O vídeo em cima tem a chancela de
24 Brasil TV e tem pertença a algo denominado Jacaré de Tanga. O “relator” é um
servo de Bolsonaro e decerto seu seguidor. Até deixa “recado” à esquerda
brasileira. Palavra fácil do “moço”… E certamente vida fácil. Compensação?
Certo é que no vídeo que
protagoniza a alegada facada não se vê pinga de sangue? É estranho. Ao menos
uma manchinha. Nada. Que foi facada ligeira, também dizem. Será? E, mesmo que
ligeira, não será um embuste? É que de e dos Bolsonaro tudo se espera no vale
tudo para tirar vantagem. É bem provável que o passar do tempo esclareça
algo que agora tem toda a legitimidade para ser questionado. A ser verdade, é evidente
que o ato é condenável mas se foi só uma facadinha porquê tanto aparato, tanto
espetáculo? Lá voltamos nós à encenação… Que coisa!
A seguir, António Martins, do
Outras Palavras, escreve e fala, no original, sobre a facada e pergunta: quem a facada atingiu? Mais outros que o "tadinho" do Bolsonaro. Não? (PG)
Quem a facada
atingiu?
Atentado contra Bolsonaro fere
Alckmin, abençoa a união dos conservadores em torno da ultra-direita e sugere à
esquerda que está em jogo, em outubro, algo muito maior que uma disputa
partidária
Antonio Martins | Outras
Palavras | Vídeo: Gabriela Leite | Imagem: Francisco Goya, Duelo
com porretes (1820-23)
As atitudes de quem deseja
reumanizar e reencantar o mundo não podem ser simétricas às dos que agem em
favor da barbárie. Jair Bolsonaro defendeu a tortura e o estupro, mas é
exatamente por nos opormos à brutalidade que repudiamos o atentado a ele.
Felizmente, tudo indica que o ex-capitão, afastado do Exército por planejar
atentados terroristas, sobreviverá ao atentado. Mas as eleições já não serão as
mesmas. Três novas tendências e questões emergirão.
Primeira: Bolsonaro unificará a
direita. Havia, até agora, uma disputa acirrada entre ele e Alckmin – nos
programas de campanha e na Justiça eleitoral. Nas pesquisas, o ex-capitão tinha
treze pontos percentuais de vantagem, mas era atacado maciçamente na TV por seu
adversário, que buscava explorar suas posições violentas e anti-humanitárias.
Agora, Bolsonaro poderá se apresentar como vítima (real) desta mesma violência
que defende. O ex-governador conseguirá reverter, em um mês e sob comoção, a
disância que o separa?
Os mercados financeiros deram uma
primeira resposta na própria tarde da sexta-feira. Houve uma reviravolta após o
atentado. A Bovespa subiu; o dólar, que havia atingido RR 4,16, recuou. Já
havia forte tendência, entra a elite financeira e o grande empresariado, de
opção pela extrema-direita. Este movimento pode ter se consolidado. Portanto, a
primeira vítima da facada pode ter sido Alckmin.
Segunda: está novamente aberta a
disputa pelo papel de candidato anti-establishment. Em eleições com o país
mergulhado em crise econômica, e em profundo desgaste do sistema político,
aparecer como alternativa pode ser decisivo. Bolsonaro tentou ocupar o papel.
Não havia conseguido até agora. As pesquisas o mostram, há meses, estancado em
22% das preferências dos eleitores – e provavelmente batido tanto por Marina da
Silva quanto por Ciro Gomes, num eventual segundo turno. Para os eleitores, o
candidato anti-sistema é, por enquanto, Lula, preso político com 40% das
intenções e enorme poder de transferência de votos. Agora, muito provavelmente,
o atentado permitirá que Bolsonaro volte a aparecer, para parte importante da
população como alguém incômodo aos poderosos, e portanto merecedor de apoio.
Terceira questão: É necessário,
aliás, investigar em profundidade as circunstâncias em que o ataque ao
candidato se deu. As imagens mostram que o homem que investiu com a faca estava
a três corpos de distância doe Bolsonaro. Minutos depois da facada, o filho do
ex-capitão afirmou, nas redes sociais, que o ferimento havia sido “superficial”.
Surgiram, em seguida, informações desencontradas sobre uma cirurgia [que agora
parece confirmada]. A História está repleta de atentados forjados. Ocorreu na
Alemanha, no incêndio do Reichstag. Ou no Brasil de 2010, quando José Serra,
então candidato à Presidência, foi atingido por uma bolinha de papel, simulou
tratar-se de um objeto metálico e chegou a se submeter a tomografia de crânio.
Qual é, de fato, a natureza do ferimento? Quem é o autor do atentado? Que o
levou a cometer tal ato? Ao país, interessa o esclarecimento cabal destas
questões.
Quarto ponto: O atentado mostra
para a esquerda que não estamos diante de uma disputa eleitoral qualquer,
regida pelas velhas táticas da luta partidária pelo governo. Está em jogo o
futuro do país. Os que desejam manter a agenda de retrocessos imposta há dois
anos – e, se possível, aprofundá-la – farão de tudo para isso. As relações
entre Haddad/Lula, Ciro Gomes e Boulos precisam ser revistas.
Há, na sociedade, um grande campo
antigolpe, muito provavelmente majoritário. Este campo correrá o risco de continuar
a se dividir entre três candidaturas? Os fatos de hoje não mostram que acima
das disputas partidárias é necessária uma unidade de quem deseja reverter os
retrocessos pós-golpe? Não é possível voltar a pensar num “Geringonça
Brasileira”, que se traduza desde já numa articulação clara entre o PT, o PDT,
o PCdoB e o PSOL? Significaria estabelecer desde já um programa comum de
resgate do país e dos direitos; politizar a disputa pelos Legislativos,
trabalhando em conjunto pela eleição de uma vasta bancada pela revogação dos
retrocessos; estabelecer planos compartilhados para um governo de reconstrução
nacional. Isso tudo não daria às eleições um caráter muito mais denso que a
mera disputa partidária?
Os tempos aceleram-se. Teremos,
apóso feriado, a divulgação de uma nova pesquisa do Datafolha (em 10/9). É
difícil prever os fatos que virão. Mas é claro que os acontecimentos da
sexta-feira projetam as eleições num novo cenário, que exige respostas não
convencionais. Saberemos compreender este desafio? É uma pergunta a ser
respondida nos próximos dias.
* Antonio Martins é Editor do Outras Palavras
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