Mais velhos que trapos. Parece ser assim que os idosos em Portugal são considerados. São algo que "empata", que atrasa, que adoece facilmente e gasta recursos para lhes prolongarem a vida de abandono e de indiferença a que os mais novos e a sociedade portuguesa os vota - se necessário mesmo a pais e mães. Sobrevivem sozinhos nas suas casas de há décadas. Limitados fisicamente. Abandonados.
Concluiu a GNR que desses tristes e abandonados que anteriormente também construíram o país, que com caráter obrigatório foram na juventude para uma guerra colonial, que foram perseguidos pela PIDE e vítimas da ditadura salazar-fascista, que foram explorados e oprimidos até se libertarem do regime que os oprimia e obterem a liberdade e a democracia... esses, os velhos, os empatas, atingem números de cerca de 42 mil pelo país. Certamente que são muitos mais. Sempre abandonados por tudo e todos. Também pelo Estado que tanto lhes deve. Abandonados pelos políticos vigentes, por quase todos, que enchem a boca sobre a velhice dolorosa mas que deixam perceber no intimo que o ideal era que morressem sem causar a necessidade de cuidados e despesa. As vantagens anunciadas ou em prática para os que padecem de velhice são falácias dos políticos e mal quistas pelos que hoje exibem as suas juventudes como se não viessem a envelhecer. É isso que se constata, é isso mesmo que imensos velhos sentem na pele, nas suas vidas a acabar a transbordar de tristezas.
Com humanidade e moderação o Curto aborda os velhos, a velhice. Estão convidados a explorar a abertura da peça que se segue, fruto da autoria de Jorge Araújo. Assunto tratado pela rama porque esse é imposição do natural modelo do Curto, do Expresso.
Com bengala ou sem ela vá ler. Use os óculos se convier e puder. É que há óculos que já são quase tão velhos como os velhos que atualmente precisam deles mas não os têm, ou têm mas compraram-nos há muitos anos e as dioptrias já são outras. As reformas de miséria não dão para adquirir novos óculos atualizados e os existentes não vêem para ler. Verdades que tocam aos abandonados, os velhos de um país ingrato, como tantos outros do neoliberalismo exacerbado que atualmente nos rege, em muito semelhante ao fascismo-salazarista que fomentava a iliteracia, a ignorância e analfabetismo... Era como não ver, a não ser para ser explorado, oprimido e reprimido... se contestasse.
Atualmente existe o quase obrigatório comportamento do politicamente correto contestando... para nada. Porque falar não é decreto nem resulta em cedências por parte dos governantes, dos políticos. A resposta frequente é que "não há dinheiro"... Mas já há dinheiro para os banqueiros para os corruptos, para os criminosos que compõem as elites e que escapam impunes à Justiça. Olhai Salgado e outros. Salgado é velho e feliz. Os milhares de milhões de euros debulhados a todos os portugueses (novos e velhos) são parte da sua felicidade. Nunca na vida ele fez outra coisa. Prova de que o crime compensa, para esses.
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SC | PG
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Curto
Sobre o que fica e o que passa
Na vida, o que importa é o
que fica do que passa. Mas o que fica do que passa, muitas vezes é pouco. É quase
nada. Chegar ao fim só e abandonado não é vida. É morte lenta.
Lembrei-me disso ao ler os
resultados do último “Censos Sénior”, missão levada a cabo pela Guarda
Nacional Republicana (GNR), desde 2011. O objetivo não podia ser mais nobre: “Identificar
idosos que vivem sozinhos e isolados”.
Este ano, a GNR sinalizou “41.868
idosos que vivem sozinhos e/ou isolados, ou em situação de vulnerabilidade, em
razão da sua condição física, psicológica, ou outra que possa colocar a sua
segurança em causa”. Idosos que são presas fáceis de crimes vários,
nomeadamente furtos, roubos ou burlas.
Bem sei que notícias destas
não costumam ser manchete de jornais nem abrir telejornais. Merecem,
quanto muito, um rodapé. Mas, por detrás de cada um destes 41.868 números,
há uma história. Por detrás de cada um destes velhos, há uma vida. Histórias
que merecem ser contadas.
O envelhecimento da
população portuguesa é uma espécie de bomba relógio. Sabemos que vai
explodir, mas pouco ou nada fazemos para a desativar.
