai ser o seu futuro, nem para onde irão nos próximos tempos. Têm apenas
uma vontade: Ter trabalho para enviar dinheiro para a família. "E paz e um
local onde possamos ser considerados".
Reportagem de Maria Augusta
Casaca na TSF
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