sábado, 8 de setembro de 2018

Exploração mineral | Dor e miséria na África do Sul


Modelo de extração de minérios é uma herança do apartheid

O território da África do Sul é desenhado por um histórico processo minerador. Do período da exploração colonial, passando pelo regime do apartheid (1948-1994) e pela financeirização da economia, a mineração é fator crucial de espoliação do povo sul-africano e na política do país.

Este processo demarcou no setor uma massa trabalhadora com os piores salários do mundo e um número exorbitante de mortes. Segundo dados da União Nacional dos Metalúrgicos da África do Sul (Numsa), a média de óbitos somente em uma das empresas britânicas de mineração, a Lonmin, chega, aproximadamente, a 16 pessoas por ano em decorrência de acidentes nas minas subterrâneas.

Entretanto, em meio a esse cenário, uma ebulição da classe trabalhadora da mineração tem ganhado fôlego nos últimos anos: as maiores greves na atividade no mundo tiveram a África do Sul como palco.

Não à toa, um dos maiores massacres também aconteceram no território. O episódio de Marikana, localizada no noroeste do país, terminou com 34 mineiros mortos pela polícia em 16 de agosto de 2012.

No marco dos cinco anos do considerado "protesto mais violento desde o fim do apartheid", o Brasil de Fato publica o especial Mineração na África do Sul: riqueza sinônimo de miséria.

Da primeira mina aberta na África do Sul às principais cidades mineradoras do país, você lerá, em seis capítulos, um pouco da história deste território, cujo grau de exploração econômica exorbitante da natureza e do ser humano consegue converter a riqueza em miséria.

Brasil de Fato - Coordenação de Jornalismo: Nina Fideles Coordenação de Multimídia: José Bruno Lima Texto: Marcio Zonta Edição: Simone Freire e Daniela Stefano Artes: Fernando Bertolo e José Bruno Lima

Parceria: Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM)

Em memória de Adalberto Franklin, jornalista e historiador do Maranhão

Nota do PG:
Num trabalho cuidado apresentado em Brasil de Fato é oferecido aos leitores interessados várias fotos e textos com abordagens a seis subtítulos (chamemos assim) que carecem da atenção dos que abordarem no original as páginas deste trabalho. Estão convidados a viajar até ao que acontece na África do Sul, naquela dor e miséria sobre a mineração e ilhargas terríveis em consequência.

UMA LONGA LUTA EM ÁFRICA – VII


Martinho Júnior | Luanda 

14- A abertura da Frente Leste do MPLA, tendo como rectaguarda a Zâmbia, possibilitou a conjugação de esforços das inteligências da internacional fascista e seus aliados (entre eles alinhamentos das administrações estado-unidenses e dos governos britânicos de turno), com várias linhas de pressão das quais destaco duas:

Uma constante e sistemática pressão e “isolamento” do Presidente zambiano Kenneth Kaunda, com uma Zâmbia integrada no Commonwealth e só depois respondendo ao Movimento dos Não Alinhados;

Uma cada vez maior pressão sobre o MPLA e seu quadro humano, com cenários distintos ao que o MPLA tinha experimentado no tempo do “Vitória ou Morte”.

O Presidente zambiano, ainda que assim não o quisesse, foi-se tornando vulnerável aos esforços conjugados de circuitos de inteligência, que além dos distendidos pelas potências anglo-saxónicas (Estados Unidos e Grã-Bretanha), tinham origem no colonialismo português (com a PIDE/DGS e franjas da sua diplomacia num papel relevante), no “apartheid”(tirando partido de linhas económicas decisivas, pois os países do interior estavam dependentes das ferrovias e dos portos para escoamento das matérias-primas e minerais) e no cartel do ouro, platina e diamantes (Anglo American, De Beers, Lonrho…), um factor de peso por dentro da fluidez do ”lobby dos minerais”, um dos principais suportes do Partido Democrata dos Estados Unidos, um “lobby” instrumentalizado por um sector importante da aristocracia financeira mundial ao nível dos clãs transnacionais de banqueiros e industriais, Rockefeller e Rothschield.

O “copperbelt” zambiano era (e é), em relação ao “lobby” dos minerais, o factor decisivo para as suas manobras de inteligência; foi assim na elaboração do “pendor” do Presidente Kenneth Kaunda, agenciando nas suas opções e integrado no campo de acção da “civilização cristã ocidental”, ela própria reitora da Guerra Fria recorrendo ao repescar dos resíduos fascistas e nazis.  

As filtragens do “Le Cercle” (arregimentando ou não as redes “stay behind” da NATO), juntaram-se a essas conjugações e tudo isso possibilitou o frenesim da inteligência em prol e no âmbito do Exercício ALCORA, para além das fronteiras coloniais e do “apartheid”, com um crescendo de intensidade na Zâmbia desde que se manifestou a presença do MPLA.

A existência dessas entrelaçadas conjugações possibilitaria mais tarde a continuidade dos aproveitamentos decorrentes do Exercício ALCORA por parte dos governos portugueses saídos do 25 de Novembro de 1975, conhecidos como os do“Arco de Governação” nos relacionamentos para com a África Austral e para com Angola.

À medida que a situação foi evoluindo numa Angola independente, assim os esforços dos serviços de inteligência do“Arco da Governação” se foram adaptando.


As redes “stay behind” da NATO ficaram assim disponíveis em relação à África Austral (em conexão e suporte com a resistente internacional fascista), com a multiplicação e conjugação de suas linhas de penetração e pressão, ampliando as potencialidades dos seus vínculos sempre preparados para as transformações inerentes ao “mercado” (consolidando a tendência em direcção à inteligência económica) desde antes do eclodir das novas revoluções tecnológicas.

O Presidente Kenneth Kaunda tinha uma linha ideológica “cristã” instalada numa plataforma de artificiosa paz com matriz elitista na Zâmbia, que além de estar aberta ao jogo das inteligências, permitia ser receptáculo da intensidade das influências protagonizadas via “Le Cercle”.

Num quadro dessa natureza, a PIDE/DGS tinha ao seu dispor um plasma de “interpares” muito favorável, de tal ordem que foi por exemplo o Inspector Fragoso Alas a abrir o escritório de interesses do colonialismo português dentro da Embaixada franquista no Zaíre, em Kinshasa, antes da colocação de António Monteiro naquela “posição diplomática”(diplomática?).

Em relação a Lusaka, foi jogada com êxito a cartada de Jorge Jardim, sustentado pelos interesses em Moçambique do clã Champalimaud.

Por altura da disputa da independência de Angola, o Presidente Kenneth Kaunda, no rescaldo desses esforços de inteligência, advogou Savimbi para presidente nos encontros com o Presidente Gerald Ford e o seu Secretário de Estado, Henry Kissinger, elevando desde logo a fasquia das opções de inteligência em torno de Savimbi.

É evidente que essa projecção é um indicador das influências criadas durante o Exercício ALCORA, que se prolongariam não só até ao fim do “apartheid”, mas durante o choque neoliberal após o Acordo de Bicesse, a 31 de Maio de 1991…

Por outro lado quando os “Fieis”, antigos “gendarmes” katangueses refugiados em Angola e utilizados pela PIDE/DGS e Forças Armadas Portuguesas contra o esforço de penetração do MPLA na sua Frente Leste até 25 de Abril de 1974, transformaram-se a propósito no “Front Nationale de Libération du Congo”, sob chefia de Nathanael MBumba e assim, para esse mesmo efeito, os serviços de inteligência do “Arco de Governação” não perderam o pé em Angola, consolidando em resultado da “adaptação”, via Sociedade Portuguesa de Empreendimentos, o seu afã “oficial” no leste em relação ao muito sensível sector dos diamantes.

É evidente que esse jogo foi sempre um “cavalo de Troia” cuja incubação e cultura se tornou providencialmente disponível para o “Arco de Governação”.

Essa linha de penetração permitiu leituras não só no terreno aos serviços de inteligência do “Arco de Governação”, mas também a garantida dilatação das linhas de penetração em Angola e na República Democrática do Congo sobrevivendo ao derrube de Mobutu e permitindo fazer a ligação actualmente aos Grandes Lagos e República Centro Africana (outro país fértil em diamantes).

