“O melhor programa econômico e
governo é não atrapalhar aqueles que produzem, investem, poupam, empregam,
trabalham e consomem” (Barão de Mauá)
Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite* | Porto Alegre
Nascido há 205
anos, no dia 28 de dezembro de 1813, na Vila de Nossa Senhora da Conceição do
Arroio Grande, o gaúcho Ireneu Evangelista de Sousa faz parte da galeria dos
grandes nomes da história brasileira.
Filho de João
Evangelista de Ávila e Sousa e de Maria de Jesus Batista de Carvalho, ele foi
entregue, com oito anos de idade, após a morte de seu pai, aos cuidados de seu
tio Manuel José de Carvalho que o levou para o interior de São Paulo onde o
menino foi alfabetizado.
Ao completar
nove anos de idade, ele passou a morar com outro tio – João Batista de Carvalho
- que era comandante de embarcação da marinha mercante e transportava couro e
charque do Rio Grande do Sul para o Rio de Janeiro Na Capital imperial, Ireneu
começou a trabalhar num estabelecimento comercial, como caixeiro do armazém,
podendo se manter, pois morava e alimentava-se no local.
Após dois anos, o
futuro Barão de Mauá passou a trabalhar na loja de tecidos do português Antônio
José Pereira de Almeida. Desenvolto e inteligente, o jovem conquistou a
confiança e a admiração do patrão que, após ter falido, indicou-o à empresa do
escocês Ricardo Carruthers mantinha negócios importantes de importação e
exportação com os ingleses. Ireneu, dedicado ao seu trabalho, logo prosperou, assumindo
o cargo de gerente. Aos 23 anos de idade, falando de forma fluente a língua
inglesa, assumiu a condição de sócio nos negócios.
No ano de 1839, quando o seu patrão retornou
ao Reino Unido, deixou-o responsável pela gerência dos negócios no Brasil.
Carruthers foi também o responsável pela introdução de Mauá na maçonaria.
Quando eclodiu a Revolução
Farroupilha (1835-1845), na Província gaúcha, sua mãe viúva e sua única irmã se
mudam - a pedido do próprio Ireneu - para o Rio de Janeiro. Naquele período,
ele ajudou conterrâneos liberais a escapar das prisões na Capital do império.
Em 1841, ele se casou com sua
sobrinha Maria Joaquina de Souza O casal teve dezoito filhos, dos quais apenas
onze sobreviveram. Os óbitos eram atribuídos ao grau de parentesco existente
entre o casal.
Passados dois anos, em 1843, ele já era
considerado um homem de posses, morando num solar na Rua do Catete. Modesto e
de costumes simples, apenas empreendeu algumas viagens à Inglaterra, visando a
seu aprimoramento acerca da indústria e do comércio. O contato com a
mentalidade empresarial dos ingleses – líderes da Revolução industrial - foi
determinante para a formação do pensamento empreendedor de Mauá.
A iniciativa
de Ireneu Evangelista de Sousa em comprar, em Niterói (RJ), uma pequena
fundição na Ponta da Areia, do britânico Charles Colman, deu início, em 11
de agosto de 1845, à indústria naval brasileira. Com esta iniciativa, Ireneu
quadruplicou o seu patrimônio.
Em seu dinâmico
empreendedorismo, ele fundou também a Companhia Fluminense de Transportes
(1852), e criou a Companhia de Navegação a Vapor do rio Amazonas (1853),
obtendo então o direito à navegação por 30 anos. A Amazônia teve pela primeira
vez um transporte regular entre seus pontos mais distantes.
No ano de 1851,
fundou a Companhia de Gás, que possibilitou a introdução da moderna iluminação
pública na capital imperial, substituindo os antigos lampiões a óleo de peixe.
Considerado o seu grande
legado, Ireneu Evangelista de Sousa foi o responsável pela construção da
primeira estrada de ferro do Brasil. No dia 30 de abril de 1854, com a presença
de dom Pedro II, ocorreu a sua inauguração, ligando o porto de Estrela, que se
situava ao fundo da Baía da Guanabara e Raiz da Serra, em direção à cidade de
Petrópolis. Nesta época, foi-lhe conferido o título de Barão de Mauá. Em
homenagem à sua esposa, a locomotiva foi denominada de
"Baroneza". Importada da Inglaterra, ela fazia um percurso de 14,5 km e tinha bitola de
1,68m.
