O Reino Unido deixa a Europa e os
muito ricos deixam o Reino Unido: este pode ser o cenário se, com o país a
caminho do Brexit, o Partido Trabalhista ganhar as eleições. Os sinais de
debandada multiplicam-se.
O líder trabalhista Jeremy Corbyn
já assumiu, para as eleições de 12 de dezembro, o compromisso de voltar à
clássica política fiscal do seu partido, com impostos progressivos, taxando
mais quem mais ganha, com um controlo mais rigoroso dos movimentos de capitais
e tributando as heranças de 125.000 libras (cerca de 145.000 euros) para cima.
Além disso, Corbyn anunciou
também um conjunto de medidas para atenuar o cunho marcadamente elitista do
ensino no Reino Unido. O secretário-sombra de Corbyn para a pasta das Finanças,
Clive Lewis, não tem papas na língua e declarou mesmo à BBC: "Os
multimilionários não deviam existir".
O Reino Unido é um dos países
europeus em que impera maior desigualdade social: segundo um estudo do Institute
for Public Policy Research (IPPR) dez por cento da população concentra nas
suas mãos 44 por cento da riqueza. O país conta com 151 multimilionários
(pessoas com fortunas superiores a mil milhões de libras).
Um ambiente de debandada
O susto que este programa
eleitoral vem causando entre os mais ricos não passou despercebido. O diário britânico The Guardian realizou, por isso,
uma inquirição junto de advogados, contabilistas e conselheiros fiscais e
chegou à conclusão que os escritórios de muitos deles fervilham de consultas
sobre a forma de transferir patrimónios avultados para o estrangeiro ou sobre a
forma de fugir ao imposto sobre heranças fazendo aos filhos doações em vida.
Um advogado do escritório Boodle
Hatfield respondeu a uma das perguntas do Guardian dizendo que, em caso de
vitória eleitoral trabalhista, os seus clientes têm tudo preparado para
transferir as suas fortunas para contas offshore - em poucos minutos.
Um responsável da firma de
consultoria Camden Wealth, que tem cerca de 3000 clientes abastados ou muito
ricos, respondeu por sua vez que esses clientes estão muito mais preocupados
com as possíveis consequências de uma vitória trabalhistas do que com as
consequências do Brexit.
Alguns dos multimilionários
assumem publicamente as suas intenções. John Caudwell, o fundador da empresa de
sucesso Phones4u, anunciou com estrondo que, em caso de vitória de Corbyn,
prefere ir viver para o Mónaco ou para o sul da França.
Um outro entrevistado, o corretor
da Bolsa Peter Hargreaves, com uma fortuna calculada em 3.000 milhões de
libras, sentencia: "Quem cria um regime fiscal que não apoia nem acarinha
pessoas como eu, que criam riqueza, será também quem debilitará no mais curto
lapso de tempo a saúde económica do país".
Hargreaves acrescenta a estas
considerações um cálculo preciso, começando por lembrar que no ano passado
pagou impostos no valor de 40 milhões de libras: "Se 50 dos maiores
contribuintes embarcarem num avião e deixarem o país, isso abrirá um grande
buraco no orçamento do Governo".
RTP
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