Os norte-americanos vão hoje às
urnas escolher entre Republicanos e Democratas. Há alaridos em suspensos sobre
se os Democratas vão crescer na votação e os Republicanos perderem lugares. O
que talvez não esteja esclarecido para as pessoas é que independentemente do
resultado tudo continuará na mesma e Trump prosseguirá a sua senda xenófoba e
outras de “artes” habituais, mas também novas. Essas podem vir a ser mais
perigosas para o mundo no que se refere à economia e à paz que já é tão
periclitante.
De um modo ou de outro para Trump o resultado terá o desprezo de uma cuspidela. Se assim não acontecer será surpreendente.
Dito. Mais sobre o assunto está já
a seguir no Expresso. Lauda de Santos
Costa e sabe disto. Fiquemos mais esclarecidos ao ler. Força.
Bom dia e boas festas aos animais
de estimação. (MM | PG)
Bom dia este é o seu Expresso
Curto
Trump quer apanhar boleia da
caravana. Mas pode ficar apeado
Bom dia.
Filipe Santos Costa | Expresso
Uma caravana de migrantes que se desloca no México, em direção a norte, rumo à fronteira dos EUA, tornou-se no principal argumento de Donald Trump para as eleições de hoje nos Estados Unidos. Numa campanha de choque e pavor, sempre em tom nós-contra-eles, Trump nunca hesitou em espicaçar o medo dos eleitores norte-americanos em relação a uma hipotética invasão do país por uma horda de sul-americanos-criminosos-terroristas-traficantes-de-droga-violadores-e-assassinos-de-polícias.
Se julga que exagero, acredite que não. Ao ponto de um anúncio da campanha de Trump ter sido recusado pela NBC, pela CNN, pelo Facebook e até, pasme-se!, pela Fox News, o canal de “informação” que desde a campanha de 2016 leva Trump ao colo. O anúncio em causa misturava imagens da caravana com as de um mexicano que estava ilegal nos EUA e foi condenado em março pelo assassinato de dois polícias, tudo embrulhado em acusações sem fundamento contra o Partido Democrata. Se até a Fox achou que a coisa era racista e incendiária, imagine…
O que está em causa hoje nas eleições parlamentares (chamam-se intercalares porque acontecem a meio do mandato presidencial) é, basicamente, o futuro da presidência de Trump. São as condições em que o inquilino da Casa Branca poderá continuar a governar - logo, as condições em que se apresentará para a reeleição. Ou, como escreve a Vox, os eleitores decidirão que controlo será exercido sobre o poder dos republicanos, que atualmente dominam a Casa Branca e as duas câmaras do Congresso.
Embora o presidente não vá a votos, foi ele quem mais fez para tornar o dia de hoje num plebiscito a si próprio. E assim será: se os republicanos mantiverem a maioria no Congresso, Trump será religitimado, esmagará as resistências que ainda existem em relação a si no Partido Republicano, quebrará a espinha ao Partido Democrata e poderá mais facilmente concretizar as suas promessas eleitorais e ser reeleito em 2020. Se...
Todas as previsões indicam que Trump sofrerá pelo menos meio-revés. Embora tenha boas hipóteses de segurar a vantagem republicana no Senado, a maioria da Câmara dos Representantes deverá virar para os democratas. A diferença tem a ver com o que estáem disputa. Estão em jogo todos os 435 lugares da
Câmara dos Representantes, mas apenas um terço dos lugares do Congresso (35 dos
100 senadores). A Vox, que explica tudo melhor do que a concorrência, tem aqui o
que precisa de saber. Em português, recomendo o trabalho do Público(acesso condicionado).
Filipe Santos Costa | Expresso
Uma caravana de migrantes que se desloca no México, em direção a norte, rumo à fronteira dos EUA, tornou-se no principal argumento de Donald Trump para as eleições de hoje nos Estados Unidos. Numa campanha de choque e pavor, sempre em tom nós-contra-eles, Trump nunca hesitou em espicaçar o medo dos eleitores norte-americanos em relação a uma hipotética invasão do país por uma horda de sul-americanos-criminosos-terroristas-traficantes-de-droga-violadores-e-assassinos-de-polícias.
