A polícia da Zambézia não tem
pistas para capturar os malfeitores que tentaram assassinar a mãe do candidato
da RENAMO Manuel de Araújo. Analistas preveem abstenções no dia de voto por
causa do clima de violência.
São muitos os atos de violência
que os partidos políticos têm denunciado nos últimos dias nesta campanha
eleitoral, que termina no próximo dia 12 de outubro, três dias antes do início
da votação nas eleições gerais moçambicanas.
A primeira vítima desses atos de
violência solicitou o anonimato e é membro do Movimento Democrático de
Moçambique (MDM). "Amarraram-me, espalharam pelo corpo combustível e
atearam o fogo. O vizinho que estava a apagar o fogo é que veio desamarrar-me e
só depois começamos a pedir socorro", conta.
Também o porta-voz deste partido,
Vitorino Francisco, há dias convocou a imprensa para pedir proteção, porque
teme pela sua vida. "No distrito de Mocuba, quando os nossos membros
realizavam a campanha porta a porta vieram os régulos e ameaçaram-nos de morte
e deram-lhes um ultimato: se continuassem a angariar mais membros, seriam
proibidos de manter as suas residências nos locais onde vivem", afirmou.
Para Manuel de Araújo, todos
esses crimes têm a mão da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o
partido no poder. "Nós temos informações de que dez homens pertencentes ao
que se convencionou chamar de esquadrões da morte foram enviados para a
Zambézia, e dez para Nampula para seguir as movimentações dos cabeças-de-lista da
RENAMO. Esses dez homens estão sob o comando do ministro do Interior, Basílio
Monteiro", disse.
Para o porta-voz da Polícia da
República de Moçambique (PRM), Sidner Lonzo, mais cedo ou mais tarde os autores
desse e de outros atos de violência na província serão capturados. Entretanto,
apesar dos esforços desenvolvidos, a polícia não apresentou qualquer resultado.
"Não há pistas até então.
Patrulhas em todos os bairros da cidade de Quelimane são realizadas
regularmente e há reforços por conta deste ambiente de campanha com contornos
de violência que as pessoas estão a viver. A polícia já intensificou o
patrulhamento e o monitoramento em todos os bairros", disse.
FRELIMO não se manifesta
Entretanto, a FRELIMO prefere por
enquanto não fazer quaisquer comentários sobre as perseguições e ameaças de
morte denuncidas pelas formações políticas da oposição, que exigem
investigações mais céleres sobre os casos que ocorreram e que são do
conhecimento das autoridades.
Segundo o porta-voz da FRELIMO,
Sabado Chombe, o seu partido irá pronunciar-se só depois da conclusão das
investigações em curso. "A FRELIMO aguarda as investigações em curso pelos
órgãos competentes sobre estas ocorrências. A FRELIMO reafirma a sua luta
incansável pela convivência harmoniosa e pelos princípios da paz social pelo
candidato Filipe Nyusi, o candidato do povo moçambicano nas eleições de 15 de
outubro", diz.
Como era de esperar, residentes
na Zambézia dizem que estão com muito medo. Caso a violência prevaleça,
preferem não ir votar no dia 15 de outubro para não se tornarem vítimas da
violência.
"Estou com medo de
represálias. A minha casa pode ser incendiada ou eu ser perseguido. Estou com
muito medo do que poderá contecer", sublinhou Eufrasio Faz Bem,
munícipe da cidade de Quelimane.
"Na verdade, não há
seriedade nesta campanha e as promessas não estão a ser cumpridas. Falou-se no
início que a campanha seria ordeira e uma festa, mas não é isso que está a
acontecer. Não sei quais são os motivos que levam um munícipe a partir para a
agressão quando somos todos irmãos", lamentou Samuel Francisco
Alfredo.
Clima tenso
Os analistas políticos Lourindo
Verde e Ricardo Raboco dizem estar surpresos com o índice de violência eleitoral
na província da Zambézia e já preveem que o clima será muito tenso no dia da
votação.
"O processo de recenseamento
não foi transparente e estamos a assistir agressões e violência dos membros de
um e de outro partido na campanha eleitoral. Isso significa que também
poderemos ter situações muito semelhantes no dia das eleições", diz
Lourindo Verde.
"Alguns eleitores poderão
ter receio em ir votar, algo que terá grandes consequências no pleito eleitoral
deste ano. O nível de abstenção poderá ser elevado precisamente porque os
eleitores temem ir à cabine de voto e na altura sofrer atos de agressão ou violência",
acrescenta o analista.
Ricardo Raboco tem a mesma
opinião. "No âmbito da campanha eleitoral, os níveis de violência estão a
ser preocupantes. Portanto, é de esperar que no próprio dia da votação e nos
dias seguintes, enquanto se aguarda o anúncio de resultados, o pico possa
atingir níveis preocupantes. Isso é preocupante", diz.
Apesar dos incidentes, a campanha
eleitoral está a decorrer com o MDM a privilegiar os contatos porta a porta na
cidade de Quelimane, enquanto os cabeças-de-lista da RENAMO e da FRELIMO
preferem realizar comícios populares nos distritos da província da Zambézia.
Marcelino Mueia (Quelimane) | Deutsche
Welle
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