sábado, 8 de dezembro de 2018

Lucros do Greater Sunrise para Timor-Leste entre 28 e 54 MMUSD -- Timor Gap


Díli, 08 dez (Lusa) - Timor-Leste poderá ter lucros de entre 28 e 54 mil milhões de dólares com o desenvolvimento dos campos de Greater Sunrise, a maior fatia na fase upstream do projeto, segundo dois cenários apresentados hoje pela petrolífera Timor Gap.

O cenário "conservador" de 28 mil milhões de dólares em benefícios financeiros diretos e o "cenário Timor Gap" de 54 mil milhões de dólares, foram hoje apresentados pelo presidente da petrolífera timorense Timor Gap, Francisco Monteiro.

A variação entre os dois cenários deve-se a mudanças nas estimativas das reservas do Greater Sunrise e também nos valores das despesas com capital (CAPEX) e despesas operacionais (OPEX) associadas ao projeto, tanto na fase upstream como downstream.

Em projetos petrolíferos, o 'upstream' abrange as atividades de exploração, perfuração e produção e o 'downstream' as atividades de transporte, distribuição e comercialização.

Francisco Monteiro explicou que o desenvolvimento do Greater Sunrise, incluindo a produção de gás natural liquefeito (GNL) no sul do país criará mais de 38 mil postos de trabalho para timorenses com um impacto económico estimado de 58,4 mil milhões de dólares em Timor-Leste.

O investimento total da parte de Timor-Leste ascenderá a 10,5 mil milhões de dólares, dos quais 2,6 mil milhões de dólares no upstream e 7,9 mil milhões de dólares no downstream, dos quais pelo menos 20% - ou 2,1 mil milhões - serão capital próprio a investir pelo Estado até 2025.

Os restantes 80% poderiam provir de vários modelos incluindo investimento dos restantes membros do consórcio, através de financiamento de projeto (Project finance), empréstimos ou "financiamento EPC", que inclui um contrato de construção.

No cenário mais conservador de lucros, as contas da Timor Gap assentam na previsão de que o Greater Sunrise tem reservas de 4,6 triliões de pés cúbicos de gás e 226 milhões de barris de petróleo, valores que aumentam para 6,5 triliões de pés cúbicos de gás e 282 milhões de barris de petróleo no segundo cenário (nos dois casos a um preço de 62,5 dólares por barril).

As despesas de capital (CAPEX) no cenário conservador serão de 16,7 mil milhões (7,4 mil milhões no upstream e 9,3 mil milhões no downstream), caindo para 14,8 mil milhões (6,9 mil milhões no upstream e 7,9 mil milhões no downstream) no segundo cenário.

Os gastos OPEX serão, no mesmo cenário, de 281 milhões por ano no upstream e de 100 milhões por ano no downstream, caindo respetivamente para 143 e 86 milhões por ano no cenário mais otimista.

As contas, no cenário mais conservador, apontam a um lucro médio anual de dois mil milhões de dólares durante a vida do projeto, até 2052.

Entre os "benefícios sócio económicos", o projeto representará, na fase upstrem, uma injeção de 15 mil milhões em "custos de exploração, desenvolvimento e instalação e operações de manutenção" na economia, criando "amplas oportunidades de emprego", novas infraestruturas e impacto noutros setores da economia.

Somam-se a isso uma fatia dos gastos CAPEX e OPEX de quase 10 mil milhões na instalação do gasoduto, e vários "benefícios estratégicos", explicou.

"O grande investimento no downstrem tornará Timor-Leste num país que dá confiança aos investidores sobre o seu futuro, permitindo responder às necessidades nacionais de combustíveis e exportar 5% do gás para a Indonésia", disse.

A apresentação tem em conta o novo cenário para o Greater Sunrise: as fronteiras marítimas permanentes e a compra por Timor-Leste da participação maioritária (56,56%) no consórcio do projeto.

Essa maioria, explicou, permitirá a Timor-Leste "orientar a execução do projeto em termos de plano e calendário" - a construção começa em 2021 e a produção no final de 2025 -, bem como "orientar e decidir" sobre o conceito de desenvolvimento do recurso.

Na prática, a opção de construção de um gasoduto para Timor-Leste e de uma unidade de processamento de GNL na costa sul do país (projeto Tasi Mane) que acrescentará.

Um dos fatores novos da equação é a decisão de Timor-Leste ter acordado comprar as participações da ConocoPhillips e da Shell no consórcio do Greater Sunrise, respetivamente por 350 e 300 milhões de dólares.

Segundo a Timor Gap essa participação maioritária de 56,56% representará um aumento de pelo menos nove mil milhões de dólares nos rendimentos para o país, para um total de 25 mil milhões, explicou Frâncico Monteiro.

A este valor soma-se um lucro de 3,2 mil milhões de taxas e impostos na fase downstream com a opção de desenvolvimento em Timor-Leste.

Qualquer dos cenários mostra o aumento significativo de receitas com a opção seguida pelo Governo timorense.

O cenário base é o da delimitação das fronteiras permanentes, que representa para Timor-Leste o controlo sobre o recurso, que está 70% em águas timorenses e 30% em águas australianas, na zona leste da fronteira definitiva entre os dois países, ?fechada' com o novo tratado assinado a 06 de março último.

Isso garante, explicou que 70% dos rendimentos do upstream serão para Timor-Leste com "provisões de conteúdo local" adicionais, como questões de emprego, e recurso ao setor privado timorense para fornecimento de bens e serviços para o projeto.

ASP//MIM

Divulgar dados sobre projetos Mar de Timor ajudará à união do país -- Xanana Gusmão


Díli, 08 dez (Lusa) - O negociador principal de Timor-Leste para o Mar de Timor, Xanana Gusmão, dise hoje que divulgar dados sobre os projetos no setor petrolífero ajudará a unir os timorenses em torno das estratégias de desenvolvimento do país.

Xanana Gusmão falava à Lusa à margem de um "Seminário nacional sobre assuntos relacionados com Fronteiras Marítimas e o seu impacto sobre atividades petrolíferas", em que foram convidados todos os membros do Governo, diretores-gerais, diretores nacionais e responsáveis das autoridades municipais.

Um encontro "muito, muito importante" porque ajuda a clarificar aspetos de projetos que são complexos e a responder a dúvidas que têm surgido sobre as estratégias do Governo, expicou Xanana Gusmão.

"Percebemos, como Estado novo e recente que as coisas não são do conhecimento de todos e então aparecem as dúvidas. Aclaradas as dúvidas podemos todos ter um só pensamento e todos estar unidos na consecução daquilo que queremos para o desenvolvimento de Timor", afirmou à Lusa.

"Às vezes por causa da liberdade de pensamento, as pessoas falam sem muito conhecimento da causa, e têm o direito de ter dúvidas. O problema é que ao apresentar as dúvidas não o fazem de uma maneira correta", disse.

Oportunidades com as de hoje - o seminário está a ser transmitido em direto pelas televisões timorenses - são importantes, disse, especialmente por estarem a ser acompanhadas por políticos, responsáveis de entidades e instituições do próprio Estado, sociedade civil, académico e setor privado.

"Todos nós estarmos a comungar o mesmo objetivo o mesmo esforço e quando isto começar a andar, no local onde este projeto todo vai ter lugar, já existirá uma consciência -pelo conhecimento que vão adquirindo - da parte da população em participar mesmo.