Quanto à pressão conjugada desse leque de serviços de inteligência sobre o movimento de libertação em África, o alvo era sem margem para dúvidas o MPLA, o seu Presidente António Agostinho Neto e os dirigentes leais à sua linha de pensamento e acção, aqueles que professavam a “Luta Continua”, entre eles todos os que assinaram a Proclamação da gloriosas Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, a começar pelos Comandantes de Coluna Iko Carreira e Ludy Kissassunda, os dois assinantes que surgem à cabeça da lista da Proclamação.

A sua trajectória após a independência de Angola, confirma que qualquer um deles passou a ser “um alvo a abater” para alguns dos serviços de inteligência (redes “stay behind”) da “civilização cristã ocidental”, que souberam explorar em benefício dos seus interesses e conveniências, durante mais de uma década, vínculos pressionantes para dentro do MPLA e do estado angolano, visando enfraquecer, subverter, ou neutralizar a sua linha ideológica que se consubstanciou na República Popular de Angola, a sua acção e até a sua figura, numa constante guerra psicológica intestina, inevitável para moldar o poder de estado e da sociedade angolana aos seus desígnios “solft power” em estrita conveniência do império da hegemonia unipolar e do capitalismo financeiro, neoliberal e transnacional que o viria a nutrir após o colapso do socialismo no início da década de 90 do século XX.

 15- O alvo MPLA, o alvo António Agostinho Neto e o alvo que constituíram alguns dos seus leais seguidores, tem redundâncias hoje e eu cito o meu próprio exemplo.

De facto no ambiente da mega Luanda actual (um subproduto do capitalismo financeiro neoliberal e transnacional, há situações que se assemelham bastante às de Kinshasa em 1964, ou às de Lusaka de 1974, em termos de impacto de redes de inteligência externas e seus perniciosos efeitos “soft power”, ou seja em termos de guerra psicológica em suas disponíveis “transversais”, tudo isso multiplicado pelas novas tecnologias e pelas filosofias que desde a “escola de Chicago” servem os interesses e as conveniências do poder dominante dos 1%...

Numa cidade atravancada de comunidades que se foram refugiando ao longo do último conflito armado (1992/2002), os substractos sociais mais pobres sofrem influências de vulto e não possuem conteúdos educacionais, formativos e de ocupação ao nível dos padrões aceitáveis para a vida em comunidades urbanas, pelo que as manipulações ocorrem, sendo espelho disso, por exemplo, a expansão da “rádio mujimbo”, os circuitos especulativos de comunicação não oficial.

É visível no Facebook, quanto a juventude da capital está afectada pela nocividade do ambiente humano em Luanda nas presentes conjunturas e condições, num país com uma grave assimetria e numa cidade em desastre ambiental, com desequilíbrios frescos que foram implantados sobretudo de 2002 a esta parte…

Essa parte da sociedade não está “acomodada” mas permanecendo confusa face ao incómodo duma luta sócio-política que obrigatoriamente enfrenta o desafio das assimetrias e da pobreza típica do subdesenvolvimento, está perdida quase sempre no esforço quotidiano pela sobrevivência e absorvida pelos vínculos alienatórios que sobre esses substractos impactam com toda a incidência perniciosa: “em nome da democracia” o “boi tem de continuar a dormir” e quando acorda, necessita que os vínculos do capitalismo financeiro transnacional actuem formatados e confinados “no terreno”, conforme ao exemplo programado dos “revús”…

Por indexar minha ideologia, “honrando o passado e a nossa história” e interpretando fielmente “a memória e os ensinamentos” do Guia Imortal que fundou o estado angolano, alguns de forma oportunista e em especial quando eu me identifico com a necessidade de luta contra o subdesenvolvimento em benefício dos substractos mais desfavorecidos do povo angolano dos quais fazem parte a esmagadora maioria dos que me são próximos, de forma acintosa, ou pejorativa, ou leviana e de algum modo excludente, ou até subtilmente repulsiva, explorando por vezes o obscurantismo e a ignorância, caem na tentação de me qualificar em circuitos próprios ou mesmo em circuitos mais abertos e afins à sua maneira, de “comunista”…

Esse é também um fenómeno sintomático do grau de assimilação que os relacionamentos de carácter estruturalista com Portugal têm vindo a provocar: a qualificação de “comunista” por parte dos sociais-democratas e dos cristãos democratas, tem uma elevada dose de subversão ideológica e de incoerência, por que objectivamente a sua visão estruturalista é avessa àqueles que humana e socialmente professam que a luta continue!

Nas circunstâncias conjunturais internas actuais de Angola e num momento em que com as transformações, o terceiro Presidente da República, General João Manuel Gonçalves Lourenço está disposto a “corrigir o que está mal e melhorar o que está bem”, a leitura em termos comportamentais, psicológicos e tendo em conta os desenvolvimentos da própria guerra psicológica de que a situação em Lusaka em 1974 foi exemplo, leva-me a concluir que, apesar da fresca vontade manifestada oficialmente no sentido da integração e das articulações subjacentes possíveis, em alguns dos bastidores de tendência social-democrata da própria comunidade de segurança a qualificação que me “atiram” como rótulo, é um indicador que falta muita pedagogia e sabedoria para perceber o que à civilização diz respeito e o que diz respeito à barbárie!

O subdesenvolvimento, as assimetrias e a pobreza, são motivo para que as elites sócio-políticas se incomodem com a situação do povo angolano, mas os sociais-democratas e os cristão-democratas, já estão instalados e, muitos deles, acomodados!

Essa incongruência tem sido agravada pelo facto duma parte da comunidade de Segurança do Estado, ter passado a ser um dos alvos preferenciais da guerra psicológica movida pelas potências indexadas à NATO, que já leva mais de três décadas tentando pressionar, tentando dividir, tentando dilacerar esses instrumentos do poder reduzindo-os apó a fim de os ir neutralizando e colocá-los à sua feição, ao ponto de alguns sectores do próprio estado terem vindo a tratar essas franjas como se fossem “excedentes” marginais, os “mambises” angolanos…

A chegada ao poder do camarada Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço e aos serviços de responsabilidade do General Fernando Garcia Miala, indiciam estar a começar a pôr um fim a essa perniciosa situação, introduzindo capacidades de integração e de entrosamento de articulações, que vai tornar possível a introdução duma cultura de inteligência patriótica com pedagogia e persuasão, inaugurando uma nova era de responsabilidade humana, social e sócio-política, aberta para responder aos enormes desafios do presente e do futuro.

Nesses termos, há que inventar para não se errar, mas a social-democracia e a democracia-cristã, estruturalistas como são, pretendem formatar mentalidades e procuram impedir que a criatividade que implica consciência crítica, morra no ovo!

A carga negativa que hoje o termo “comunista” encerra em Angola quando utilizado de forma oportunista pelos profetas da social-democracia rampante (mesmo que não seja neoliberal), é incompatível com a dignidade, com a coerência e com a clarividência das razões daqueles que perfilham os ideais, as práticas e o exemplo de António Agostinho Neto, de Lúcio Lara, de Iko Carreira, de Ludy Kissassunda e de tantos comandantes, dirigentes, combatentes, internacionalistas e esclarecidos lutadores que levaram por diante, de forma patriótica, ou de forma solidária e enfrentando tantos riscos, a saga do movimento de libertação em África, hoje a saga da lógica com sentido de vida em benefício de toda a humanidade!

Um dos objectivos dessa surda “objecção”, é neutralizar a criatividade dos que, face ao subdesenvolvimento crónico que advém do passado, procuram patrioticamente encontrar soluções em benefício de todo o povo angolano… também aí há sinais que permitem avaliar até onde chegaram as influências de impactos de linhas de penetração inteligente provenientes do exterior, inclusive dentro dos instrumentos do poder de estado angolano!

Para as mentalidades formatadas a todos os níveis a partir do “soft power” injectado a partir do exterior, a criatividade patriótica é considerada uma concorrência avessa até aos padrões da sociedade de consumo forjada pelo capitalismo financeiro transnacional que se reflecte em Angola.