Se julga que exagero, acredite que não. Ao ponto de um anúncio da campanha de Trump ter sido recusado pela NBC, pela CNN, pelo Facebook e até, pasme-se!, pela Fox News, o canal de “informação” que desde a campanha de 2016 leva Trump ao colo. O anúncio em causa misturava imagens da caravana com as de um mexicano que estava ilegal nos EUA e foi condenado em março pelo assassinato de dois polícias, tudo embrulhado em acusações sem fundamento contra o Partido Democrata. Se até a Fox achou que a coisa era racista e incendiária, imagine…
O que está em causa hoje nas eleições parlamentares (chamam-se intercalares porque acontecem a meio do mandato presidencial) é, basicamente, o futuro da presidência de Trump. São as condições em que o inquilino da Casa Branca poderá continuar a governar - logo, as condições em que se apresentará para a reeleição. Ou, como escreve a Vox, os eleitores decidirão que controlo será exercido sobre o poder dos republicanos, que atualmente dominam a Casa Branca e as duas câmaras do Congresso.
Embora o presidente não vá a votos, foi ele quem mais fez para tornar o dia de hoje num plebiscito a si próprio. E assim será: se os republicanos mantiverem a maioria no Congresso, Trump será religitimado, esmagará as resistências que ainda existem em relação a si no Partido Republicano, quebrará a espinha ao Partido Democrata e poderá mais facilmente concretizar as suas promessas eleitorais e ser reeleito em 2020. Se...
Todas as previsões indicam que Trump sofrerá pelo menos meio-revés. Embora tenha boas hipóteses de segurar a vantagem republicana no Senado, a maioria da Câmara dos Representantes deverá virar para os democratas. A diferença tem a ver com o que está
Com todos os lugares da câmara
baixa em aberto, mais facilmente se refletirá nessa votação a impopularidade de
Trump. No Congresso é mais complicado: dos 35 lugares em jogo, só nove são
atualmente de republicanos, enquanto 26 são de democratas - ou seja, a esquerda
tem de segurar muitos mais lugares do que os conservadores. Bastaria que os
democratas não perdessem qualquer corrida e tirassem dois assentos aos
republicanos para ficarem em maioria no Congresso - mas não é fácil, apesar de
um dos maiores pontos de interrogação ser o Texas, estado tradicionalmente republicano
onde, para surpresa de todos, Beto O’Rourke ameaça o poderoso Ted Cruz com uma
campanha ao contrário daquilo que a América tem visto: otimista, inspiradora e
positiva (tenha atenção, vamos ouvir falar dele).
A confirmarem-se as sondagens, a câmara baixa do Congresso poderá bloquear quase toda a ação da Casa Branca, tornando o país de Trump, já politicamente caótico, ingovernável.
Mas nada é garantido para os democratas - precisam, sobretudo que haja grande mobilização de mulheres e de minorias étnicas, e que o discurso de Trump não consiga, do seu lado, uma mobilização semelhante. E convém lembrar que a economia e o emprego estão em alta, embora esse argumento não seja central no discurso do presidente. Para Trump tem sido mais importante agitar o papão dos imigrantes, acusar os democratas de todas as malfeitorias possíveis e achincalhar as mulheres que acusaram Bret Kavanaugh, o juiz do Supremo Tribunal. À cautela, até já veio avisar para fraude eleitoral. Enfim, um repertório bem conhecido.
A confirmarem-se as sondagens, a câmara baixa do Congresso poderá bloquear quase toda a ação da Casa Branca, tornando o país de Trump, já politicamente caótico, ingovernável.
Mas nada é garantido para os democratas - precisam, sobretudo que haja grande mobilização de mulheres e de minorias étnicas, e que o discurso de Trump não consiga, do seu lado, uma mobilização semelhante. E convém lembrar que a economia e o emprego estão em alta, embora esse argumento não seja central no discurso do presidente. Para Trump tem sido mais importante agitar o papão dos imigrantes, acusar os democratas de todas as malfeitorias possíveis e achincalhar as mulheres que acusaram Bret Kavanaugh, o juiz do Supremo Tribunal. À cautela, até já veio avisar para fraude eleitoral. Enfim, um repertório bem conhecido.
OUTROS TEMAS
João Galamba apresentou a sua visão para o setor da energia. Sem surpresa, nessa visão aparece Sócrates.
Mais um dia, mais um desmentido. Marcelo Rebelo de Sousa voltou a negar qualquer conhecimento das manobras de encenação e encobrimento relativas à devolução das armas de Tancos. Numa nota oficial, o chefe do Estado garante que nunca teve contactos com o diretor ou outro elemento da PJ Militar nem estava a par da operação de descoberta das armas.