O encontro decorre com a presença, entre outros, do primeiro-ministro Taur Matan Ruak, do presidente do Parlamento Nacional, Arão Noé Amaral, do presidente do Tribunal de Recurso, Deolindo dos Santos, de vários membros do Governo, deputados e outros dirigentes nacionais.

O corpo diplomático "não foi convidado" visto tratar-se de um seminário "nacional", explicou à Lusa uma fonte do Gabinete de Fronteiras Marítimas.

Entre os ausentes destacaram-se o Presidente da República, Francisco Guterres Lu-Olo e o secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), o maior partido da oposição, Mari Alkatiri.

Além das questões financeiras e económicas do projeto, explicou Xanana Gusmão, o encontro analisará ainda "objetivos estratégicos" para esta nova fase da vida de Timor-Leste.

ASP // MIM

Nicolas Cage inaugura festival de cinema em Macau e destaca relação Portugal/China


Macau, China, 08 dez (Lusa) - O ator norte-americano Nicolas Cage inaugurou hoje o festival internacional de cinema de Macau, um território que apelidou de "fascinante" por ser palco de uma "interação cultural harmoniosa" entre o português e o chinês.

Embaixador do terceiro festival internacional de cinema de Macau (IFFAM), Nicolas Cage falava em conferência de imprensa, a poucas horas da passadeira vermelha e da exibição do filme de abertura - "Green Book" - do norte-americano Peter Farrelly.

"Macau é um lugar com uma história incrível. Na minha opinião, é fascinante por causa da interação cultural harmoniosa entre o chinês e o português", disse Cage, acrescentando que "gosta de ver a arquitetura e perceber as diferentes influências" na cidade.

Na mesma intervenção, a estrela de Hollywood debruçou-se sobre a importância da indústria cinematográfica chinesa, uma das maiores do mundo, e da qual garantiu o seu trabalho depender nos dias de hoje.

"Esta indústria é a razão pela qual ainda tenho o privilégio de trabalhar", destacou, numa alusão ao investimento chinês mas também à sua participação em filmes chineses. Nicolas Cage já colaborou com cineastas do interior da China, Hong Kong e Taiwan.

"Cada vez mais atores e realizadores ocidentais estão interessados nesta relação porque se apercebem do quão ela é importante. E nela reside, de facto, o futuro do cinema", sublinhou.

O alinhamento do festival, que se prolonga até sexta-feira, conta com mais de 50 filmes internacionais e 14 produções locais. Há dois filmes com mão portuguesa: "Diamantino", de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, e "Hotel Império", de Ivo Ferreira.

Distinguido em maio com o Grande Prémio da Semana da Crítica de Cannes, "Diamantino", a primeira longa-metragem de ficção de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, será exibido na secção não competitiva de filmes "Flying Dagger".

"Hotel Império", do realizador Ivo Ferreira, regressa ao grande palco das filmagens, onde será exibido depois da estreia mundial em Pingyao, no nordeste da China.

Destaque também para os filmes "Roma" (EUA/México) e "U-July 22(Noruega), na secção não competitiva "Best of Fest Panorama". "Roma", de Alfonso Cuarón, foi o primeiro filme da Netflix a vencer um dos principais prémios de cinema: o Leão de Ouro do Festival de Veneza. O segundo, de Erik Poppe, foi nomeado para o Urso de Ouro, em Berlim.
Em competição correm onze filmes de três continentes.

Em 2017, o filme "Hunting Season", da realizadora argentina Natalia Garagiola, ganhou o prémio de melhor filme do segundo festival internacional de cinema de Macau e o francês Xavier Legrand conquistou a distinção de melhor realizador com "Custody", um 'thriller' sobre terrorismo doméstico.

FST // JNM

Governo de Israel é xenófobo e anti-semita

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros austríaco, Sebastian Kurz, Setembro de 2018. Créditos/ Governo do Estado de Israel
José Goulão | AbrilAbril | opinião

Os governos da União Europeia acabam de tomar uma medida há muito pretendida por Israel, que é, no fundo, dificultar ou mesmo criminalizar, se necessário, as críticas contra o comportamento do regime sionista.

A partir de agora, na União Europeia, o título deste artigo pode ser considerado um crime ou, pelo menos, deve alertar «as autoridades policiais nos seus esforços para identificar e investigar ataques anti-semitas de maneira mais eficiente e eficaz». Quem o diz são os ministros da Administração Interna dos Estados membros, que assim pretendem calar as críticas a Israel, apagando de uma penada, com as suas assinaturas, as chacinas em Gaza, a ocupação ilegal dos territórios palestinianos e de parte da Síria, a colonização da Cisjordânia e de Jerusalém Leste, violando as leis internacionais, a tortura, as execuções extra-judiciais e o racismo que são práticas comuns do regime sionista.

Não menos importante é o facto de a decisão pretender impedir a denúncia de um dos aspectos mais insólitos do comportamento dos governos de Israel ao aplicarem, na prática, aquilo que consideram ser a teoria sionista: o carácter xenófobo e anti-semita das políticas israelitas dominantes.

Os governos da União Europeia acabam de tomar uma medida há muito pretendida por Israel, que é, no fundo, dificultar ou mesmo criminalizar, se necessário, as críticas contra o comportamento do regime sionista, que pretende, abusivamente, representar os judeus de todo o mundo; e que se esforça – agora com êxito – para que as críticas ao sionismo sejam consideradas manifestação de anti-semitismo. Os governos da União não apenas instauram uma censura para proteger Israel como faltam ao respeito aos judeus que não são sionistas, ou mesmo aos judeus que, sendo sionistas, não se revêem nas práticas do governo israelita. Como, por exemplo, 34 historiadores judeus das Universidades de Yale (Estados Unidos) e Telavive que, em carta aberta, advertem que uma medida como a da União Europeia pode «dar imunidade a Israel contra as críticas por violações graves e generalizadas dos direitos humanos e do direito internacional» e «tem um efeito negativo sobre qualquer crítica a Israel». Na óptica dos governos europeus, os autores destas linhas são anti-semitas, mesmo sendo judeus.

Um processo xenófobo

A aberração nasce de um processo ferido à partida, contaminado por preconceitos xenófobos e anti-semitas.

A decisão dos ministros dos ministros da Administração Interna da União significa que assumem como definição de anti-semitismo a que foi sentenciada pela Aliança Internacional para Recordação do Holocausto (AIRH), uma entidade inter-governamental sediada em Berlim a que a UE se juntou como parceira. Essa definição estabelece o seguinte: «Anti-semitismo é uma certa percepção dos judeus que pode expressar-se através de ódio contra os judeus». A definição é acompanhada por 11 exemplos de atitudes que, por esta lógica, são consideradas anti-semitas, das quais esta pode considerar-se muito ilustrativa: «Negar ao povo judeu o seu direito à autodeterminação, por exemplo alegando que a existência de um Estado de Israel tem implicações racistas».

A manipulação e os preconceitos xenófobos associados a este jogo de conceitos são notáveis.

Passemos por cima da generalização abusiva da identificação entre judeus e as vítimas do extermínio nazi latente no termo Holocausto, sabendo-se que não foram poucos os não-judeus entre os milhões que pereceram sacrificados pela máquina de matança de Hitler. É um fenómeno recorrente, ainda que deixe no ar uma imprecisão histórica.