Esses sinais levaram a, até ao fim do exercício governativo do Presidente José Eduardo dos Santos e em função da guerra psicológica de que a República de Angola tem sofrido particularmente desde a perda dos seus primeiros aliados socialistas, que uma importante franja da comunidade da Segurança do Estado ao ter sido sistematicamente marginalizada, passasse a ser considerada desde praticamente o acordo de Bicesse (31 de Maio de 1991), como se dum potencial inimigo se tratasse!

Quando se tem comemorado em Setembro o mês que anualmente honra António Agostinho Neto, desde 2002 tem sido sintomático lembrar-se o poeta, como se a poesia dele não fosse o resultado de sua própria vivência como Comandante, como Dirigente, como Combatente e Lutador incansável, como um ser extraordinário em termos de sensibilidade e inteligência e sobretudo como um ser de inexcedível vontade no sentido ético e moral da acção do movimento de libertação em África, firme nas suas profundas convicções e práticas marxistas-leninistas!

A tendência social-democrata, como não corresponde a uma filosofia materialista dialética, evidencia o poeta para ocultar esse Comandante, esse Dirigente, esse Combatente e esse Lutador, ou até abrir a porta para o denegrir em inqualificáveis (e pidescos) processos de neo-assimilação.

Alguns dos que lhe deveriam ser fieis, ao abandonarem o materislismo dialético, voltaram à origem das doutrinas, filosofias e ideologias introduzidas pelos canais religiosos que fomentaram a sua própria formação na sua juventude…

Por essa razão, os que correspondem ainda que limitadamente a António Agostinho Neto, nas suas convicções e nas suas práticas patrióticas, solidárias e internacionalistas, são “prendados” em ambientes pré escolhidos ou não, quantas vezes com toda a facilidade, com toda a ligeireza, com todo o oportunismo, com todo o cinismo capaz de ambiguidade pejorativa, o rótulo de “comunistas”, de modo a que se continue a abrir espaço às pretensões dessas formatadas“personalidades”, acomodados parceiros internacionais do mercenarismo “civil” típico das correntes capitalistas neoliberais e transnacionais…

Em Angola não há partido comunista e quando um dia o houve, foi minúsculo, efémero e integrou-se na formação do próprio MPLA.

Por isso quer durante a Luta de Libertação, quer depois numa lógica com sentido de vida que nos anima, que me anima, o MPLA não pode ser indiferente em relação àqueles, entre os quais muitos comunistas em todo o mundo, que a seu tempo apoiaram Agostinho Neto e seus ideais socialistas, nem os que lhe foram e são fiéis à sua “memória e ensinamentos”, sem mácula de oportunismo, sem mácula de subversão ideológica e sem se deixarem iludir nos meandros dum “soft power” qualquer por mais decisiva que seja a potência de ingerência, de manipulação, ou de suporte, identificada com o império da hegemonia unipolar ao sabor dos interesses da aristocracia financeira mundial, de 1%!

Entre os 99% há que distinguir nos termos da civilização ou da barbárie, o que é saudavelmente patriótico, solidário ou internacionalista (por isso mesmo um incómodo permanente) e o que é nocivamente mercenário a coberto de consumismos acomodados que colocam o lucro acima da vida, mesmo que haja imensa capacidade de integração e um leque imenso de articulações!

Manter hoje a cabeça fria, as mãos limpas e o coração ardente, é incompatível com qualquer oportunismo social-democrata, por mais insignificante que ele pareça ser e isso não é uma questão de “radicalização”, por que é sempre uma motivação de coerência, de consciência crítica e um incómodo rebelde mas respeitador da identidade para com o próprio povo angolano, tendo em conta a densidade dos imensos resgates culturais que há para realizar em nome da felicidade e da sustentabilidade do futuro.

Essa lição foi dada, com a prova de sua própria vida, pelo Presidente António Agostinho Neto!

Martinho Júnior - Luanda, 1 de Setembro de 2018

Imagens:
- Cindindo com a URSS, a República Popular da China sob a liderança de Mao Tse Tung em relação a África foi-se aproximando dos Estados Unidos, conforme documenta a foto (encontro de líderes Mao-Ford-Kissinger, em 1975); África, particularmente a África Austral, tem vindo a pagar uma factura pesada por causa dessa cisão e dessa aproximação: a RPC até velados relacionamentos teve com o “apartheid”;
- Encontro do Presidente Kenneth Kaunda com o Presidente Gerald Ford e o Secretário de Estado Henry Kissinger, em Maio de 1975, na Sala Oval; objectivo: delinear as estratégias para com Angola; na altura Kenneth Kaunda propunha Savimbi para Presidente de Angola;
- Livro que documenta um relacionamento que reproduzia os interesses do “lobby” dos minerais em relação à Zâmbia, que se tornou na chave, durante a década de 70 do século XX, da tensão entre a linha da frente informal progressista e as linhas da internacional fascista, sustentadas pelo Exercício ALCORA;
- O “gabinete civil” do General António Spínola na Guiné Bissau: Fragoso Alas é o 1º, à esquerda do grupo;
- A facção Chipenda foi um artifício criado dentro do MPLA, a fim de o subjugar aos interesses do âmbito do Exercício ALCORA; a sua própria trajectória em 1975 (ano dos encontros entre Kaunda e Gérald Ford) e depois, comprova o seu agenciamento, que foi sendo utilizado até ao fim de sua vida.

Anteriores de Martinho Júnior:

Algumas outras consultas:
Leituras de algumas das esteiras do Exercício ALCORA na África do Sul – Open Secrets – https://www.opensecrets.org.za/;
Apresentação do livro “Apartheid guns and money” – O Exercício ALCORA, sendo secreto, integrou e estimulou todas as acções secretas do“apartheid” e seus “links” externos – https://www.opensecrets.org.za/agm/#  

Angola | Transição histórica


O segundo presidente pós-independência na história cinquentenária do MPLA termina, no VI Congresso Extraordinário que começa hoje, em Luanda, um percurso político de 39 anos à frente do partido.

José Eduardo dos Santos tem, no mês de Setembro, duas coincidências, mas circunstâncias diferentes. Chegou à liderança do partido, a 20 de Setembro de 1979, como “uma substituição possível”, em consequência da morte inesperada do então presidente Agostinho Neto, e sai, três décadas depois, a 8 de Setembro entre a dúvida se é a sucessão natural ou se é a força das circunstâncias e dos desafios dos tempos modernos que o obrigam a deixar a presidência do MPLA.

A saída da presidência do partido pode indicar que o militante José Eduardo dos Santos, que começou a assumir cargos de direcção como representante do partido em Brazzaville, entre 1974 e 1975, e eleito membro do Comité Central e do Bureau Político do MPLA, vai ser devolvido às estruturas de base do partido com o estatuto de “presidente emérito”.

O ciclo político de José Eduardo dos Santos chega ao fim entre a glória, por ter conduzido o partido à vitória em todas as eleições realizadas desde a instauração do multipartidarismo depois da queda do regime socialista, e as lutas internas pela afirmação de gerações diferentes dentro do partido - renovação na continuidade - que revelaram fragilidades ao longo dos anos. 

A escolha para segundo presidente do partido no pós-independência era automática para a presidência do país no regime de partido único, feita a 21 de Setembro de 1979. Mas o fim da linha na presidência do país chegou um ano antes da saída da presidência do partido, a 26 de Setembro de 2017. A permanência por mais um ano na presidência do MPLA acendeu um debate intenso que introduziu uma nova palavra no “léxico político” angolano: “bicefalia” (uma liderança a duas cabeças - José Eduardo dos Santos, no partido, e João Lourenço, na República). 

A história do congresso extraordinário de hoje, para definir um novo líder do partido, começou a ser escrita há cerca de ano e meio quan-do o partido entendeu avançar para as eleições gerais com um cabeça de lista que não era o presidente do partido. No historial do partido, este congresso extraordinário é só comparável ao mesmo que colocou no poder o presidente que hoje abandona de facto a vida política activa, tal como prometeu durante várias vezes há cerca de uma década.

