O homem que presidiu à primeira
Comissão de Inquérito à CGD dispara em várias direções. Acusa deputados de
faltarem à verdade e afirma que os estudos sobre as necessidades do banco
público foram feitos pelo Banco de Portugal com a ajuda de Mário Centeno. Matos
Correia afirma ainda que a Caixa "não é uma extensão do Ministério das
Finanças".
"Nunca imaginei que o nível
de mentira que ouvi no Parlamento atingisse aquilo que atingiu hoje. Ouvi
um conjunto de colegas meus a mentir sabendo que estavam a mentir apenas para
branquearem a sua posição". É assim que José Matos Correia descreve o
debate desta quinta-feira sobre as irregularidades na Caixa Geral de Depósitos
(CGD). E não se coíbe de dar como exemplo a deputada bloquista, Mariana
Mortágua, "quando tentou salvaguardar a posição do Bloco de Esquerda, que
esteve desde o início a bloquear o funcionamento a Comissão de Inquérito".
"Havia interesse em acabar
com a Comissão de Inquérito o mais depressa possível"
José Matos Correia, deputado do
PSD, ex-secretário-geral do partido, presidiu à primeira Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI) que investigou os negócios da Caixa Geral de Depósitos
(CGD), em 2016. Viria a demitir-se, meses mais tarde, por não concordar com o
facto de ter ficado fora do objeto da Comissão o processo de recapitalização da
CGD. Por outro lado, expressou discordância com a forma como esse argumento
serviu para travar requerimentos potestativos do PSD e do CDS. Um tema que
recordou à TSF, no Às Onze no Café de São Bento. "Foi-se percebendo
que havia, de facto, um interesse em acabar com a Comissão Parlamentar de
Inquérito o mais depressa possível".
Por isso, é categórico:
"Fiquei muito mal impressionado com a CPI a que presidi. Foi a primeira e
será a última. Assisti, em direto, ao suicídio do BE e do PCP. O
problema na CPI foi não criar ruturas na geringonça." O mesmo não
pode dizer da atuação da CMVM e do Banco de Portugal, a quem tece elogios:
"Eles fizeram o que tinham que fazer. Foram corretíssimos na defesa do
sigilo bancário".
"BdP deve desencadear
processo de perda de idoneidade"
Mas ao regulador, deixa ainda um
conselho: o Banco de Portugal "tem a possibilidade de desencadear um
processo de perda de idoneidade, para gerir bancos, de pessoas que tenham
praticados atos gravemente lesivos à CGD", apesar da forma como todo o
processo tem sido gerido "anular completamente a responsabilidade
política".
Matos Correia afirma que o
problema não é o "voyeurismo da direita", como acusou o Ministro das
Finanças, Mário Centeno. O problema, refere o deputado social-democrata, é toda
a gente ter acesso ao relatório menos os deputados. "Os contribuintes têm
o direito de saber o que aconteceu e como aconteceu", ou não fosse a CGD
um banco do Estado.
"A Caixa Geral de Depósitos
não é uma extensão do Ministério das Finanças"
Por ser um banco público, Matos
Correia defende ainda que a CGD tem que ser gerida como tal, ou seja, reconhece
que tem de ter um conjunto de prioridades que não a façam confundir com um
banco comercial normal. Mas deixa um aviso: "A Caixa Geral de
Depósitos não é uma extensão do Ministério das Finanças". Agora, uma coisa
é certa: "O Estado enquanto acionista deve ser capaz de garantir a
orientação estratégica do banco", refere.
Depois da injeção de capital de
quatro mil milhões de euros, a Caixa teve que fechar balcões, aumentar
comissões - até sobre pensionistas -, vender negócios e concorrer com os
privados em pé de igualdade.
A versão preliminar da auditoria
revelou graves irregularidades, principalmente entre 2005 e 2010. E sobre este
ponto, Matos Correia atira ainda mais uma acha para a fogueira: "Os
estudos sobre as necessidades da CGD foram feitos pelo BdP e com a ajuda do gabinete
de Mário Centeno."
Sandra Xavier | TSF
Ler mais em TSF
Sem comentários:
Enviar um comentário