Pelos caminhos do absurdo

A própria definição de anti-semitismo estabelecida pela AIRH, e assumida agora pela União Europeia, é xenófoba e anti-semita ao identificar abusivamente – de novo – o universo semita com o universo judeu. Existem outros povos semitas além dos judeus – os árabes e os berberes, por exemplo. A redução do anti-semitismo ao anti-judaísmo é elitista e selectiva, logo xenófoba. E as consequências práticas da definição adoptada pelos ministros europeus podem ser tão aberrantes como o próprio processo que a transformou num padrão. Por exemplo, a União Europeia poderá considerar como uma manifestação de anti-semitismo a denúncia das atrocidades cometidas pelo exército de Israel em Gaza e, ao mesmo tempo, ignorar o anti-semitismo contido em qualquer acto contra os imigrantes árabes na Europa.

Este exemplo é extensivo à maioria dos comportamentos dos governos de Israel em relação aos árabes – atitudes anti-semitas nuas e cruas. Desde a rejeição da autodeterminação dos palestinianos, à expulsão de centenas de milhares das suas terras, arrasando as suas casas, aldeias, vilas e cidades, passando pela humilhação quotidiana de que são vítimas os habitantes de Gaza, da Cisjordânia, de Jerusalém Leste, dos Montes Golã. Porém, segundo a filosofia assumida pela União Europeia, anti-semitismo é revelar as práticas violentas e arbitrárias dos ocupantes, a perseguição dos ocupados. Anti-semitismo, em suma, é lembrar que Israel se coloca à margem do direito internacional recusando-se a cumprir 40 resoluções do Conselho de Segurança e 100 decisões da Assembleia Geral da ONU.

Aliás, a definição assumida pela União Europeia pode levar-nos bastante mais longe pelos caminhos do absurdo. Um dos 11 exemplos de anti-semitismo citados pela AIRH é «negar a intencionalidade do genocídio do povo judeu às mãos da Alemanha Nacional-Socialista». Pelo que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, é um rematado anti-semita. Foi ele quem expôs a tese de que Hitler apenas queria expulsar os judeus da Alemanha e só optou pela matança depois de encorajado pelo Grande Mufti de Jerusalém, que lhe terá sugerido: «queime-os!».

Consta, porém, que a decisão assumida pelos ministros da Administração Interna da União Europeia não é vinculativa. E qual será o governo que se atreverá a não integrá-la no seu código de conduta? Olhem o que está a acontecer com o Partido Trabalhista britânico de Jeremy Corbyn, que teve a ousadia de não se identificar com quatro dos 11 exemplos da AIRH. Anti-semita será talvez o menor dos insultos com que vem sendo mimoseado pelas muitas antenas internas e externas de transmissão do sionismo internacional e do regime de Israel.

Lei racista e anti-semita

O momento escolhido pelos ministros da União Europeia para esta decisão sobre o anti-semitismo não poderia ser mais oportuno. Sucede à adopção pelo Estado de Israel de várias medidas que reforçam o seu carácter de entidade exclusiva de judeus, impondo assim um filtro étnico e racista a não-judeus, dos quais a maior parte dos atingidos são semitas.

A Lei do Estado Nação aprovada pelo Parlamento de Israel é o exemplo mais flagrante de imposição de um contexto anti-semita em sentido absoluto, não de acordo com a definição xenófoba adoptada pela AIRH. Estabelece que o Estado de Israel é de todos os judeus, vivendo ou não em Israel, e que os não-judeus nascidos na Palestina não poderão ser cidadãos israelitas. Como se não bastasse existir já um muro e muitas cercas de arame farpado separando fisicamente israelitas de palestinianos – todos semitas – foi agora construído o muro legislativo.

O governo austríaco, conhecido pelas intransigentes posições xenófobas e anti-semitas, porque é ferozmente contra os refugiados e imigrantes, especialmente árabes, foi quem tomou a iniciativa de elaborar o documento transformado em definição de anti-semitismo para vigorar na União Europeia. Por sinal um executivo de extrema-direita em que um dos parceiros da coligação, o Partido da Liberdade (FPO), é o herdeiro do partido fundado por Adolfo Hitler e que está actualmente de excelentes relações com o governo de Israel. Como diz o porta-voz do governo de Viena na União Europeia, «tenho a certeza de que o governo austríaco está totalmente comprometido ma luta contra o anti-semitismo; fomos nós que lançámos o processo que conduziu à declaração».

O caso austríaco não surge isoladamente, nem fora de contexto. O Estado de Israel é um dos grandes aliados do governo neonazi da Ucrânia nascido do golpe de Estado de 2014, em cujas operações de combate participaram elementos do exército israelita como irmãos de armas do grupo fascista Svoboda.

Associar o sionismo praticado pelo governo de Israel ao fascismo pode ser criminalizável, mas nem por isso deixa de ser uma realidade.

Estas ligações fazem, afinal, todo o sentido se tivermos em conta as relações fraternais entre as administrações Netanyahu e Trump com o objectivo comum de resolver de vez a questão palestiniana, recorrendo a todo o arsenal anti-semita que seja necessário.

A União Europeia limitou-se, afinal, a fazer o que é de sua natureza, seguir o rasto do eixo israelita-norte-americano. Consta, aliás, que o texto inicial para os ministros subscreverem era bastante mais aguerrido na criminalização do anti-semitismo, versão xenófoba, do que o conteúdo final.

O que vem provar, se ainda fosse necessário, que a intenção original da iniciativa é dificultar e penalizar as críticas ao Estado de Israel à medida que este vai agravando a violência e a marginalização de índole racista contra os palestinianos.

Os dirigentes europeus podem assim, em sã consciência, multiplicar acções, declarações, repressões, guerras contra alvos árabes. Afinal, nada disso é anti-semitismo.

Anti-semitismo, sim, é acusar o Estado de Israel de suprimir os direitos dos palestinianos, se for necessário retirando-lhes a vida. Os cidadãos da União Europeia que tenham tento no que dizem, escrevem, quiçá pensem, ou então que se cuidem…

Cerca de 70 detenções e quarteirão da UE "fechado" aos coletes amarelos


A polícia belga procedeu hoje de manhã a cerca de 70 detenções em Bruxelas, palco de uma nova manifestação ilegal de "coletes amarelos" que motiva um forte dispositivo de segurança, designadamente no "quarteirão da União Europeia".

As detenções ocorreram durante controlos feitos de forma "preventiva", sobretudo nas estações ferroviárias de Midi e Gare Central -- onde chegam muitos dos "coletes amarelos" vindos de outras localidades belgas --, não se tendo ainda registado incidentes violentos, indicou uma porta-voz da polícia de Bruxelas.

Convocada nas redes sociais, a manifestação de "coletes amarelos" tem contornos ainda indefinidos, até para a própria polícia, que não conseguiu estabelecer canais de comunicação com os organizadores da concentração, mas decidiu montar um forte dispositivo de segurança em vários pontos da cidade, e sobretudo em torno das instituições da UE, em virtude de várias convocatórias apontarem para um "protesto europeu" na rotunda de Schuman.

O quarteirão de Schuman, onde se encontram as sedes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu, tem um forte cordão de segurança em seu redor, com barreiras com arame farpado e a polícia a "filtrar" todas as pessoas, incluindo residentes, que queiram entrar no alargado perímetro de segurança, pedindo-lhes identificação e revistando-as, verificou a agência Lusa no local.

Ao final da manhã, sensivelmente à hora a que estava previsto o início da concentração, grupos de "coletes amarelos" tentam chegar à rotunda de Schuman, tanto pela avenida principal como por ruas secundárias, mas todos os acessos encontram-se bloqueados pela polícia, enquanto helicópteros sobrevoam a zona.

