Acredita-se que as aparentes
manipulações no recenseamento eleitoral visam também reduzir o peso da oposição
no Parlamento. ONG e oposição entendem que o STAE é conivente, ao servir os
interesses do partido no poder.
O Parlamento moçambicano é
composto por 250 deputados. Determina o número de assentos dos partidos o
número de eleitores inscritos por províncias, ou seja, círculos eleitorais. E
isso é determinado pelo artigo 165, relativo à distribuição de deputados por
círculos, da Lei Eleitoral.
Embora o recenseamento eleitoral
ainda não tenha terminado, falta uma semana apenas, já se percebe uma clara
tendência de perda de mandatos principalmente nas províncias dominadas pela
oposição: Zambézia, Nampula, Sofala e Maputo cidade.
O pesquisador do CIP, ONG que
luta por transparência, Borges Nhamire, entende que "com menos pessoas
recenseadas do que o previsto vai haver perda do número de mandatos em relação
ao ano anterior, porque o número de pessoas recenseadas este ano diminuiu em
relação a 2014, do ponto de vista proporcional e não do ponto de vista
absoluto."
Artimanhas para reduzir a
oposição no Parlamento?
Um posto de recenseamento em Nampula. A província mais populosa do país e
reduto da oposição regista números muito abaixo do estimado.
Para se calcular a
proporcionalidade divide-se o total de eleitores inscritos no país pelo total
de deputados, 250, entrando também na equação os círculos eleitorais, segundo o
método de Hondt, que está na base do artigo 165.
E a Zambézia é ate agora a mais
lesada, podendo perder seis assentos se o recenseamento continuar ao ritmo em
que está. A província é um bastião da RENAMO, o maior partido da oposição. O
seu porta-voz, José Manteigas, está convicto de que há uma intenção clara de os
prejudicar no Parlamento.
"A questão dos assentos é
exatamente para reduzir a representação dos moçambicanos dessas regiões, porque
para o regime os deputados dessas zonas são uma "pedra no sapato".
Então, a única maneira de excluir a voz dos moçambicanos dessas zonas é reduzir
o número de mandatos das províncias, o que não é justo e não vai traduzir-se em
eleições livres e transparentes", diz Manteigas.
A FRELIMO tem a maioria no
Parlamento, com 191 assentos, o que lhe permite fazer passar ou chumbar
confortavelmente o que for do seu interesse. A RENAMO tem 51 e o MDM, a segunda
maior força da oposição, tem 8.
STAE ao serviço da FRELIMO?
Embora as duas últimas forças
estejam muito longe do partido no poder, a composição pode vir a mudar por
causa da má imagem que o partido no poder está a desenvolver. E travar isso
parece ser a aposta da FRELIMO, com a ajuda do STAE, o Secretariado Técnico de
Administração Eleitoral.
"São agendas do regime, por
isso nós, por três vezes, já exigimos a demissão imediata do diretor geral do
STAE, porque tem sido um empecilho nesse processo", acusa o porta-voz da
RENAMO.
Assim, na corrida eleitoral de
outubro próximo, a FRELIMO terá dado a largada antes do apito soar. O
pesquisador do CIP antevê que "se efetivamente os números terminarem como
estão agora e conforme o CIP projetou, se a FRELIMO ganhar mais 12 deputados
isso significa que a FRELIMO já parte em vantagem, com o potencial de ganhar a
eleição e com isso mais deputados."
O recenseamento eleitoral com
vista as eleições gerais de 15 de outubro de 2019 começaram a 15 de abril e
terminam a 31 de maio.
Nádia Issufo | Deutsche Welle
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