A cidade de Díli foi fustigada
pelas chuvas. As ribeiras transbordaram e muitos bairros estão inundados.
Ocorreram mortes e muitos prejuízos materiais.
M. Azancot deMenezes* | Jornal Tornado
Há défice de cidadania, má
governação e esquece-se que as inundações mais frequentes no país são as cheias
rápidas, perigosas pela sua velocidade e capacidade destruidora.
Num momento em que Timor-Leste
atravessa mais uma crise política devido à falta de entendimento (quase
permanente) entre a liderança, actualmente com um governo praticamente
inoperante, como se não bastasse, no passado dia 13 de Março, as fortes
chuvadas provocaram a morte de várias pessoas e o caos na cidade de Díli.
Há vários sucos (divisões
administrativas que podem ser constituídas por uma ou mais aldeias) inundados,
Taibessi, Bidau, Balide, Matadouro e outras zonas da cidade estão parcialmente
inundadas.
A Escola portuguesa, por exemplo,
foi fortemente afectada, com correntes de água provenientes da ribeira de Bidau
(Leste da cidade de Díli) que derrubaram um dos muros e obrigaram alunos
e professores a subir para o 1º andar.
Chuvas tropicais, morfologia do
território e ineficácia do governo
É sabido desde o tempo colonial, “as
catástrofes naturais que mais afectam o território de Timor-Leste são
provocadas maioritariamente por inundações, tempestades, escorregamentos,
sismos, tsunamis e erosão, sendo a actividade humana um factor agravante na
maioria dos casos” (Filipe Thomaz, et al, 2002).
Esta vertente, a “actividade
humana”, agrava a situação e deve merecer a atenção particular de governantes e
cidadãos, mas isso não acontece.
O aumento demográfico que se está
a registar na cidade de Díli, em 2015 havia cerca de 253 mil habitantes, e a
falta de controlo governamental, na medida em que há uma forte pressão do
ambiente pela alteração do uso do solo, contribuem para a mudança das relações
naturais, como a impermeabilização e a canalização do escoamento.
Os governantes não podem esquecer
que “as elevadas precipitações, os acentuados declives, as bacias hidrográficas
de reduzidas dimensões e o estado do coberto vegetal são alguns dos factores
que provocam este tipo de inundações” (Fonte: Atlas de Timor-Leste, 2002).
As construções desorganizadas, o
uso e a ocupação do solo urbano sem os necessários estudos (competentes) sobre
o impacto que essas acções geram ao ambiente são alarmantes e apresentam
complicações geológicas devido às construções em áreas de declividade,
portanto, originando quedas de pontes e de outras construções, bem como,
deslizamentos.
Em relação à problemática em
torno da nova ponte (BJ Habibie) situada no final da rua principal do Bairro de
Lecidere que faz a ligação para a praia da Areia Branca, há necessidade
absoluta de reflexão e análise.
Tomei conhecimento de fonte
fidedigna que houve uma proposta portuguesa para a resolução do
problema de todo o sistema hidráulico de Díli, com uma obra no valor de 150
milhões de dólares. A proposta foi ao Parlamento Nacional, sem aprovação.
Os chineses, através da sua
Embaixada, apareceram e disseram que se ofereciam para a construção do “sistema
hidráulico de Díli”, com o orçamento de 150 milhões de dólares, mas de forma
gratuita.
Os deputados não aceitaram o
orçamento da obra em favor da ADP – Águas de Portugal uma vez que os chineses a
ofereciam, mas, depois, estes nada fizeram. Está tudo por fazer..não aceitaram
os portugueses, aceitaram os chineses, mas estes últimos nada fizeram.
Entretanto, o governo timorense
decidiu construir a ponte, em outro negócio, e agora a ponte caiu parcialmente
com as chuvas de 13 de Março. Note-se que, antes, havia uma obra de 1960,
construída pelos portugueses, contudo, a população timorense aumentou 26
vezes.
Face a este descalabro, o
Secretário de Estado da Protecção Civil, no dia 13, anunciou a necessidade de
nova obra no valor de 250 milhões de dólares. Que mais dizer?
Sobre esta matéria, eis o
testemunho de um português que conhece bem a realidade de Timor-Leste:
“o grande problema é que os
portugueses fizeram uma obra hidráulica em 1960 quando a cidade tinha uma
dezena de milhar de habitantes … agora .. encanaram linhas de água ..
construíram em cima .. a água ganha velocidade a descer de Dare .. leva tudo na
frente ..”
Lixo na cidade de Díli
Quem conhece bem a cidade de Díli
pode observar o lixo crescente nas ruas da cidade, principalmente com milhares
de garrafas de plástico que entopem os esgotos e muitas delas vão para o mar,
sabendo-se que levam 400 anos no processo de degradação.
As áreas comerciais, jardins
públicos da cidade e residências não escaparam à força das águas.
PhD em Educação / Universidade de
Lisboa
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