domingo, 1 de dezembro de 2019

Portugal | Velório na saúde


Domingos De Andrade* | Jornal de Notícias | opinião

A Saúde e a Educação são os verdadeiros barómetros de como um Estado e os governos, que temporariamente são encarregados pelos eleitores da coisa pública, tratam os seus cidadãos.

Deixemos as questões do Ensino para outras núpcias. Não que a falta de investimento não seja visível, apesar do esforço do ministro Tiago Brandão Rodrigues, um resistente que veio de fora do circuito da política, mas que tem por via de uma paixão pela Educação tentado manter a Escola como o único elevador social do país.

Mais problemático é o que se passa na Saúde, não bastando já acreditar que os milagres se operam em função da habilidade ou inabilidade do detentor da pasta, que tem servido, sem exceção nesta década, sobretudo como muralha e alvo privilegiado das reivindicações das diversas corporações.

Aquilo a que assistimos, quase diariamente, é a um misto de impotência, resiliência e desistência dos profissionais do setor, face ao desespero dos doentes. Mas, essencialmente, ao desmoronar da confiança dos cidadãos naquele que deveria ser outro grande pilar do Estado social.


Não são palavras vãs, nem apenas sinais quando percebemos, como contava este jornal esta semana, que são as classes média e baixa que mais contratam seguros de saúde. Ou quando os números nos mostram que de pouco vale querer fazer dos cuidados primários toda uma política quando faltam à partida médicos de família. Ou quando os médicos mais experientes fogem para o privado, deixando o público entregue ao experimentalismo e inexperiência de estagiários ou tarefeiros. Já para não falar dos encerramentos de urgências, dos doentes amontoados, de casos dramáticos como o de uma grávida de Aveiro que esta semana perdeu o feto às 40 semanas depois de ter ido três vezes às urgências do hospital, ficando-lhe para sempre a dúvida sobre se não poderia ter tido outra atenção.

O que se exige deste Governo, passada a legislatura da devolução de rendimentos, é que tenha uma estratégia pelo menos para os sustentáculos do Estado social. Porque o PS, pai do Serviço Nacional de Saúde, parece ser hoje o maior algoz do sistema.

*Diretor

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