Ao final da década de
1850, Mauá fundou o Banco Mauá, MacGregor & Cia, abrindo filiais em várias
capitais brasileiras e de outros países, como Londres, Buenos Aires e
Montevidéu; além, é claro, da cosmopolita New York. Ajudou também a fundar o
segundo Banco do Brasil, pois o primeiro havia falido em 1829. Tudo no
Brasil que remetesse a desenvolvimento e ao progresso, onde não houvesse
exploração de mão de obra escrava, tinha a marca de Mauá. Na
realidade, ele era um “estranho no ninho” num país ruralista, escravocrata e
latifundiário.
Homem liberal e
abolicionista, Mauá forneceu recursos financeiros para a defesa de Montevidéu,
quando o Brasil decidiu intervir em 1850 nas questões do Prata. Este fato
fez com que se tornasse “persona non grata” no Império. Suas fábricas passaram
a sofrer sabotagens criminosas e os negócios foram prejudicados pela legislação
que sobretaxava as importações de matéria prima para as suas indústrias.
No ano de 1857, o seu estaleiro foi criminosamente incendiado.
Grande opositor do sistema
escravocrata e do tráfico de escravos, ele compreendia que a partir de um
comércio livre e com trabalhadores remunerados, o Brasil poderia alcançar um
real progresso. Com o término do tráfico negreiro, a partir da Lei Eusébio de
Queirós (1850), o capital até então utilizado no comércio de escravos passou a
ser investido na industrialização. Dentro deste contexto, Mauá passou a se
dividir entre as atividades de industrial e banqueiro, acumulando, no auge de
seus 40 anos de idade, uma considerável fortuna.
De acordo
com Sérgio da Costa Franco em seu livro “Dicionário Político do Rio Grande do
Sul (2011), Mauá foi eleito pra a Câmara dos Deputados, em quatro legislaturas
sucessivas (1853-1866), representando o Rio Grande do Sul. Após algum
tempo, ele deixou a política, para cuidar dos negócios, que se
encontravam ameaçados desde a crise bancária de 1864.
A perseguição imposta pelos
poderosos proprietários escravocratas, que não se alinhavam à modernidade
capitalista, exercida por Mauá, contribuiu, sem dúvida, à sua derrocada
financeira.
Em 1870, Mauá
implantou o telegráfico submarino, ligando o Brasil com a Europa. Diante de
tantas contribuições, ele recebeu em 1874 o título de Visconde de Mauá.
No ano de 1875, com o
encerramento do Banco Mauá, ele se obrigou a vender a maioria de suas empresas
a estrangeiros. Apesar da sua valiosa contribuição no campo social,
político e econômico, Mauá teve que enfrentar o espectro da falência. Causada
propositalmente, a sua crise financeira poderia ter sido evitada com um
empréstimo governamental, o qual lhe foi recusado.
No ano de 1884, aos 70
anos de idade, após ter liquidado as dívidas com os seus credores, Mauá recebeu
carta de reabilitação de comerciante, passando a exercer a atividade de
corretor de mercadorias, especialmente na área da cafeicultura.
Bastante fragilizado,
sofrendo com a diabetes, o Visconde de Mauá só descansou após pagar todas as
suas dívidas, encerrando a sua existência com nobreza de caráter, embora os
reveses sofridos. Em 1999, ele foi o tema central de um filme, sendo
interpretado pelo ator Paulo Betti.
Há exatamente 129
anos, Mauá faleceu, aos 75 anos, na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro, no
dia 21 de outubro de 1889. Sem dúvida é um nome que fulgura entre os
brasileiros que lutaram e dignificaram essa Nação.
*Pesquisador e coordenador do setor de imprensa do Museu da Comunicação
Hipólito José da Costa
Bibliografia
BELLOMO, Harry Rodrigues;
ERTZOGUE, Marina Hainzereder; ARAÙJO, Thiago Nicolau de. Dicionário
Biográfico Sul-Rio-Grandense. Porto Alegre: EST, 2006.
BESOUCHET, Lídia (1978), Mauá
e seu tempo, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978.
DI RUSSO, Berlane: Nome de
Rua / Personagens e Lugares das Ruas de Porto Alegre. Porto Alegre: EST, 2000.
.FRANCO, Sérgio da Costa. Dicionário
Político do Rio Grande do Sul /1821-1937. Porto Alegre: Suliani Letra
& Vida, 2011.
LESSA, Luiz Carlos Barbosa. Calendário
histórico Cultural do Rio Grande do Sul, Porto Alegre: Corag / IEL, 1985.
Imagens
1- Retrato do
Barão de Mauá
2- Imagem da
primeira locomotiva : A Baroneza (1854)
3- Companhia
de Gás (1851)
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