Hoje, no Centro de Conferências de Belas, os discursos e mensagens cruzados vão reflectir o percurso de José Eduardo dos Santos à frente do partido e o seu legado cujo balanço pode levar tempo a ser avaliado. 

Aos 76 anos de idade, 39 dos quais no poder, uma coisa é certa: José Eduardo dos Santos esteve mais tempo a diri-gir o partido, 39 anos, do que quando chegou à sua presidência, 36 anos. 

Quando levantar a mão para acenar aos militantes na hora da despedida, será a última vez que o fará enquan-to líder do MPLA. No dia se-guinte, o partido “acorda”, pela primeira e última vez, sem José Eduardo dos Santos na liderança.

Em véspera do “Adeus” de José Eduardo dos Santos, o Jornal de Angola perguntou a algumas personalidades da vida política e social, entre outras questões, se são as circunstâncias que fazem José Eduardo dos Santos hoje deixar a liderança do MPLA ou se é uma sucessão natural.

Políticos reagem à saída de dos Santos

CASA-CE
André Mendes de Carvalho
Membro de uma linhagem com “afinidades políticas” ao MPLA, “Miau” acredita que foram as circunstâncias actuais que obrigaram José Eduardo dos Santos a deixar a liderança do MPLA.

UNITA
Alcides Sakala
Sakala entende que situações que aconteceram ao ex-Presidente da República devem ficar  como ensinamento para os líderes africanos saberem entrar e sair sem serem empurrados pelas tempestades.

MPLA
Salomão Xirimbimbi
“Está-se, pois, diante de uma substituição em vida, por vontade expressa do ainda líder”, disse o presidente do grupo parlamentar do MPLA, para quem João Lourenço entra de forma natural e normal.

Membro BP do MPLA
“Ele (José Eduardo dos Santos) propôs o sucessor que hoje é o Presidente da República (João Lourenço), que teve unanimidade no seio do partido e de todas as estruturas da direcção”, disse, sublinhado que, hoje, o Congresso extraordinário se realiza sob proposta de José Eduardo dos Santos”, considera “Dino Matrosse”.

O político considera que a homenagem ao presidente José Eduardo dos Santos faz sentido e deveria ter acontecido antes. “Nunca é tarde, porque essas homenagens não devem ser feitas apenas quando as pessoas morrem ou quando saem. Devem ser feitas durante a liderança corrente”, disse. Aos jovens, o político pediu que se empenhem no desenvolvimento de Angola.
Percursos políticos

José Eduardo dos Santos

Iniciou a sua actividade política, integrando grupos clandestinos em Luanda, na sequência da criação, em 10 de Dezembro de 1956, do MPLA. Após a eclosão da luta armada contra a ocupação colonial, a 4 de Fevereiro de 1961, com 19 anos , abandonou, em No-vembro desse ano, o país e passou a coordenar, no exterior, a actividade da JMPLA. Em 1962, integrou o Exército Popular de Libertação de Angola, participando na preparação das condições para a abertura da 2ª Região Político-Militar (Província de Cabinda).

Em 1963, foi o primeiro re-presentante do MPLA em Brazzaville, República do Congo. Em Novembro de 1963, beneficiou de uma bolsa de estudo, para o Instituto de Petróleo de Gás de Bakú, na ex-União Soviética, tendo-se licenciado em Engenharia de Petróleos. Em Setembro de 1975, foi eleito membro do Comité Central e do Bureau Político (BP), na Conferência Inter-Regional do MPLA, realizada na Frente Leste (Moxico).

João Manuel Gonçalves Lourenço

Nasceu no Lobito, a 5 de Março de 1954. É licenciado em História.  No dia 3 de Fevereiro de 2017, na III Reunião Ordinária do MPLA, é oficialmente anunciado como cabeça de lista do MPLA às eleições de 2017.

Após a queda do regime fascista em Portugal,  juntou-se à luta de libertação nacional em Ponta Negra em Agosto de 1974. Em vésperas da Independência, participou nos combates na fronteira do N’Tó/Yema contra a coligação FNLA/-Exército Zairense.

Exerceu também funções de comissário político em diversos escalões. Enviado para a então União Soviética de 1978 a 1982 à Academia Superior Lénine de onde, para além da formação militar, trouxe o título de Master em Ciências Históricas. É poliglota. Além do português, fala inglês, russo e espanhol. 

De 1989 a 1990 desempenhou as funções de chefe da Direcção Política Nacional das FAPLA. 

De 1991 a 1998 desempenhou as funções de secretário do Bureau Político para a Informação, e para a Esfera Económica.

“Não devemos ser ingratos”

O bispo e representante oficial da Igreja Fé Apostólica em Angola, Samuel Paquisse, considera que José Eduardo dos Santos cumpriu com o papel enquanto líder do MPLA.

O líder religioso elogiou o facto da sucessão de Eduardo dos Santos no partido esteja a acontecer de forma natural. 

Samuel Paquisse considera que José Eduardo dos Santos sai da liderança do MPLA “de forma gloriosa, porque o faz com os próprios pés sem ser forçado”. “Todos temos um tempo determinado e uma força que nos guia até onde acharmos que é o suficiente e conveniente para deixarmos determinadas responsabilidades”, disse.

O bispo reconheceu que a liderança de José Eduardo dos Santos foi determinante para manter a coesão e a disciplina no partido MPLA. Indicou como o pior momento de José Eduardo dos Santos os últimos tempos do seu mandato, marcado por “muitas situações de impunidade e corrupção generalizada”, e a conquista da paz o melhor momento no consulado de José Eduardo dos Santos.

“É uma substituição feita com o líder vivo”

O presidente do grupo parlamentar do MPLA, Salomão Xirimbimbi, espera que o Presidente João Lourenço, enquanto novo líder do MPLA, mantenha o espírito congregador do partido.

 A ideia, segundo o deputado, é manter a vitalidade do partido, “que sempre praticou o princípio da renovação na continuidade”. O parlamentar admitiu que os desafios actuais requerem um líder determinado, com vontade de fazer as coisas acontecerem, atento, disponível e conhecedor da realidade e ansiedade da população. 

“O Presidente João Lourenço reúne estes requisitos, bastando para tal que seja rodeado nos órgãos executivos do partido e do Estado de pessoas honestas e competentes”, disse.

“Está-se, pois, diante de uma substituição em vida, por vontade expressa do ainda líder”, disse o presidente do grupo parlamentar do MPLA, para quem João Lourenço entra de forma natural e normal, tendo em conta que, do ponto de vista do partido, reúne as condições de legitimação, com a particularidade de tratar-se também de uma decisão inter-geracional, e não só”.

Saída sem glória

José Eduardo do Santos chegou ao fim do seu longo mandato de 39 anos na presidência do MPLA sem glória, afirmou o secretário para as Relações Internacionais da UNITA.

Segundo o político, José Eduardo foi também o mentor da partidarização das instituições do Estado, mas afirma que “é provável que tenha sido determinante para a manutenção da coesão e disciplina no seio do seu próprio partido”. 

Para o dirigente da UNITA, o presidente José Eduardo dos Santos deixa o seu partido forçado pelas circunstâncias. 

Alcides Sakala entende que situações que aconteceram ao ex-presidente da República, devem ficar  como ensinamento para líderes africanos saberem entrar e sair sem serem empurrados pela força das circunstâncias.

O secretário da UNITA afirmou que  muitos líderes africanos têm estado a alterar a Constituição dos seus respectivos países para garantirem a continuidade e manutenção do poder.
                                                        
Nasce um líder reformador

A saída de José Eduardo dos Santos é preenchida por João Lourenço, até dentro de poucas horas vice-presidente do partido, cuja ascensão é estatutária. 

João Lourenço assume a presidência de um partido cujo rosto é, há anos, José Eduardo dos Santos, em meio à necessidade de reformas internas, para adequar o partido aos desafios actuais. 

