quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

DETRÁS DO CIRCO: EUA, UM ANO EM REVISÃO

Nos EUA, o ano de 2017 foi um ano de tragédia e conflito. E não me refiro apenas à presidência de Donald Trump. Há diversos elementos a considerar que, não sendo novos, persistiram ou se agravaram ao longo deste ano.

André Levy* | AbrilAbril | opinião

Nos EUA, o ano de 2017 foi um ano de tragédia e conflito. E não me refiro apenas à presidência de Donald Trump. Considerem os seguintes elementos, que, não sendo novos, persistiram ou agravaram-se no decorrer do ano:

– um número crescente de incidentes de violência com arma de fogo (mais de 60 mil), com mais de 15 mil fatalidades, tendo havido mais de 300 incidentes de massas (quatro ou mais vítimas), incluindo o incidente de disparos num quarto de hotel em Las Vegas, que matou 59 pessoas e feriu mais de 500;

– a persistência da violência policial, com 971 mortos pelas forças policiais, sendo três vezes mais provável um suspeito ser morto pela polícia se for negro;

– o ascendente das forças xenófobas e racistas, encorajadas pela vitória de Trump, incluindo incidentes como o de Charlottesville;

– um crescente problema de toxicodependência, assumindo novos extremos com a epidemia de opióides: em 2016, dos 64 mil mortos por overdose nos EUA (mais do que o número de soldados mortos durante toda a Guerra ao Vietname), 50 mil foram-no por opióides e, destes, cerca de 20 mil com opióides sintéticos (como fentatil), grupo que registou o maior aumento;

– um aumento da disparidade de rendimento entre ricos e pobres (o 1% mais rico possui 40% da riqueza nacional, a maior proporção nos últimos 50 anos, e ganha 81 vezes mais que o 50% inferior; em 1981 era apenas 27 vezes maior);

– um aprofundamento da pobreza, havendo estados com 20% da sua população abaixo do limiar da pobreza, e cerca de 1,5 milhão de famílias a nível nacional na extrema pobreza, o dobro de há 20 anos;

– devastação por incêndios e várias grandes tempestades, incluindo o furacão Maria, que causou destruição massiva em Porto Rico, tendo mais uma vez evidenciado atrasos e insuficiências da resposta à situação de emergência criada;

– (por razões espaço e tempo, este artigo procurou centrar-se na situação doméstica dos EUA, mas não posso deixar de referir a continuada intervenção no Afeganistão, que constitui já o mais longo conflito na história das forças armadas dos EUA.)

Mas que dizer da tragédia Trump que não tenha já sido explorado? Uma figura cuja mistura de patético e poderio nos diverte e atemoriza, cujos comentários erráticos e acções têm proporcionado muitos momentos de sátira, mas sobretudo gerado incidentes internacionais com presumíveis aliados, erodido canais diplomáticos, alimentado conflitos e agravado situações de extrema delicadeza, como seja na Península Coreana ou na Palestina. Ou seja, aumentando de forma dramática a situação de instabilidade a nível mundial e a ameaça de guerras e conflitos adicionais.

Este primeiro ano de Trump ficou marcado por grande instabilidade na sua equipa, com várias mudanças em postos de primeiro escalão, como seja a porta-voz e conselheiros próximos, e diversas situações de tensão com membros do seu gabinete e do seu partido no Congresso. Início de mandato marcado desde cedo pelas suspeitas de colusão entre a sua campanha presidencial e o governo da Rússia, levando à nomeação de um Procurador Especial, que resultou já na condenação de Michael Flynn – nomeado por Trump como Conselheiro de Segurança Nacional, cargo que exerceu durante apenas três semanas – por ter mentido ao FBI sobre contactos mantidos com governo russo durante o período de transição.

Ano marcado pela sua guerra com a comunicação social de referência, que designa frequentemente de «notícias falsas» (FAKE NEWS), muito embora Trump seja frequentemente promotor de informação errónea, alguma de mera autopromoção, como seja a grande eficácia e produtividade da sua presidência. (Registe-se como Robert Murdoch vendeu boa parte do seu império da FOX à Disney, mas manteve controlo desse importante instrumento de propaganda mediática a favor de Trump, a FOX NEWS). A verdade é que, embora numa situação muito favorável, dada a maioria do Partido Republicano (PR) em ambas as casas do Congresso, raras têm sido as propostas legislativas significativas da Casa Branca aprovadas pelo Congresso. Trump tem sido incapaz de unir o PR mesmo em torno de questões bandeira, como a reforma do sistema de saúde implementado por Obama. Já em cima da hora, após muito trás-para-a-frente (e com algum incumprimento de procedimento), aprovou-se em Dezembro uma reforma fiscal, marcada por faustos apoios aos mais ricos e parcos e limitados benefícios para a classe média e baixa. Aliás, as propostas de Trump, apesar de já estar há um ano na Casa Branca, continuam a ter a mesma parca densidade dos seus lemas de candidatura.

Mas por detrás dos tweets, da fanfarronice e petulância, da esgrima com os media e a verdade, por detrás dos feitos e dizeres com preocupantes consequências internacionais, o gabinete de Trump e o PR têm logrado mudar o perfil do aparelho federal do Estado. Desde logo, no processo de formação do seu gabinete. Trump indigitou várias pessoas com opinião forte sobre quão desnecessárias eram as agências que seriam nomeadas a liderar, ou cuja única visão era reduzir o número dos seus quadros e orçamento. Assim, em vários departamentos (equivalentes aos nossos ministérios) os recursos humanos têm diminuído em número, experiência e qualificações.

Por exemplo, durante anos, enquanto governador do Texas, Rick Perry apregoava a eliminação de três departamentos federais: Comércio, Educação e Energia. Numa gaffe estupenda, na campanha primária do PR em 2016, durante um debate com os restantes candidatos republicanos, incluindo Trump, Perry foi incapaz de indicar esta última agência («oops», diria). Trump foi precisamente nomear Perry como Secretário de Energia, que hoje é um dos departamentos com mais cargos exigindo confirmação senatorial ainda por preencher. Do ponto de vista internacional, particularmente grave é a situação no Departamento de Estado (o equivalente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros), estando ainda por preencher, por falta de nomeados, cerca de metade dos postos que exigem confirmação do Senado, incluindo o embaixador dos EUA à Arábia Saudita, Egipto, Jordânia e Iémen (entre vários outros). Só no início de Dezembro é que Victor Cha foi oficialmente nomeado embaixador à Coreia do Sul!

