Domingos De Andrade*
| Jornal de Notícias | opinião
A Saúde e a Educação são os
verdadeiros barómetros de como um Estado e os governos, que temporariamente são
encarregados pelos eleitores da coisa pública, tratam os seus cidadãos.
Deixemos as questões do Ensino
para outras núpcias. Não que a falta de investimento não seja visível, apesar
do esforço do ministro Tiago Brandão Rodrigues, um resistente que veio de fora
do circuito da política, mas que tem por via de uma paixão pela Educação
tentado manter a Escola como o único elevador social do país.
Mais problemático é o que se
passa na Saúde, não bastando já acreditar que os milagres se operam em função
da habilidade ou inabilidade do detentor da pasta, que tem servido, sem exceção
nesta década, sobretudo como muralha e alvo privilegiado das reivindicações das
diversas corporações.
Aquilo a que assistimos, quase
diariamente, é a um misto de impotência, resiliência e desistência dos
profissionais do setor, face ao desespero dos doentes. Mas, essencialmente, ao
desmoronar da confiança dos cidadãos naquele que deveria ser outro grande pilar
do Estado social.
Não são palavras vãs, nem apenas
sinais quando percebemos, como contava este jornal esta semana, que são as
classes média e baixa que mais contratam seguros de saúde. Ou quando os números
nos mostram que de pouco vale querer fazer dos cuidados primários toda uma
política quando faltam à partida médicos de família. Ou quando os médicos mais
experientes fogem para o privado, deixando o público entregue ao
experimentalismo e inexperiência de estagiários ou tarefeiros. Já para não
falar dos encerramentos de urgências, dos doentes amontoados, de casos
dramáticos como o de uma grávida de Aveiro que esta semana perdeu o feto às 40
semanas depois de ter ido três vezes às urgências do hospital, ficando-lhe para
sempre a dúvida sobre se não poderia ter tido outra atenção.
O que se exige deste Governo,
passada a legislatura da devolução de rendimentos, é que tenha uma estratégia
pelo menos para os sustentáculos do Estado social. Porque o PS, pai do Serviço
Nacional de Saúde, parece ser hoje o maior algoz do sistema.
*Diretor
Sem comentários:
Enviar um comentário