Desgaste do neoliberalismo
alastra-se e chega à Colômbia. Cavalga na paralisia dos EUA, perdidos em
disputas internas e fracassos geopolíticos. Washington ainda pode vetar e
estrangular – mas impasses vão crescer, e exigem respostas
“Muitos no Departamento de Estado
perderam o respeito por Mike Pompeo –
por um bom motivo. Seu comportamento
é uma das coisas mais vergonhosas
que já vi em 40 anos de cobertura
da diplomacia americana”.
Thomas Friedman, no New York
Times
Num primeiro momento, pensou-se
que a direita retomaria a iniciativa, e se fosse necessário, passaria por cima
das forças sociais que se rebelaram, e surpreenderam o mundo durante o “outubro
vermelho” da América Latina. E de fato, no início do mês de novembro, o governo
brasileiro procurou reverter o avanço esquerdista, tomando uma posição
agressiva e de confronto direto com o novo governo peronista da Argentina. Em
seguida interveio, de forma direta e pouco diplomática, no processo de
derrubada do presidente boliviano, Evo Morales, que havia acabado de obter 47%
dos votos nas eleições presidenciais da Bolívia. A chancelaria brasileira não
apenas estimulou o movimento cívico-religioso da extrema-direita de Santa Cruz,
como foi a primeira a reconhecer o novo governo instalado pelo golpe
cívico-militar e dirigido por uma senadora que só havia obtido 4,5% dos votos
nas últimas eleições. Ao mesmo tempo, o governo brasileiro procurou intervir no
segundo turno das eleições uruguaias, dando seu apoio público ao candidato
conservador, Lacalle Pou – que o rejeitou imediatamente – e recebendo em
Brasília o líder da extrema-direita uruguaia que havia sido derrotado no
primeiro turno, mas que deu seu apoio a Lacalle Pou no segundo turno.
Mesmo assim, ao fazer-se um
balanço completo do que passou no mês de novembro, o que se constata é que uma
expansão da “onda vermelha” havia se instalado no mês anterior no continente
latino-americano. Nessa direção, e por ordem, o primeiro que aconteceu foi a
libertação do principal líder da esquerda mundial, segundo Steve Bannon, o
ex-presidente Lula, que se impôs à resistência da direita civil e militar do
país, graças a uma enorme mobilização da opinião pública nacional e
internacional. Em seguida aconteceu o levante popular e indígena da Bolívia,
que interrompeu e reverteu o golpe de Estado da direita boliviana e brasileira,
impondo ao novo governo instalado a convocação de novas eleições presidenciais
com direito à participação de todos os partidos políticos, incluindo o de Evo
Morales. Da mesma forma, a revolta popular chilena também obteve uma grande
vitória com a convocação, pelo Congresso Nacional, de uma Assembleia
Constituinte que deverá escrever uma nova Constituição para o país, enterrando
definitivamente o modelo socioeconómico herdado da ditadura do General
Pinochet. E mesmo assim, a população rebelada ainda não abandou as ruas e deve
completar dois meses de mobilização quase contínua, com o alargamento
progressivo da sua “agenda de reivindicações” e a queda sucessiva do prestígio
do presidente Sebastian Piñera, que hoje está reduzido a 4,6%. Neste momento, a
população segue discutindo nas praças públicas, em cada bairro e província, as
próprias regras da nova constituinte, prenunciando uma experiência que pode vir
a ser revolucionária, de construção de uma constituição nacional e popular,
apesar de ainda existirem partidos e organizações sociais que seguem exigindo
um avanço ainda maior do que o que já foi logrado.