Figura da resistência ao
fascismo, lutou pelos direitos das mulheres, nomeadamente, pelas enfermeiras,
profissão que exerceu. Foi presa e torturada pela PIDE. Casou-se no Forte de
Peniche com António Borges Coelho
Isaura Assunção da Silva Borges
Coelho morreu na terça-feira, dia 11 de junho, aos 93 anos. A notícia foi
avançada esta quarta-feira pelos jornais Sul Informação e Tornado. Resistente
antifascista, lutou pelos direitos das mulheres, pela liberdade, democracia e
foi presa e torturada pela PIDE - Polícia Internacional e de Defesa do Estado.
Na sua atividade contra o regime
de António de Oliveira Salazar, destaca-se a luta pelos direitos das
enfermeiras - profissão que exerceu - em poderem casar livremente. Recentemente, foi galardoada pelo município de Portimão com o título de cidadã
benemérita e com a Medalha de Honra. Em 2002, pela sua luta pela democracia,
liberdade e igualdade de direitos, recebeu do então Presidente da República,
Jorge Sampaio, a condecoração da Ordem da Liberdade.
Portimão manifesta "voto
sentido de pesar"
Isaura Borges Coelho nasceu
em Portimão, a 20 de junho de 1926, frequentou a escola de enfermagem Artur
Ravara e começou a exercer a profissão no Hospital dos Capuchos.
A Câmara Municipal de Portimão já
manifestou publicamente "um voto sentido de pesar e de respeito profundo,
muito sincero, pela memória de tão ilustre portimonense".
Na biografia disponibilizada pela
autarquia, lembra-se que Isaura Borges Coelho cedo começou a lutar "pela
melhoria das condições de trabalho e dos cuidados de saúde nos hospitais".
Encabeçou um abaixo-assinado
dirigido ao presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar, ao Cardeal
Cerejeira e ao enfermeiro-mor dos hospitais quando teve conhecimento que 12
colegas enfermeiras do Hospital Júlio de Matos "foram despedidas, por
terem casado sem autorização".
"Recolheu centenas de
assinaturas para exigir a liberdade de casamento para as enfermeiras".
Pedia a revogação do artigo 60 do decreto-lei nº 28794, de 1 de Julho de 1938,
que exigia que para os lugares de enfermeiras e também para os de empregadas
domésticas só poderiam "ser admitidas mulheres solteiras e viúvas, sem
filhos".
Um gesto que lhe valeu a prisão.
Em 1953, quando se dirigia para a sede do Movimento de Unidade Democrática (MUD)
Juvenil "é presa juntamente com outros jovens, posteriormente libertados.
Ficou em prisão preventiva". Os agentes da PIDE identificaram-na como
"a casamenteira".
Durante o tempo que esteve presa,
Isaura Borges Coelho, "foi sujeita ao regime de isolamento, brutalmente
espancada e arrastada pelos cabelos".
Em junho de 1954, o MUD Juvenil
denunciava a situação num dos seus comunicados: "Com Isaura Silva, no
banco dos réus, estão as enfermeiras e a juventude de Portugal".
"Passou quatro anos na
prisão. Tinha sido condenada 'apenas' a dois anos de prisão maior, à perda de
direitos políticos por quinze anos", descreve a biografia divulgada pela
câmara de Portimão. Encarcerada, chegou a pesar 30 quilos. Foi
libertada em 1956.
Exerceu, até à reforma, o cargo
de enfermeira-chefe do Serviço de Prematuros da Maternidade Alfredo da Costa,
onde foi igualmente delegada sindical dos enfermeiros.
Casou-se com António Borges
Coelho no Forte de Peniche, onde o futuro historiador estava a cumprir uma pena
de prisão.
O funeral realiza-se na
sexta-feira, às 13:30, no Centro Funerário de Cascais da Servilusa, onde
decorre o velório, a partir das 18:00 desta quinta-feira, segundo o jornal Público.
Diário de Notícias
Imagem em DN | © Fotografia
de Isaura Borges Coelho facultada pela própria à página do facebook -
Antifascistas da Resistência (@FascismoNuncaMais)
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