Em Moçambique, reservas
internacionais líquidas permitem cobertura de cerca de sete meses de importação
de bens e serviços.
Moçambique gastou até à semana
passada mais de 200 milhões de dólares com o serviço da dívida pública.
Esse gasto reduziu em quase 70 milhões o volume das reservas
internacionais líquidas no país, destaca o jornal moçambicano O País, citando o
mais recente balanço do Banco de Moçambique. Apesar dos gastos, a instituição
garante que não há razões para alarme.
A dívida de Moçambique é ou não
sustentável? Falámos sobre o assunto com Fernando Lima, jornalista do semanário
e rádio Savana e comentador de questões económicas em Moçambique.
DW África: As reservas de divisas
do país estão cada vez mais derretidas. Certo?
Fernando Lima (FL): De
acordo com o Banco Central não tanto, ou seja, eles admitem que houve uma
descida, mas por outro lado, dizem que as reservas continuam sólidas, portanto
com plafond para sete meses, o que corresponde aos padrões
internacionais. Mas esses números também têm que ser melhor explicados,
porque Moçambique tem uma dívida sobre o exterior que não está a pagar e, por
outro lado, os valores da nossa dívida - quer externa quer interna, e
sobretudo a dívida doméstica - caminham para patamares insustentáveis.
DW África: Isso quer dizer que há
cada vez menos investidores disponíveis para comprar títulos da dívida
moçambicana?
FL: De facto, os bancos
comerciais têm tido alguma relutância em comprar Obrigações
do Tesouro.
DW África: E quem vai pagar a
crise financeira? Serão os cidadãos mais vulneráveis através do aumento
dos impostos e dos preços de bens essenciais, como pão ou combustíveis?
FL: Para já os consumidores
moçambicanos estão sob uma enorme pressão perante uma série de pequenos
aumentos de tesouraria, que se fazem todo o mundo, nomeadamente com o
encarecimento de muitos serviços públicos. Certamente acompanharam a tentativa
do Gabinfo (Gabinete de Informação de Moçambique) de aumentar as suas taxas ou
criar novas taxas para a comunicação social. Estou a citar isso, como exemplo
do estratagema que o Governo está a utilizar. Mas existem outros exemplos,
nomeadamente nos serviços de fronteiras, serviços das conservatórias e dos
notários, etc., onde os preços têm subido astronomicamente, para não falar
também dos próprios ajustamentos de alguns bens e serviços como é o caso na
gasolina.
DW África: Isso tudo acontece por
imposição do Fundo Monetário Internacional (FMI) ?
FL: Digamos que o Governo
vai cedendo a algumas sugestões do FMI e, por outro lado, esta instituição fica
agradada, porque isto depois mostra resultados palpáveis, pelo menos ao
nível dos números, e por outro lado, de algum modo, desacelera a pressão em relação
ao famoso caso das dívidas ocultas e a falta de explicação sobre o relatório
concernente a essas mesmas dívidas e que no parecer de FMI contém muitas
lacunas...
DW África: E o pagamento dos
salários aos funcionários públicos está assegurado nos próximos meses?
FL: É fundamental que o
Governo mantenha os funcionários públicos com os seus salários em dia, porque o
Governo conta com esses funcionários para votarem no partido FRELIMO, quer em
outubro nas eleições autárquicas quer depois, no próximo ano, nas eleições
gerais.
António Cascais | Deutsche Welle
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