Esta nova ação de "coletes amarelos" na capital da Bélgica e da União Europeia - que não foi autorizada, até porque não chegou qualquer pedido formal -- ocorre paralelamente a um novo grande protesto que decorre em Paris, e pouco mais de uma semana depois de uma primeira manifestação em Bruxelas a "replicar" aquelas que decorrem há já mais de três semanas em França, e que ficou marcada por desacatos.

Relativamente a esse protesto de 30 de novembro passado, a polícia belga decidiu duplicar o número de efetivos que estarão nas ruas, contando hoje com 840 polícias, denominados 'robocops' -- por estarem equipados com material anti-motim -, quase uma centena de agentes à civil, todos os canhões de água disponíveis e até a cavalaria.

Portugal | PSD: casa onde não há pão

Trapaça: Deputada do PSD Maria das Mercês Borges votou pelo colega ausente
Ana Alexandra Gonçalves* | opinião

Casa onde não há pão - leia-se poder - todos ralham e ninguém tem razão. Cinjo-me estritamente ao domínio da política partidária e refiro-me, naturalmente, ao PSD.

A falta de pão e a subsequente fome é a causadora de todas as zangas. Rui Rio nunca prometeu abastança, mas talvez poucos acreditassem que o partido ficasse arredado do poder e sem perspectivas de vir a recuperá-lo. Muitos ainda acalentam a esperança num regresso de Pedro Passos Coelho, até porque, esse sim, matou a fome a muita gente no partido, enquanto, paradoxalmente, criava as condições para que a fome regressasse um pouco por todo o país.

Com efeito, a falta de poder e sobretudo a angústia de saber que esse poder está longe do partido, põe toda aquela gente à beira de um ataque de nervos. Senão vejamos os acontecimentos dos últimos dias: "Assessor do PSD insulta Presidente e Teresa Leal Coelho repreende-o", prometendo medidas draconianas para regular a utilizar das redes sociais. Neste caso, o assessor do PSD foi longe ao ponto de escrever, e passo a citar: "...babam-se todos perante o poder do dinheiro imperial." - referindo-se à visita do Presidente chinês a Portugal. Entretanto, o dito assessor já pediu desculpa; paralelamente, os casos de deputados que faltam que nem gente grande volta a encher páginas de jornais e tempo de antena, revelando o mais abjecto despudor por parte de alguns; e ainda o deputado Miguel Morgado, um apaniguado de Passos Coelho, em entrevista ao Observador, admitindo as "guerras internas", reconhece que o definhamento do partido ainda consegue ser pior do que essas guerras.

Guerras. A palavra é adequada. Até porque em casa onde não há pão, todos ralham e acabam em guerra. Entretanto, a deputada que votou pelo colega, o famoso Feliciano Barreiras, demitiu-se de todos os cargos do grupo parlamentar, esta era a tal deputada que não sabe se carregou ou não no botão de votação do colega e, se o fez, justifica-se com a singela desculpa de que "todas as bancadas o fazem". Uma criança de 5 anos não diria melhor.

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

Portugal | Salários mínimos aumentaram… para os filhos da mãe e para os filhos da outra


A vincar devidamente as desigualdades deparámos ontem com o anúncio dos aumentos nos salários mínimos para os funcionários públicos e para os trabalhadores do setor privado, para uns a fasquia é nos 635 euros (público) e para outros basta-se pelos 600 euros (privado), o que mais uma vez comprova que em Portugal há filhos da mãe e filhos da outra. Quem assim decide são os filhos daquela meretriz que os recruta para denegrir, explorar e roubar a vasta maioria de homens, mulheres e crianças que são condenadas por esses energúmenos servidores a permanecerem eternamente na tal “mó de baixo”. A mó que pisa, esmaga e destroça vidas.

A seguir, anunciado ontem no Notícias ao Minuto, a chamada Concertação Social pariu mais desigualdade. Pela voz do governo dito socialista assumiu produzir mais injustiça social, mais miseráveis aumentos de salários, mais proteção aos patrões que na sua avareza e ganância preferem comprar mais Porches, mais casas, piscinas, outros bens e etc. para as suas famílias. Mais viagens de lazer sumptuoso para parasitas que têm nas famílias, em vez de aumentarem ordenados aos que nas suas empresas e toda a espécie de negócios produzem a riqueza que eles esbanjam sem reconhecerem que estão a roubar a outros, a muitos outros, o que usam e classificam de lucros seus numa evidente mentalidade esclavagista e de ganância atroz que conspurca as suas práticas desumanas.

É a esses que os governos habitualmente dão o seu aval sem publicamente o reconhecerem, políticos temerosos de serem desmascarados pela realidade que é evidente e que está mais que comprovada: são servidores dos grandes patrões e do grande capital. São os carrascos de milhões de trabalhadores portugueses e suas famílias – que encarneiradas, cobardes e ingénuas se conformam com o sacrifício, sem se revoltarem definitivamente contra a exploração e opressão impostas no embalo de uma democracia fictícia e manipuladora.

Socialistas, dizem-se. Do que se haviam de lembrar… para nos enganar! (MM | PG)


Aumento do salário mínimo? "É sempre bem-vindo", mas "era possível mais" - Avoila

O Governo anunciou, esta sexta-feira, um aumento do salário mínimo nacional para 600 euros e para 635 euros no caso dos trabalhadores da Função Pública.

O Governo anunciou, esta sexta-feira, um aumento da remuneração mais baixa da Função Públicapara 635 euros, face aos atuais 580 euros, uma atualização que é "obrigatória", defende Ana Avoila, coordenadora da Frente Comum, acrescentando que era possível ter sido apresentada uma "proposta melhor". 

Este aumento só chega a alguns, "há cerca de 600.000 trabalhadores da Função Pública que não veem nenhum aumento", disse Ana Avoila, em declarações ao Notícias ao Minuto, pouco depois do anúncio do Governo. 

Por outro lado, o gabinete do Ministério das Finanças salientou, em comunicado, que "esta é uma proposta responsável e socialmente justa, e que respeita as premissas pelas quais tem pautado a sua atuação: não assume compromissos que não pode cumprir", pode ler-se.

Sobre o aumento do salário mínimo nacional, que será de 600 euros a partir do próximo ano, a representante sindicalista considera que "era possível, era justo" fazer mais, reiterando a vontade dos sindicatos de que o salário mínimo fosse atualizado para os 650 euros. 

O valor de 600 euros foi proposto, esta sexta-feira, em sede de Concertação Social e já estava previsto no programa do Governo, mas na reunião anterior o ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva, tinha sinalizado abertura para ir além deste montante, desde que houvesse acordo entre os parceiros sociais.

Beatriz Vasconcelos | Notícias ao Minuto

Lisboa e Porto são hoje palco de marcha internacional pelo clima


Lisboa e Porto são os palcos portugueses de uma marcha internacional pelo clima, ao mesmo tempo que na Polónia representantes de quase 200 países debatem como aplicar o acordo de Paris para limitar o aquecimento global.

Por trás da marcha Climate Alarm, convocada através do Facebook, está a ideia de que "as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris não são acatadas por nenhum dos países aderentes", como se lê na convocatória da marcha divulgada naquela rede social.

