UE criticada por querer cortar o
fundo destinado aos mais carenciados. 33 milhões de europeus vivem em pobreza
extrema
Um reforço previsto do
investimento na Defesa também não agrada os críticos. A saída do Reino Unido
vai provocar um abalo orçamental que a UE está a tentar conter
Quando o Reino Unido finalmente
abandonar a UE, o que deve acontecer depois de terminado o período de transição
(até ao fim de 2020), a contribuição britânica para os cofres de Bruxelas deixa
de existir. Para se tentar antecipar a este percalço orçamental anunciado, a UE
está a ponderar cortar em 50% os fundos para os programas que ajudam os mais
carenciadas - bancos alimentares, por exemplo - o que está a provocar alguma
indignação entre os membros do terceiro sector.
Jacques Vandenschrik, presidente
da Federação Europeia de Bancos Alimentares, citado pelo “The Guardian”, disse
que a proposta a ser discutida na Comissão Europeia representa um risco para a
coesão social. “As consequências serão um aumento na instabilidade e um
decréscimo da civilidade. Se as pessoas e os seus filhos estiverem com fome,
terão outros planos para encontrar forma de subsistência, o que não será
agradável para a sociedade. Não podemos progredir deixando os pobres de lado.
Este não é o caminho para melhorarmos as nossas sociedades.” O responsável foca
o leste da Europa como uma das zonas que mais podem vir a sofrer com estes
cortes, essa que é também, politicamente, a área com a qual a UE mais se tem
preocupado. No total, 33,1 milhões de europeus (ou quase 7% da população) vivem
em pobreza extrema.
Atualmente ainda não se conhece o
orçamento a longo prazo da UE mas a saída do Reino Unido vai deixar um buraco
nas contas de diâmetro considerável. Em 2018, a contribuição líquida do Reino
Unido para o orçamento da UE foi de 5 mil milhões de libras (cerca de 5,9 mil
milhões de euros) e os responsáveis europeus que falaram com o jornal britânico
admitem que as negociações para o orçamento plurianual serão as mais difíceis
alguma vez encetadas em Bruxelas. Neste momento, a UE tem um plano de despesa
que ultrapassa os 1,1 biliões de euros e é preciso encontrar forma de o
financiar.
O orçamento atualmente em vigor
destina 3,8 mil milhões de euros ao fundo para as populações com mais carências
(FEAD), que ajuda os Estados-membros a fornecerem aos seus cidadãos os
primeiros níveis de ajuda à sobrevivência: roupa, comida, higiene. No plano que
está a ser discutido (2021-2027) não haveria qualquer alocação de fundos
dedicados especificamente a estes cuidados básicos mas a UE vai pedir a cada
Estado que reserve um total de dois mil milhões de euros do orçamento no
sentido de os manter como até aqui. Nenhum país está obrigado a cumprir estas
metas, mas uma porta-voz da Comissão disse esperar que os Estados-membros
“invistam o dobro deste valor mínimo”. “Depois de um estudo de impacto social,
a Comissão decidiu fundir os dois fundos de ajuda social para assegurar
melhores sinergias entre eles”, disse a porta-voz, assegurando que “a comissão
está confiante de que essa quantia alvo de financiamento será respeitada pelos
Estados-membros e estará vigilante para garantir isso”.
O facto de a UE querer investir
cerca de 13 mil milhões de euros num fundo destinado à investigação na área da
Defesa também não ajuda a acalmar os críticos.
Ana França | Expresso
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