A falta de nomeados e perspectiva de decréscimo do tamanho dos quadros têm levado a quebras de moral assinaláveis entre a Administração Pública. Em alguns casos têm mesmo conduzido a abandono em grandes números, como é o caso da Agência de Protecção Ambiental, onde cortes de orçamento e orientação política (incluindo cortes de regulamentação ambiental e antagonismo oficial ao estudo das alterações climáticas) levaram à saída de mais de 700 funcionários desde que Trump assumiu a Presidência, atingindo a Agência o menor número de funcionários dos últimos 30 anos.

Na senda liberal de reduzir o tamanho do Estado, Trump tem também logrado reduzir o nível de regulação federal, eliminando alguma regulação em efectivo, mas sobretudo eliminando regulações da era Obama que estavam ainda por implementar. Como consequência, Trump teve o menor incremento regulador de qualquer presidente da era recente no seu primeiro ano presidencial, incluindo Reagan.

Em contraste com a letargia nas nomeações para a Administração Pública, referida acima, Trump e o PR têm sido expeditos no ritmo das nomeações judiciais, tendo o Senado já confirmado um juiz do Supremo Tribunal, 12 juízes federais de tribunal de apelação – um recorde na história do país – e seis juízes de tribunais distritais. Os nomeados judiciais de Trump são na sua vasta maioria homens (menos de 20%, face aos 42% dos nomeados por Obama) e brancos (apenas 3% negros ou hispânicos, face a 29% durante Obama), profundamente conservadores, adversos à IVG, direitos das minorias, dos homossexuais, e favoráveis à desregulação. Recorde-se que estes cargos são vitalícios e que, sendo o sistema judicial de tradição anglo-saxónica, de direito comum, as decisões dos tribunais criam lei, pelo que estas nomeações terão efeito duradouro, mais além da presença de Trump na Casa Branca.

Este avanço no processo de confirmação contrasta com o bloqueio do Partido Republicano a confirmar nomeações judiciais do Presidente Obama. O bloqueio mais notório foi à posição no Supremo Tribunal ocasionada pela morte do Juiz Scalia, em Fevereiro de 2016, mais de oito meses depois das eleições presidenciais. O maior obstáculo aos Republicanos agora é apenas a falta de qualidade de alguns candidatos: cerca de 8% dos candidatos foram classificados pela Ordem de Advogados dos EUA como «não qualificados», algo que se tornou patente no vídeo de confirmação do candidato Matthew Petersen. O senador John Kennedy, um Republicano, fez-lhe sucessivas perguntas sobre as suas competências e conhecimento, às quais Peterson foi incapaz de responder. A última pergunta de Kennedy foi se Petersen alguma vez havia apoiado o KKK, pergunta que se sentiu obrigado a colocar após o processo de confirmação de Chuck Talley, outro nomeado «não qualificado», que terá feito comentários on line de apoio ao KKK. Tanto Petersen como Talley acabaram por retirar as suas nomeações. Das 150 vagas no judiciário federal quando Trump assumiu a presidência, ainda só 14 nomeações foram confirmadas, mas o ritmo deverá acelerar nos próximos meses, antes das eleições de 2018 (após as quais a maioria no Senado pode ser posta em cheque). Resta saber se o Partido Democrata (PD) irá encontrar orientação e estratégia para capitalizar a baixa popularidade de Trump. A recente eleição de Doug Jones como senador pelo estado de Alabama, um estado profundamente Republicano, é sinal promissor mais não seguro, pois ao PD falta ainda conquistar popularidade entre o eleitorado, inspirar a união de forças em oposição a Trump e forças retrógradas que o apoiam.

Mas o panorama não é de todo negro. Recorde-se que algumas medidas de Trump foram travadas com a influência de acções de massas, como foi o caso das restrições à entrada de refugiados nos EUA. O ano de 2017 foi também ano marcante para o movimento das mulheres em defesa dos seus direitos e da igualdade: desde o início do ano, com a manifestação em massa em torno da tomada de posse presidencial, até ao movimento #MeToo, que criou condições para vítimas de assédio sexual acusarem os seus abusadores, conduzindo ao afastamento de várias figuras de destaque na área do entretenimento, política e negócios. Quando se reúnem as condições subjectivas e objectivas, basta alguém apontar o dedo e todos verão que o Rei vai nu.

*Actor, Activista e Biólogo

O fim do (petro)dólar: o que a Reserva Federal não quer que se saiba

China, Rússia e Índia começaram, há anos, a acumular reservas de ouro. Constataram que ativos sólidos irão constituir a medida da verdadeira riqueza - não imprimir dinheiro.

Shaun Bradley - theantimedia.org  | em Carta Maior

Publicamos como documento este artigo vindo dos EUA. Para além do seu conteúdo concreto, é importante pelo que revela do sentimento de crise interna na maior potência imperialista e de como vozes do seu interior apontam a perspectiva de um brutal colapso econômico.

A capacidade de os EUA manterem a sua influência sobre o resto do mundo vem diminuindo lentamente. Desde que o petrodólar foi estabelecido em 1971, a moeda dos EUA tem monopolizado o comércio internacional por meio de acordos com a Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e de constantes intervenções militares. Existe, contudo, crescente oposição ao padrão americano, e esta ganhou recentemente maior apoio quando vários estados do Golfo Pérsico decidiram bloquear o Qatar, que acusaram de financiar o terrorismo.

Para além da narrativa dominante, existem diversas outras razões pelas quais o Qatar se encontra em apuros. No decurso dos dois últimos anos, realizou transações no valor de 86 milhões de dólares em yuan chineses e assinou outros acordos com a China que abrem caminho a ulterior cooperação econômica. O Qatar também partilha com o Irã a maior reserva de gás natural do mundo, que confere aos dois países uma significativa influência regional para a expansão dos seus acordos comerciais.

Entretanto, a dívida incontrolável e a divisão política interna nos EUA constituem claros sinais de vulnerabilidade. Os chineses e os russos, agindo proativamente, montaram sistemas financeiros alternativos para países que procurem distanciar-se da Reserva Federal. Depois de o FMI ter, em outubro do ano passado, aceitado o yuan no seu cesto de moedas de reserva, investidores e economistas começaram finalmente a prestar atenção. O poder econômico detido pela Reserva Federal tem constituído um fator chave no financiamento do império americano, mas estão a verificar-se rápidas mudanças geopolíticas. A reputação dos Estados Unidos vem sendo manchada por décadas de guerras não declaradas, espionagem interna em massa, e política externa catastrófica.

