O Conselho da República conta com
um novo membro de índole duvidosa. Trata-se do empresário Carlos Cunha que
recentemente foi condenado pela justiça portuguesa a pagar 1.800.000 euros por
incumprimento de contrato.
No passado dia 3 de janeiro, o
Presidente de Angola nomeou o empresário Carlos Cunha membro do Conselho
da República. Mas o homem que mereceu a confiança de João Lourenço tem a
sua honestidade beliscada. É que o empresário não respeitou um acordo com
o empresário espanhol Severino Echarte no âmbito de uma iniciativa que visava
levar à Luanda o tenor Plácido Domingo em 2015.
Em causa estava a comemoração dos
40 anos da independência de Angola prevista para 6 de novembro daquele ano. E o
que deveria ser um evento histórico para Angola acabou nas barras do tribunal.
O lesado meteu queixa contra
Carlos Cunha: "Não só digo eu que é um caso de absoluta má fé, como também
as sentenças que foram proferidas pelos tribunais portugueses, e que ditaram a
sentença no passado mês de dezembro, acusam-no de autêntica má fé, de total
incumprimento do contrato. Tanto ele como as pessoas que estavam ao seu redor."
As desculpas de Carlos Cunha
No 11 de Dezembro de 2018 o
Tribunal da Relação de Lisboa validou a condenação do Tribunal Judicial da
Comarca de Lisboa, de 30 de novembro de 2017, que determinava o pagamento de
mais de 1,8 milhões de euros, mais juros e outros custos, por parte da
empresa de Carlos Cunha, a Paladar, à Trio Austral Consulting Limited, empresa
do espanhol Severino Echarte.
Tudo começou com o incumprimento
do contrato entre as duas empresas, a Paladar deveria ter pago duas prestações
de 900 mil euros a Trio Austral pelos seus serviços: a primeira até 30 de junho
de 2015, e a segunda, até 30 de setembro do mesmo ano.
Segundo Severino Echarte, quando
questionado sobre as violações do contrato "ele dizia que estávamos com as
mais altas instâncias do país e que era gente de bem e que tudo se iria cumprir
até ao último minuto. Mas era tudo mentira, nada foi cumprido, nada."
Nem por via amigável funcionou
O empresário espanhol lembra que
a apoiar esta iniciativa estava, por exemplo, a ex-primeira dama de Angola Ana
Paula dos Santos e sublinha que um projeto que envolve interesses do Estado,
como a celebração da independência, só seria possível com o aval do Governo.
Mas nem este se importou com o incumprimento, diz.
Sobre a hipótese de mediar o
caso amigavelmente com Carlos Cunha, Severino Echarte garante que se esforçou
para tal: "Em várias ocasiões tivemos oportunidade de haver solução e
manter perfeitamente intacta a imagem de Angola. Mas nem isso fez."
Carlos Cunha não é o único
individuo suspeito a ser indicado para um cargo importante no consulado de João
Lourenço. Na apelidada "dança das cadeiras" dirigida pelo Presidente
do país, mantêm-se nomes duvidosos, como é o caso do governador do Banco
Nacional de Angola José de Lima Massano, o que deixa alguns setores descrentes
em relação à governação de João Lourenço.
Quais são os critérios de escolha?
Deveria haver algum critério a
ser tomado em conta antes do Presidente da República indicar gente para cargos
da sua confiança e de relevo para o país?
"A questão é que não se
utiliza a meritocracia, como critério principal em Angola, mas sim a
militância. E depois, na militância aquele que está próximo do fulano é que
muitas vezes é puxado porque é um bajulador, endeusa o Presidente, é uma pessoa
que não tem a capacidade crítica. Então, é mais ou menos esse tipo de critério
que enferma o país", responde o analista David Kissadila.
Espera-se que integrantes de um
órgão como o Conselho da República sejam, entre outras coisas, íntegros e
honestos. Mas para que tal seja uma realidade é preciso relançar pessoas
honestas, considera Kissadila.
Mas o analista recorda que
"a questão do MPLA é que a corrupção se tornou uma cultura, o nepotismo
tornou-se uma cultura, a bajulação tornou-se uma cultura. Quer dizer que é
preciso rever a ética política do MPLA, a ética deve impor-se a política, ou
seja, deve haver conduta de cidadania, deve-se promover conduta da moralidade,
o que não existe infelizmente."
Nádia Issufo | Deutsche Welle
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