Manuel Carvalho Da Silva*
| Jornal de Notícias | opinião
Retomo o tema dos salários para
refletir sobre dois temas importantes que estiveram em relevo na última semana:
o Governo, como lhe compete, fixou o valor do salário mínimo nacional (SMN), a
vigorar a partir de 1 de janeiro de 2020, em 635 euros; o primeiro-ministro
assumiu como objetivo o aumento dos salários médios e, simultaneamente,
"que o peso dos salários no PIB se aproxime daquele que existia antes da
crise" acrescentando ainda a necessidade de medidas específicas que
valorizem a retribuição dos jovens mais qualificados.
O Governo devia e podia ser mais
ambicioso quanto ao SMN, contudo, trata-se de um aumento (5,8%) positivo que
vai beneficiar diretamente, segundo os números do Governo, 720 800
trabalhadores. Este aumento será, necessariamente, utilizado pelas pessoas que
o receberem, para melhorar tenuemente a sua vida.
É justo e traz vantagens para a
economia o estabelecimento de um SMN digno. O nosso continua a não conseguir
tirar da pobreza muitos dos que o auferem. Mesmo assim, quando se chega ao
momento de estabelecer as atualizações, lá vêm as forças políticas da Direita
dizerem que é um exagero e as confederações patronais reclamarem
"contrapartidas".
Esta semana surgiram informações
e notícias que nos vêm confirmar um facto a que já aludi neste espaço: as
dinâmicas do mercado, ou seja, a relativa escassez de mão de obra, a continuada
emigração de trabalhadores jovens qualificados em dimensão significativa (mesmo
que o saldo migratório se tenha alterado positivamente), a existência de
projetos de investimento, conduziram ao aumento do salário médio em quase 3% no
período de um ano - variação homóloga entre setembro de 2018 e setembro de
2019, já divulgada pelo INE. Este número não pode deixar de estar presente na
discussão das bases para qualquer acordo de política de rendimentos.
Esta constatação encaminha-nos
para quatro conclusões com significativo suporte: i) a manter-se esta dinâmica
de mercado, as metas anunciadas por António Costa para estas matérias serão
cumpridas sem grandes obstáculos; ii) não se pode tolerar uma atuação em cartel
por parte das confederações patronais, utilizando a Concertação Social como
instrumento de travagem do crescimento dos salários; iii) O Governo tem à mão
instrumentos que pode e deve utilizar para, por exemplo, tornar digna a
remuneração do trabalho suplementar; iv) tem de ser dinamizada a contratação
coletiva, com velhos e novos conteúdos e garantindo melhoria de condições
profissionais e de vida.
*Investigador e professor
universitário
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