Um dos melhores ativos remanescentes dos EUA é a sua força militar, mas esta é inútil sem uma economia forte que a suporte. Coligações rivais como os países BRIC não estão a pôr em causa frontalmente a ordem estabelecida, estão antes a optar por debilitar o seu suporte financeiro. Qatar é apenas o mais recente país a tomar medidas para contornar o dólar EUA. Em 2016, a Rússia foi notícia de primeira página ao passar a aceitar pagamentos em yuan e tornar-se o maior fornecedor de petróleo à China, subtraindo no processo uma larga parcela de mercado à Arábia Saudita. O Irã, em resposta ao bloqueio de Trump à entrada de muçulmanos nos EUA, também abandonou o dólar no início deste ano. Como a maré contra o petrodólar prossegue, até os aliados dos EUA irão eventualmente começar a interrogar-se sobre o que é que corresponderá melhor aos seus interesses.

Muitos países membros da UE estão em conflito com a direção não eleita em Bruxelas acerca de questões como imigração, terrorismo, políticas de austeridade. Se não forem encontradas soluções e as coisas vierem a deteriorar-se, outros países poderiam potencialmente seguir o caminho da Grã-Bretanha e abandonar a UE. Começa a tornar-se evidente que países na Europa Oriental procurarão a Leste os recursos de que as suas economias necessitam.

China, Rússia e Índia estão adiantados no percurso e começaram, há anos, a acumular reservas de ouro. Constataram que ativos sólidos irão constituir a medida da verdadeira riqueza – não imprimir dinheiro. A hiperinflação histórica que tem ocorrido nesses países consolidou a importância dos metais preciosos nos seus sistemas monetários. Infelizmente, a maioria dos norte-americanos é ignorante acerca do passado e, muito provavelmente, irá aceitar mais resgates governamentais e mais impressão de moeda quando se deparar com a próxima recessão. Até mesmo funcionários da Reserva Federal já admitiram que mais alívio quantitativo será provavelmente a única via para seguir em frente.

Numerosos destacados investidores têm advertido acerca da transferência em curso do poder econômico de Oeste para Leste, mas os burocratas e os banqueiros centrais recusam a admitir a gravidade que as coisas poderão assumir. O impacto sobre as pessoas comuns poderia ser devastador se não fossem adequadamente educadas e preparadas para o colapso.

O economista e autor James Rickards resumiu a razão por que China e Rússia estão tão interessados na aquisição de metais preciosos:

«Não sabem que fazer aos seus dólares. Temem, com razão, que os EUA inflacionem a sua saída da montanha de 19 milhões de dólares de dívida que têm. A solução da China é comprar ouro. Se emergir a inflação do dólar, os títulos de Tesouro que a China detém irão desvalorizar, mas o preço em dólares do seu ouro crescerá fortemente. Uma ampla reserva de ouro é uma diversificação prudente. Os motivos da Rússia são geopolíticos. O ouro é a arma por excelência do século XXI nas guerras financeiras. Os EUA controlam os sistemas de pagamentos em dólares e, com a ajuda de aliados europeus, podem excluir adversários do sistema de pagamentos internacional chamado Swift. O ouro é imune a semelhantes ataques. O ouro fisicamente na tua posse não pode ser objeto de pirataria informática, apagado, ou congelado. Movimentar ouro é uma forma simples de a Rússia regularizar compromissos sem interferência dos EUA.»

Os comentaristas da opinião dominante continuarão a desviar a atenção das pessoas com os temas otimistas do costume, mas é importante aproveitar a calma atual antes de a tempestade se desencadear. À medida que esta transição se for concretizando, os banqueiros centrais sacrificarão tudo e todos para preservar o seu esquema de Ponzi. Apenas os indivíduos podem tomar a iniciativa de se proteger e de estar em condições de ajudar outros que possam não ter tanta sorte. Aqueles que adotarem uma moeda sã e as cripto-moedas irão singrar nesta nova economia global competitiva. Mas se os EUA falham essa adaptação, a mesma economia de imprimir dinheiro que lhe deu poder irá afundá-la na pobreza.

Fonte: http://theantimedia.org/end-of-petrodollar/

Tribunal arbitral internacional dá razão a Timor-Leste em queixa de empresa australiana


Um tribunal internacional de arbitragem decidiu a favor de Timor-Leste no âmbito de um processo apresentado por uma empresa australiana por causa de um acordo assinado há sete anos para o fornecimento de combustível e geradores ao país.

O caso envolvia uma queixa da empresa australiana Lighthouse Corporation contra Timor-Leste por causa do fornecimento de combustível e geradores, tendo sido ouvido no Centro Internacional de Resolução de Diferendos de Investimento (ICSID na sua sigla em inglês). Esse acordo acabou por nunca ser executado.

O tribunal considerou que não tinha jurisdição sobre a disputa em causa, responsabilizando a Lighthouse Corporation pelas custas totais do processo de arbitragem "incluindo custos do tribunal" e a pagar a Timor-Leste mais de 1,5 milhões de dólares (1,3 milhões de euros) "relativos a custos e despesas legais relacionadas" com o processo.

Na sua decisão, o tribunal de peritos deu razão a Timor-Leste, que alegava que a instituição não tinha jurisdição sobre este caso, dando assim por encerrado um processo que se arrastava desde 2010 e que chegou ao ICSID em 2014.

Uma decisão inversa, favorável à Lighthouse poderia ter um "impacto financeiro significativo" para Timor-Leste, disseram à Lusa fontes do executivo timorense.

Parte do grupo do Banco Mundial, o ICSID é normalmente utilizado para mediar disputas envolvendo Estados e empresas ou indivíduos de outros Estados e, neste caso, foi definido como o fórum para resolver eventuais disputas no âmbito dos contratos em causa.

Em concreto estavam em causa três contratos assinados entre outubro e novembro de 2010 para o fornecimento de combustível e geradores para Timor-Leste, assinados na altura, do lado de Timor-Leste, pelo então primeiro-ministro Xanana Gusmão - que foi ouvido durante a arbitragem - e pelo então secretário de Estado de Eletricidade Januário da Costa Pereira e do lado dos fornecedores por Carlos Oliveira da Zebra Fuels e Albert Jacobs da Lighthouse.

