No Ceará, UTIs já rejeitam
pacientes; mesmo SP, à beira do esgotamento. Enquanto pandemia avança,
Bolsonaro insiste na “volta ao trabalho” — e nomeia, no lugar de Mandetta, um
ministro-empresário, sem experiência real com SUS
Maíra Mathias e Raquel Torres | Outras Palavras
A CHEGADA DE NELSON TEICH
O oncologista Nelson Teich foi recebido no Palácio do Planalto às 9h de ontem. Lá, uma pequena multidão participou da sua sabatina: estiveram presentes os ministros militares, o advogado-geral da União, o diretor-presidente da Anvisa e até o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB) – entidade que fez intenso lobby pela indicação. Teich foi ao encontro com um discurso pronto: o de que era um “equívoco” saúde e economia não trabalharem juntas – pois “a saúde não vive sem a economia” e “a economia não vive sem a saúde”. Foi prontamente convidado para assumir o Ministério da Saúde. Primeiro, pediu tempo pra consultar a família. Depois, avisou que aceitava o convite.
A saída de Luiz Henrique Mandetta do governo se diferenciou das anteriores até na forma. Quando decidiu tirar Ricardo Vélez Rodríguez, Bolsonaro foi ao Twitter anunciar que havia escolhido Abraham Weintraub como substituto. No caso do falecido Gustavo Bebianno, a intensa fritura aconteceu na mesma rede social, mas foi articulada pelo filho 02, Carlos Bolsonaro. Desta vez, o presidente ligou para o gabinete do ex-ministro e o chamou ao Planalto. Uma vez com o pé fora do gabinete presidencial, Mandetta não teve dúvidas: em um gesto político claro, se antecipou e anunciou via Twitter a própria exoneração – frisando de quem era a responsabilidade: “Acabo de ouvir do presidente Jair Bolsonaro o aviso da minha demissão do Ministério da Saúde.” Em meia hora, a postagem que fala do SUS recebeu 127 mil curtidas.
No Planalto, o ex-ministro foi recebido por Bolsonaro e pelo titular da Secretaria de Governo, general Augusto Heleno. Em entrevista ao SBT, o presidente relatou que foi uma conversa tranquila “de 30 minutos”. Mandetta, que disse que a conversa foi “amistosa” e “agradável”, saiu de lá diretamente para o Ministério da Saúde, onde concedeu entrevista à imprensa com mensagens aos servidores e equipe. “Não tenham medo. Não façam um milímetro diferente do que vocês sabem fazer”, disse.
Depois, ao pendurar seu retrato na galeria de ex-ministros em uma cerimônia mais íntima que excluiu quase toda a imprensa, ele foi direto. Citando a “grande massa trabalhadora desse país”, questionou: “O que é falar para eles: ‘vão trabalhar, por que temos que passar por isso rápido’? Se passar por isso rápido significa estressar muito além do razoável o sistema de saúde?”. O SUS, segundo Mandetta, “vai pagar a conta de séculos de negligência, de favela, de falta de saneamento básico, de falta de cuidado com o povo mais humilde” – e sofrerá com o afrouxamento ainda maior das recomendações de distanciamento social que provavelmente vem por aí. “A gente tomou decisões baseado no que está acontecendo no sistema de saúde da Europa, da França, da Inglaterra. O sistema de enfermagem da Inglaterra foi atender com saco de lixo na cabeça”, exemplificou.
Mandetta sai do cargo com 76% de aprovação, segundo a última pesquisa Datafolha. Ontem, foram registrados panelaços em protesto à demissão em capitais como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, Belém, Porto Alegre, Salvador, Vitória e Recife. A primeira onda de protestos aconteceu com o anúncio do ministro via Twitter. A segunda começou às 17h05, quando no Planalto, Jair Bolsonaro apresentava à imprensa o novo ministro.
O oncologista Nelson Teich foi recebido no Palácio do Planalto às 9h de ontem. Lá, uma pequena multidão participou da sua sabatina: estiveram presentes os ministros militares, o advogado-geral da União, o diretor-presidente da Anvisa e até o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB) – entidade que fez intenso lobby pela indicação. Teich foi ao encontro com um discurso pronto: o de que era um “equívoco” saúde e economia não trabalharem juntas – pois “a saúde não vive sem a economia” e “a economia não vive sem a saúde”. Foi prontamente convidado para assumir o Ministério da Saúde. Primeiro, pediu tempo pra consultar a família. Depois, avisou que aceitava o convite.
