domingo, 4 de novembro de 2018

Portugal | Imprensa antidemocrática


Isabel Moreira | Expresso | opinião

O jornalismo sempre me fascinou. De resto, quando comecei a estudar Direito, não punha de lado a hipótese de ser jornalista. O papel que a liberdade de imprensa teve de resistência contra os poderes públicos, a enorme conquista que foi o fim da abjeta autorização administrativa para a fundação de jornais e da censura prévia ao material impresso são património coletivo.

Para além desse enorme papel de resistência, a liberdade de imprensa é uma garantia constitucional da livre formação da opinião pública num Estado constitucional democrático. Ou seja: não há democracia sem liberdade de imprensa. Não há, concretamente, democracia participativa, esclarecida, não condicionada, sem liberdade de imprensa.

A responsabilidade dos órgãos de comunicação social e dos jornalistas é, assim, gigante. Por isso mesmo a Constituição consagra uma série de direitos e de garantias associados à liberdade de imprensa. Cada meio de comunicação social, cada jornalista, protegido constitucionalmente sabe que goza da garantia da independência do poder político e do poder económico porque tem de haver autonomia, mas também tem de haver transparência (desde logo quanto aos meios de financiamento) e pluralismo.

A liberdade de imprensa, que doeu a conquistar, é uma garantia constitucional da livre formação da opinião pública, escrevia.

Estamos a viver um momento dramático. Há órgãos de comunicação social com enorme projeção que se dedicam a condicionar a formação da opinião pública num sentido antidemocrático (e há financiamento para isso).

Antigamente apenas o Correio da Manhã (e os seus “jornalistas”) dedicava tempo a fomentar o populismo, o ódio à classe política, a normalização do crime da quebra do segredo de justiça, o sexismo, os vários “ismos”. Atualmente, com a força das redes sociais, o estilo Correio da Manhã está a colonizar a os órgãos de comunicação social e a imprensa que se tinha por “séria”. Não-notícias são partilhadas pelo CM e imediatamente pela SIC, TVI, JN, DN e por aí fora, num concurso desesperado pelo número de visualizações da “notícia”, enquanto que a democracia passa ao lado, enquanto que o ódio se espalha, enquanto a livre formação da opinião pública para, desejavelmente, uma boa participação democrática, seja uma palavra: alienação.

Aos órgãos de comunicação social referidos juntam-se as colaboradoras e os colaboradores que têm de fazer pela vida. Pululam pela CMTV a dizer sim à divulgação degradante de imagens de detidos, assaltando o Estado de direito em benefício da sua conta bancária, enquanto escribas como Assunção Cristas estão no pasquim CM, porque entre ser cúmplice de um meio criminoso e ganhar uns votos, escolhem a segunda opção.

O Observador dedica-se a destruir a direita democrática e razoável portuguesa e não hesita em fazer de CM quando lhe convém. O Observador tem um projeto político claríssimo e está lá o reacionarismo que quer ver sentado na AR.

Os outros meios de comunicação social estão a fazer pela vida degradando-se aos poucos. Precisamos, urgentemente, de apoiar o jornalismo sério, independente e comprometido com o Estado de direito. Ainda o há.

É a livre formação da nossa opinião que está em causa. É a democracia que está em causa.

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