O pedido de arbitragem foi apresentado pela Lighthouse Corporation junto do ICSID a 16 de dezembro de 2014, tendo a decisão - obtida agora pela Lusa - sido conhecida três anos depois a 22 de dezembro.

O primeiro êxito de Timor-Leste no caso remonta a fevereiro de 2016 quando o painel de árbitros acedeu a separar o processo em duas fases (competência e mérito da causa).

Timor-Leste argumentou não ter dado consentimento para a arbitragem do ICSID, rejeitando depois que a Lighthouse tivesse estatuto de "investidor estrangeiro" ou que beneficiasse de um Acordo Especial de Investimento (AEI) ao abrigo da lei em vigor, pelo que a empresa australiana não tinha a proteção da arbitragem do ICSID.

Finalmente Timor-Leste considerou que não havia ocorrido, para os efeitos da Convenção da ICSID, "investimento" por parte da Lighthouse.

O tribunal acabou por decidir a favor de Timor-Leste nos dois argumentos iniciais, concluindo que não seria necessário decidir sobre a terceira objeção.

Na sua decisão o tribunal deu parecer favorável aos argumentos timorenses, nomeadamente afirmando que a Lighthouse não tinha provado haver consentimento sequer para que a arbitragem destes acordos fosse feita no ICSID.

Ainda que numa versão inicial dos termos de referência do acordo fosse feita alusão ao ICSID o último acordo, final, confirma que as disputas devem ser resolvidas apenas nos "tribunais locais".

O tribunal também concordou com a posição timorense de que a Lighthouse não tinha um "certificado de investidor estrangeiro", exigido pela lei para ter os benefícios associados a esse estatuto.

"Era evidente a partir da Constituição Timorense que Timor-Leste pretendia exercer controle administrativo sobre os investimentos externos recebidos, e a LIE foi promulgada para garantir o cumprimento desse objetivo", refere o tribunal.

Diário de Notícias | Lusa

MOÇAMBIQUE | Em 2018, teremos mais do mesmo?


@Verdade | Editorial

À semelhança do ano passado, 2017 foi um ano atípico para os moçambicanos. A situação económica da população continua a deteriorar-se como principal efeito das dívidas contraídas ilegalmente pelo Governo da Frelimo, não havendo ainda sinais de recuperação a curto ou médio prazo. Assistimos ao aumento galopante dos bens de primeira necessidade, assim como vimos o Executivo de Nyusi a fazer cortes no orçamento, sobretudo nos assuntos sociais e para o bem-estar da população, para investir na aquisição de viaturas de luxos para os dirigentes e outras mordomias.

Não só esses assuntos marcaram o ano de 2017. Também o povo moçambicano foi brindado com a alteração do Código do Imposto sobre Consumo Específicos, no qual se destaca o aumento da taxa de importação de viaturas com mais de sete anos e tributar viaturas com cilindrada inferior a mil centímetros cúbicos. Estas manobras levadas a cabo por Nyusi e os seus títeres visavam apenas saquear o povo e subjugá-lo.

Vimos também os supostos mandatários do povo a agirem mais uma vez contra o povo, ao ignorarem o pedido de declaração de inconstitucionalidade da Resolução da Assembleia da República que aprova a Conta Geral do Estado de 2015, na qual estão inscritas as dívidas ilegais.

Diante dessas e outras situações adversas por que passam os moçambicanos, a questão que se coloca é: O que nos reserva o ano de 2018? Certamente, nada de novo. Aliás, a resposta mais fiel e sincera já foi dada pelo Governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, quando afirmou peremptoriamente que o nosso país continuará a ter uma “vida difícil”. A inflação, pois, vai continuar a subir. As pressões ao orçamento moçambicano também não vão dar tréguas. Ou seja, os cidadãos honestos e o sector produtivo continuarão a ser asfixiados, para continuar a sustentar os caprichos do Governo da Frelimo.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) já foi claro ao anunciar que não vai negociar com o Governo de Filipe Nyusi qualquer tipo de ajuda ao Orçamento do Estado, a não ser que seja totalmente esclarecida a questão das dívidas contraídas ilegalmente pelo Governo de Armando Guebuza e responsabilizados os culpados por esse duro golpe aos moçambicanos.

Portanto, temos de mudar de regime e de Governo urgentemente, pois a triste situação no qual os moçambicanos vivem é dramaticamente revoltante, e é evidente que nada será feito de modo que a população tenha hospitais e assistência médica, escolas em condições, água potável, estradas transitáveis e, em suma, que viva com dignidade que merece.

ANGOLA | Governo prepara leis para repatriar fortunas


A legislação que vai permitir o repatriamento de capitais de cidadãos nacionais com dinheiro no estrangeiro fica concluída ainda este mês, garantiu ontem, em Luanda, o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz.

A moratória dada pelo Presidente da República para que este dinheiro volte ao país e seja investido aqui começou a correr no primeiro dia do mês em curso. De acordo com Francisco Queiroz, à Rádio Nacional de Angola, uma comissão multissectorial está a concluir a lei que vai permitir o repatriamento de capitais de cidadãos angolanos em bancos no estrangeiro.

“A legislação está a ser preparada. Ela encerra uma certa complexidade, porque tem a ver com bens de pessoas, e esses bens têm de ser declarados e, depois, estudar um mecanismo para o seu repatriamento”, disse.

Questionado sobre a data exacta para o início do processo, Francisco Queiroz alertou que “é preciso ter a devida cautela, para não pôr em causa a política traçada pelo Presidente da República, que é de grande alcance”.

“A avaliar com a urgência com que o Presidente da República orientou, penso que durante este mês podemos ter novidades sobre este assunto, mas ainda é arriscado avançar já uma data”, disse.

Período de graça

O Presidente da República anunciou um período de graça para que todos os angolanos repatriem capitais do estrangeiro para Angola, findo o qual poderá partir para a forma coerciva. João Lourenço, que discursava na qualidade de vice-presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), afirmou que, no início deste ano, “o Executivo vai estabelecer um período de graça, durante o qual todos aqueles cidadãos angolanos que repatriarem capitais do estrangeiro para Angola e os investirem na economia, empresas geradoras de bens, de serviços e de empregos, não serão mo­lestados, não serão interrogados das razões de terem tido dinheiro lá fora, não serão processados judicialmente”.

João Lourenço alertou que “findo esse prazo, o Estado angolano sente-se no direito de considerar dinheiro de Angola e dos angolanos e, como tal, agir junto das autoridades dos países de domicílio para tê-lo de volta e em sua posse”.

