segunda-feira, 24 de junho de 2019

O mundo ocidental está sem liderança no momento em que enfrentamos o Armagedão


Paul Craig Roberts

De acordo com noticiários, cuja validade não pode ser confirmada pelo público em geral, um enlouquecido governo dos EUA esteve a dez minutos de atear uma conflagração geral no Médio Oriente, cujas consequências poderiam ter sido catastróficas para todos. 

Os belicistas imbecis do alto escalão – Bolton, Pompeo e Pence – e seus mestres do lobby de Israel estão determinados e não abandonar a sua campanha a favor da guerra contra o Irão. É claro que os mentirosos dizem que o Irão simplesmente aceitará sua punição por defender seu território e que não haverá guerra. Mas isto não é o que diz o Irão. Acredito no Irão.

Uns poucos, da pequena percentagem de pessoas no mundo ocidental que ainda são capazes de pensar, lamentam que Trump tenha cancelado este plano insano. Eles pensam que as consequências teriam sido a destruição dos governos saudita e israelense – dois dos mais perversos da história – e o corte de petróleo para os EUA e a Europa, com a resultante depressão provocando a derrubada dos governos belicistas ocidentais. Eles acreditam que uma derrota americana catastrófica é a única maneira pela qual a paz pode ser restaurada no mundo.

Por outras palavras, não está claro se Trump ao cancelar o ataque nos salvou ou nos condenou. O lobby de Israel e seus agentes neoconservadores não recebeu uma lição. Trump não despediu Bolton e Pompeo por quase atearem uma conflagração e ele não repreendeu seu imbecil vice-presidente. Assim, tudo poderá acontecer outra vez.

E provavelmente acontecerá. A lição que Bolton e Israel aprenderam é que a fake news de um ataque iraniano a um cargueiro japonês, negado pelos japoneses, não foi suficientes para obrigar Trump a "salvar a face" atacando o Irão. Portanto, esteja preparado para uma provocação orquestrada ainda maior. Bolton e Israel sabem que os presstitutos do Ocidente mentirão para eles. Fique atento a uma provocação que não permita a Trump nenhuma alternativa senão um ataque.

O uso por Washington de notícias falsas e ataques de bandeira falsa a fim de lançar ataques militares tem longos antecedentes. No século XXI, tivemos uma dose concentrada – as armas de destruição em massa de Saddam Hussein, a utilização de armas químicas por Assad, ogivas nucleares iranianas, invasões russas, Maduro a esfaimar seu próprio povo, as infinitas mentiras sobre Gaddafi. Sim, sei que há mais. Estou a escrever um artigo, não uma enciclopédia.

Washington habituou-se a atacar países sob falsos pretextos e safar-se disso. Portanto, não existe nada que desencoraje o lobby de Israel e seus fantoches de Washington de continuar a preparar um ataque ao Irão. O êxito gera a imprudência. O ataque ao Iraque foi encenado-gerido por um confiável secretário de Estado dos EUA perante a ONU. O ataque à Líbia foi encenado-gerido por uma resolução da ONU que uma Rússia e China enganadas deixaram de bloquear. Em situações como estas, Washington arranjou um sinal verde para seus crimes de guerra. Contudo, Washington não conseguiu arranjar um sinal verde para um ataque ao Irão. Além disso, o Irão é uma força militar mais poderosa do que o Iraque e a Líbia e a extensão da profundidade do apoio russo e chinês ao Irão é desconhecida por Washington.

Se Israel conseguir que o seu fantoche de Washington ataque o Irão, Israel e seus agentes neoconservadores não aceitarão que o seu objectivo fracasse. Eles combaterão o fracasso com movimentos ainda mais perigosos. Posso facilmente imaginar os fanáticos conseguindo que Trump "salve a face" pela destruição do mundo e lançamento de ultimatos à Rússia e à China, ou recorrendo à utilização de armas nucleares contra o Irão.

Os americanos despreocupados – na verdade, os ocidentais despreocupados – são mantidos inconscientes deliberadamente. A função dos presstitutos é controlar as explicações dadas ao povo. O Congresso dos EUA é comprado e pago pelo lobby de Israel, assim como os políticos mais importantes do Reino Unido e da Europa. O que estou a dizer-lhe é que é muito fácil para fanáticos produzirem o Armagedão.

Stephen Cohen e eu, além de uns poucos outros sobreviventes, vivemos a Guerra Fria durante o século XX. Nos últimos anos ambos temos informado em numerosas ocasiões que a ameaça da guerra nuclear hoje é muito maior do que durante a Guerra Fria. Uma razão é que durante a Guerra Fria, os líderes dos EUA e da União Soviética trabalhavam para neutralizar tensões e construir confiança. Em contraste, desde o regime de Clinton, os EUA têm trabalhado sistematicamente para criar tensões. Tanto Cohen quanto eu listámos em muitas ocasiões as actividades de construção de tensões prosseguidas por todos os governos pós-Reagan / George HW Bush.

Os russos já não confiam em Washington, nem tão pouco os chineses. Washington mentiu para a Rússia e acerca da Rússia tantas vezes no século XXI que a confiança russa em Washington está esgotada. Não importa o quão ardentemente o governo russo queira confiar em Washington, não ousa fazê-lo.

Portanto, é preciso muito pouco erro de cálculo para que os idiotas em Washington provoquem uma resposta de ameaça final da Rússia pois Washington convenceu o governo russo de que os EUA pretendem destruí-los.

A orquestração do Russiagate pelo Partido Democrata, o complexo militar/de segurança e seus prostitutos dos media, como enfatizou Stephen Cohen, forçaram o presidente Trump num acto de auto-preservação a adoptar a posição neoconservadora em relação à Rússia e outros governos "não-dóceis". Esta posição é bastante perigosa no melhor dos casos. É extremamente perigosa depois de a confiança ter sido destruída por anos de mentiras e falsas acusações.

Talvez haja alguém na administração Trump que tenha inteligência para entender esta situação perigosa e que tenha a confiança de Trump. Mas não sei quem é essa pessoa.

Temos que enfrentar o facto de que no momento em que encaramos o Armagedão o mundo ocidental está sem liderança. 


22/Junho/2019

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