A residência do primeiro-ministro
guineense, Aristides Gomes, voltou hoje a ser palco de um momento de tensão,
depois de ter sido cercada por forças de segurança por causa de viaturas de
Estado.
"Mais uma vez a polícia de
intervenção rápida apareceu cá e foi-se reforçando em termos de efetivos bem
armados à procura de veículos do Estado", afirmou aos jornalistas
Aristides Gomes.
Aristides Gomes explicou que uma
série de viaturas de vários membros do Governo, bem como as respetivas chaves,
estão em sua casa sob proteção da Ecomib, força de interposição
da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO),
porque aquelas pessoas deixaram de ter proteção em casa.
"A polícia que está a
trabalhar para o novo grupo que se autoproclamou como Governo quer
levar os carros sem deixar um documento sequer, quando nos assuntos do Estado
não se pode apropriar dos bens de Estado sem deixar traços. Forçaram tudo,
estiveram numa espécie de puxa-puxa com os soldados da Ecomib e
acabaram por levar um carro", disse Aristides Gomes.
Ao momento assistiram centenas de
guineenses que se foram acumulando próximo da residência de Aristides Gomes,
situado no centro de Bissau, que acabaram por apupar as forças de segurança
quando abandonaram o local.
De seguida, a população
insurgiu-se contra as forças da Ecomib, que acabou por ser reforçada já as
forças de segurança guineenses tinham saído do local.
"A população também se
revoltou contra a Ecomib face à sua impotência, que não soube
proteger as viaturas que pertencem às instituições governamentais",
afirmou Aristides Gomes.
O primeiro-ministro guineense
disse que a "força é que está novamente a imperar nos assuntos ligados ao
Estado da Guiné-Bissau".
Aristides Gomes disse que a Ecomib perdeu
o controlo das instituições de Estado, que foram ocupadas, incluindo os
tribunais e o Palácio do Governo.
"Desenrola-se sobre os olhos
do cidadão comum da Guiné-Bissau um processo, que mais uma vez o Estado está a
desmoronar-se cada vez. Quem tem força consegue apoderar-se do Estado e fazer
aquilo que entender", salientou.
Aristides Gomes disse que toda a
comunidade internacional está ao corrente sobre o que se está a passar no país.
Questionado sobre a missão de
alto nível da CEDEAO que chega segunda-feira a Bissau, Aristides
Gomes disse que é "puramente técnica, ligada ao contencioso
eleitoral" e que devia ter chegado há muito tempo.
"Agora há uma tentativa da CEDEAO de
recuperar o tempo perdido enviando esta missão. Infelizmente, a missão chega
numa situação muito difícil em que o próprio Supremo Tribunal diz que não tem
condições para trabalhar, porque tinha sido ocupado", disse, questionado
sobre a forma como se vai julgar um assunto ligado a duas pessoas, quando
"uma já se apoderou do Estado".
Aristides Gomes garantiu também
aos jornalistas que vai continuar a fazer o seu papel, para que o país não
derive para um "desaparecimento total do Estado".
"Nós precisamos do Estado
para o nosso desenvolvimento", salientou.
A Guiné-Bissau vive mais um
momento de tensão política, depois de Umaro Sissoco Embaló, dado
como vencedor das eleições presidenciais do país pela Comissão Nacional de
Eleições, ter tomado posse há uma semana como Presidente do país, quando ainda
decorre um recurso de contencioso eleitoral no Supremo Tribunal de Justiça,
apresentado pela candidatura de Domingos Simões Pereira, que alega graves
irregularidades no processo.
Na sequência da tomada de posse, Umaro Sissoco Embaló demitiu
Aristides Gomes, que lidera o Governo que saiu das legislativas e que tem a
maioria no parlamento do país, e nomeou Nuno Nabian para o cargo.
Após estas decisões, os militares
guineenses ocuparam e encerraram as instituições do Estado guineense, impedindo
Aristides Gomes e o seu Governo de continuar em funções.
O presidente da Assembleia
Nacional Popular, Ciprinao Cassamá, que tinha tomado posse na
sexta-feira como Presidente interino, com base no artigo da Constituição que
prevê que a segunda figura do Estado tome posse em caso de vacatura na
chefia do Estado, renunciou no domingo ao cargo por razões de segurança,
referindo que recebeu ameaças de morte.
Umaro Sissoco Embaló afirmou
que não há nenhum golpe de Estado em curso no país e que não foi imposta
nenhuma restrição aos direitos e liberdades dos cidadãos.
Mediadora da crise guineense, a
Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) voltou a
ameaçar impor sanções a quem atente contra a ordem constitucional estabelecida
na Guiné-Bissau e acusou os militares de se imiscuírem nos assuntos políticos.
As Nações Unidas, a União
Europeia e a Comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) apelaram ao
diálogo e à resolução da crise política com base no cumprimento das leis e da
Constituição do país.
Notícias ao Minuto | Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário