Angola deu um passo importante ao
descriminalizar a homossexualidade com a aprovação do novo Código Penal do
país, em janeiro. Mas
outros países africanos ainda penalizam as relações entre pessoas do mesmo sexo.
Várias organizações de defesa dos
direitos humanos saudaram Angola pelo passo importante para dar visibilidade e
mudar a atitude social em relação à comunidade Lésbica, Gay, Bissexual e
Transgénero (LGBT).
A mudança aconteceu a 23 de
janeiro, com a aprovação do novo
Código Penal angolano, que deixou de criminalizar os atos sexuais entre
pessoas do mesmo sexo e passou a penalizar a discriminação em função da
orientação sexual. O novo Código Penal indica também que quem se recusar a
empregar uma pessoa em função da orientação sexual poderá ser condenado a uma
pena máxima de dois anos.
Esta mudança acabou com os
derradeiros vestígios nos ordenamentos jurídicos dos países lusófonos,
especialmente dos africanos, do Código Penal português de 1886, que determinava
a detenção para quem se entregasse "habitualmente à prática de vícios
contra a natureza".
"Proteção ativa" em
Angola
Para a especialista em direitos LGBT da
organização Human Rights Watch (HRW), Neela Ghoshal, há um ponto bastante
positivo na mudança ocorrida em Angola: "O Governo não só despenalizou a
relação entre pessoas do mesmo sexo, mas também proibiu a discriminação. Isso
demonstra que não é apenas uma aceitação passiva dos direitos LGBT, mas uma
proteção ativa, que não é algo que temos visto em muitos outros países. É
bastante incomum."
Apesar de Angola não ter
processado homossexuais e lésbicas nas últimas décadas, as relações entre
pessoas do mesmo sexo ainda eram amplamente consideradas tabu pelo Governo,
devido à grande influência da Igreja Católica. Isso pode ter sido parte da razão
pela qual a descriminalização não tenha ocorrido anteriormente.
No ano passado, Angola já tinha
dado sinais de mudança. A Associação
Íris Angola, organização fundada em 2013 para defender os direitos LGBT no
país, foi regulamentada em 2018.
A associação saúda o novo Código Penal angolano, mas
lembra que são necessárias mais medidas para proteger os membros da comunidade
LGBT. Nos últimos três anos, segundo a Associação Íris, pelo menos quatro
homossexuais foram assassinados em Angola.
Despenalização em breve noutros
países?
De acordo com a HRW, há sinais de
que outros países africanos se preparam para descriminalizar a
homossexualidade. Moçambique já descriminalizou a homossexualidade em 2015.
Mas, ao contrário de Angola, ainda
não reconheceu legalmente a Lambda, a única organização LGBT do país.
Organizações de direitos
humanos noutros
países africanos, como o Quénia e o Botswana, estão a lutar contra a
discriminação legal de homossexuais nos tribunais. No Zimbabué, a tensão
diminuiu após a queda do Presidente Robert Mugabe. Segundo a HRW, o novo
Governo zimbabuenao tem dialogado com grupos LGBT.
No Uganda, a comunidade LGBT
ainda enfrenta uma forte discriminação e frequentemente os homossexuais são
perseguidos e até julgados pela Justiça.
Na Namíbia, apesar de o país
ainda punir a homossexualidade, a comunidade LGBT está a crescer. A primeira
parada do orgulho LGBT foi realizada há três anos.
Para o diretor da organização
Out-Right, Friedel Dausab, há sinais de mudança. "Até o chefe da Polícia
quer treinar o seu pessoal para fazê-los entender que eles estão lá para todos
os cidadãos, sem importar a orientação sexual", conta.
Na África do Sul, a abordagem em
relação à homossexualidade é muito mais liberal. Após o Apartheid, o país foi a
primeira nação no mundo a mudar a sua Constituição para banir a discriminação
contra a orientação sexual.
Em 2006, a África do Sul
tornou-se o primeiro país africano - e o quinto país do mundo - a permitir o
casamento entre pessoas do mesmo sexo. No entanto, membros da comunidade LGBT
sul-africana ainda sofrem violência e alguns até são mortos, de acordo com
informações da HRW.
Martina Schwikowski, tms, Agência
Lusa | Deutsche Welle
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