Também António Costa voltou a
falar do assunto. Depois do Presidente da República ter assegurado que, sobre
este caso, ninguém o cala, o primeiro-ministro veio, à sua maneira
sibilina, recomendar menos ansiedade a Marcelo. O Público puxa
para manchete esta subida de tensão entre Governo e Presidência.
Rui Rio, o único político que teve pressa de anunciar que sabia mais sobre Tancos do que aquilo podia dizer, declara agora que “até ver” recusa qualquer envolvimento do Presidente da República na encenação da recuperação das armas. Quanto a António Costa, Rio insiste que deve dar explicações no Plenário e não na comissão parlamentar de inquérito (CPI) - este recurso, insiste, será só “numa situação excecional”. Ou seja, aquilo que é Tancos desde o início. Aliás, o líder parlamentar do PSD, Fernando Negrão, já admitiu ao Expresso a hipótese de questionar o primeiro-ministro na CPI, e até Costa já se disse disponível para isso.
Já que falamosem Rui Rio : o
líder do PSD reafirmou a confiança no seu secretário-geral. O mesmo que
oficialmente estava em reuniões da Assembleia da República a que, na verdade,
não foi. O facto, como noticiou o Expresso no sábado, é que alguém validou por José Silvano a
presença em plenários da Assembleia da República onde este não estava - com a
correspondente retribuição financeira. Um mistério que o secretário-geral do
PSD confessou não conseguir explicar. Mas nada que faça Rio perder a confiança
em Silvano. Considera o
caso “uma pequena questiúncula”, ainda que não seja um caso “agradável nem
positivo”.
Rui Rio, o único político que teve pressa de anunciar que sabia mais sobre Tancos do que aquilo podia dizer, declara agora que “até ver” recusa qualquer envolvimento do Presidente da República na encenação da recuperação das armas. Quanto a António Costa, Rio insiste que deve dar explicações no Plenário e não na comissão parlamentar de inquérito (CPI) - este recurso, insiste, será só “numa situação excecional”. Ou seja, aquilo que é Tancos desde o início. Aliás, o líder parlamentar do PSD, Fernando Negrão, já admitiu ao Expresso a hipótese de questionar o primeiro-ministro na CPI, e até Costa já se disse disponível para isso.
Já que falamos
Ferro Rodrigues, presidente da
Assembleia da República, ainda nada disse sobre mais este caso que
envergonha o Parlamento.
De acordo com o Expresso Diário de ontem, o BE vai aliar-se à direita para garantir a redução do IVA nos festivais de verão. Uma maioria negativa para uma notícia positiva.
Começou a Web Summit, no Parque das Nações,em Lisboa. O Expresso
espreitou para o iPhone do fundador do evento, Paddy Cosgrave, e conta o que lá viu. O Eco deitou contas aos números da cimeira. Ontem, o
inventor da internet foi o primeiro orador e deixou um plano para tornar a sua invenção melhor,
mais inclusiva e mais segura. Estas são as principais palestras previstas para hoje.
O Novo Banco perdeu uma batalha de milhões, noticiou a SIC. O património insolvente do Grupo Espírito Santo na Beira Baixa vai mesmo ser colocado à venda, mas o NB não receberá um cêntimo desse negócio.
Outra investigação da SIC dá conta do abandono de locomotivas e carruagens da CP nas oficinas da EMEF, ao mesmo tempo que são suprimidas carreiras por alegada falta de material circulante.
Os juizes entregaram o pré-aviso de greve no Conselho Superior de Magistratura. Serão dez dias de paragem ainda este ano e mais onze no ano que vem. Em causa estão reivindicações salariais. Uma greve que o constitucionalista Jorge Miranda considera “inadmissível”.
A ex-procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, vai fazer uma comissão de serviço no Tribunal Constitucional.
Há 14 consórcios internacionais interessados na construção e operação de um centro espacial na ilha de Santa Maria, nos Açores. Um deles é a agência espacial russa.
No Brasil, a defesa de Lula da Silva entregou um novo pedido de “habeas corpus”, depois de confirmada a transferência de Sérgio Moro da justiça para a política. Moro foi o juiz que conduziu a investigação do processo Lava Jato, que culminou com a prisão de Lula, impedido de concorrer à Presidência do Brasil. Os defensores de Lula alegam “falta de imparcialidade do juiz”, pedindo a anulação de todas as suas decisões em relação ao ex-presidente brasileiro.
Para quem as queira ouvir, as Spice Girls vão voltar. É oficial. Mas serão só quatro - Victoria Beckham não volta. Em todo o caso, não cantava.