O histórico e membro da direcção do MPLA Julião Ma-teus Paulo “Dino Matrosse”, em véspera do congresso extraordinário que vai marcar a transição política na liderança do partido, defendeu a limitação de mandatos de futuros presidentes da formação política. O membro do Bureau Político disse que é preciso fazer coincidir os mandatos do presidente do MPLA com os previstos na Constituição. A Constituição prevê apenas dois mandatos consecutivos ou intercalados, pelo que um cidadão só pode ser Presidente da República até 10 anos.

“Dino Matrosse” disse que quem deve liderar o partido, em caso de vitória nas eleições gerais, deve ser sempre o Presidente da República eleito. “Para nós, quem lidera o partido, se o partido ganha, tem que liderar a Nação. Portanto, é fazer coincidir os mandatos da CRA com os mandatos da liderança do partido”, disse.

O antigo secretário-geral do MPLA disse que a sucessão na liderança do partido, desde a morte de Agostinho Neto até agora, com a saída de José Eduardo dos Santos da vida política activa, aconteceu sempre de forma natural e não circunstancial.

“Dino Matrosse” sublinhou que o presidente José Eduardo dos Santos, de acordo com os estatutos do MPLA, deveria permanecer na liderança do partido até ao próximo congresso ordinário do partido, mas, por vontade própria, decidiu deixar a vida política activa este ano. “Ele (José Eduardo dos Santos) propôs o sucessor que hoje é o Presidente da República (João Lourenço), que teve unanimidade no seio do partido e de todas as estruturas da direcção do partido”, disse, sublinhando que, hoje (8 de Setembro), o Congresso Ex-traordinário para a eleição do novo presidente se realiza sob a proposta de José Eduardo dos Santos.

“Portanto, é uma sucessão natural e é bom que o camarada presidente está a retirar-se em tempo oportuno e faz-lhe bem isso”, disse. “Dino Matrosse” afirmou que José Eduardo dos Santos deixa “marcas indeléveis” desde que substituiu Agostinho Neto na direcção do MPLA e do Estado angolano.

Actual secretário para as Relações Internacionais considera que o percurso de liderança de José  Eduardo dos Santos no MPLA e no Estado foi glorioso. O político sublinhou que José Eduardo dos Santos assumiu responsabilidades no partido e no Estado em circunstâncias difíceis, marcadas pela guerra.

“Se me perguntar, Angola tem tudo? Não tem. Tem a base. Os alicerces estão ali é só alavancar o país e mais nada”, disse. “Dino Matrosse” disse que a coesão e a disciplina foram determinantes na liderança de José Eduardo dos Santos e que sem estes pressupostos seria difícil vencer os desafios daquele tempo.

Para Julião Mateus Paulo, o pior momento da liderança de José Eduardo dos Santos foi quando “herdou” a liderança do país, em 1979, sublinhando que ninguém estava preparado. “Tivemos de eleger o presidente naquela situação, sem muita experiência, mas ele soube guiar-nos”, disse. Se o pior momento foi a guerra, a conquista da paz foi o melhor, para “Dino Matrosse”.

Défice de democracia no MPLA fez “durar” Eduardo dos Santos, afirma Miau

O vice-presidente da CASA-CE, André Mendes de Carvalho “Miau”, afirmou que o défice de democracia no MPLA permitiu que José Eduardo dos Santos ficasse 39 anos como presidente.

“Se houvesse abertura, discussão aberta dos assuntos do partido, tenho certeza que a dada fase já teria havido alteração na liderança do MPLA, colocando um indivíduo que tivesse mais à altura dos desafios do momento”, disse. André Mendes de Carvalho admitiu que José Eduardo teve momentos positivos na sua liderança, mas foi a partir de 1992 que “começou a confrontar-se com alguns problemas que fizeram com que o país hoje estivesse  na situação de corrupção em que se encontra.” 

“Ele chega ao fim do seu mandato não de forma tão gloriosa, tendo em conta o seu passado. Chega com a imagem chamuscada, o que poderia ter evitado”, sublinhou.

Membro de uma linhagem com “afinidades políticas” ao MPLA, o actual líder do grupo parlamentar da CASA-CE acredita que foram as circunstâncias actuais que obrigaram José Eduardo dos Santos a deixar a liderança do MPLA. “As circunstâncias actuais obrigam a entregar a liderança a João Lourenço. Em função das reuniões que eles foram tendo, e que criam esse quadro, ele não teve outra saída senão renunciar”, disse.

André Mendes de Carvalho salientou que se José Eduardo dos Santos deixasse a presidência do MPLA no momento em que anunciou a sua retirada da vida política, a sucessão no seu partido seria natural. 

“Miau” reconheceu que José Eduardo dos Santos conseguiu manter o MPLA unido, mas falhou na disciplina partidária. “Se olharmos como estão as coisas hoje, houve um enriquecimento ilícito de uma boa parte dos dirigentes do MPLA. Logo, não podemos falar em disciplina, porque o grosso das suas acções e dos seus companheiros facilitaram o enriquecimento fácil”, disse o parlamentar.

Para André Mendes de Carvalho compete ao congresso do MPLA dizer se deve ser enaltecida a figura de José Eduardo dos Santos. “A história trataria de falar bem e/ou mal do que ele (José Eduardo dos Santos) fez”, disse “Miau”,  filho do histórico militante e dirigente do MPLA, Mendes de Carvalho, e com descendentes actualmente com cargos de direcção no partido. André Mendes de Carvalho, que já foi militante do MPLA, lembrou que durante o tempo que esteve no partido, foi alvo de vários inquéritos, porque exigia que houvesse  aplicação do centralismo democrático, tal como os estatutos defendiam.

João Lourenço assume a presidência do MPLA

O vice-presidente do MPLA, João Lourenço, é confirmado hoje como novo líder do partido, em substituição de José Eduardo dos Santos, no VI congresso extraordinário, que decorre no Centro de Conferências de Belas, em Luanda.

José Eduardo
dos Santos,  que liderou o MPLA durante 38 anos,  anunciou em 2016 que deixaria a vida política activa este ano, tendo confirmado a sua saída, na última sessão extraordinária do Comité Central do MPLA, realizada em Maio deste ano.

Na mesma reunião, o Comité Central aprovou a candidatura de João Lourenço, vice-presidente do MPLA e Presidente da República, ao cargo de presidente do partido.

O congresso, que decorre sob o lema “com a força do passado e do presente, construamos um futuro melhor”, conta com mais de 2.500 delegados, e  começa às 10 horas, com um documentário sobre a trajectória  do primeiro presidente do MPLA, António Agostinho Neto e de José Eduardo dos Santos, presidente cessante.

Depois destes dois momentos, os militantes darão início à transição da liderança do MPLA. José Eduar-do dos Santos fará a sua úl-tima intervenção na qualidade de presidente do partido. Os trabalhos inter-nos relacionados com o processo eleitoral decorrerão  à porta fechada e os delegados vão exercer o seu direito para eleger o novo presidente do partido.

O acto vai contar com as intervenções da JMPLA e  da OMA  e com desfile dos delegados das várias províncias, com  ofertas aos presidentes  cessante e o actual. Os militantes vão também homenagear José Eduardo dos Santos.

O secretário do MPLA para a Informação, Norberto Garcia, explicou ontem que depois  da eleição, o  novo presidente do MPLA,  João Lourenço, recebe o facho aceso do partido, que simboliza um trecho do hino do partido “decididos unidos marchamos, alto facho levado aceso, MPLA vitória é certa, todos ao ataque”.

Norberto Garcia lembrou que o  Comité Central definiu que José Eduardo dos Santos será elevado à categoria de presidente emérito, membro honorífico do Comité Central  e militante distinto do MPLA. 

Nesta condição, serão postos a medalha e o respectivo colar , bem como receberá a sua salva. “Resultante da definição feita pelo presidente José Eduardo dos Santos em interromper a vida política activa em 2018, ocorre que o partido, auscultando todos os militantes a nível do país , entenderam fazer uma eleição do novo presidente, definindo para tal o vice-presidente do partido, João Lourenço, para o cargo de presidente do MPLA”, explicou  o secretário para Informação.

