Isabel Moreira | Expresso | opinião
O jornalismo sempre me fascinou.
De resto, quando comecei a estudar Direito, não punha de lado a hipótese de ser
jornalista. O papel que a liberdade de imprensa teve de resistência contra os
poderes públicos, a enorme conquista que foi o fim da abjeta autorização
administrativa para a fundação de jornais e da censura prévia ao material
impresso são património coletivo.
Para além desse enorme papel de
resistência, a liberdade de imprensa é uma garantia constitucional da livre
formação da opinião pública num Estado constitucional democrático. Ou seja: não
há democracia sem liberdade de imprensa. Não há, concretamente, democracia
participativa, esclarecida, não condicionada, sem liberdade de imprensa.
A responsabilidade dos órgãos de
comunicação social e dos jornalistas é, assim, gigante. Por isso mesmo a
Constituição consagra uma série de direitos e de garantias associados à
liberdade de imprensa. Cada meio de comunicação social, cada jornalista,
protegido constitucionalmente sabe que goza da garantia da independência do
poder político e do poder económico porque tem de haver autonomia, mas também
tem de haver transparência (desde logo quanto aos meios de financiamento) e
pluralismo.
A liberdade de imprensa, que doeu
a conquistar, é uma garantia constitucional da livre formação da opinião
pública, escrevia.
Estamos a viver um momento
dramático. Há órgãos de comunicação social com enorme projeção que se dedicam a
condicionar a formação da opinião pública num sentido antidemocrático (e há
financiamento para isso).
Antigamente apenas o Correio da
Manhã (e os seus “jornalistas”) dedicava tempo a fomentar o populismo, o ódio à
classe política, a normalização do crime da quebra do segredo de justiça, o
sexismo, os vários “ismos”. Atualmente, com a força das redes sociais, o estilo
Correio da Manhã está a colonizar a os órgãos de comunicação social e a
imprensa que se tinha por “séria”. Não-notícias são partilhadas pelo CM e
imediatamente pela SIC, TVI, JN, DN e por aí fora, num concurso desesperado
pelo número de visualizações da “notícia”, enquanto que a democracia passa ao
lado, enquanto que o ódio se espalha, enquanto a livre formação da opinião
pública para, desejavelmente, uma boa participação democrática, seja uma
palavra: alienação.
Aos órgãos de comunicação social
referidos juntam-se as colaboradoras e os colaboradores que têm de fazer pela
vida. Pululam pela CMTV a dizer sim à divulgação degradante de imagens de
detidos, assaltando o Estado de direito em benefício da sua conta bancária,
enquanto escribas como Assunção Cristas estão no pasquim CM, porque entre ser
cúmplice de um meio criminoso e ganhar uns votos, escolhem a segunda opção.
O Observador dedica-se a destruir
a direita democrática e razoável portuguesa e não hesita em fazer de CM quando
lhe convém. O Observador tem um projeto político claríssimo e está lá o
reacionarismo que quer ver sentado na AR.
Os outros meios de comunicação
social estão a fazer pela vida degradando-se aos poucos. Precisamos,
urgentemente, de apoiar o jornalismo sério, independente e comprometido com o Estado
de direito. Ainda o há.
É a livre formação da nossa opinião
que está em causa. É a democracia que está em causa.
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