AS MANCHETES DE HOJE
De acordo com o Expresso Diário de ontem, o BE vai aliar-se à direita para garantir a redução do IVA nos festivais de verão. Uma maioria negativa para uma notícia positiva.
Começou a Web Summit, no Parque das Nações,
O Novo Banco perdeu uma batalha de milhões, noticiou a SIC. O património insolvente do Grupo Espírito Santo na Beira Baixa vai mesmo ser colocado à venda, mas o NB não receberá um cêntimo desse negócio.
Outra investigação da SIC dá conta do abandono de locomotivas e carruagens da CP nas oficinas da EMEF, ao mesmo tempo que são suprimidas carreiras por alegada falta de material circulante.
Os juizes entregaram o pré-aviso de greve no Conselho Superior de Magistratura. Serão dez dias de paragem ainda este ano e mais onze no ano que vem. Em causa estão reivindicações salariais. Uma greve que o constitucionalista Jorge Miranda considera “inadmissível”.
A ex-procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, vai fazer uma comissão de serviço no Tribunal Constitucional.
Há 14 consórcios internacionais interessados na construção e operação de um centro espacial na ilha de Santa Maria, nos Açores. Um deles é a agência espacial russa.
No Brasil, a defesa de Lula da Silva entregou um novo pedido de “habeas corpus”, depois de confirmada a transferência de Sérgio Moro da justiça para a política. Moro foi o juiz que conduziu a investigação do processo Lava Jato, que culminou com a prisão de Lula, impedido de concorrer à Presidência do Brasil. Os defensores de Lula alegam “falta de imparcialidade do juiz”, pedindo a anulação de todas as suas decisões em relação ao ex-presidente brasileiro.
Para quem as queira ouvir, as Spice Girls vão voltar. É oficial. Mas serão só quatro - Victoria Beckham não volta. Em todo o caso, não cantava.
AS MANCHETES DE HOJE
Jornal de Notícias: Demolições na
costa começam já para o ano
i: Bloco quer suspender o Dia da
Defesa Nacional
Negócios: Salários levaram 60% do
aumento da despesa em Saúde
Correio da Manhã: Buraco de 90
milhões na saúde militar
Público: Caso Tancos faz subir
tensão entre Presidente e Governo
O QUE ANDO A LER
O QUE ANDO A LER
Em 2016, durante a campanha para
as presidenciais nos EUA, Donald Trump republicou na sua conta de Twitter
uma citação de Mussolini: “É melhor ser leão por um dia do que viver cem anos
como cordeiro”. A frase tinha sido publicada numa conta de paródia (@ilduce2016),
com o hashtag #MakeAmericaGreatAgain - era um teste do site Gawker para ver se
Trump resistiria à tentação de difundir frases do ditador fascista que pudessem
ser associadas à sua campanha. Trump, claro, não resistiu. Quando a partida foi
revelada pelo site que a promoveu, o jornalista do Gawker escreveu: “Donald Trump é fascista? Especialistas,
historiadores e comentadores há meses que debatem a questão. Uma coisa é já
certa: Ele escreve tweets como um” (soa melhor em inglês: “He tweets like
one”).
Este episódio não está incluído no novo livro de Madeleine Albright, mas podia estar. “Fascismo - Um Alerta” (ed. Clube do Autor) dedica a Trump um dos seus capítulos mais críticos, elevando o presidente norte-americano à categoria de grande incentivador, ou avalista, da nova vaga de líderes autoritários que vão ocupando o poder um pouco por todo o Mundo.
Na epígrafe de “Fascismo”, Albright usa uma frase de Primo Levi: “Todas as eras têm o seu fascismo.” Mais adiante, prossegue a citação de Levi sobre as formas do fascismo: “não apenas através do terror da intimidação policial, mas negando e distorcendo a informação, minando o sistema de justiça, paralisando o sistema educativo e espalhando numa miríade de modos subtis a nostalgia por um mundo em que a ordem reinava”.