No final do congresso,  João Lourenço fará o discurso na qualidade de presidente eleito. De acordo com o porta-voz do congresso, o discur-so de João Lourenço está a ser aguardado com grande expectativa. 

Ontem, no Centro de Belas, foi realizado o pré congresso, que contou com a presença de todos os delegados, com o objectivo de  prepararem o evento  de hoje.

Programa do conclave

07h30m - Entrada dos delegados para a sala do Congresso;
- Cânticos e músicas tradicionais, interpretados por grupos culturais;
09h45m - Entrada dos membros da presidência;
09h50m - Entrada do presidente do MPLA e do VI Congresso Extraordinário, José Eduardo dos Santos;
10h00m - Sessão de abertura;
- Leitura do relatório da Comissão de Mandatos;
- Hino da República de Angola (cantado), seguido de um minuto de silêncio em memória aos heróis da Pátria, em especial o Presidente Agostinho Neto;
- Documentário histórico;
10h10m - Discurso de abertura, a ser proferido pelo presidente do MPLA;
10h15m - Início dos trabalhos internos;
- Eleição dos órgãos (presidência, Comissão de Mandatos, Comissão Eleitoral e Comissão de Documentação e Secretariado);
10h25m - Leitura da informação sobre o processo de transição política na liderança do MPLA;
11h00 - Processo eleitoral (eleição do presidente do MPLA);
12h00 - Apresentação dos resultados eleitorais;
14h00 - Sessão de encerramento;
- Cânticos e músicas tradicionais, interpretados por grupos culturais;
14h10m - Apresentação do presidente eleito;
- Momento cultural;
- Saudação da JMPLA;
- Saudação da OMA;
- Apresentação dos documentos finais (Leitura da Resolução Geral e de moções de apoio e de agradecimento);
- Ofertas das delegações nacionais ao presidente cessante e ao presidente eleito;
- Homenagem ao Presidente José Eduardo dos Santos;
Discurso de encerramento do presidente eleito;
- Hino e palavras de ordem do MPLA;
15h00m - Fim do VI Congresso Extraordinário do MPLA.

Jornal de Angola | Santos Vilola|Adelina Inácio| Gabriel Bunga & Edna Dala | Fotografia: Francisco Bernardo | Edições novembro

Brasil de Bolsonaro | Facada que não causa sangue?


O vídeo em cima tem a chancela de 24 Brasil TV e tem pertença a algo denominado Jacaré de Tanga. O “relator” é um servo de Bolsonaro e decerto seu seguidor. Até deixa “recado” à esquerda brasileira. Palavra fácil do “moço”… E certamente vida fácil. Compensação?

Certo é que no vídeo que protagoniza a alegada facada não se vê pinga de sangue? É estranho. Ao menos uma manchinha. Nada. Que foi facada ligeira, também dizem. Será? E, mesmo que ligeira, não será um embuste? É que de e dos Bolsonaro tudo se espera no vale tudo para tirar vantagem. É bem provável que o passar do tempo esclareça algo que agora tem toda a legitimidade para ser questionado. A ser verdade, é evidente que o ato é condenável mas se foi só uma facadinha porquê tanto aparato, tanto espetáculo? Lá voltamos nós à encenação… Que coisa!

A seguir, António Martins, do Outras Palavras, escreve e fala, no original, sobre a facada e pergunta: quem a facada atingiu? Mais outros que o "tadinho" do Bolsonaro. Não? (PG)

Quem a facada atingiu?

Atentado contra Bolsonaro fere Alckmin, abençoa a união dos conservadores em torno da ultra-direita e sugere à esquerda que está em jogo, em outubro, algo muito maior que uma disputa partidária

Antonio Martins | Outras Palavras | Vídeo: Gabriela Leite | Imagem: Francisco Goya, Duelo com porretes (1820-23)

As atitudes de quem deseja reumanizar e reencantar o mundo não podem ser simétricas às dos que agem em favor da barbárie. Jair Bolsonaro defendeu a tortura e o estupro, mas é exatamente por nos opormos à brutalidade que repudiamos o atentado a ele. Felizmente, tudo indica que o ex-capitão, afastado do Exército por planejar atentados terroristas, sobreviverá ao atentado. Mas as eleições já não serão as mesmas. Três novas tendências e questões emergirão.

Primeira: Bolsonaro unificará a direita. Havia, até agora, uma disputa acirrada entre ele e Alckmin – nos programas de campanha e na Justiça eleitoral. Nas pesquisas, o ex-capitão tinha treze pontos percentuais de vantagem, mas era atacado maciçamente na TV por seu adversário, que buscava explorar suas posições violentas e anti-humanitárias. Agora, Bolsonaro poderá se apresentar como vítima (real) desta mesma violência que defende. O ex-governador conseguirá reverter, em um mês e sob comoção, a disância que o separa?

Os mercados financeiros deram uma primeira resposta na própria tarde da sexta-feira. Houve uma reviravolta após o atentado. A Bovespa subiu; o dólar, que havia atingido RR 4,16, recuou. Já havia forte tendência, entra a elite financeira e o grande empresariado, de opção pela extrema-direita. Este movimento pode ter se consolidado. Portanto, a primeira vítima da facada pode ter sido Alckmin.

Segunda: está novamente aberta a disputa pelo papel de candidato anti-establishment. Em eleições com o país mergulhado em crise econômica, e em profundo desgaste do sistema político, aparecer como alternativa pode ser decisivo. Bolsonaro tentou ocupar o papel. Não havia conseguido até agora. As pesquisas o mostram, há meses, estancado em 22% das preferências dos eleitores – e provavelmente batido tanto por Marina da Silva quanto por Ciro Gomes, num eventual segundo turno. Para os eleitores, o candidato anti-sistema é, por enquanto, Lula, preso político com 40% das intenções e enorme poder de transferência de votos. Agora, muito provavelmente, o atentado permitirá que Bolsonaro volte a aparecer, para parte importante da população como alguém incômodo aos poderosos, e portanto merecedor de apoio.

Terceira questão: É necessário, aliás, investigar em profundidade as circunstâncias em que o ataque ao candidato se deu. As imagens mostram que o homem que investiu com a faca estava a três corpos de distância doe Bolsonaro. Minutos depois da facada, o filho do ex-capitão afirmou, nas redes sociais, que o ferimento havia sido “superficial”. Surgiram, em seguida, informações desencontradas sobre uma cirurgia [que agora parece confirmada]. A História está repleta de atentados forjados. Ocorreu na Alemanha, no incêndio do Reichstag. Ou no Brasil de 2010, quando José Serra, então candidato à Presidência, foi atingido por uma bolinha de papel, simulou tratar-se de um objeto metálico e chegou a se submeter a tomografia de crânio. Qual é, de fato, a natureza do ferimento? Quem é o autor do atentado? Que o levou a cometer tal ato? Ao país, interessa o esclarecimento cabal destas questões.

Quarto ponto: O atentado mostra para a esquerda que não estamos diante de uma disputa eleitoral qualquer, regida pelas velhas táticas da luta partidária pelo governo. Está em jogo o futuro do país. Os que desejam manter a agenda de retrocessos imposta há dois anos – e, se possível, aprofundá-la – farão de tudo para isso. As relações entre Haddad/Lula, Ciro Gomes e Boulos precisam ser revistas.

Há, na sociedade, um grande campo antigolpe, muito provavelmente majoritário. Este campo correrá o risco de continuar a se dividir entre três candidaturas? Os fatos de hoje não mostram que acima das disputas partidárias é necessária uma unidade de quem deseja reverter os retrocessos pós-golpe? Não é possível voltar a pensar num “Geringonça Brasileira”, que se traduza desde já numa articulação clara entre o PT, o PDT, o PCdoB e o PSOL? Significaria estabelecer desde já um programa comum de resgate do país e dos direitos; politizar a disputa pelos Legislativos, trabalhando em conjunto pela eleição de uma vasta bancada pela revogação dos retrocessos; estabelecer planos compartilhados para um governo de reconstrução nacional. Isso tudo não daria às eleições um caráter muito mais denso que a mera disputa partidária?