"Caminhamos para uma catástrofe e temos até 2030 para a contornar", afirmam os proponentes da iniciativa, que acontecerá também em França, Suíça, Luxemburgo, Estados Unidos, Itália, Suécia e Japão.

A mensagem que querem passar aos líderes mundiais é que é preciso limitar o aquecimento global a 1,5 graus centígrados em relação ao que acontecia antes da era industrial.

Em Lisboa, a concentração para a marcha começa às 13:00 no número 129B da Avenida da Liberdade, em frente da sede da empresa petrolífera Australis, que tem contratos ativos em Portugal.

No Porto, a concentração começa às 14:30 junto à Capela das Almas e dirige-se depois em marcha para a Praça da Batalha.

Várias organizações ambientalistas, como a Climáximo, em Portugal, e o movimento internacional Extinction Rebellion estão por trás da convocatória.

Lusa | em Notícias ao Minuto

Portugal/Angola | Corrupção vale 6 anos de prisão ao magistrado Figueiras


Quanto valerá o crime ao ex-vice-presidente de Angola?

Fizz: Cargo público exercido por Orlando Figueira pesou na condenação

O tribunal que hoje condenou o ex-procurador Orlando Figueira a pena de prisão efetiva no processo Operação Fizz valorizou o facto de os crimes terem sido cometidos por "um titular de cargo público de grande dimensão".

No acórdão lê-se que o arguido Orlando Figueira "denotou ausência de consciência crítica e valorativa sobre os atos que praticou, bem como uma ausência de interiorização dos deveres do titular de um cargo público de grande dimensão".

O coletivo de juízes, presidido por Alfredo Costa, destacou também a "gravidade da degradação dos deveres inerentes ao cargo" que o magistrado do Ministério Público ocupava "e a confiança nele depositada pela comunidade dos bens jurídicos (...), corroborada pela total ausência de arrependimento".

Segundo a decisão, que condenou Orlando Figueira a seis anos e oito meses de prisão efetiva, o arguido "agiu com dolo direto e intenso, dentro do quadro das funções que exercia enquanto magistrado do Ministério Público no DCIAP que exercia à data dos factos".

O tribunal deu como provado que o magistrado, condenado por corrupção passiva, branqueamento de capitais, violação de segredo de justiça e falsificação de documentos, recebeu como contrapartidas cerca de 763 mil euros e foi contratado para os serviços de consultadoria de 'compliance' do banco Millennium BCP e posteriormente no ActivoBank.

Sobre a condenação por violação do segredo de justiça, o tribunal deu como provado que o então magistrado do DCIAP forneceu ao arguido Paulo Blanco "informações sobre processos que sabia estarem abrangidos por segredo de justiça, quer através da divulgação das diligências em curso, quer através da entrega de peças processuais desses mesmos inquéritos".

O acórdão declara como pena acessória para Orlando Figueira, que sejam declarados perdidos a favor do Estado quase 513 mil euros, bem como outras quantias que possam ser entretanto arrestadas, até ao montante total de 763.429,88 euros.

No caso de Paulo Blanco, o tribunal teve em conta na medida da pena o facto de este ser advogado, pelo a prática dos ilícitos "tem por isso, de merecer maior censura".

Para o tribunal, o arguido Paulo Amaral Blanco "foi a ponte de ligação entre os interesses de Manuel Vicente [ex-presidente da Sonangol] e o benefício mercadejado pelo arguido Orlando Figueira".

Sobre o empresário Armindo Pires, o tribunal entendeu absolvê-lo de todos os crimes que lhe eram imputados.

O processo Operação Fizz está relacionado com alegados pagamentos de Manuel Vicente, em mais de 760 mil euros, e a oferta de emprego a Orlando Figueira para ir trabalhar como assessor jurídico do Banco Privado Atlântico, em Angola, em contrapartida pelo arquivamento de inquéritos em que o também antigo presidente da Sonangol era visado, designadamente na aquisição de um imóvel de luxo no edifício Estoril-Sol, por 3,8 milhões de euros.

O processo-crime de Manuel Vicente foi separado do resto da operação Fizz e foi enviado para Angola julgar, tendo o caso chegado a provocar tensões diplomáticas entre o Estado angolano e Portugal.

Lusa | em Notícias ao Minuto | Foto Global Imagens

França | Coletes amarelos: Manifestação de Paris já com mais de 300 detidos


A manifestação do movimento coletes amarelos, marcada para este sábado, 8 de dezembro em Paris, já conta com quase 300 detidos.

A imprensa francesa adianta que, pelas 9 horas deste sábado, as forças policiais já haviam detido 317 manifestantes que integram o protesto dos coletes amarelos, em Paris. A maioria destas detenções estão relacionadas com a posse de materiais perigosos e objetos utilizados para arremesso, nomeadamente bolas petanca. 

Mais de 90 mil agentes policiais foram mobilizados para o quarto sábado consecutivo de protestos dos "coletes amarelos" e veículos blindados que não eram usados desde os tumultos de 2005 voltam à cena dos conflitos.

As autoridades policiais dizem ter informação de que grupos radicais rebeldes se vão infiltrar nas manifestações de hoje, armados e perigosos.

Por isso, ao longo da semana, foram distribuídos folhetos aconselhando os comerciantes a não abrir as portas e os funcionários a não se aproximarem da zona onde a manifestação se vai realizar.

Uma dezena de museus, incluindo o Louvre, e pontos turísticos como a torre Eiffel estarão encerrados, tal como vários grandes armazéns e muitas das lojas do luxuoso bairro à volta da avenida dos Campos Elísios.

Uma marcha pelo ambiente, marcada para este sábado, foi deslocada para outra zona da cidade, procurando que não haja mais misturas num cenário que se pode tornar explosivo, depois de declarações inflamadas de membros do movimento "coletes amarelos".

O anúncio de suspensão de aumentos de impostos sobre combustíveis, anunciado esta semana pelo governo, parece não ter produzido efeito.

A tensão que se vive em Paris levou o Governo português a desaconselhar os portugueses a deslocarem-se até à capital francesa este sábado.

Melissa Lopes | Notícias ao Minuto | Foto Reuters

Os “Cinco Olhos” contra a Huawei


Washington solicitou a Ottawa a detenção de Meng Wanzhou e a sua extradição. A jovem é directora financeira e filha do fundador da Huawei, o gigante chinês de telecomunicações. Ela foi detida no Canadá a 6 de Dezembro de 2018.

A guerra empreendida por Washington contra a Huawei tem uma razão profunda e uma quantidade enorme de justificações de fachada.

O fundo do problema é que a firma chinesa utiliza um sistema de encriptação que impede a NSA de interceptar as suas comunicações. Inúmeros governos e serviços secretos no mundo não-ocidental começaram a equipar-se exclusivamente com material da Huawei a fim de proteger a confidencialidade das suas comunicações.

As justificações de fachada são alternadamente de roubo de propriedade intelectual, de comércio com o Irão e a Coreia do Norte, e de violar as regras de concorrência, beneficiando-se dos subsídios nacionais.

Os Estados-Membros do sistema de espionagem electrónica dos “Cinco Olhos” --- Austrália, Canadá, Estados Unidos, Nova Zelândia, Reino Unido--- começaram a excluir a Huawei dos seus concursos públicos (licitações-br).

Voltaire.net.org | Tradução Alva

A falência do império americano aproxima-se

Os abutres também voltam sempre ao seu poleiro
É melhor trazer as tropas para casa nos nossos termos do que esperar que uma crise da dívida o faça por nós

Hunter DeRensis [*]

Os pecados, tal como as galinhas, voltam sempre aos seus poleiros. É só uma questão de tempo.