Este ponto de partida permite a Albright uma visão muito ampla (e muito pouco rigorosa) sobre o que pode ser considerado fascismo. E, daí, sobre o que pode caber neste seu “alerta”. “Quando se aborda este tema”, escreve a primeira mulher a chefiar a diplomacia dos EUA, "muitas vezes surgem confusões acerca das diferenças entre fascismo e conceitos relacionados, como totalitarismo, ditadura, despotismo, tirania, autocracia, e assim por diante. Na qualidade de académica, posso sentir-me tentada a vaguear por esse matagal, mas, como antiga diplomata, preocupo-me sobretudo com os atos, não com as etiquetas. Na minha ideia, fascista é alguém que se identifica fortemente com uma nação inteira ou com um grupo e que reivindica falar em seu nome, alguém que não se preocupa com os direitos dos outros e que está na disposição de usar todos os meios necessários – incluindo a violência – para alcançar os seus objetivos. Dentro desta conceção, um fascista será talvez um tirano, mas o tirano não tem de ser fascista.”
Para quem diz que não se preocupa com etiquetas, é sintomático que tenha escolhido para título do livro a etiqueta mais vistosa que poderia encontrar: “fascismo”. Chamar-lhe “autoritarismo”, ou “extremo-nacionalismo populista” não teria o mesmo impacto. Alarmista? Sim, mas como dizia a ex-secretária de Estado dos EUA numa entrevista publicada ontem no Público, “se queremos que alguém saia da cama de manhã, utilizamos um relógio de alarme”.
Por isso convivem nestas páginas, lado a lado, as referências históricas de Hitler e Mussolini e uma ampla galeria de protagonistas dos nossos tempos, uma espécie de liga autoritária mundial, capitaneada por Trump e Putin, que junta o turco Erdogan, o filipino Duterte, o húngaro Orbán, os venezuelanos Chávez e Maduro, o norte-coreano Kim Jong-un, os polacos Kaczynsky. E aposto que só não está lá Bolsonaro porque o livro foi lançado nos EUA em abril.
Apesar da ligeireza teórica com que trata o fascismo, Albright apresenta um caso convincente sobre a força que estão a ganhar os inimigos da democracia liberal. Basta que se juntem as condições certas, como se viu na Venezuela - “A experiência venezuelana mostra que, quando as condições sociais e económicas se deterioram e os políticos democráticos falham no dever de liderar, é difícil resistir à tentação de ir atrás de um flautista mágico.”
O exemplo de Caracas é demasiado distante? Olhe-se então para o que propõem os partidos de extrema-direita que vão ganhando força na Alemanha, na Grécia, na Suécia, na Finlândia, em França, na Áustria. “Nos programas e declarações destes partidos ouvimos ecos de temas fascistas clássicos: medos da decadência e do declínio; afirmação de uma identidade nacional e cultural; uma ameaça à identidade nacional e à boa ordem social por parte de estrangeiros não assimiláveis; e a necessidade de maior autoridade para lidar com estes problemas.
E convém não esquecer nem desvalorizar o efeito-Trump. “O Presidente dos EUA deve ser líder na defesa das instituições, princípios e práticas democráticas. O atual Presidente não abraçou esse papel, que nem tenho a certeza se compreende. Essa falha encorajou líderes noutros países que querem aumentar os seus poderes sem respeito pelos valores democráticos”, disse Albright, numa entrevista ao Expresso publicadaem outubro. Entrevista
que tinha como título: “O fascismo cresce onde as pessoas são convencidas
de que toda a gente mente”.
E se Primo Levi tiver mesmo razão? “Se ele tiver razão (e penso que tem)", escreve Albright, temos motivos para estar preocupados com a variedade que se está a juntar de correntes políticas e sociais que nos golpeiam atualmente – correntes impulsionadas pelo lado negro subterrâneo da revolução tecnológica, os efeitos corrosivos do poder, o desrespeito do presidente americano pela verdade e a aceitação crescente de que os insultos desumanizadores, a islamofobia e o antissemitismo se situam dentro dos limites do debate público normal. Ainda não chegámos lá, mas estes parecem ser já sinais ao longo de uma estrada para regressar a uma era em que o fascismo encontrou alimento para si e as tragédias individuais se multiplicaram por milhões.”
Retenho, desta última frase, quatro palavras: “Ainda não chegámos lá.”
Tenha um bom dia.
Este episódio não está incluído no novo livro de Madeleine Albright, mas podia estar. “Fascismo - Um Alerta” (ed. Clube do Autor) dedica a Trump um dos seus capítulos mais críticos, elevando o presidente norte-americano à categoria de grande incentivador, ou avalista, da nova vaga de líderes autoritários que vão ocupando o poder um pouco por todo o Mundo.