A saída de Luiz Henrique Mandetta do governo se diferenciou das anteriores até na forma. Quando decidiu tirar Ricardo Vélez Rodríguez, Bolsonaro foi ao Twitter anunciar que havia escolhido Abraham Weintraub como substituto. No caso do falecido Gustavo Bebianno, a intensa fritura aconteceu na mesma rede social, mas foi articulada pelo filho 02, Carlos Bolsonaro. Desta vez, o presidente ligou para o gabinete do ex-ministro e o chamou ao Planalto. Uma vez com o pé fora do gabinete presidencial, Mandetta não teve dúvidas: em um gesto político claro, se antecipou e anunciou via Twitter a própria exoneração – frisando de quem era a responsabilidade: “Acabo de ouvir do presidente Jair Bolsonaro o aviso da minha demissão do Ministério da Saúde.” Em meia hora, a postagem que fala do SUS recebeu 127 mil curtidas.
No Planalto, o ex-ministro foi recebido por Bolsonaro e pelo titular da Secretaria de Governo, general Augusto Heleno. Em entrevista ao SBT, o presidente relatou que foi uma conversa tranquila “de 30 minutos”. Mandetta, que disse que a conversa foi “amistosa” e “agradável”, saiu de lá diretamente para o Ministério da Saúde, onde concedeu entrevista à imprensa com mensagens aos servidores e equipe. “Não tenham medo. Não façam um milímetro diferente do que vocês sabem fazer”, disse.
Depois, ao pendurar seu retrato na galeria de ex-ministros em uma cerimônia mais íntima que excluiu quase toda a imprensa, ele foi direto. Citando a “grande massa trabalhadora desse país”, questionou: “O que é falar para eles: ‘vão trabalhar, por que temos que passar por isso rápido’? Se passar por isso rápido significa estressar muito além do razoável o sistema de saúde?”. O SUS, segundo Mandetta, “vai pagar a conta de séculos de negligência, de favela, de falta de saneamento básico, de falta de cuidado com o povo mais humilde” – e sofrerá com o afrouxamento ainda maior das recomendações de distanciamento social que provavelmente vem por aí. “A gente tomou decisões baseado no que está acontecendo no sistema de saúde da Europa, da França, da Inglaterra. O sistema de enfermagem da Inglaterra foi atender com saco de lixo na cabeça”, exemplificou.
Mandetta sai do cargo com 76% de aprovação, segundo a última pesquisa Datafolha. Ontem, foram registrados panelaços em protesto à demissão em capitais como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, Belém, Porto Alegre, Salvador, Vitória e Recife. A primeira onda de protestos aconteceu com o anúncio do ministro via Twitter. A segunda começou às 17h05, quando no Planalto, Jair Bolsonaro apresentava à imprensa o novo ministro.
Com expressão fechada e vestindo roupa escura, Nelson Teich prometeu que
não vai haver nenhuma “definição brusca” em relação ao distanciamento social.
Desconsiderando dezenas de estudos feitos em vários países, o ministro afirmou
que faltam informações sobre o que acontece com a população diante de cada ação
tomada pelas autoridades e “é tudo muito confuso”. “A gente começa a tratar a
ideia como se fosse fato e começa a trabalhar cada decisão como se fosse um tudo ou nada – e não é nada disso”, disse,
mostrando que não é um às na retórica. Teich prometeu trazer mais dados –
porque, refletiu, com mais informação as coisas são menos decididas “na
emoção”.
O fato é que Bolsonaro frisou, em entrevista ao SBT, que a escolha de
Nelson Teich se baseou na seguinte orientação: “o povo quer voltar a trabalhar,
mas obviamente com critérios”. E, na portaria do Palácio da Alvorada, defendeu
a reabertura de escolas justificando que “não tem notícia de alguém abaixo de 10 anos de idade que foi a
óbito”. O novo ministro reforçou na coletiva que está em “alinhamento
completo” com o chefe e que veio para “trabalhar para que a sociedade retome, de forma cada vez mais rápida, uma vida normal”.
