Pedro Ivo Carvalho
| Jornal de Notícias | opinião
É da levada íngreme em direção à
irrelevância que foge o CDS. É da absoluta necessidade de voltar à esfera do
poder que depende o êxito dessa fuga. E é a urgência em consegui-lo que vai
determinar o grau de empenho e o estilo do novo líder do partido, Francisco
Rodrigues dos Santos.
Ele que, em poucos meses, poucos
acreditaram ser capaz de chegar, ver e vencer. Ele que, ancorado numa
estratégia pragmática, de afrontamento aos barões, fazendo uso da irreverência
da idade e de um discurso menos tolerante com o status, sonha com um CDS como
farol da Direita. Um CDS declaradamente conservador, mais musculado. Que faça
caminho do extremo para o meio e não o inverso. "Seremos um partido que se
tornará sexy", enfatizou o presidente que já não quer ser tratado por
"Chicão".
Mas a Direita de hoje, esta
Direita onde agora o novel presidente quer estacionar o partido, não é a mesma
que guindou o CDS ao Governo de Passos Coelho. Que gerou ministros e
secretários de Estado. A Direita onde o CDS versão 2020 quer florescer, a
"nova Direita", como a designa Francisco, é também a Direita do
Chega, dos populismos, do ascendente da mensagem acéfala das redes sociais no
discurso político, da intransigência. Uma Direita com trincheiras, de facas na
liga, sem travões que não os muito poucos que cria para si própria.
Ora, um CDS mais extremado do que
aquele que vimos na vigência de Assunção Cristas terá necessariamente de
disputar esse eleitorado. Porque a tal levada íngreme em direção à irrelevância
de que foge um partido com cinco deputados pode transformar-se muito
rapidamente num precipício sem retorno. Salvar-se ou morrer, eis o dilema do
CDS. Veremos que efeitos terão no discernimento político de Francisco Rodrigues
dos Santos os instintos de sobrevivência desta "nova Direita".
* Diretor-adjunto
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