Já imaginaram quando a Segurança
Social colapsar? Quando o Sistema Nacional de Saúde não der para as encomendas?
Se nada for feito este país não vai ser para velhos. Nem para novos.
Se quer realmente saber como é
ser velho, e viver só e abandonado, então procure saber um pouco mais sobre a
vida destes 41.868 idosos. Só assim os números passam a ser pessoas.
Palavras que passam e palavras
que ficam
Há palavras que passam e
palavras que ficam. Palavras que não riscam uma única página no
calendário e outras que ficam para sempre tatuadas na nossa memória. Vergonha é
uma delas.
É por isso que não devem ser
ditas com paninhos quentes. Doem muito para lá do seu real significado.
Foi muito mais do que vergonha o
que Portugal sentiu ao assistir, ao vivo e a cores, à invasão da Academia
de Futebol do Sporting por um grupo de delinquentes que se
julgava acima da lei.
A primeira sessão do Julgamento começou
ontem e promete fazer correr rios de tinta. Se, por acaso viveu em Marte nos
últimos tempos, aqui fica um excelente guia dos protagonistas, acusados de mais de quatro mil crimes,
entre os quais, terrorismo.
A principal personagem deste caso
é o antigo presidente dos leões, Bruno de Carvalho, acusado de ser o autor
moral da invasão de 15 de Maio de 2018.
Ao chegar ao tribunal de Monsanto,
recusou-se a prestar declarações aos jornalistas e apresentou-se como “comentador
desportivo”. O filme completo do primeiro dia pode ser visto aqui.
Mas, se quer ir direto ao
assunto, fique a saber que Bruno Jacinto, o oficial de ligação do Sporting
com as claques, foi o único a falar. Bruno de Carvalho é, por isso, cena dos
próximos capítulos.
Por mais palavras que se digam
neste julgamento de Alcochete há uma que nenhuma apaga – vergonha.
OUTRAS NOTÍCIAS
ISRAEL Os EUA declararam que os colonatos israelitas na Cisjordânia não são necessariamente ilegais, numa rutura absoluta com décadas de direito internacional, política dos EUA e a posição estabelecida da maioria dos aliados dos EUA.
ISRAEL Os EUA declararam que os colonatos israelitas na Cisjordânia não são necessariamente ilegais, numa rutura absoluta com décadas de direito internacional, política dos EUA e a posição estabelecida da maioria dos aliados dos EUA.
PSD. E vão três. Depois de
Rui Rio e de Luís Montenegro, chegou a vez do vice-presidente da Câmara de
Cascais entrar na corrida à liderança do Partido Social Democrata. Miguel Pinto
Luz vê o futuro em grande - quer ganhar as autárquicas e as legislativas.
Talvez, por isso, no momento da verdade, tenha-se socorrido da linguagem
futebolística: “Não me conformo com um PSD que apenas disputa lugares
intermédios da primeira liga da política. Não me conformo ao vê-lo [PSD]
complacente, a disputar o campeonato dos pequeninos. Isto não é o PSD”,
afirmou o social democrata de Cascais. Se quer saber tudo sobre este pontapé de saída, leia o artigo do Miguel Santos
Carrapatoso.
SEM-ABRIGO. Marcelo Rebelo de
Sousa tem andado na noite a ver o que muitos teimamos em não ver. E
porque quer ser o
presidente de todos os portugueses insiste que é preciso erradicar os
sem-abrigo até 2023. O governo tomou
boa nota mas não se compromete com esta meta. Parece que o melhor a
fazer quando passar pelos lados de Santa Apolónia é assobiar para o lado.
PRÉMIO. Cancro é palavra que mete
respeito. Quando não mata, mói. Por isso, um
prémio para apoiar investigações com “grande impacto no controlo e
cura do cancro” é sempre uma boa notícia. O prémio da Fundação Champalimaud, no
valor de um milhão de euros, será entregue já a partir do próximo ano. “É um
prémio que se destina mais ao futuro do que ao passado, para que se dê
esperança às pessoas que padecem desta doença”, disse João Silveira Botelho,
vice-presidente da Fundação.