Teich também apresentou uma discussão “de hoje em dia” que teve início 50
anos atrás – os determinantes sociais da saúde – para dizer que saúde e
economia são complementares. Para ele, não se pode polarizar e “tratar pessoas versus dinheiro”
ou “empregos versus pessoas doentes” – embora seja isso que Bolsonaro
tem feito.
Introduzindo o debate sobre medicamentos e tratamentos, Teich prometeu que
vai tratar tudo “de forma absolutamente técnica e científica”. Mais tarde, ao
lado de Bolsonaro na entrevista ao SBT, teve que ouvir calado o presidente
dizendo que a cloroquina “é o que nós temos no momento que pode dar certo”, e
que “relatos de médicos de todo o Brasil” dão conta que o uso da substância
“tem dado resultado” – e que embora não haja “confirmação”, nem esteja
“cientificamente comprovado”, “caso [a eficácia] seja uma realidade lá na
frente”, todos [os médicos] que usarem “vão se sentir aliviados porque não só
tentaram, como salvaram vidas”.
Além disso, o novo titular da Saúde não terá liberdade de indicar seus
próprios assessores. Quem anunciou a novidade foi Bolsonaro. Segundo o
presidente, ele vai indicar pessoalmente “algumas pessoas” para a nova equipe.
Em tempo: a posição avessa aos direitos reprodutivos femininos, ou seja,
ser contra o aborto, também foi uma pré-condição para a indicação ao cargo.
EMPRESÁRIO RAIZ
Vários veículos já puxaram parte da ficha do novo ministro. A conclusão é que
Nelson Teich é empresário raiz, mas tem experiência Nutella no SUS. Nascido no
Rio de Janeiro, o médico teve contato com o Sistema Único na sua formação:
graduou-se pela UERJ, em 1980, e se especializou em oncologia no Inca, o
Instituto Nacional do Câncer.
Mas logo fundou o Grupo Clínicas Oncológicas Integradas (COI), em 1990,
que seria vendido 25 anos depois para a United Health. Depois da transação, ele
permaneceu no comando da companhia até 2018. Em 2006, fundou a MedInsight (MDI), uma empresa de pesquisa e
consultoria em economia da saúde, adquirida em 2011 pela Resulta CNP, que atua
na área de marketing e pesquisa de mercado. Em 2009, abriu outra empresa com
nome parecido – MDI Instituto de Educação e Pesquisa. Nessa companhia, foi sócio de Denizar Vianna, secretário de Ciência,
Tecnologia e Insumos Estratégicos da gestão Luiz Henrique Mandetta. A companhia
foi fechada em fevereiro do ano passado e poucos meses depois, em setembro,
Teich foi nomeado assessor de Vianna na Pasta, cargo que exerceu até
janeiro de 2020. Foi a sua única experiência de gestão no SUS.
Teich também criou o COI Instituto de Educação, Pesquisa e Gestão em
Saúde, uma organização sem fins lucrativos voltada para o câncer. E,
atualmente, é sócio da Teich Health Care, uma consultoria de serviços médicos.
Ele também tem laços com o Hospital Albert Einstein, tendo prestado consultoria
à instituição nos anos de 2010 e 2011.
E, claro, Teich já havia atuado como consultor informal para saúde na
campanha de Jair Bolsonaro. O programa de governo protocolado pelo então
candidato no TSE dedicou apenas quatro páginas à saúde (ou slides, qualquer
semelhança com uma apresentação de PowerPoint não era mera coincidência). A
premissa era: “a saúde deveria ser muito melhor com os recursos que o Brasil já
gasta!” E mais: “é possível fazer MUITO [em caixa alta mesmo] mais com os atuais
recursos!” Dentre as propostas, constavam a criação de uma carreira de
Estado para médicos nos moldes do Judiciário – algo que, definitivamente, não
combina com falta de recursos e sempre foi defendido pelas entidades de classe
médicas – e o nunca esclarecido credenciamento universal para que “todo médico”
pudesse atender a qualquer plano de saúde e toda a força de trabalho pudesse
ser utilizada pelo SUS. Durante a campanha, houve alguns debates dedicados à
saúde – inclusive no Roda Viva –, mas Bolsonaro nunca enviou representante.
