Em Luanda, as vendedoras
ambulantes, conhecidas como "zungueiras”, queixam-se de maus tratos por
parte dos agentes da fiscalização, que lhe passam corridas e até as agridem.
Ativista fala em Justiça desigual.
Luciana Nsumba é uma das muitas
zungueiras que encontram nas ruas de Luanda o sustento dos filhos. Mas não é
fácil garantir o pão durante o dia devido à ação dos agentes da fiscalização.
Luciana Nsumba já chegou a ser presa algumas vezes.
"Já fui presa cerca de três
vezes no bairro Uige e no São Paulo nas corridas. Na prisão, fica-se mesmo de
castigo. Não se vai lá fora. Quando alguém vem te ver, eles dizem: ‘a fulana
não está aqui'. E você fica mesmo ali, a sofrer, sem água e sem comida. Se eles
quiserem, perguntam: ‘tens marido?'. Se disseres que tens, mandam chama-lo para
ele pagar a multa de dez mil kwanzas [cerca de 33 euros]”, explicou à DW
África.
Luciana Nsumba revelou ainda que
muitas vezes as zungueiras são vítimas de agressão na rua e os seus produtos
são levados pelos fiscais do Estado.
"Eles dão corrida, depois de
te agarrar, e levam o negócio. Depois de ser levado o negócio, ainda te batem.
Eles sabem que vão cobrar dinheiro para devolver o
negócio, mas ainda te dão muitas voltas”, acrescentou.
Ser zungueira pode ser fatal
As corridas são constantes. Na
tentativa de fugir dos fiscais, muitas vezes as zungueiras são atropeladas
porque vendem os seus produtos à berma das estradas. Ainda na última
quinta-feira (9.08) uma zungueira sobreviveu a um atropelamento no município de
Viana, mas há situações em que acabam por morrer, denuncia a ativista Laurinda
Gouveia.
"Muitas zungueiras ao vender
e ao fugir dos fiscais atravessam as estradas e ao atravessar o carro bate-lhes
e acabam por morrer. E outras morrem por espancamento”, conta Laurinda Gouveia.
Ainda assim, os fiscais não são
responsabilizados. No entanto, o Tribunal Provincial de Luanda, condenou, no
mês passado, a cidadã Maria Francisco Bento, de 45 anos, a cinco meses de
prisão convertidos em multa por agredir um agente da fiscalização quando
tentava remover a sua viatura mal estacionada na via pública.
Justiça não é igual para todos
Para Laurinda Gouveia, a "Justiça
devia ser para todos” e que também devia haver responsabilização par os fiscais
e o próprio Governo.
"Fazem isso porque o Governo
acha que tem que manter a cidade limpa e manter a cidade limpa é combater as
zungueiras ao invés de olhar para questões básicas. Elas só estão na rua porque
vão buscar algumas coisas para comer”, defende Laurinda Gouveia.
Manuel Luamba | Deutsche Welle
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