TAP. A antiga companhia de
bandeira somou prejuízos de 111
milhões de euros em nove meses. Segundo diz a empresa, estes prejuízos
até setembro, aconteceram “por variações cambiais sem impacto na tesouraria”. E
a prova de que uma má notícia pode sempre vir acompanhada por uma boa é quando
a empresa diz que vai contratar mais 800 pessoas em 2020. O que fica do que
passa na TAP?
CRIME. Alegações finais no julgamento
de Rosa Grilo e António Joaquim. Os dois amantes são acusados pelo
Ministério Público (MP) da coautoria do homicídio do triatleta Luís Grilo,
marido da arguida. As atenções vão estar viradas para o Tribunal de Loures.
JESUS. Continua a contagem decrescente
para a final da Copa Libertadores, marcada para este sábado em
Lima, capital do Perú. Trinta e oito anos depois, o Flamengo,treinado pelo
português Jorge Jesus, pode voltar a fazer história. Pela frente terá os
argentinos do River Plate, atual detentor do troféu. Não vai ser fácil,
mas Jesus quer deixar marca no futebol brasileiro. O próximo fim de semana pode
ser de sonho para o Mengão - para além da Libertadores, está a um passo de
conquistar o Brasileirão e sem precisar de entrar em campo. Basta que o
Palmeiras, atual segundo classificado, não pontue contra o Grémio de Porto
Alegre. Até lá, não
deixe de ler as deliciosas crónicas que o Plínio Fraga escreve, a
partir do Rio de Janeiro, para o Tribuna. E de ficar à espera do milagre.
Sem querer ser adivinho, desde já vos digo que quem tem Jesus e Deus na
equipa técnica (o treinador adjunto do Flamengo chama-se João de Deus) tem
obrigação de acreditar em milagres.
O QUE EU ANDO A LER
Há um escritor com lugar
cativo na minha casa de papel. É francês e responde pelo nome de Didier
van Cauwelaert. Descobri-o em 1994, logo após ele vencer o prestigiado Prémio
Goncourt com o romance “Un Aller Simple” (“Um Bilhete Só de Ida”, na
versão portuguesa). Este é um daqueles livros que nos acompanham vida fora e
que aborda uma temática sempre atual. Depois de o devorar, comprei todos
os seus outros livros. Mas ainda não os li. São tijolos da minha casa de
papel - livros para ler mais tarde.
Esta semana, o que ando mesmo a
ler são os artigos da revista do Expresso que estará nas bancas no
próximo sábado. São cento e oito páginas pensadas para agradar ao leitor mais
exigente. Para além da entrevista à Agatha Ruiz de La Prada, feita pela
Alexandra Carita, em Madrid, destaco o importante trabalho da Ana Soromenho
sobre como sobreviver a um divórcio. E ainda um extenso artigo acerca de Leonard
Cohen, escrito por João Lisboa.
O QUE ANDO A OUVIR
Ainda me lembro, como se fosse
hoje, da primeira vez que ouvi Renaud. Comecei por estranhar a sua voz,
não tinha nada de rouxinol, mas entranhei as letras – poesia em estado
puro. Se nunca ouviu a canção “Mistral Gagnant”, não sabe o que perde. É uma
das maiores declarações de amor que um pai pode fazer a um filho.
Nesta minha playlist afetiva há
uma canção que é uma espécie de alma gémea de “Mistral Gagnant”. Chama-se “
Le Vent Nous Portera” da banda francesa “Noir Desir”. Uma balada arrepiante com
assinatura reconhecida já que o letrista da banda é outro grande poeta da
língua francesa.
Infelizmente, Bertrand
Cantet, é dele que se trata, ficou para a história por um crime terrível - assassinou a
companheira, a atriz Marie Trintignant, na ressaca de uma acesa discussão,
num hotel de Vilnius, na Lituânia.
Para terminar, uma boa notícia. Tudo
indica que a morna vai ser declarada património imaterial da humanidade. Mas
ainda não foi. A decisão final está nas mãos do comité intergovernamental da
Unesco, que se reúne entre 9 e 24 de Dezembro em Bogotá, na Colômbia. Não
querendo deitar foguetes antes da festa, despeço-me com “a música
rainha da minha terra”. O Tito Paris dispensa apresentações, a Cremilde
Medina canta e encanta. A poesia é do eterno Manuel d'Novas.
Um resto de bom dia.
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