Entre 2007 e 2017 o número de
hospitais privados aumentou de 99 para 114, representando neste último ano
já 50,7% do número total de hospitais existentes no país.
O grande problema é que é a saúde publica que está a financiar isto tudo.
É ao nível dos grandes grupos de
saúde, alguns deles já controlados por entidades estrangeiras, (Grupos
Luz, José Mello Saúde, Lusíadas, Trofa, grupo Hospitais Privados do
Algarve) que se tem verificado o maior crescimento que tem
engolido os pequenos e médios hospitais, assim como as velhas policlínicas,
tornando os consultórios de médicos cada vez mais uma recordação do passado, e
transformando a maioria dos médicos e outros profissionais de
saúde (incluindo os que trabalham também no setor publico) em
autênticos “proletários descartáveis” aos quais pagam uma percentagem do preço
que cobram ao doente, ou por peça (ex. por cada operação que fazem), sem
qualquer vinculo de trabalho permanente.
Morte anunciada da ADSE e SNS
Esta explosão do negócio da saúde
em Portugal, tem sido feita fundamentalmente à custa do Serviço Nacional de
Saúde (SNS) e das suas dificuldades e dos subsistemas públicos de saúde,
nomeadamente da ADSE, que os financiam.
O próprio SNS tem financiado em larga escala o setor privado da saúde e fornecido trabalhadores altamente qualificados (médicos e enfermeiros) a preços baratos sem encargos adicionais para os grupos privados de saúde.
Os subsistemas públicos de saúde,
em particular a ADSE, têm tido também um papel fundamental na promoção dos
grandes grupos privados de saúde, na medida que lhes concedem um tratamento
preferencial em prejuízo dos médios e pequenos prestadores que muito
dificilmente conseguem assinar uma convenção com a ADSE e que são engolidos
pelos grandes grupos.
Recorde-se que só os Hospitais PPP custaram ao SNS 444 milhões em 2018 e, em 2019, essa fatura passada pelos grandes grupos de saúde ao SNS subirá para 474 milhões de euros, ou seja, um crescimento de 6,8%, o que é 7,6 vezes superior ao aumento percentual dos rendimentos do SNS em 2019 que foi apenas de 0,9%.
A promiscuidade público-privada
dos profissionais de saúde que trabalham simultaneamente no SNS e nos grandes
grupos privados, tem contribuído também para a baixa produtividade e mesmo para
a desresponsabilização que se verifica em muitas áreas do SNS, consentida e até
promovida pelos sucessivos governos que se têm recusado a acordar com os
representantes destes profissionais remunerações e carreiras dignas em troco da
exclusividade.
Quem conheça a forma de
funcionamento de pequenos, médios mas fundamentalmente dos hospitais dos
grandes grupos privados de saúde sabe bem que eles possuem um reduzido corpo
clínico próprio permanente, que designam por “médicos e enfermeiros residentes”.
Para além destes possuem
uma enorme carteira constituída por centenas de médicos e também de enfermeiros
que trabalham no SNS, a quem recorrem apenas quando têm serviço
(consultas, operações etc.), e a quem pagam normalmente à peça (por ex. um
preço por operação que realizam que constitui apenas uma parcela que recebem do
doente) ou à percentagem (por ex. 70% do preço cobrado ao doente por
uma consulta ou 20% por um TAC).
Os grandes grupos privados de saúde têm acesso a trabalhadores altamente qualificado a um preço muito baixo (trabalho barato e altamente precário) devido à existência do SNS, à ausência de remunerações, carreiras e condições de trabalho dignas no SNS causado pelo seu sub-financiamento crónico, e à ausência de exclusividade e à má gestão e baixa produtividade que lhes estão naturalmente associadas.
Os grandes grupos privados da saúde, é preciso ter a coragem de o afirmar com clareza, só têm conseguido prosperar, e desenvolver-se da forma como tem acontecido em Portugal à custa do SNS, nomeadamente dos seus profissionais e dos seus recursos financeiros, empobrecendo naturalmente o serviço público de saúde.
SNS é viável
Apesar de tudo o SNS é viável e
tem feito o seu trabalho com a população. Como revela a OCDE, em 2016, a esperança
de vida em Portugal era de 81,3 anos, enquanto a média nos países da União
Europeia era de 81 anos.
Os indicadores apresentados, que
são os mais utilizados para avaliar os ganhos de saúde, revelam que, apesar dos
ataques ao SNS, Portugal continua a apresentar valores mais favoráveis. No
entanto, se a situação não se inverter é evidente que a saúde dos portugueses,
que enfrentam já graves dificuldades no acesso a serviços, se degradará rápida
e inevitavelmente.
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