Segundo o Presidente da República, o país necessita de capitais para se desenvolver, para realizar investimento público em projectos geradores de riqueza, mas sobretudo gerador de empregos para os angolanos e para os jovens.

O Chefe de Estado lembrou que o Governo tem vindo a trabalhar para remover factores inibidores do investimento privado estrangeiro, salientando que as expectativas são encorajadoras, mas considerando que os angolanos detentores de verdadeiras fortunas no estrangeiro devem ser os primeiros a vir investir no seu próprio país, se são mesmo verdadeiros patriotas.

Suporte do BNA

O governador do Banco Na­cional de Angola (BNA), José de Lima Massano, confirmou a existência de cerca de 30 mil milhões de dólares de reservas dos bancos comerciais no exterior.

“Estamos a falar de mais ou menos 30 mil milhões de dólares, de acordo com os dados da balança de pagamentos que são compilados pelo banco nacional”, disse, salientando que, destes dados, metade representam depósitos de bancos comerciais e instituições financeiras junto dos seus correspondentes e não necessariamente valores de cidadãos, mas valores que os bancos comerciais detêm no exterior.

José de Lima Massano disse, na ocasião, que uma outra metade corresponde a depósitos de entidades não financeiras, onde são incluídas o Tesouro, que detém conta para financiamentos, o Fundo Soberano de Angola, que não capta depósitos, empresas públicas e alguns particulares.

José Massano, que falou depois do Presidente da Re­pública ter anunciado um pe­río­do de graça para os ci­da­dãos repatriarem capitais no estrangeiro, adiantou que o BNA vai criar condições objectivas para que aquelas entidades, quer seja colectivas ou particulares que tenham recursos no exterior, possam livremente trazê-los para o país.

O governador lembrou que Angola tem leis que se aplicam no resgate desses valores a favor do Estado.

Jornal de Angola

Na foto: Ministro da Justiça e dos Direitos Humanos considera que o processo requer cautela | Fotografia: Rogério Tuti | Edições Novembro

São Tomé e Príncipe | O REI MOMO E O CARNAVAL

Adelino Cardoso Cassandra | Téla Nón | opinião

Nada de novo! O país continua na fase carnavalesca habitual, tendo, agora, o próprio presidente da república, como entertainer, apesar da época natalícia que vivemos, atualmente, propícia à manifestação de outros sentimentos e estados de alma.

De facto, desde a publicação do livro do atual ministro da educação cujo título é, se não me engano, “Para a Destruição Criativa de São Tomé e Príncipe”, que resolvemos trilhar este caminho de auto-flagelação, de forma acelerada, rumo ao abismo.

Grande parte das pessoas estão tão divertidas na festa, usando máscaras e outros artefactos adequados para a ocasião, que perdem ou mascaram a sua identidade quotidiana, como atores institucionais ou simplesmente comentadores e analistas políticos e aumentam, desta forma, o número de foliões nas ruas do país.

Com o carnaval ininterrupto no país e o circo montado,  está descoberta a receita que fará aumentar o fluxo de turismo para o nosso país. Teremos, a partir de agora, alguns dos nossos representantes políticos transformados em Reis e Rainhas do Carnaval nacional e este passará, deste modo,  a competir com o Carnaval Brasileiro pela atração de turistas de todo o mundo.

Estamos a ser, pela primeira vez na nossa história, exemplo de notoriedade imbatível, ultrapassando o Brasil que, até, então, era considerado o maior e mais atrativo “país do carnaval” no mundo. Conseguimos destronar o Brasil com a decisão de transformar a cidade de S.Tomé num Sambódromo de nível internacional e alguns dos nossos representantes políticos em foliões de qualidade imbatível.

Agora, é o próprio presidente da república, qual Rei Momo, que decidiu, também ele, saltar para a festa e promulgar um conjunto de Leis que permitirão a criação e funcionamento do Tribunal Constitucional não obstante tais diplomas estarem, naquele momento, ainda, sob alçada do Supremo Tribunal de Justiça, nas vestes do Tribunal Constitucional, para apreciação, decorrente do requerimento apresentado por alguns deputados da oposição.

Não é preciso ser um especialista em Ciência Política ou um estudante de direito para se constatar que tal facto encerra uma imprudência indesculpável. Ou o senhor presidente da república foi mal aconselhado para cumprir um objetivo político específico em proveito do ADI; ou, em alternativa, ele mesmo disponibilizou-se para fazer o papel do Rei Momo e ser, posteriormente, depois da festa, sacrificado brutalmente, no altar de Saturno, como se fazia na Roma antiga. Em qualquer das alternativas, o presidente da república ficou muito mal na fotografia e, com tal, perdeu, definitivamente, a confiança do povo.

Não me venham com a treta, agora, de que existem regulamentos, atos administrativos, procedimentais ou para-regulamentares, circulares ou instruções que justifiquem a atitude imprudente e ilegal do senhor presidente da república, cujos contornos, a existirem, configuram a existência de um metódico plano, urdido a montante, que sustentasse, juridicamente, esta imprudência e ilegalidade.

E isto é mais grave, ainda, num país onde ninguém cumpre as instruções, regulamentos nem qualquer ato administrativo ou procedimental e os próprios deputados da nação, por exemplo, não hesitam em sacar armas de fogo das algibeiras para ameaçar adversários políticos numa sessão de debate na Assembleia Nacional ou, ainda, os atos procedimentais relacionados, por exemplo, com a duração temporal dos mandatos dos autarcas não é cumprido, entre outras tantas irregularidades relacionadas com o incumprimento de atos administrativos ou procedimentos regulamentares.

Toda a gente sabia, até eu que vivo no exterior do país, que um grupo de deputados da oposição tinha apresentado requerimento ao Supremo Tribunal de Justiça, nas vestes do Tribunal Constitucional, com o propósito de suscitar a fiscalização de normas relacionadas com a criação do novo Tribunal Constitucional no país.

Portanto, o senhor presidente da república, como protagonista político neste processo, não pode vir agarrar neste aparente desconhecimento para justificar a fraude, ilegalidade e trapaça relacionadas com a sua atuação neste processo. E, até, existe informações, postas a circular, que o senhor presidente da república foi informado, pelo próprio Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, que o processo em causa estava a ser analisado, por este órgão, decorrente do requerimento apresentado por alguns deputados da oposição.

