CIP exige anulação da nomeação do
irmão da diretora do GABINFO na TVM. A Comissão de Ética reconhece que houve
violação da Lei de Probidade Pública. Entretanto, não está claro que órgão tem
o poder de repor a legalidade.
Está claro que Emília Moiane,
enquanto responsável do GABINFO, Gabinete de Informação, violou a Lei de
Probidade pública, na sua alínea a)do número um do artigo 36.
Alfredo Gamito é porta-voz da
Comissão Central de Ética Pública (CCEP) e confirma que "a nomeação por
ela de um familiar próximo, como é o caso de um irmão, gera um conflito de
interesses muito claro, ela não podia fazer isso."
A teimosia de Emília Moiane
E ele esclarece: "Nós
comunicamos a senhora [Emília Moiane]. Aliás, ela primeiro perguntou se podia
fazer e nós convocámos a senhora e estivemos a explicar que não podia e depois
teve este desenvolvimento."
A nomeação foi contestada no
país, principalmente pela classe jornalista. Também o CIP, Centro de
Integridade Pública, emitiu o seu parecer sobre o assunto pedindo a sua
anulação por considerar que houve falta de transparência.
Mas a Comisão Central de
Ética Pública diz que não é sua função tomar medidas e passa a responsabilidade
a outros: "Depois da deliberação da Comissão Central de Ética Pública não
cabe a nós CCEP fazer o controlo da execução dessa decisão. Quem o deve fazer é
o Gabinete Central de Combate à Corrupção. Nós enviamos a deliberação,
comunicamos a pessoa e enviamos a deliberação ao Gabinete Central de Combate
à Corrupção e ela é que tem de fazer o monitoramento dessa situação."
Que órgão deve repor a legalidade?
Entretanto, para o CIP, não está
claro que órgão tem o poder de repor a legalidade, embora esteja ciente de que
esse é o procedimento previsto.
O pesquisador da ONG Baltazar
Fael levanta alguns pontos opacos: "Mas aqui já fica uma dúvida: quem é a
entidade que pode pressionar para que esta situação se altere? Na minha ótica
tem de ser a Comissão a enviar o documento ou uma chamada de atenção para o
GABINFO a dizer que isso é contornar a lei, porque o que faz o Gabinete Central
de Combate à Corrupção é simplesmente verificar no caso de conflito de
interesses que é suscitado se existe uma situação de corrupção ou não. E está
claro que naquele caso, parece-me que não há nenhuma situação de corrupção, mas
sim de conflito de interesse."
E Fael questiona ainda a
legislação moçambicana: "Agora, também vamos dizer que a nossa legislação
é omissa porque ela não diz qual é o órgão que deve notificar o GABINFO por uma
questão concreta de conflito de interesses."
Primeiro-ministro irá repôr a
legalidade?
Face a este vazio, quem poderia
impelir a diretora do GABINFO a anular a nomeação?
Para o pesquisador do CIP é
"quem está acima da diretora do GABINFO, o primeiro-ministro. O GABINFO
não é um órgão regulador da comunicação social. O GABINFO é uma instituição do
Estado e quem nomeia a diretora do GABINFO é o primeiro- ministro. Sendo assim
quem deve intervir nesse sentido é o primeiro-ministro."
De qualquer forma o caso não tem
ainda um desfecho, a Comissão de Ética volta a ter o assunto nas mãos por
outro aspeto nebuloso, como conta Alfredo Gamito: "Mas quero dizer também
que o assunto não está completamente encerrado. O que aconteceu de facto, é que
ela delegou uma segunda pessoa a fazer o despacho de nomeação. Agora, sucede
que estamos em análise, não temos a certeza se essa pessoa tinha competência
para fazer essa nomeação. A nomeação continua ilegal."
MISA lembra que Marcos pode ter
mérito
E a DW África convidou o MISA
Moçambique a reagir a nomeação polémica. O presidente do organismo, Fernando
Gonçalves, antes de mais sublinha que "Sérgio Marcos é trabalhador da
Televisão de Moçambique (TVM) e nós entendemos que qualquer trabalhador da
Televisão de Moçambique tenha mérito e tenha o direito de ser nomeado."
Por outro lado, Gonçalves também
toma em consideração "que Sérgio Marcos é irmão da diretora do GABINFO, a
instituição que superintende a área da comunicação social em Moçambique e isso
pode ser entendido como uma situação de conflito de interesses, nepotismo e por
aí fora."
Nádia Issufo | Deutsche Welle
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