Herbert Stein foi presidente do Conselho de Assessores Económicos sob os presidentes Richard Nixon e Gerald Ford e é pai do mais conhecido Ben Stein. Em 1976, propôs o que ele chamou de "Lei de Stein": se algo não pode continuar para sempre, irá parar”. Stein estava a referir-se às tendências económicas, mas a mesma lei aplica-se perfeitamente à política externa e ao conceito de império.

A lei de Stein à primeira vista pode parecer uma trivialidade banal. Mas devemos estar plenamente conscientes das suas implicações: um sistema insustentável deve ter um fim. O império americano tem falhas internas, um facto que os anti-imperialistas, tanto de esquerda quanto de direita, deveriam apreciar.

A dívida nacional dos Estados Unidos está a aproximar-se de 22 milhões de milhões de dólares, com um défice orçamental federal de mais de 800 mil milhões. Como costuma apontar o senador Rand Paul, a falência é a Espada de Damocles que oscila perigosamente perto do pescoço do Tio Sam. Para alem de um punhado de persistentes críticos no Congresso, como Rand Paul, não há nenhum movimento político sério para conter os gastos descontrolados do país. Alterar este curso levaria a perturbações de amplitude muitas vezes maior do que a vitória de Donald Trump em 2016.

Os Estados Unidos detêm a maior dívida de qualquer país na história do mundo. Para ser justo, quando o nosso rácio da dívida em relação ao PIB é calculado, há muitos países em situações económicas muito mais perigosas do que os EUA. Mas haverá um ponto de inflexão. Quanta dívida o sistema pode suportar? Quando as falhas se tornarão grandes demais para serem escondidas? Quando os alicerces se desmoronarem? Há muita ruína numa nação, disse Adam Smith, e a nossa ruína deve por fim aparecer.

É a bancarrota possível? Como alguns economistas da Beltway [NT] nos lembram, não. Tecnicamente, o governo tem o poder de criar artificialmente tantos dólares quantos necessitar para pagar suas dívidas. Mas este tipo de hiperinflação privaria o dólar dos EUA de qualquer valor e abateria a economia global que negoceia com ele. A simples falha em pagar a dívida pode até ser um cenário melhor do que uma situação inflacionária infernal.

Quando o mundo perder a confiança na capacidade de o governo americano pagar sua dívida ou a taxa de juros sobre nossa dívida se tornar insustentavelmente alta, as escolhas terão de ser feitas. Não mais varrendo para debaixo do tapete, não mais projecções de 10 anos para equilibrar o orçamento. O Congresso, em estado de emergência, terá que efectuar um corte decisivo nas suas verbas. E o império será a primeira coisa a ir.

Assim como o seu "estado de guerra", o "estado social" está cheio de calamidades internas. Porém, embora alguns globalistas megalómanos possam preferir deixar os proletários passarem fome enquanto preservam as suas propriedades no estrangeiro, isso não vai acontecer. O que aconteceria se os cheques da Previdência Social deixassem de aparecer nas caixas de correio e os benefícios do Medicare fossem cortados? Quando confrontado com essa escolha, o americano médio escolherá a sua rede de segurança social ou continuará a financiar bases distantes em Stuttgart, Okinawa e Djibuti? Até mesmo o congressista mais militarista saberá qual a maneira de votar, para não se deparerem manifestações fora dos seus castelos em Washington D.C.

Os neoconservadores insistem constantemente no perigo dos vazios. Sem uma presença dos EUA, a sua lógica iria perder-se, forças mais sinistras irão assumir-se. O que irá acontecer quando as tropas americanas precisarem de ser evacuadas de todo o mundo por não podermos mais mantê-las lá? Não há debate, nem ponderação de opções, e não há escolha. Se o dinheiro não estiver disponível, o dinheiro não existe. Nada poderia amarrar mais as mãos dos militares americanos do que uma crise de dívida. E se acontecer, será em parte porque esses mesmos intelectuais neoconservadores pregaram uma guerra global multibilionária para refazer a humanidade à sua imagem. O orgulho exagerado, a presunção e arrogância levam à ruína.

Este é o tipo de perigo sobre o qual Rand Paul e outros alertam. Não só as nossas guerras não declaradas são ilegais, contraproducentes e desestabilizadoras para as regiões estrangeiras, mas são também financeiramente desestabilizadoras para nós.

Um reexame radical dos ativos e obrigações dos Estados Unidos no exterior deve ocorrer. Guerras ideologicamente motivadas levaram-nos ao precipício do desastre financeiro. A política externa americana deve adotar uma visão limitada e altamente estratégica do seu interesse nacional e usar sua riqueza remanescente com parcimónia e somente quando necessário. O realismo pode evitar a ruína nacional. Fechar as bases na Alemanha e levar o dinheiro para casa, em vez de forçar as tropas a evacuarem na calada da noite depois de ser tarde demais. Entrar em negociações com os Taliban e planear uma retirada do Afeganistão, para não acabar em helicópteros fugindo de Cabul como fizeram em Saigão. Façam as escolhas difíceis antes de as circunstâncias os fazerem por vós.

Os líderes dos EUA ignoram a Lei de Stein por sua própria conta e risco. Não importa porquê, as tropas dos EUA a regressarão à casa. Melhor que seja por nossa decisão do que dos cobradores de dívidas.

21/Novembro/2018

[NT] Beltway: anel rodoviário que rodeia Washington D.C. Também caracteriza os assuntos importantes para funcionários do governo, para os seus contratados e lobistas, e para os media que lhes dão cobertura, ao contrário dos interesses e prioridades da maioria da população dos EUA.

[*] Assistente editorial de The American Conservative e aluno da George Mason University. Siga-o no Twitter: @HunterDeRensis. 

O original encontra-se em www.informationclearinghouse.info/50650.htm . Tradução de VC

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

O enigma dos “Coletes Amarelos”


Após semanas de mobilização, eles prometem abalar a França sábado e têm apoio de 70% da população. Mas desafiam tanto a direita quanto a esquerda. Porquê?

António Martins | Outras Palavras | Vídeo: Gabriela Leite

Em pânico, o gabinete do presidente francês, Emmanuel Macron, articula, para este sábado, uma operação policial poucas vezes vista na história do país. Cerca de 89 mil homens estarão nas ruas, fortemente equipados (inclusive como treze blindados). Tentarão evitar que a mobilização dos “coletes amarelos” [gillets jaunes, em francês] cumpra sua promessa de bloquear as rodovias de todo o país e chegar ao Palácio do Eliseu, sede do governo. Deflagrada há três semanas, contra o aumento do preço dos combustíveis, a revolta não parou de crescer, desde então. Mas o que é ela? E por que desafia tanto os ultra-capitalistas, de Macron, quanto a esquerda institucional?

Detestado pelo pseudo-filósofo Olavo de Carvalho, o pensador e militante comunista italiano Antonio Gramsci cunhou certa vez uma frase que ajuda a compreender o fenômeno. Há momentos na História, disse ele, “em que o velho mundo está morrendo, mas o novo tarda em despontar. Nesse claro-escuro, nascem todos os monstros”. Os “coletes amarelos” não são um monstro no sentido popular do termo, mas assombram por desafiar as lógicas políticas tradicionais. São cidadãos comuns, que despertaram sem apoio dos partidos, sindicatos ou outros movimentos. Ramificaram-se rapidamente por toda a França (já começam a surgir versões locais em outros países europeus) e articulam-se com muita eficácia pelas redes sociais.