Além do apoio da Associação Médica Brasileira (AMB), Teich recebeu aval do secretário especial de
Comunicação Social, Fabio Wajngarten, e do empresário bolsonarista Meyer Nigri,
dono da construtora Tecnisa. Este último, segundo a jornalista Bela Megale, já emplacou vários nomes no governo – inclusive o do
próprio Wajngarten, de quem é amigo de infância. Ricardo Salles também
teria sido indicação sua.
FUTURO DE MANDETTA
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), anunciou ontem que Luiz Henrique
Mandetta deve assumir cargo de conselheiro nacional do Democratas.
MAIS CRISE
Hoje, a coluna Painel traz a informação de que Bolsonaro vem dizendo a parlamentares – sem apresentar provas,
frise-se – que um dossiê com informações de inteligência concluiu que o
presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o governador de São
Paulo, João Doria (PSDB), e um setor do Supremo Tribunal Federal (STF) tramam
um golpe para derrubá-lo.
Ontem, ele já havia investido contra Maia em entrevista à CNN Brasil,
acusando o presidente da Câmara de “enfiar a faca no governo federal” e querer “assumir o papel do Executivo”. Também afirmou que “Paulo
Guedes não tem mais contato” com Maia, que retrucou, por sua vez, que o
presidente estava usando um “velho truque da política”. “Quando você tem uma
notícia ruim, como a da demissão do ministro Mandetta, ele quer trocar o tema
da pauta. O nosso tema continua sendo a saúde, as ações conduzidas pelo
ministro Mandetta”, afirmou.
Maia e Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente do Senado, divulgaram nota
conjunta afirmando que a demissão “não é positiva” e que o ex-ministro foi
“verdadeiro guerreiro”. “A maioria das brasileiras e brasileiros espera que o
presidente Jair Bolsonaro não tenha demitido Mandetta com o intuito de insistir numa postura que prejudica a
necessidade do distanciamento social e estimula um falso conflito
entre saúde e economia”, diz o texto.
Bolsonaro reafirmou ontem a intenção de enviar um projeto de lei ao
Congresso para aumentar a lista das atividades consideradas essenciais e,
assim, flexibilizar pelas beiradas as medidas de distanciamento adotadas por
governadores e prefeitos. “O que é uma atividade essencial? É você ter seu salário no final do mês. Agora, aqueles
outros que não podem trabalhar, especialmente os mais humildes, como poderão
levar um prato de comida pra casa?”, questionou.
PERTO DO COLAPSO GERAL
Falta pouco, bem pouco. Na próxima terça-feira, dia 21, o número de leitos de UTI
no país como um todo já não vai ser suficiente para atender à demanda. A
conclusão é de um modelo matemático feito por pesquisadores das universidades
federais de Alagoas e Rio Grande do Norte, entre outras instituições. Só que o
resultado leva em conta todos os cerca de 60 mil leitos disponíveis no Brasil,
e a situação é diferente em cada estado. Ou seja: em alguns lugares, o caos
chega bem antes.
No Ceará, já chegou. O sistema colapsou ontem, com 100% das UTIs ocupadas, e ainda
há pelo menos 48 pacientes na fila de espera. Só há 310 leitos de UTI no total.
O pior é que o pico das infecções ainda não aconteceu por lá. Como relatamos
ontem, o governo do estado esperava que isso aconteceria “só” na terça-feira
que vem, mas as coisas estão piores do que se previa. E a projeção já era ruim o
suficiente. Segundo um documento publicado pelo estado na quarta à noite, a
partir do dia 5 de maio poderia haver 250 mortes por dia caso o comportamento
se mantivesse. “A pressão assistencial, independente dos números, é muito
grande sobre os leitos de UTI porque não conseguimos abrir todos os 800 leitos
que a gente projetava. Nossos respiradores não foram entregues, e estamos com
muitos problemas em relação a isso”, diz Magda Almeida, secretária-executiva de
Vigilância e Regulação, no G1. Mesmo os leitos de enfermaria devem se
esgotar na semana que vem.
