A comunidade cabo-verdiana de
Bragança está intranquila com o arrastar da investigação à morte de Giovani e
nas redes sociais já correm fotos de alegados implicados.
O JN reconstitui os
acontecimentos da noite trágica para o estudante africano
O caso Giovani parece estar a
marcar passo e os cabo-verdianos de Bragança mostram-se intranquilos. Ainda não
há detenções, 17 dias após ter sido declarada a morte do aluno cabo-verdiano do
Instituto Politécnico de Bragança (IPB).
Nas redes sociais já são partilhadas
fotografias dos alegados implicados, cerca de 15 pessoas, todas residentes em Bragança ou
em aldeias do concelho, que terão participado na rixa que viria a resultar na
morte de Giovani.
Anteontem, o embaixador de Cabo Verde deslocou-se ao IPB
para tranquilizar a comunidade estudantil do seu país e encontrar-se com dois
dos três alunos agredidos na mesma noite em que Giovani. Eurico Correia
Monteiro revelou ter sinais de que o caso "de enorme gravidade" terá
um desfecho "a breve trecho".
O filme dos acontecimentos
Na madrugada de 21 de dezembro,
Giovani Rodrigues, 21 anos, tinha saído do Bar Lagoa Azul, na Avenida Sá
Carneiro, na companhia de três amigos, todos cabo-verdianos, de 19, 20 e 23
anos. Andaram 300 metros até serem atacados.
Momentos antes, ainda dentro do bar, o mais velho do grupo
ter-se-á envolvido numa discussão com dois homens de Bragança. A desavença
foi serenada prontamente pelos seguranças. Os quatro jovens, todos alunos do
IPB, ficaram dentro do bar mais 20 minutos, a pedido dos seguranças, para
evitar desacatos no exterior.
Quando saíram, tinham à sua
espera um grupo com mais de uma dezena de pessoas munidos de paus e cintos que
prontamente os agrediram. O estudante mais velho foi o primeiro a ser agredido.
Ao ver o colega ser agredido, Giovani pediu aos agressores para pararem e,
nessa altura, bateram-lhe violentamente.
"Ele não reagiu e foi
preciso puxá-lo debaixo dos outros que lhe batiam. Ele levantou-se a cambalear e a queixar-se de dores, caminhando
com auxílio dos colegas", contou uma fonte próxima.
Giovani seguiu sozinho após rixa
No meio da confusão, os quatro
amigos separaram-se. Dois voltaram para trás à procura de um casaco e de um
telemóvel. Giovani terá seguido sozinho. Foi encontrado tombado e inconsciente
pelas 3.45 horas naquela avenida por uma patrulha da PSP.
Nessa noite, cerca das 3.15, a
PSP havia sido acionada para uma rixa à porta do bar, mas quando chegaram ao
local, apenas seis minutos depois, não verificaram "qualquer desordem no
exterior do bar".
"No local, apenas se
encontravam dois cidadãos" - a PSP não revela qual a sua nacionalidade -,
"um dos quais informou os polícias que teria sido agredido por um grupo de
jovens, que já não se encontravam no local, não desejando qualquer tratamento
hospitalar, nem procedimento criminal", lê-se no comunicado da PSP.
Jovem inanimado no chão
A Polícia adianta que, às 3.45
horas, uma outra patrulha se deparou com um jovem caído no chão "inanimado
e com forte odor a álcool proveniente do vomitado no seu vestuário". "Face este cenário, pelas 03h48, foi imediatamente acionada pelos polícias
a assistência médica através do INEM, tendo o jovem sido transportado pela
ambulância dos bombeiros às urgências da unidade hospitalar de Bragança a qual,
cerca das 6.00, contactou a PSP e disse que o jovem que tinha sido encontrado
pela PSP e que ali havia dado entrada, teria sido vítima de agressão",
revelou a direção nacional da PSP.
Fonte ligada ao processo adiantou
que o estudante apresentava vários hematomas no corpo e um ferimento grave na
cabeça. Segundo contou o pai de Giovani, José Rodrigues, à estação de televisão
pública de Cabo Verde, esse ferimento terá estado na "origem de um derrame
cerebral de grande dimensão" que acabaria por lhe custar a vida, após dez
dias em coma.
Polémica e troca de queixas
O caso está ainda em fase de
investigação e envolto em alguma polémica. Segundo apurou o Jornal de Notícias,
a primeira participação à PSP foi feita por dois dos agressores que se
queixaram à patrulha destacada para uma suposta agressão à porta do Lagoa Azul,
que os agentes não encontraram, que haviam sido agredidos por um grupo de 15
africanos.
O JN tentou contactar os alunos
cabo-verdianos agredidos, porém não foi possível porque os dois mais novos, um
dos quais está em Bragança desde outubro, tal como Giovani, "estão muito
assustados e foram recomendados pela polícia a não prestar declarações".
O terceiro, com o qual terá
iniciado a discussão, encontra-se fora do país. Também ele sofreu vários
ferimentos.
Comandante da PSP afasta
xenofobia ou racismo
No dia 27 de dezembro, o pai de
Giovani diz que foi à PSP de Bragança, apresentar queixa e dar conta que o
filho se encontrava em morte cerebral no hospital, mas que não lhe permitiram
que fizesse a participação.
O comandante da PSP, José Neto,
referiu que lhe foi explicado que não havia necessidade por se tratar de um
crime público.
"Esteve cá, conversou connosco e foi mais tranquilo. Uma das
coisas que ele queria muito que ficasse perfeitamente claro tinha a ver com o
estado de saúde do filho. As pessoas que o atenderam deram-lhe as
explicações", afirmou José Neto, acrescentando que "é importante que
passe a mensagem de que não há aqui nenhum ato associado a motivações xenófobas
ou racistas".
Glória Lopes | Jornal de Notícias
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