Os tempos aceleram-se. Teremos, apóso feriado, a divulgação de uma nova pesquisa do Datafolha (em 10/9). É difícil prever os fatos que virão. Mas é claro que os acontecimentos da sexta-feira projetam as eleições num novo cenário, que exige respostas não convencionais. Saberemos compreender este desafio? É uma pergunta a ser respondida nos próximos dias.

* Antonio Martins é Editor do Outras Palavras

Brasil | Ataque a Bolsonaro é "resposta de ódio" a quem "prega o ódio", diz Maria Rita Kehl


Candidato do PSL sofreu ferimento no abdômen após ter sido perfurado com faca durante ato de campanha em Minas Gerais

"Um cara que prega o ódio recebeu uma resposta de ódio", lamentou, ao Brasil de Fato, a psicanalista Maria Rita Kehl em referência ao ataque a faca contra o candidato a presidente pelo PSL, Jair Bolsonaro, nesta quinta-feira (6) em Juiz de Fora (MG), durante um ato de campanha em um centro comercial da cidade. Enquanto era carregado nos ombros por um de seus seguranças, Bolsonaro foi perfurado por uma faca na região do abdômen e foi levado à Santa Casa, onde passou por uma cirurgia para reparar perfurações nos intestinos grosso e delgado, segundo informações repassadas pelo hospital à imprensa.

O autor do ataque foi cercado por apoiadores de Bolsonaro e detido ainda no local, antes de ser encaminhado à delegacia. Segundo informações de policiais militares no local, ele teria afirmado que a iniciativa do ataque foi individual, por discordâncias com as ideias defendidas pelo candidato em sua campanha.

"Me parece que quando o dispositivo da democracia entra em descrédito, como a manobra para tirar a Dilma - que já foi picaretagem, por exemplo -, depois a prisão do Lula - uma coisa totalmente arbitrária, que mesmo quem está a favor sabe que é uma jogada suja, que é um 'gol de mão', enfim -, as pessoas começam a apelar. A violência nas ruas aumenta, a violência contra as mulheres aumenta, enfim, a 'psicopatização' da sociedade como um todo aumenta", analisou a psicanalista.

Perfil

Bolsonaro é uma figura conhecida pelo discurso repleto de preconceitos contra mulheres, negros e pobres, além de atacar com rancor movimentos populares como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), além dos partidos identificados com a esquerda.

Há uma semana, durante ato de campanha no Acre, Bolsonaro prometeu a seus apoiadores que, após a vitória eleitoral, iriam "fuzilar a petralhada", em menção aos militantes do Partido dos Trabalhadores (PT). A facilitação do porte de armas para civis é uma das principais bandeiras da campanha do militar da reserva, para que cidadãos possam reagir à criminalidade por conta própria e fazendeiros possam atacar movimentos populares do campo.

O discurso pró-violência de Bolsonaro, que tem despontado como principal nome da extrema direita desde a última eleição presidencial, acompanha o aumento da violência nas relações políticas no país. Em abril deste ano, o violento assassinato da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro, chocou o país. Ela foi alvejada por tiros ao lado do motorista Anderson Gomes, em seu carro, quando voltava de um debate político com mulheres negras. A polícia ainda não localizou os autores do assassinato ou os mandates, embora haja suspeita de envolvimento de milícias. 

Em março, a caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alvejada por tiros enquanto visitava estados da região Sul do país; em 2015, uma bomba caseira foi arremessada contra a sede do Instituto Lula, em São Paulo.

Edição: Diego Sartorato

Imagens mostram ataque a Bolsonaro registrado pelas pessoas que acompanhavam ato político em Juiz de Fora / Foto: montagem sobre imagens da TV

Leer en Español | Read in English | Brasil de Fato | São Paulo (SP)

Portugal | A fé dos professores


Domingos de Andrade | Jornal de Notícias | opinião

Comece-se pela conclusão, porque já se tinha percebido há muito. O Governo não vai ceder, o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, não tinha mais para dar porque manda o ministro das Finanças, os professores vão para a greve e outras formas de luta. E volte-se ao princípio. O falhanço previsível das negociações com sindicatos sobre a contagem do tempo de serviço leva o Governo a seguir o seu próprio caminho e a obrigar os partidos que o suportam no Parlamento a fechar os olhos na aprovação do Orçamento do Estado. É isso ou uma crise política, com eleições ainda durante o primeiro trimestre do próximo ano. Só serve ao PS. E nem é preciso olhar para as sondagens.

Mas todos olham. Para os barómetros de opinião. Rui Rio enfrenta uma parte substancial do partido que não o quer e vê metástases na própria direção. Anunciou-o, convidando a sair quem não concordar com a estratégia. É muito para um homem só, mesmo que resiliente. Ou tem trunfos na manga com ideias para o país, ou só lhe resta apoiar o Governo no Orçamento para ganhar tempo eleitoral. Assunção Cristas capitaliza sem ter de se esforçar.

O PCP, que promete não condicionar a aprovação do Orçamento à luta dos professores, vai ter de fazer contorcionismo na rua. E o Bloco de Esquerda, sufocado com o caso Robles, precisa desesperadamente de um cavalo de batalha eleitoral. Esse vai para a rua.

Nova volta. Entre as contas dos sindicatos e as contas do Governo vão 445 milhões de euros de diferença. A contagem do tempo de serviço custa 180 milhões de euros se vingar a proposta do Governo de contabilizar apenas dois anos, nove meses e 18 dias, ou 635 milhões se os sindicatos acabarem por vencer o braço de ferro.

Parece muito e o histórico dá razão aos professores. Mas o Governo já está no limite das promessas que pode cumprir.

E há um ano eleitoral para gerir. E boas contas para ganhar eleições.

*Diretor-Executivo do JN

Eleições no Sporting | Escolha o mal menor para o leão ser “o maior”


Hoje há eleições no Sporting Clube de Portugal. O futebol dos milhões está todo ele em crise e até há quem já o considere um aglomerado de mafiosos. 

Ontem foi o Moreirense acusado de corrupção, o Benfica anda a braços com uma crise e com a justiça a roer-lhe as canelas, a todo o momento aguarda-se mais novidades, mais “broncas” protagonizadas com os clubes chamados “grandes”, o Porto, o Benfica e o Sporting. Mas as “broncas” não são só nos tais “grandes”, vimos no caso Moreirense. Há mais, é garantido. É o desporto na realidade que tem a perder, mas entretanto por todos eles “correm” e escorrem milhões. Alguém há-de ficar a ganhar com todo este clima de cambalacho, de desonestidade, de opacidade, de anti-desporto.

As eleições no Sporting são hoje. Depois de uma crise que ainda não terminou, escolha o mal menor. Os candidatos a eleições não são os meninos de coro que podem aparentar ser. Temos de viver com aquilo que temos e para “limpar” o futebol tem de se limpar o país e, principalmente, as mentalidades dos milhões de portugueses. Talvez não só. Melhor: de certeza que não só, porque tudo isto é global. (PG)

Chegou o dia D no Sporting: Os candidatos, os trunfos e as promessas

Conheça os programas e as ideias dos seis candidatos que este sábado correm pela presidência do clube de Alvalade.

O futuro do Sporting joga-se este sábado, em Alvalade, nas urnas. No reduto do leão espera-se uma forte afluência, condizente com a exigência do momento após uma das fases mais atribuladas e difíceis da história do clube. Pela mão dos sócios será conhecido o 43.º presidente, que sairá de um lote recorde de seis candidatos.

Com a desistência de Pedro Madeira Rodrigues, candidato derrotado nas eleições de 2017, na última semana, Frederico Varandas, João Benedito, José Maria Ricciardi, Dias Ferreira, Rui Jorge Rego e Fernando Tavares Pereira correm por um lugar que nos últimos cinco anos foi ocupado por Bruno de Carvalho.

Eleito para o primeiro mandado em 2013, o antigo líder verde e branco voltou a merecer a confiança dos sócios há cerca de um ano e meio, altura em que angariou 86% dos votos. No passado mês de fevereiro, foi legitimado de novo com 90%, sinal da vontade inequívoca dos sócios pela sua continuidade.