O colapso no Ceará acabou se antecipando ao do Amazonas, que, no entanto, segue numa situação complicada.
Ontem chegaram 25 novos leitos de UTI no hospital Deplhina Aziz, em Manaus.
Ainda assim, a capacidade total é de apenas cem, e já há 75 pacientes graves de
covid-19 em vagas semi-intensivas. Aliás, cenas de horror já começam a
aparecer. Um vídeo gravado no hospital estadual João Lúcio, também na capital,
mostra uma ala onde dez corpos dentro de sacos mortuários dividem espaço com
pacientes.
A Justiça acatou uma ação do Ministério Público e determinou uma série de medidas no estado, como a
contratação dos leitos já existentes em outros hospitais e a retirada dos
pacientes que estão sem assistência nos prontos-socorros. Do interior, em
Manacapuru, chega uma boa notícia. Na cidade que concentra o maior número de
casos fora de Manaus até agora – 146, com seis mortes –, um hospital de campanha foi inaugurado para atender aos
cerca de 300 mil habitantes do município e do entorno. Há que ver se o número
de leitos é suficiente: são 38, sendo cinco infantis.
Mesmo que 26% de todos os leitos de UTI do país estejam em São Paulo, um
dos hospitais da capital já atingiu sua capacidade máxima ontem. No Emíio Ribas, todas as 30 vagas de UTI estão ocupadas por
pacientes com coronavírus, e a unidade recebe todo dia cem pedidos de vaga.
Outros sete hospitais estão com mais de 70% de ocupação nas UTIs, e alguns com
mais de 80%.
Em tempo: municípios do Rio e do Espírito Santo receberam do Exército um questionário com o carimbo de “URGENTE”. Tinham que
responder sobre a quantidade de cemitérios e a capacidade de realizarem
sepultamentos em massa.
NÃO CONSEGUEM CHEGAR
Não bastasse a insuficiência de leitos no país, o Brasil tem 1,6 milhão de pessoas vulneráveis ao coronavírus
que têm dificuldade para chegar às unidades de saúde capazes de fazer a
internação. Isso só nas 20 maiores cidades. O Ipea chegou a esse número
considerando a população de baixa renda que têm mais de 50 anos e que mora em
uma distância maior do que cinco quilômetros dessas unidades. E média, 41% das
pessoas de baixa renda e mais de 50 anos terão essa dificuldade. No Duque de
Caxias, estado do Rio, está o pior percentual: 85%.
NOS PRESÍDIOS
Um pouco silenciosamente, o novo coronavírus começa a se espalhar em unidades
prisionais. Faz pouco mais de uma semana que o primeiro caso foi registrado em um presidio
brasileiro, no Ceará. Em seguida, houve confirmações no Pará e no Distrito Federal. Ontem, os três primeiros casos
entre detentos foram confirmados em São Paulo, na Penitenciária II de Sorocaba. O número de infectados no DF começa a crescer, e
muito. Agora, já são 63 confirmados, entre detentos e policiais – e há 38
em investigação.
Embora as confirmações ainda sejam poucas, queremos lembrar que os testes
também são. Uma matéria do site Mother Jones traz dados extremamente
preocupantes sobre uma prisão estadual dos EUA que conseguiu testar todo mundo
da mesma ala depois de encontrar um caso positivo, no fim de semana passado.
Dos 46 homens que estavam presos com o infectado, nada menos que 43 foram
diagnosticados também. Todos eram assintomáticos. Por lá, penitenciárias federais
em Nova Iorque e Chicago já enfrentam grandes surtos.
AFASTADOS
O número de profissionais de saúde afastados do serviço já passa de oito
mil. O levantamento foi feito pela Folha junto às secretarias de saúde, se
refere a pessoas com sintomas de covid-19 ou que fazem parte dos grupos de
risco. Só na capital de São Paulo são quase quatro mil.
MAIS GENTE
A Câmara aprovou ontem um projeto de lei ampliando o número de pessoas que podem receber os R$ 600 emergenciais.