Na epígrafe de “Fascismo”, Albright usa uma frase de Primo Levi: “Todas as eras têm o seu fascismo.” Mais adiante, prossegue a citação de Levi sobre as formas do fascismo: “não apenas através do terror da intimidação policial, mas negando e distorcendo a informação, minando o sistema de justiça, paralisando o sistema educativo e espalhando numa miríade de modos subtis a nostalgia por um mundo em que a ordem reinava”.
Este ponto de partida permite a Albright uma visão muito ampla (e muito pouco rigorosa) sobre o que pode ser considerado fascismo. E, daí, sobre o que pode caber neste seu “alerta”. “Quando se aborda este tema”, escreve a primeira mulher a chefiar a diplomacia dos EUA, "muitas vezes surgem confusões acerca das diferenças entre fascismo e conceitos relacionados, como totalitarismo, ditadura, despotismo, tirania, autocracia, e assim por diante. Na qualidade de académica, posso sentir-me tentada a vaguear por esse matagal, mas, como antiga diplomata, preocupo-me sobretudo com os atos, não com as etiquetas. Na minha ideia, fascista é alguém que se identifica fortemente com uma nação inteira ou com um grupo e que reivindica falar em seu nome, alguém que não se preocupa com os direitos dos outros e que está na disposição de usar todos os meios necessários – incluindo a violência – para alcançar os seus objetivos. Dentro desta conceção, um fascista será talvez um tirano, mas o tirano não tem de ser fascista.”
Para quem diz que não se preocupa com etiquetas, é sintomático que tenha escolhido para título do livro a etiqueta mais vistosa que poderia encontrar: “fascismo”. Chamar-lhe “autoritarismo”, ou “extremo-nacionalismo populista” não teria o mesmo impacto. Alarmista? Sim, mas como dizia a ex-secretária de Estado dos EUA numa entrevista publicada ontem no Público, “se queremos que alguém saia da cama de manhã, utilizamos um relógio de alarme”.
Por isso convivem nestas páginas, lado a lado, as referências históricas de Hitler e Mussolini e uma ampla galeria de protagonistas dos nossos tempos, uma espécie de liga autoritária mundial, capitaneada por Trump e Putin, que junta o turco Erdogan, o filipino Duterte, o húngaro Orbán, os venezuelanos Chávez e Maduro, o norte-coreano Kim Jong-un, os polacos Kaczynsky. E aposto que só não está lá Bolsonaro porque o livro foi lançado nos EUA em abril.
Apesar da ligeireza teórica com que trata o fascismo, Albright apresenta um caso convincente sobre a força que estão a ganhar os inimigos da democracia liberal. Basta que se juntem as condições certas, como se viu na Venezuela - “A experiência venezuelana mostra que, quando as condições sociais e económicas se deterioram e os políticos democráticos falham no dever de liderar, é difícil resistir à tentação de ir atrás de um flautista mágico.”
O exemplo de Caracas é demasiado distante? Olhe-se então para o que propõem os partidos de extrema-direita que vão ganhando força na Alemanha, na Grécia, na Suécia, na Finlândia, em França, na Áustria. “Nos programas e declarações destes partidos ouvimos ecos de temas fascistas clássicos: medos da decadência e do declínio; afirmação de uma identidade nacional e cultural; uma ameaça à identidade nacional e à boa ordem social por parte de estrangeiros não assimiláveis; e a necessidade de maior autoridade para lidar com estes problemas.
E convém não esquecer nem desvalorizar o efeito-Trump. “O Presidente dos EUA deve ser líder na defesa das instituições, princípios e práticas democráticas. O atual Presidente não abraçou esse papel, que nem tenho a certeza se compreende. Essa falha encorajou líderes noutros países que querem aumentar os seus poderes sem respeito pelos valores democráticos”, disse Albright, numa entrevista ao Expresso publicada
E se Primo Levi tiver mesmo razão? “Se ele tiver razão (e penso que tem)", escreve Albright, temos motivos para estar preocupados com a variedade que se está a juntar de correntes políticas e sociais que nos golpeiam atualmente – correntes impulsionadas pelo lado negro subterrâneo da revolução tecnológica, os efeitos corrosivos do poder, o desrespeito do presidente americano pela verdade e a aceitação crescente de que os insultos desumanizadores, a islamofobia e o antissemitismo se situam dentro dos limites do debate público normal. Ainda não chegámos lá, mas estes parecem ser já sinais ao longo de uma estrada para regressar a uma era em que o fascismo encontrou alimento para si e as tragédias individuais se multiplicaram por milhões.”
Retenho, desta última frase, quatro palavras: “Ainda não chegámos lá.”
Tenha um bom dia.
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