E mesmo que o senhor presidente da república não fosse formalmente informado deste expediente, pedagogicamente, deveria tomar a iniciativa de pedir informações ao Supremo Tribunal de Justiça sobre o andamento do referido processo, antes da sua eventual promulgação, tendo em conta, até, o debate que se travou no país e fora dele relacionado com o processo em causa. O senhor é presidente de todos os Santomenses e não é presidente do ADI nem tão pouco está na presidência da república para defender os interesses do ADI.

O que o senhor presidente da república fez, de forma consciente ou inconsciente, foi colocar em causa o núcleo fundamental de competências de um outro órgão de soberania, pondo em jogo todo o sistema de legitimidade, responsabilidade, controlo e fiscalização de constitucionalidade inerente ao mesmo, assumindo-se, no entanto, ele mesmo, como detentor de todo o poder, desprezando, neste âmbito, a proteção jurídica fornecida pelos tribunais.

Com este expediente, e outros que foram acontecendo anteriormente, é o próprio Estado de Direito Democrático que ficou mais pobre porque este ato, singularmente considerado, configura uma arbitrariedade, um abuso, uma ilegalidade, uma fraude e, até, abertura de caminho para um golpe institucional no futuro.

Como é que se pode pedir ao “povo pequeno”, como o primeiro-ministro classificou a nossa gente, que cumpra as leis, se o próprio presidente da república, como o mais alto magistrado da nação, responsabilizou-se em dar um grande exemplo de incumprimento de obrigações neste âmbito específico?

Como é que se pode pedir ao “povo pequeno” que respeite os polícias, por exemplo, se o presidente da república é o exemplo mais flagrante de incumprimento da constituição da república que jurou defender?

Como é que se pode pedir aos nossos jovens que respeitem os professores na Escola se o exemplo que vem do mais alto magistrado da nação, em termos de respeito e cumprimento de regras constitucionais, denuncia arbitrariedades, fraude e ilegalidades?

Vivemos tempos muito complicados, como tenho sistematicamente referido em artigos anteriores, e alguns políticos irresponsáveis têm feito de tudo como contributo amplificador da desesperança e descrença no processo de consolidação da nossa, frágil ainda, democracia.

Cabo Verde: "Manifestações de polícias foram ilegais"

O Sindicato da Polícia Nacional não comunicou a realização de manifestações ou marchas, acusam as autoridades cabo-verdianas. Medidas legais devem ser adotadas contra os manifestantes.

Em Cabo Verde, a Direção da Polícia, a Câmara Municipal da Praia e o Governo classificaram a greve geral de três dias dos polícias, encerrada esta sexta-feira (29.12), como "ilegal".

Segundo o ministro da Presidência do Conselho de Ministros, Fernando Elísio Freire, quase metade dos mais de 1.800 polícias escalados para os três dias de greve da Polícia Nacional desrespeitaram a requisição civil do Governo, que definia os serviços mínimos durante a paralisação.

"Somos um país democrático e em todas as democracias existe o direito à greve e a requisição civil e quem não a cumprir, ainda mais quem tem obrigação de fazer cumprir a legalidade, é uma desobediência, é um desafio à autoridade, é não cumprimento da lei", disse Elísio Freire durante conferência de imprensa, esta sexta-feira, na capital cabo-verdiana.

O ministro assegurou, por isso, que "o Governo atuará de forma consistente na defesa da legalidade, do Estado de direito democrático e da coesão nacional".

O diretor da Polícia Nacional, Emanuel Estaline Moreno, que também critica a forma como foi realizada a greve, assegura, porém, que os serviços mínimos foram garantidos e que a polícia funcionou normalmente, apesar do número reduzido de agentes durante os três dias de greve.

Medidas contra os manifestantes

Emanuel Estaline Moreno afirmou, contudo, que "a Direção Nacional não foi comunicada de que o SINAPOL [Sindicato da Polícia Nacional] iria fazer marcha ou manifestação". Por isso, sublinha o diretor, "acabaram por fazer uma manifestação ilegal".

Moreno, que disse que a manifestação "belisca" a imagem da instituição, garantiu que responsabilidades "serão equacionadas a seu tempo".

À agência de notícias Lusa, o vereador do Urbanismo da Câmara Municipal da Praia, Rafael Fernandes, também disse que o SINAPOL não fez qualquer pedido para realizar as marchas pelas ruas da capital cabo-verdiana.

Ainda de acordo com o vereador, os polícias comportaram-se de forma "arruaceira” - invadindo espaços públicos e prejudicando o trânsito, ao bloquear várias vias da cidade.

"É algo que não parece ser de polícias, que devem respeitar a lei. A Câmara Municipal da Praia repudia veementemente esta forma de exercício de poder, que não é liberdade, mas sim libertinagem", criticou o vereador, que afirmou acionar meios judiciais para punir os responsáveis pelas manifestações. 

Reivindicações

Os policias reivindicam, entre outros pontos, atualização salarial em 2018, redução da carga horária e atribuição de subsídios. Eles também acusam o ministro da Administração, Paulo Rocha, de não cumprir o memorando, assinado em março e que levou ao cancelamento de uma greve que estava a ser organizada naquela altura.

Durante as manifestações que decorreram durante os três dias de paralisação em várias ilhas, foi pedida a demissão de Paulo Rocha, com quem o SINAPOL assegura que não há condições para negociar.

Elísio Freire elogiou o trabalho do colega e adiantou que o ministro mantém a confiança do primeiro-ministro e a solidariedade de todo o Executivo, adiantando que "não cabe ao sindicato escolher interlocutores".

Elísio Freire, que fez em representação do Governo o balanço dos três dias de paralisação da Polícia Nacional, disse que o Governo continua sem compreender os motivos que levaram à greve.

"O Governo dialogou, dialoga e mostrou disponibilidade para continuar a dialogar. Cumpriu todos os pontos do memorando [assinado em março] e mesmo assim o sindicato anunciou uma greve e o Governo ainda está à espera que expliquem ao país o porquê da greve", disse.

Deutsche Welle ! Lusa tms

Na foto: Durante os três dias de greve, os manifestantes percorreram as principais ruas da cidade da Praia

GUINÉ EQUATORIAL ENTRA NA PALHAÇADA DA ONU


ONU. A Guiné Equatorial é um dos seis países que hoje se tornaram formalmente membros não permanentes do Conselho de Segurança da ONU com o objectivo de “fazer a diferença”, segundo o presidente em exercício daquele órgão. A palhaçada instalou-se na ribalta das Nações Unidas.