A ideia que o movimento sustenta surgiu numa petição postada em maio, na plataforma Change. Reuniu 300 mil assinaturas contra a alta do combustível (o diesel, mais popular na França, subiu 23% este ano). Tomou as ruas depois que dois cidadãos postaram, há semanas, um evento no Facebook, convocando a população a bloquear as estradas, em 17 de novembro. Ganhou um símbolo quando uma outra pessoa publicou, no YouTube, um vídeo sugerindo adotar os jalecos fosforecentes, que uma lei de 2008 obrigou os motoristas de veículos de carga a vestir ao volante. Em muito sentidos, o protesto aproxima-se da grande mobilização dos caminhoneiros no Brasil, em 2018.

Porém, não se restringe a uma categoria profissional: espalhou-se pela sociedade. Ao rejeitar a alta dos combustíveis decretada pelo governo, parece aproximar-se da esquerda – ainda mais a partir do final de novembro, quando passou a pedir a renúncia do presidente de direita (A frase “Macron demission” tornou-se seu slogan, pichada até no Arco do Triunfo). Porém, a alta de combustíveis que o movimento rejeita é provocada por uma proposta da esquerda, dos ambientalistas, dos que criticamos a civilização do automóvel. O presidente francês, que apesar de neoliberal flerta com certas críticas contemporâneas ao sistema, adotou os tributos que dissuadem emissões de CO². Ao rejeitá-los, os “coletes amarelos” parecem se aproximar de Donald Trump…

Num artigo que Outras Palavras publicou há alguns dias, o jornalista português Nuno Ramos de Almeida associa o estranho movimento às transformações produtivas e regressões sociais que marcaram o capitalismo nas últimas décadas. A destruição do Estado de Bem-Estar social dissolveu as relações coletivas, o orgulho pela Saúde e Educação públicas. O aumento brutal da desigualdade empobreceu as maiorias – obrigadas a uma vida medíocre –, enquanto os barões das finanças ficaram cada vez mais ricos, insolentes e esbanjadores. . Por isso, o movimento parece ter, além de apoio de mais de 70% dos franceses, a radicalidade da raiva. Não recuou sequer quando o governo Macron suspendeu (e depois anulou!) uma nova alta do preço dos derivados de petróleo, que estava prevista para 1º de janeiro. No entanto, esta raiva reivindica, essencialmente o direito de empreender individualmente (sem ser perturbado pelo Estado e por impostos ambientais) – e o de consumir. Se a paralisia da esquerda se mantiver, é possível que se torne, rapidamente, combustível para uma direita mais primitiva, ao estilo Marinne Le Pen.

O movimento dá razão a Gramsci – o filósofo que tira o sono de Olavo de Carvalho – por duas razões. De fato, há um mundo que se recusa a morrer: o da a aristocracia financeira, dos parasitas que se tornaram totalmente dispensáveis como classe, pois além de não produzirem nada não são essenciais sequer na atividade bancária. Porém, não se retiram; ao contrário, exercem um poder que pesa cada vez mais sobre o conjunto da sociedade. O gráfico abaixo mostra os efeitos da política tributária de Emmanuel Macron, que cortou impostos sobre a riqueza e sobre as grandes corporações – exatamente como pretendem fazer Bolsonaro e Paulo Guedes no Brasil. A curva está dividida em centis de renda. Repare no canto à direita, onde está o 1% mais rico. Sua renda disponível cresceu quase 6%, enquando a dos mais pobre recuava.

Mas o mundo novo também teima em não nascer. A esquerda tradicional permanece atônita, diante das transformações do sistema. Os movimentos anti-(ou pós-)capitalistas que surgiram nos últimos vinte anos limitam-se, por enquanto, a enunciar valores opostos aos hegemônicos. Hesitam em transformá-los em propostas políticas concretas, capazes de dialogar com as maiorias e mobilizá-las. Por que tarda tanto a articulação de um movimento global pela Renda da Cidadania? Somos capazes de críticas cada vez mais ácidas à ditadura do automóvel. Mas no Brasil, por exemplo, demoramos a propor medidas claras de recuperação da malha ferroviária, ou a instalação vigorosa de redes de trens de superfície que rompam o isolamento das periferias. Condenamos o consumismo – mas não chegamos a construir, em escala ampla, formas não-mercantis de pertencimento social e de preservação da auto-estima (pense, entre muitas outras possibilidades, na difusão de moedas solidárias – inclusive para favorecer a ocupação das multidões desempregadas – ou em aplicativos que ajudem a proteger a população negra da violência policial). À falta destas alternativas, e diante da opressão capitalista, emergem muitas vezes respostas reacionárias ou individualistas.

Por tudo isso, valerá muito acompanhar, neste sábado, a grande mobilização dos “coletes amarelos” franceses contra Emmanuel Macron. Será ainda melhor aproveitar para refletir sobre nossa responsabilidade coletiva na emergência do mundo novo a que se referia Antonio Gramsci.

* Antonio Martins é Editor do Outras Palavras

Merkel se mantém à frente da Alemanha | opinião


Favorita da chanceler federal foi eleita líder democrata-cristã, fortalecendo a posição de Merkel como chefe de governo. Mas a novata precisa urgentemente dar novos impulsos ao partido, opina a editora-chefe Ines Pohl.

Normalmente a opinião pública mundial pouco ou nada se interessa pela eleição do líder de um partido alemão. Desta vez foi diferente: nos últimos dias, grandes veículos como o New York Times deram mais destaque ao congresso da União Democrata Cristã (CDU) do que aos funerais do ex-presidente George H.W. Bush. Emissoras internacionais de TV entraram no modo breaking news quando ficou claro quem lideraria a legenda no futuro. O motivo de toda essa atenção tem um nome: Angela Merkel.

Para muitos, a chefe de governo alemã é a figura política mais importante no cenário mundial. Num mundo em que machões como Putin, Trump e Erdogan esbravejam, ela é vista como a voz da razão, como último bastião da moderação em tempos de fragmentação e do perigoso fortalecimento dos nacionalismos.

Enquanto isso, dentro do próprio país o brilho de Merkel se apagou. As eleições estaduais, tem ocorrido um fiasco atrás do outro, e os críticos intrapartidários ficaram tão barulhentos que a ela nada mais restou, senão colocar à disposição a liderança democrata-cristã.

Com esse anúncio, no fim de outubro, foi lançada a luta por sua sucessão. Pois, embora seu mandato como chanceler federal só se esgote dentro de dois anos e meio, estava claro que ela não poderia seguir governando se a legenda elegesse como líder um de seus adversários declarados.

E foi o que quase aconteceu: Friedrich Merz só foi derrotado no segundo turno, e mesmo aí por meros 35 votos, do total de 999 entregues. O homem que oito anos atrás Merkel expulsou da politica e que agora viu a chance de uma vingança tardia, apoiado por todos aqueles homens que, em sua longa carreira, a líder magoou, freou, aniquilou politicamente.

Portanto, o resultado foi o mais apertado possível, após um dia longo e cheio de suspense, iniciado com um altamente emocional discurso de Merkel. No fim, quem venceu foi Annegret Kramp-Karrenbauer. E com a decisão pela favorita de Merkel, o congresso também votou a favor de que a chanceler federal possa exercer seu último mandato até o fim – se o seu parceiro de coalizão, o Partido Social-Democrata (SPD) não se rebelar antes.