No entanto, a 23 de junho, e após um série de incidentes que tiveram início no célebre post após a derrota do Sporting no Wanda Metropolitano, frente ao At. Madrid, e que subiu de tom com a invasão de Alcochete, BdC tornou-se o primeiro presidente da história do emblema leonino a ser destituído. A saída de Jorge Jesus e a rescisão por justa causa de nove jogadores fizeram o clube entrar num precipício que parecia não ter fim.

A entrada da Comissão de Gestão, liderada por José Sousa Cintra, amenizou os estragos. O retornado dirigente conseguiu os regressos de Bas Dost, Battaglia e Bruno Fernandes, contratou alguns reforços importantes e escolheu José Peseiro para treinador.

Apesar de todo este rol de acontecimentos, Bruno de Carvalho não baixou os braços, tentou recandidatar-se, mas viu a porta fechada devido ao facto de estar suspenso de sócio. Ainda tentou impugnar as eleições, mas... sem sucesso. Este sábado, entre muito ruído e instabilidade, seis candidatos assumem-se como capazes de colocar o Sporting no caminho que todos os sócios, adeptos e simpatizantes pretendem: o da vitória. O que conseguir ser eleito terá, seguramente, um enorme desafio pela frente.

Conheça os candidatos e os seus trunfos:

LISTA A - João Benedito: É o sócio número 10467, tem 39 anos e é antigo atleta do Sporting. Foi guarda-redes da equipa de futsal dos leões, onde conquistou nove títulos de campeão nacional, entre muitos outros troféus.

Futebol:

Se for eleito, manterá José Peseiro como treinador;

À semelhança de outros candidatos, trouxe para a sua lista antigos campeões pelo Sporting. André Cruz será o diretor desportivo, enquanto Peter Schmeichel terá funções de consultor;

Pretende implementar um modelo uniforme ao futebol profissional e à formação.

Tem o objetivo de utilizar o programa multidisciplinar Sporting Performance, que, com uma tecnologia de ponta e uma equipa especializada, terá a missão de potenciar as capacidades dos atletas.

Finanças:
Pretende manter a maioria da SAD no clube;

Acredita que o equilíbrio das finanças está alicerçado no sucesso desportivo. Alterar aquela que foi a linha orientadora do Sporting dos últimos anos é a sua intenção;

Tenciona colocar em marcha a reestruturação financeira, renegociar o passivo e procurar novos investidores.

Modalidades:

Tem como objetivo manter, e até reforçar, a onda de vitórias nas modalidades e tornar esta uma bandeira do clube;

Defende que o forte investimento que tem sido feito nas modalidades tem colhido frutos, pelo que não será esse um problema.

LISTA B - José Maria Ricciardi:  É o sócio número 12502, tem 63 anos, é banqueiro de profissão. Foi um dos homens fortes do banco BES e ao longo dos anos sempre se manteve como uma voz ativa no Sporting.

Futebol:

Irá manter José Peseiro como treinador, se for eleito;

Escolheu José Eduardo para diretor do futebol, com Marco Caneira e Jorge Cadete também na estrutura;

Pretende recuperar a capacidade ímpar da Academia para formar novos talentos;

Defende a redução do número de contratações, recorrendo apenas a esta solução em casos cirúrgicos;

Finanças:

Considera que o Sporting atravessa uma situação dramática, com um défice de tesouraria que pode atingir 122 milhões de euros;

Defende que é fundamental aumentar as receitas e impor uma política orçamental rigorosa;

Garante ter investidores e soluções para resolver este problema.

Modalidades:

Tenciona reformular a organização e a gestão das modalidades de forma a não comprometer o investimento;

Compromete-se a criar um Centro de Alto Rendimento;

LISTA D - Frederico Varandas:  É o sócio número 8808, tem 38 anos e é médico de profissão. Foi diretor clínico do Sporting nos últimos anos e demitiu-se na sequência dos incidentes de Alcochete. Foi o primeiro a avançar com uma candidatura.

Futebol: 

Já garantiu que irá manter José Peseiro como treinador, se for eleito;

Beto será o seu team manager, enquanto Hugo Viana  terá a responsabilidade das relações internacionais;

Pretende garantir alguns reforços no próximo mercado de inverno;

Tenciona reduzir as assimetrias entre o futebol profissional e a formação, recuperar a capacidade formadora da Academia, melhorar o recrutamento e aperfeiçoar a rede logística nos vários escalões;

A recuperação da equipa B também faz parte dos planos.

Finanças:

Admite que a situação financeira do clube é complicada, identifica os 120 milhões de euros como défice de tesouraria, mas garante ter soluções para resolver estes problemas;
Acredita que o sucesso desportivo será a grande solução para o problema financeiro;

Pretende fazer um empréstimo obrigacionista até 60 milhões de euros, dar início à reestruturação do passivo bancário, potenciar a compra e venda de jogadores e usar a securitização do contrato da NOS.

Modalidades:

Miguel Albuquerque, diretor do futsal do Sporting, será o responsável das modalidades;

Considera que o investimento nas modalidades - 20 milhões de euros - terá que ser revisto;

Pretende potenciar o pavilhão João Rocha.

LISTA E - Rui Jorge Rego:  Tem 46 anos, é advogado de profissão e foi secretário da Mesa da Assembleia-Geral do clube durante o mandato de Godinho Lopes.

Futebol:

Pretende manter José Peseiro como treinador;

Anunciou Roberto Carlos como diretor para o futebol;

Paulo Lopo, presidente da SAD do Leixões, será o líder da SAD do Sporting;   

Prometeu o regresso de Cristiano Ronaldo a Alvalade para terminar a sua carreira.

Finanças:

Tem investidores na China, em África e no Brasil;

Anunciou uma parceria com Júlio Brant, que prevê um financiamento até 120 milhões de euros;

Pretende baixar custos e crescer a partir do patamar de sustentabilidade, num modelo de maior equilíbrio entre receitas e despesas.

Modalidades: 

Tenciona criar um modelo de gestão profissional das modalidades;

Aposta na formação.

LISTA F - Dias Ferreira:  Tem 71 anos, é advogado de profissão e conta com uma vida ligada ao Sporting. Entrou no clube em Agosto de 1980, integrando o secretariado-geral da direcção de João Rocha, e ao longo dos anos desempenhou vários cargos em diferentes direções.

Futebol:

Se for eleito, irá manter José Peseiro como treinador;

Ricardo Pereira, antigo guarda-redes dos leões, será o team manager;

Pretende reestruturar a formação, ressuscitar a Academia como centro de estágios e construir uma Academia em Lisboa/Oeiras;

Tenciona investir no scouting e apostar na profissionalização da estrutura.

Finanças:

Defende que o mais importante é concluir a reestruturação financeira em curso;

Garante que é fundamental reduzir a dívida bancária;

Tem intenção de trazer para o clube perto de 90% das ações da SAD;

Considera que não é viável o presidente do clube assumir o cargo de presidente da SAD.

Modalidades:

Aposta na rentabilização do Pavilhão João Rocha e no suporte da formação;

Manifesta interesse na criação de uma Academia para as modalidades;

Tenciona recuperar o basquetebol e criar mais quatro modalidades.

LISTA G - Fernando Tavares Pereira:  Tem 62 anos, é empresário de profissão e tem um passado ligado ao futebol como presidente do Tourizense, clube que levou das distritais de Coimbra até aos campeonatos nacionais.

Futebol:

Pretende manter José Peseiro como treinador;

Defende a aposta numa equipa com base na formação;

Tenciona reformular o funcionamento da Academia;

Finanças:

Acredita que o Sporting tem soluções para garantir receitas que consigam fazer face às necessidades de tesouraria;

Admite recorrer a investidores portugueses e estrangeiros;

Abdica do salário do clube e da SAD.

Modalidades:

Defende que as modalidades deverão continuar a ser uma aposta;

Considera que serão necessários alguns reajustes no investimento.

Notícias ao Minuto | Foto: Global Imagens

Leia mais em Notícias ao Minuto

Mais lidas da semana