A Costa do Marfim, o Koweit, a Holanda, o Peru e a Polónia completam o novo grupo de seis Estados membros sem direito de veto.

“A paz e a segurança são difíceis de alcançar [e] vocês terão uma oportunidade real de fazer a diferença” quando forem necessários consensos, sublinhou Kairat Umarov, embaixador do Cazaquistão que assegura em Janeiro a direcção rotativa do Conselho de Segurança, numa cerimónia inédita organizada por sua iniciativa na sede da ONU, em Nova Iorque.

Um por um, os embaixadores dos seis novos membros do Conselho – cinco homens e uma mulher, a embaixadora polaca Joanna Wronecka – colocaram em seguida as respectivas bandeiras junto das dos restantes nove membros do órgão supremo das Nações Unidas, à entrada da sua sala de reunião habitual.

O Conselho de Segurança tem 15 membros, cinco dos quais permanentes, com direito de veto relativamente à adopção de resoluções: Estados Unidos da América, Rússia, China, França, Reino Unido.

Três mulheres e 12 homens são os embaixadores que se reunirão em volta da grande mesa em forma de ferradura instalada no meio da sala de reuniões: além das diplomatas norte-americana, Nikki Haley, e polaca, Joanna Wronecka, o Reino Unido apresentará este mês uma nova representante, a embaixadora Karen Pierce.

Os seis países que saíram do Conselho de Segurança a 31 de Dezembro, por ter chegado ao fim o seu mandato, são o Japão, o Egipto, o Senegal, a Ucrânia, o Uruguai e a Itália.

NEGOCIATA PSD/CDS | Gestor do principal dono dos CTT defende plano de saídas e fechos

Empresa prevê o fecho de 22 lojas este ano e a saída de mil trabalhadores até 2020

O gestor do maior accionista privado dos CTT defende o fecho de 22 lojas e o plano de reestruturação, em entrevista ao Público. «Tem havido encerramentos de estações desde sempre», afirmou João Bento.

O presidente da Gestmin (detida por Manuel Champalimaud), a empresa que aumentou a sua participação no capital dos CTT para 11% à boleia da queda da cotação das acções na bolsa, explicou que a decisão de reforçar a posição accionista foi um sinal de apoio ao plano de reestruturação, que implica a saída de mil trabalhadores.

Essas saídas são caracterizadas por João Bento, na entrevista ao Público, de forma criativa: não são despedimentos, mas a «não renovação de alguns contratos a termo», «reformas e saídas de pessoas que vão trabalhar para outros sítios» e «rescisões por mútuo acordo».

Também sobre o encerramento de lojas – 22 já neste ano, como ontem foi noticiado –, o gestor argumenta que «tem havido desde sempre». Na verdade, essa tendência iniciou-se na última década e intensificou-se com a entrada da actual equipa de administração, nomeada pelo anterior governo. Em 2008, existiam 924 estações de Correios, entretanto renomeadas lojas CTT. No final de 2017, eram pouco mais de 600.

João Bento falou ainda sobre o futuro da empresa e em particular sobre o serviço postal universal, que, alerta, é um monopólio natural que só os CTT podem garantir. O presidente da Gestmin antevê que, no futuro, será mais caro enviar uma carta e chegará mais tarde ao destino. «Se nós quisermos que as cartas continuem a chegar a todos os pontos do País, provavelmente será mais caro e teremos de aceitar que os tempos de entrega possam ser diferentes», afirmou.

AbrilAbril

Na foto: Os CTT, outrora uma empresa pública rentável para as contas do Estado, foram privatizados em 2013 e 2014 pelo governo do PSD e CDS-PP.Créditos

Portugal | TRATO DE POLÉ PARA OS CTT, O QUE ELES QUEREM É O BANCO!


Relacionado com o tema CTT - que entrega a correspondência quando quer e onde calha, que anuncia 800 despedimentos, que fecha lojas ao desbarato e deixou de ser um serviço público - o jornalista Carlos Narciso, na sua página no Facebook, aborda o assunto do modo que a seguir reproduzimos na totalidade e o recheia com uma imagem aterradoramente  realista: não queriam os CTT, o que queriam era um banco. São estas as negociatas apadrinhadas e aplaudidas por Passos Coelho nos “golpes” de que talvez futuramente vejamos que colhe frutos. A prosa de Carlos Narciso, a seguir. (PG)

Compraram os CTT mas o que queriam era um banco. Foi esse o negócio que fizeram com Passos Coelho

Um coro de justos protestos rodeia a anunciada decisão da administração dos CTT de encerrar 22 lojas dos correios.

Não há autarca que se preze que não esteja indignado. O fecho das lojas dos correios não prejudica só quem quer mandar uma carta ao tio na América, prejudica as empresas que utilizam os CTT para envio de documentos ou equipamentos e prejudica, fundamentalmente, muitos milhares de reformados que recebem a pensão por vale postal, além de inúmeros desempregados e outros beneficiários do Estado. Mas se um desempregado ainda pode ir a pé até uma estação dos CTT mais longe, já um idoso tem mais dificuldades, como é bom de ver.

Quando Passos Coelho decidiu privatizar os CTT avisou alguém de que isto ia acontecer? Eu não ouvi nada. E a geringonça, agora, o que vai fazer? Reverter mais uma privatização?

Quando em 2015 os CTT “diversificaram” o negócio para a banca e criaram o Banco CTT tiveram de contratar centenas de novos funcionários porque os empregados dos correios sabem pouco de banca, naturalmente. Mas o Banco CTT ainda não deu lucro e sabe-se como os accionistas são sedentos por dinheiro… então começaram a pensar em despedir… 800 funcionários dos correios. É isso, os despedimentos nos CTT e o fecho das lojas apenas servem para equilibrar as contas por causa dos prejuízos no Banco CTT.

Antes da privatização os CTT davam lucro. Depois da privatização continuaram a dar lucro, apesar do serviço de correio ter piorado bastante. Os accionistas dos CTT não querem saber de qualidade no serviço que a empresa presta, apenas se interessam pelo lucro. Quem são eles? São a Gestmin (de Manuel Champallimaud), Wilmington Capital (especuladores financeiros, fundo de investimento), Credit Suisse (banco suíço), entre muitos outros onde também está o Goldman Sachs. Tudo gente fina.

