Se os progressistas visam a um
projeto estratégico, faz-se cada vez mais urgente contar com educação cidadã
No regime de exceção em que
vivemos, os demônios interpretam a bíblia em proveito próprio, como William
Shakespeare bem previra, há cinco séculos.
De fato, até mesmo o “uti
possidetis”, princípio invocado por Rio Branco para defender um nono do
território nacional – pretensão de países vizinhos – acabou conspurcado pelo
Tribunal Regional Federal da Quarta Região, ao sentenciar que a simples utilização
confere a alguém a posse.
Trata-se, evidentemente, de “law
fare” – quando a lei é utilizada com finalidade político-partidária; uma
prostituição do direito; um vilipêndio da justiça.
Coerentemente – os bordéis não
são posse de quem os frequenta mas por eles são mantidos, o “conselheiro”
(agente da CIA, na verdade) da “embaixada” dos Estados Unidos da América
visitou recentemente a referida repartição, onde foi recebido com sorrisos e
fotografias.
Vale recordar que, segundo Edward
Snowden – que montou o atual sistema de espionagem eletrônica dos EUA, as
embaixadas americanas atualmente nada mais são do que agências de arapongajem
(os consulados, inclusive).
Na capital do império decadente,
o secretário de Estado, Mike Pompeo, afirmou que o governo dos EUA está pronto
a intervir na América Latina para reprimir manifestações. Se havia alguma
dúvida sobre a condição neocolonial que o império busca impor à região, as duas
intervenções dissipam-nas.
De fato, tanto a Bolívia quanto o
Uruguai cresciam a taxas altas – para a região, há mais de uma década.
Entretanto, ambos os governos foram vítimas de revezes, por meio de golpe de
estado e nas urnas, respectivamente.
Portanto, se os progressistas
visam a um projeto estratégico para a região, faz-se cada vez mais urgente
contar com educação cidadã.
Um projeto que explicite, por
exemplo, como o imperialismo busca reduzir-nos à condição de colônia,
novamente.
A recusa do sinistro da
“educação” (sic) em participar das reuniões de ministros da educação do
Mercosul deixa clara a obediência canina do atual desgoverno à cartilha da
recolonização, pela qual as relações exteriores devem se limitar à metrópole ou
por elas serem mediadas.
Outro ponto que o desgoverno segue
à risca é a desindustrialização do país. Após ceder a Embraer praticamente de
graça para a decadente Boeing, o desgoverno quer que até a moeda nacional seja
impressa por empresa estrangeira, razão pela qual já iniciou a privatização da
Casa da Moeda.
O Banco do Brasil, instituição
criada por D. João VI, em 1808, também está na mira das privatizações, deixando
claro que o projeto é de retornarmos ao período colonial, anterior à chegada da
família real – em fuga da Europa – e, por isso, obrigada a revogar algumas das
interdições coloniais, como a criação de manufaturas e a emissão de crédito.
Pior, a cessão de território
continua: após a cessão de Alcântara aos EUA, serão privatizados o Parque
Nacional de Iguaçu (segundo destino internacional no Brasil), os Lençóis
Maranhenses e Jericoaquara.
Não sobrará muito deste pobre
país.
Aliás, ao “reagir” à imposição de
taxação sobre o aço e o alumínio brasileiros, por Trump, o desgovernante disse:
“O que fazer, somos pobres”.
Na verdade, pobres são eles, seus
eleitores, correligionários, família e milicianos com os quais ele e família
mantêm estreitas relações.
De fato, a inexistência de
política externa é uma das principais marcas de uma colônia, o que somos
atualmente, cabendo indagar se embaixadores e embaixadoras são meros mercenários,
pois têm consciência da própria inutilidade.
Outra característica de uma
colônia é não contar com política de defesa. Como as colônias da atualidade não
podem dizer seu nome – para parafrasear Oscar Wilde e a definição dele de
homoafetividade, as forças armadas nacionais foram simplesmente cooptadas pelo
invasor, a preço de aumento da remuneração, inclusive aposentadoria integral
sem limite de idade, bem ao contrário dos demais servidores, cidadãos e cidadãs
do país.
Seria de corar, se já não
tivessem sido coniventes com a entrega da Embraer, do pré-sal e demais
riquezas, inclusive da Amazônia, sem falar das diárias milionárias embolsadas
nas intervenções “fake” no Rio de Janeiro e na Amazônia, pois como diriam os
colegas, diária é bom e todo mundo gosta.
Por outro lado, assistimos reação
institucional e da sociedade civil: juiz de Brasília sentencia “law fare” e
isenta Lula, Dilma e Guido Mantega de processo absurdo. O presidente indicado,
racista, da Fundação Palmares é impedido de tomar posse (sim, negros racistas
existem); e o esquema de distribuição maciça de “fake news” pelos
desgovernantes atuais acaba de ser desmascarado.
O Natal se aproxima, que cessem
os genocídios em São Paulo e no Rio; que a denúncia do desgoverno brasileiro de
genocídio indígena, ao Tribunal Penal Internacional da ONU, possa ser apreciada
no contexto dos genocídios socioeconômicos e raciais que promovem os
governadores de São Paulo e Rio; que a justiça volte e que deixemos de ser
colônia, para que também a paz possa retornar.
Milton Rondó | Carta Capital
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