Presidente diz que Brasil
"não precisa" de dinheiro alemão para preservar a floresta. Fala
ocorre após Berlim anunciar suspensão de repasse de R$ 155 milhões a projetos
de proteção por causa de aumento do desmatamento.
O presidente Jair Bolsonaro
tratou com desprezo neste domingo (11/08) a decisão do governo alemão de
suspender o financiamento de projetos para a proteção da Amazônia por causa do
aumento do desmatamento da floresta.
No sábado, a ministra do Meio
Ambiente da Alemanha, Svenja Schulze, disse em entrevista ao jornal Tagesspiegel que
o país europeu vai
congelar investimentos de 35 milhões de euros (cerca de 155 milhões de
reais) que seriam destinados a diferentes projetos de proteção ambiental
no Brasil.
Questionado por jornalistas sobre
a suspensão dos repasses, Bolsonaro disse que "O Brasil não precisa
disso".
"Ela [Alemanha] não vai mais
comprar a Amazónia, vai deixar de comprar a prestações a Amazónia. Pode fazer
bom uso dessa grana. O Brasil não precisa disso", disse o presidente.
Ao ser questionado se o
congelamento dos valores não teria impacto na imagem do Brasil no exterior,
Bolsonaro respondeu: "A imagem do Brasil? Você acha que grandes países
estão interessados na imagem do Brasil ou em se apoderar do Brasil?"
Desde a posse de Bolsonaro, em
janeiro, o governo alemão e outros países europeus, como França e Noruega,
têm demonstrado preocupação com a forma como Brasília passou a tratar a
proteção ambiental e a explosão nos níveis de desmatamento no Brasil.
Na semana passada, dados
divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) confirmaram o
aumento significativo no desmatamento da Floresta Amazónica. Em julho deste
ano, a devastação do bioma cresceu 278% em relação ao mesmo mês de 2018.
Segundo o Sistema de Detecção do
Desmatamento na Amazónia Legal em Tempo Real (Deter), em julho, 2.254,9 quilómetros
quadrados de floresta foram devastados.
Um grande aumento do desmatamento
já havia sido apontado em junho, quando a devastação da floresta cresceu 88% em
relação ao mesmo mês de 2018.
A divulgação desses dados causou uma crise entre o Inpe
e o governo Bolsonaro, que culminou com a demissão do presidente do instituto.
Na entrevista em que anunciou o
congelamento dos repasses, a ministra alemã Svenja Schulze levantou dúvidas em
relação ao comprometimento do governo Bolsonaro em reduzir o desmatamento.
"A política do governo
brasileiro na Região Amazónica deixa dúvidas se ainda se persegue uma redução
consequente das taxas de desmatamento", declarou a ministra ao jornal
alemão, apontando que somente quando houver clareza, a cooperação de projetos
poderá continuar.
Para conter o desmatamento
florestal, a Alemanha também apoia o Fundo Amazónia, no qual o Ministério
alemão da Cooperação Económica já injetou 55 milhões de euros (por volta de 245
milhões de reais).
Com um volume de quase 800
milhões de euros (por volta de 3,5 biliões de reais), a maior parcela do Fundo
Amazónia é financiada pela Noruega e, uma pequena parte dele, pela Alemanha.
Recentemente, tanto o governo
alemão quanto a Noruega reclamaram dos planos do ministro do Meio Ambiente do
Brasil, Ricardo Salles, de promover mudanças na gestão do fundo.
Em maio, embaixadores dos dois
países, que são os maiores doadores do fundo, admitiram a possibilidade de que
o programa venha
a ser extinto caso o impasse persista.
Tanto a Alemanha quanto a Noruega
mostraram contrariedade com a extinção pelo governo Bolsonaro de dois comités
responsáveis pela gestão do fundo.
Antes disso, os governos alemão e
norueguês já haviam rejeitado publicamente a proposta de Brasília de usar parte
dos recursos do fundo para indemnizar proprietários que vivem em áreas incluídas
em unidades de conservação da Amazónia, o que hoje não é permitido. Os europeus
também rejeitaram as insinuações do governo brasileiro de que há indícios de
irregularidades em contratos do fundo.
Durante a reunião de cúpula do
G20, no Japão, em junho, Bolsonaro e integrantes do seu governo também já haviam
antagonizado com a Alemanha e outros países europeus que mostraram
preocupação com a política ambiental brasileira. Na ocasião, Bolsonaro disse
que "os alemães têm a aprender" com os brasileiros e disse que
não aceitaria ser "advertido por outros países".
Já o general Augusto Heleno,
titular do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), reagiu de maneira mais
exaltada às manifestações do governo alemão e francês. "Estes países
que criticam? Vão procurar a sua turma", disse o ministro. Ele ainda
acusou os europeus de derrubarem suas próprias florestas e insinuou que países
da Europa cobiçam as riquezas naturais brasileiras.
Deutsche Welle | JPS/ots
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