É por causa destes negociantes globais que Loulé, Aveiro, as Termas de São Vicente, as freguesias das Olaias e do Socorro em Lisboa, Riba de Ave, Paços de Brandão, Lavradio, Galiza, Areosa e Asprela (Porto), Freamunde, Belas, Camarate, Calheta (Açores), Barrosinhas, Araucária, Alpiarça, Alferrarede, Paio Pires e Arco da Calheta (Madeira) vão ficar sem loja de correio.
Carlos Narciso | Facebook

PORTUGAL | Veto de Marcelo não tem "fundamento" e merece "discordância do PCP"

O comunista José Capucho falou sobre o veto do Presidente da República [PR] às alterações à lei do financiamento dos partidos e mostrou que o PCP está contra, frisando que, “não vê nenhum motivo verdadeiro para que as alterações não sejam reafirmadas pela Assembleia da República [AR]”.

O porta-voz escolhido para falar sobre o caso referiu que “alterações introduzidas pela AR não mudam a matriz essencial [da lei]” e que apenas pretendem “tornar os partidos menos dependentes das subvenções públicas”.

“Reafirma-se que as alterações pela AR não significam aumento das subvenções ou encargos públicos para com os partidos políticos, havendo a possibilidade de maior iniciativa própria”, salvaguardou, ainda, frisando que as alterações visam também “corrigir inconstitucionalidades”.

Quanto à decisão de Marcelo Rebelo de Sousa, José Capucho foi perentório: “A sua decisão sem fundamento no seu conteúdo merece a discordância e crítica do PCP. A decisão levanta uma questão a que o futuro responderá sobre quais são os critérios do PR sobre questões de relevante importância face ao desenvolvimento de campanhas públicas baseadas no populismo”.

“Face ao veto, o PCP não vê nenhum motivo verdadeiro para que alterações não sejam reafirmadas pela AR e reafirmará a sua discordância frontal sobre alterações que vão no sentido da manutenção [da lei]”, concluiu.

Inês André de Figueiredo | Notícias ao Minuto

LEGISLAR À SOCAPA| Marcelo exige transparência e demarca-se de alterações na lei que vetou

O Presidente da República exigiu hoje que a legislação sobre financiamento dos partidos sejam feitas com publicidade dos seus motivos e transparência, e demarcou-se pessoalmente de parte das alterações incluídas no diploma que vetou na terça-feira.

Na mensagem enviada à Assembleia da República, que acompanha o seu veto, Marcelo Rebelo de Sousa refere que "o fim de qualquer limite global ao financiamento privado e, em simultâneo, a não redução do financiamento público, traduzida no regime de isenção do IVA" foram normas incluídas no diploma sem fundamentação e constituem "uma mudança significativa" no regime em vigor, "tudo numa linha de abertura a subida das receitas, e, portanto, das despesas dos partidos".

"Independentemente da minha posição pessoal, diversa da consagrada, como Presidente da República não posso promulgar soluções legislativas, consabidamente essenciais, sem mínimo conhecimento da respetiva fundamentação", lê-se no documento.

O chefe de Estado devolve ao parlamento o diploma aprovado por PSD, PS, BE, PCP e PEV "em homenagem ao papel constitucional dos partidos políticos, exigindo-se neste domínio particular publicidade e transparência, que obste a juízos negativos para a credibilidade de tão relevantes instituições democráticas, juízos esses que alimentem populismos indesejáveis".

"A democracia também é feita da adoção de processos decisórios suscetíveis de serem controlados pelos cidadãos. A isso se chama publicidade e transparência", afirma.

Notícias ao Minuto | Lusa

Portugal | AS PRIMEIRAS PALAVRAS

Miguel Guedes* | Jornal de Notícias | opinião

Os momentos de fronteira ou divisão são autênticas bolas de neve no que diz respeito a decisões. Num curto espaço de tempo, apanhamos a síntese pelos cabelos, arregimentamos traves-mestras e disparamos a rebolar na direção da avalancha. O tempo é imparável, feito de instantes. Num segundo um pulo de ano e poucos são os minutos que temos para desejar tudo o que se quer de bom nas primeiras palavras. As primeiras palavras são chancela, previsivelmente destino. São fogo e, frequentemente, de artifício.

Mensagens presidenciais à nação são habituais jogos lúdicos com fronteiras e votos magnânimos ao povo, atos de pouca contrição, recados cerrados para balanço. Convenientemente embrulhados em paz e amor, fazem as delícias dos captadores de mensagens subliminares, rasgadas que são as vestes. Inédito. A primeira vez de um presidente em direto fez-se na passagem para todas as televisões, ato jubilado que o ex-comentador político não deixaria passar em claro. Um presidente de todos os portugueses faz-se de sinal aberto para o pleno das televisões. Com pouco ou nenhum teleponto, sem rede ou só com a sua global rede de afetos. Nos jogos florais das primeiras palavras, um ideal comum.

A "fraternidade militante" a que Marcelo lançou mãos para traçar o lado bom da exigência humanitária na resposta civil aos incêndios é o contraponto clássico com a incompetência militante do Estado na resposta à catástrofe. Embora saibamos de cor a lenga-lenga do não-podemos-deixar-que-isto-se-repita, mesmo sabendo que a adiada reforma do território florestal é dossier para uma década e meia, a verdade é que entramos no novo ano sem perceber o que foi ou está a ser feito de significativo para evitar que a materialização do Inferno reacenda nos primeiros dias quentes de verão. E isso é criminoso por antecipação.

Outros presidentes falam em tempo diferido sobre incêndios globais. Se a palavra é arma nuclear, não pode ser indiferente a escolha síntese de Kim Jong-un para as primeiras palavras à nação norte-coreana. Enquanto assegurava aos EUA que o botão nuclear "está sempre na sua mesa", manifesta simultaneamente a vontade de permitir a participação do país nos Jogos Olímpicos de Inverno em PyeongChang (no que é entendido como uma piscadela de olho à vizinha Coreia do Sul no sentido de evitar os exercícios militares comuns programados com os EUA). O regime do ditador coreano utiliza os seus dois únicos atletas qualificados (uma dupla de esquiadores com passaporte olímpico - obtido em Oberstdorf - que compete ao som dos Beatles) para fazer diplomacia olímpica. Nos jogos florais das primeiras palavras, um ideal olímpico. Nas primeiras palavras sem flores, um pouco do nosso deserto urgente.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

*Músico e jurista

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