Na política externa, a Alemanha permanece confiável, a economia mais forte da Europa continua estável, as grandes linhas do governo pouco se alterarão. Na política interna, será interessante observar se Kramp-Karrenbauer consegue fazer sarar a alma do partido, unir suas diversas alas, dar à própria legenda a sensação de recomeço de que não só ela precisa, mas, afinal, toda a Alemanha; para nas próximas eleições legislativas, após prováveis 16 anos de Merkel, a CDU não sucumbir a uma fratura por fadiga.

O cerne da questão será se Kramp-Karrenbauer consegue se libertar de sua mentora e antecessora, voar sozinha e também angariar as experiências internacionais que acabem por transformá-la numa candidata convincente à Chancelaria Federal.

Todas essas são questões para o futuro. No momento, o fato é que a CDU não tem apenas uma mulher no topo, mas sim duas.

Ines Pohl, opinião | Deutsche Welle

Chomsky completa 90 anos mais atual que nunca


Intelectual revolucionou a linguística, denunciou injustiças e se tornou figura de referência para a esquerda mundial. Em seu nonagésimo aniversário, ele diz ver a humanidade na fase mais ameaçadora de sua história.

Os temas com que se ocupa são os que deveriam aparecer, mas nunca aparecem nas capas dos jornais: a crítica à destruição do clima, ao neoliberalismo e à globalização, disse Noam Chomsky cinco anos atrás, no Global Media Forum da Deutsche Welle.

Aos 90 anos, completados nesta sexta-feira (07/12), o intelectual americano continua a lutar por mudanças e pode olhar em retrospecto para três áreas que ajudou significativamente a moldar desde meados do século 20 até os dias de hoje – como linguista, filósofo e ativista político de esquerda.

Avram Noam Chomsky nasceu em 1928 na Filadélfia, numa família de imigrantes judeus. Seu pai era da Ucrânia e fugiu para os Estados Unidos. A mãe vinha de Belarus. Comprometida com o sionismo de esquerda, a família vivia numa espécie de gueto judeu. Aos dez anos de idade, Chomsky escreveu um primeiro artigo sobre a ameaça do fascismo e, na adolescência, começou a se identificar com a política anarquista.

Ele estudou Linguística, Matemática e Filosofia, fazendo mestrado em 1951 na área de linguística. As principais teses de seu doutorado Análise Transformacional resultaram mais tarde num livro que revolucionaria a linguística: sua monografia inovadora Estruturas Sintáticas, publicada em 1957.

Com esse livro, Chomsky definiu seu próprio tema de vida científico: as origens e os limites das habilidades cognitivas humanas. Sua pergunta inicial parece simples: como uma criança pode aprender a falar em tão pouco tempo, formar frases gramaticalmente corretas em sua língua materna depois de alguns anos, talvez até mesmo em outra língua? Em sua pesquisa, ele chegou à conclusão de que o aprendizado da linguagem é uma competência inata.

Não é a imitação do que a criança escuta em seu entorno que a transforma num ser falante. De acordo com sua tese central, há uma estrutura geneticamente impressa no cérebro humano que lhe permite perceber as coisas do mundo, pensar sobre elas – e formar um número infinito de sentenças com um número finito de regras.

Gramática universal revolucionária

Guiada pelo pensamento matemático, a sua doutrina de que as estruturas básicas de todas as línguas são iguais e que a linguagem humana segue regras complexas e lógicas – uma "gramática universal" – não influenciou somente a linguística.

Ela também implicou uma tomada de posição dentro de uma disputa filosófica que remontava ao início do Iluminismo. No início do século 17, René Descartes argumentou que a capacidade de pensar em conceitos seria inata. Chomsky catapultou esse "racionalismo cartesiano" para o século 20.

A sua teoria não permaneceu sem discordância – cientistas da comunicação do século 21, por exemplo, não aceitam mais a sua distinção fundamental entre humanos e animais, já que atualmente habilidades cognitivas também são atribuídas aos animais.

Em 1961, Chomsky se tornou professor titular da universidade de excelência Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em Cambridge, Massachusetts. Como linguista, ele permaneceu ligado ao MIT mesmo depois de sua aposentadoria, e, desde os anos 1960, vem atuando em todo o mundo como professor visitante.

Ele é autor de mais de 100 livros e recebeu dezenas de prémios e títulos de doutor honoris causa. Desde 2017, Chomsky leciona na Universidade do Arizona, uma instituição um tanto modesta, mas linguisticamente renomada, em Tucson.

Ativismo político

Na percepção da opinião pública internacional, no entanto, as suas conquistas na área da filosofia da linguagem ficaram cada vez mais atrás de seu ativismo político de esquerda. Desde os anos 1960, quando  protestou contra a Guerra do Vietnã, Chomsky passou a ser nos EUA algo como a consciência esquerdista de uma contra-opinião pública. Mundialmente, ele se tornou conhecido como um crítico incansável dos governos dos EUA, da globalização e do capitalismo.

"Para uma minoria privilegiada ocidental, a democracia proporciona o tempo disponível, as habilidades e a instrução que lhe permite procurar a verdade que está escondida atrás da máscara da distorção e da falsidade, da ideologia e do interesse de classes. É responsabilidade dos intelectuais dizer a verdade e revelar mentiras."

Essa citação de Chomsky, de 1966, permaneceu válida para ele por décadas. Depois de 11 de setembro de 2001, quando ele condenou os ataques terroristas nos EUA, mas em seu livro 11 de setembro os classificou como uma consequência lógica do imperialismo americano e resposta inevitável à exploração e opressão do Terceiro Mundo, Chomsky se tornou uma figura de referência para a esquerda mundial.

Sua crítica à política externa e económica dos EUA fez dele o patrono do movimento Occupy. Ele também se mostra crítico perante Israel e sua política de assentamentos, especialmente diante do isolamento da Faixa de Gaza. Como muitos intelectuais americanos de origem judaica, Chomsky apoia o BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), uma campanha global de boicote a Israel.

A luta continua

Em seu último livro, Global Discontents, lançado em 2017, Chomsky reúne entrevistas realizadas entre 2013 e 2016 por um interlocutor seu de longa data, o jornalista e escritor David Barsamian. Nessa obra, Chomsky argumenta a favor de mudanças radicais de um sistema que não atende aos desafios do futuro.

Em 2018, ele se ocupou detalhadamente com o – em sua opinião – aumento da ameaça de uma guerra nuclear por meio da política do presidente americano, Donald Trump. "Faltam dois minutos para a meia-noite", resume Chomsky, em alusão ao Relógio do Apocalipse, no qual a meia-noite representa a destruição da humanidade por uma guerra nuclear.

Também em seu livro mais recente, publicado em alemão, Kampf oder Untergang! ("Luta ou derrota", em tradução livre), o ex-professor do MIT adverte repetidamente que a humanidade está na fase mais ameaçadora de sua história.

Mesmo assim, ele continua confiante, pois há somente duas possibilidades de escolha: "Nós podemos ser pessimistas e desistir, aumentando a probabilidade de que o pior venha a acontecer ou podemos ser otimistas e aproveitar todas as oportunidades disponíveis para ajudar o mundo a se tornar um lugar melhor." Chomsky já fez a sua escolha.

Sabine Peschel (ca) | Deutsche Welle
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