terça-feira, 30 de abril de 2019

A ética nos negócios em contexto ultraliberal


Suharto, ditador da Indonésia, recebeu todo o apoio, orientação e armas de membros da Trilateral Comission (Kissinger, Ford) para invadir Timor, a fim de garantir os interesses económicos (petrolíferos)

Filipe Zau* | opinião*

O passado, o presente e o futuro encontram-se indissociavelmente relacionados. É impossível idealizar o futuro, sem diagnosticar o presente e sem interpretar os factos à luz do passado. O olhar do presente leva-nos a concluir que a desenfreada ganância pelos negócios mais reles desenvolveram no passado as “indústrias de morte”, como o das drogas e o das armas (indústria e comércio). A falta de ética desses chorudos negócios, voltados para a destruição, levará necessariamente a humanidade para o caos.

Em 1993, a Berkeley Brasil Editora lançou a público, no Rio de Janeiro, o livro da jornalista norte-americana Janet Lowe, intitulado “O Império Secreto – Como 25 Multinacionais Dominam o Mundo”, que, de acordo com o texto de Rogério Norton Valieri dos Santos, “O Negócio das Armas”, inserido no livro “Stop a Destruição do Mundo”, da Proton Editora, refere o seguinte: “Para o bom funcionamento da indústria do petróleo e para garantir o óleo que lubrifica as engrenagens dos altos negócios (sem falar na protecção do Kwait Investment Office, que tem enormes investimentos em meganacionais como o British Petroleum e a Daimler Benz), Saddam Hussein tinha de pular fora” – o que uma vez mais não deixa de confirmar, que as verdadeiras razões para aquela guerra, foram, simplesmente, económicas.


Da sua lista das 25 maiores empresas do mundo, Janet Lowe inclui diversas fábricas de armamentos, referindo o seguinte: “muitas das enormes empresas de hoje são maiores do que a maioria das nações em que operam”. Apenas os EUA, o Japão, a ex-URSS, a França, a Alemanha, a Itália, o Reino Unido e o Canadá apresentam um PIB maior que o activo dos principais bancos do mundo. E acrescenta, Janet Lowe: “Embora os dirigentes meganacionais dificilmente precisem de uma cabala internacional para fazerem sentir a sua influência, um número surpreendente delas pertence ao quadro dos membros da enigmática Comissão Trilateral de David Rockefeller, Agnelli da Fiat e executivos da Mitsubishi. Sumitono, Dai-Ichi Kangyo, Deutsch Bank, AT&T, General Eletric, Exxon, General Motors e Coca-Cola têm sido associados com a organização ao longo dos anos. Se eles tiverem comparecido às reuniões de forma assídua e fiel, ter-se-ão encontrado com membros dispensados para o Serviço Público: o presidente George Bush; o director americano da poderosa Secretaria da Administração e Orçamento, Richard C. Darman, o presidente da Junta Directora da Reserva Federal, Allan Greenspan, Carla Hills (Representante da Junta do Comércio) e o assistente do presidente Bush para os Negócios Internos de Segurança, Brent Scowcroft”. Este curto relato evidencia, segundo Janet Lowe, a ligação (num mesmo “clube”) existente entre empresas que são também fornecedoras do Pentágono, grandes bancos e meganacionais, e o governo dos EUA directamente representado pelo presidente daquele país.


Rogério Norton Valieri dos Santos também se refere ao livro de Claude Moisy, intitulado “O Complexo Militar-Industrial Americano”, que menciona que, “no período da guerra do Vietname, dos 81,2 biliões de dólares destinados pelo governo dos EUA para a Defesa Nacional, metade foi para o sector privado, sob a forma de contrato de fornecimento”. 
Ainda de acordo com Moisy, “tratou-se, portanto, de uma transferência dos impostos para as fábricas de armas, podendo-se dizer que elas também recebem impostos do povo e não só do governo. A transferência mencionada foi feita às diversas indústrias: de aviões, foguetes, equipamentos electrónicos e telecomunicações, alimentação (para os soldados), roupas (fardas, coturnos), artigos desportivos, etc. A característica mais importante é a de haver um único comprador (Pentágono) de produtos especialmente fabricados para si, por um número reduzido de empresas gigantescas”.

Mas, pior ainda é o saque das nações pelas armas. Além do lucro das vendas, a produção de armas é usada como forma de repressão. A título de exemplo, um relato do Diário de Notícias, de 16 de Março de 1993, refere que Suharto, ditador da Indonésia, recebeu todo o apoio, orientação e armas de membros da Trilateral Comission (Kissinger, Ford) para invadir Timor, a fim de garantir os interesses económicos (petrolíferos). Estudiosos calculam que Suharto foi responsável pelo massacre de meio milhão de indonésios, na repressão ao comunismo, no seu próprio país, e pela morte de 150 mil timorenses, na sua invasão a Timor-Leste. A reação do Ocidente foi continuar a fornecer-lhe armas: “Kohlo, chanceler alemão, fez uma das maiores transacções de armamentos do século passado com a Indonésia. Esta venda foi feita com a promessa dos compradores de que iriam respeitar os direitos do homem e as armas só iriam ser usadas internamente.”

Se, no futuro, a Venezuela for invadida sob a alegada ausência de democracia e de respeito aos direitos humanos – tal como ocorreu no Iraque, na Líbia e na Síria (qualquer um deles rico em petróleo) – já antecipadamente sabemos qual a verdadeira razão.

* Ph. D em Ciências da Educação e Mestre em Relações Interculturais

*Jornal de Angola

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