José Carlos Matias | PlataformaMacau | opinião
A reportagem que publicamos esta
semana sobre o jornal universitário Orange Post reveste-se de um significado
especial. Ilustra uma consciência cívica e jornalística de um grupo de jovens
que cultivam um espaço importante de cidadania e jornalismo. É também um
laboratório no qual os estudantes experimentam um primeiro contacto com o
exercício da liberdade de imprensa e sentido de responsabilidade social. Macau
precisa de mais espaços deste género para promover e normalizar entre os jovens
e a sociedade um saudável ambiente de pluralismo e espírito crítico. Sem
receios de represálias. O jornalismo é, na sua essência, um bem público - vital
para o exercício da cidadania - que se encontra sob elevada pressão, a nível
global, em virtude do incómodo que provoca a poderes públicos e privados, da
falência de modelos de negócio tradicionais e de uma proliferação de um
ambiente de "pós-verdade", que o corrói, dilacerando o entendimento
do que são os factos e a realidade.
A busca da verdade é a raison
d"être do jornalismo, não no sentido absoluto ou filosófico, mas em termos
práticos e com honestidade intelectual, e seguindo as boas regras que alicerçam
o nosso papel social de serviço público e parte de um sistema de pesos e
contrapesos.
O problema complica-se de
sobremaneira quando estamos perante situações de extremar de posições ou
"guerra informativa", como aquela que vivemos relativamente a Hong
Kong. Dos vários lados são partilhados vídeos, textos, artigos que se revelam completas
manipulações ou distorções dos factos e que incendeiam os ânimos. É por isso
preciso, mais do que nunca, fomentar uma sensibilização social relativamente às
formas de verificação, cujos instrumentos são não poucas vezes negligenciados
pelos próprios jornalistas para não falar do comum cidadão. A educação para os
media e a literacia mediática surgem assim como uma necessidade premente, a par
de uma promoção de uma cultura de tolerância pelas diferentes opiniões e
combate ao discurso do ódio que infecta as redes. Isto, sem cair na tentação e
nos riscos inerentes à lógica da criminalização.
Em tempos tão conturbados,
cabe-nos a todos - jornalistas, cidadãos, instituições e responsáveis políticos
- zelar pelo jornalismo sólido em clima de liberdade, responsabilidade social e
tolerância. É algo de inestimável.
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