Com o Supremo Tribunal de Justiça
a pedir à CNE um novo apuramento nacional dos resultados das eleições
presidenciais, jurista ouvido pela DW África só vê uma opção: encontrar uma
solução política.
O Supremo Tribunal de Justiça não
aceitou o pedido de nulidade da segunda volta das eleições, mas, na sexta-feira
(14.02), voltou
a exigir à Comissão Nacional de Eleições (CNE) a realização do
apuramento nacional dos resultados eleitorais, uma exigência que a entidade
gestora do processo eleitoral havia recusado cumprir, alegando que já tinha
"esgotado os seus poderes no processo".
No entanto, perante o novo
acórdão do Supremo, e face ao silêncio até agora da CNE, o jurista Bernardo
Mário Catchura não encontra uma solução jurídica para o atual impasse
pós-eleitoral na Guiné-Bissau.
"A saída só poderá ser
política", afirma Catchura em entrevista à DW África. "Juridicamente,
o tribunal já demonstrou a sua posição clara em como a CNE ainda não publicou
os resultados. Ou seja, juridicamente, considera-se que, até à data presente,
não se fez o pronunciamento dos resultados quer provisórios, como definitivos,
porque o próprio acórdão, na aclaração, considera que são inexistentes os atos
praticados pela CNE, o que demonstra que uma saída política será mais provável
de que uma saída jurídica".
"Um imbróglio complexo"
Ainda não há uma reação das
candidaturas de Domingos Simões Pereira e de Umaro Sissoco Embaló, que
continuam em silêncio, quando faltam dez dias para a data
anunciada por Umaro Sissoco Embaló para a sua investidura, 27 de
fevereiro.
Embaló foi o vencedor da segunda
volta das eleições presidenciais de 29 de dezembro de 2019, declarado pela CNE.
Mas o jornalista Bacar Camará não acredita que o político avance para a sua
investidura nestas circunstâncias,uma vez que o processo continua pendente no
Supremo Tribunal de Justiça, o órgão a que compete legitimar a sua eleição.
Segundo Camará, "estamos
perante um imbróglio jurídico eleitoral muito complexo. A Comissão Nacional de
Eleições mantém-se ainda irredutível em não cumprir com a decisão do Supremo
Tribunal de Justiça - aliás, já tinha dito que não vai fazer mais nada - pelo
que tudo, a meu ver, vai manter-se na mesma".
Apelo da sociedade civil
Com a indefinição política no
país, a presidente do Fórum da Intervenção Social das Jovens Raparigas
(FINSJOR), Genabu Candé, deixa um apelo de união à classe política.
"Com instabilidade política,
não vai haver o desenvolvimento do nosso país. As mulheres, que são as mães,
precisam da tranquilidade da Guiné-Bissau e da proteção, mas é preciso a união
dos políticos, pois, sem essa união, não haverá o desenvolvimento
almejado", afirmou Candé.
No acórdão divulgado na
sexta-feira passada, o Supremo Tribunal de Justiça não reconheceu os trabalhos
feitos pela CNE, a pedido da Comunidade Económica dos Estados da África
Ocidental (CEDEAO), que consistiram na "verificação da consolidação
nacional dos dados eleitorais". Os juízes conselheiros esclareceram que
"não apreciam atos de valor extraprocessuais pretensamente eleitorais,
praticados em cumprimento de recomendações políticas".
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche Welle
Nas imagens: Umaro Sissoco Embaló; Domingos Simões Pereira
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