A principal mudança é englobar quem teve rendimentos tributáveis acima de R$
28,5 mil em 2018. Só nisso já devem ser mais 7,5 milhões de pessoas, segundo o
secretário de Previdência, Narlon Nogueira. Também ficam incluídos pescadores artesanais
nos meses em que não recebem o seguro-defeso, as mães menores de 18 anos, pais
solteiros, empregados rurais contratados para colheita por safra e empregados
domésticos ou intermitentes que tenham renda menor que um salário mínimo. Além
disso, vai poder receber mesmo quem estiver com o CPF irregular. Ainda falta
analisar algumas emendas antes que o texto vá para o Senado.
UMA BOA NOTÍCIA
O remdesivir, medicamento da Gilead que desperta muita ansiedade desde que
começou a ser testado contra o coronavírus, tem dado bons resultados em ao
menos um dos ensaios clínicos: em um hospital de Chicago que vem usando o
remédio para pacientes graves, quase todos estão recebendo alta em uma semana. “A melhor
notícia é que a maioria dos nossos pacientes já recebeu alta, o que é ótimo.
Apenas dois pacientes morreram ”, disse Kathleen Mullane, especialista em
doenças infecciosas da Universidade de Chicago que supervisiona os estudos no
hospital. Segundo o Stat, 113 pacientes participaram na unidade até agora.
Esses não são os resultados completos. É preciso avaliar o que acontece nos
mais de 150 locais que estão conduzindo o mesmo estudo simultaneamente, com 2,4
mil pacientes em estado grave. Outros 169 lugares estão usando o remédio em
casos moderados. E, mesmo quando chegarem essas conclusões, a
coisa ainda é complicada: como a própria Mullane explica, não há pacientes
recebendo placebos para comparação. “Mas certamente quando começamos, vimos
curvas de febre caindo (…) Vimos pessoas saindo dos ventiladores um dia após o início da terapia.
Portanto, nesse campo, em geral, nossos pacientes se saíram muito bem”,
pontuou.
SEGREDO REVELADO
Por aqui, o ministro da Ciência Marcos Pontes disse que manteria em segredo o
nome do remédio que o governo vai testar para tratar coronavírus – para
evitar que as pessoas o comprassem em massa – , mas, estranhamente, logo a
seguir nome foi revelado. É o vermífugo Annita. Agora a Anvisa publicou uma
portaria proibindo sua venda sem receita. Dissemos ontem e
reforçamos: só foram feitos testes in vitro, sem uso em seres humanos.
Ninguém faz ideia ainda do resultado que pode ter em pacientes.
E por falar em remédio: para amantes da cloroquina, um estudo conduzido em
Manaus que mostrava benefícios discretos e riscos de morte com as doses
utilizada na China virou motivo de briga. E rendeu ameaças de morte aos
pesquisadores: “Deve ser espancado quando pisar na rua!!“, é o tipo de
mensagem que passaram a receber nas redes sociais. Os defensores do remédio
dizem que a alta dosagem foi usada no estudo de propósito, para desacreditar o
medicamento. A polícia do Amazonas investiga as ameaças.
PLANO ANUNCIADO
Com perto de 700 mil infecções e mais de 30 mil mortes, os Estados Unidos se
preparam para sair da quarentena. Donald Trump anunciou ontem seu plano. Como
esperado, houve um recuo: antes ele dizia que deveria centralizar as decisões,
e agora definitivamente passou a bola para os estados. O que é bom.
A orientação geral é que o processo seja feito em três fases, com um intervalo de duas semanas entre elas.
Não há data para cada estado começá-lo, mas é recomendado que eles documentem
uma trajetória descendente nos casos, também por duas semanas, antes de iniciar
a primeira etapa, quando restaurantes, cinemas e instalações esportivas
poderiam abrir, desde que mantendo distanciamento social. Na segunda, abrem as
escolas. Na terceira, voltam as visitas a hospitais e asilos. E a vida volta
mais ou menos ao normal, mas com regras de distanciamento. Se no meio do
caminho os casos subirem de novo, é preciso voltar atrás.
Um dos problemas é que fazer esse manejo exige bastante testagem, para
identificar quando as coisas saem dos eixos. O país finalmente começou a testar
muito nos últimos tempos, e já são 3,4 milhões de pessoas examinadas. Mas o
plano de reabertura da Casa Branca não diz nada sobre isso.
AGORA É PESSOAL
Nos EUA, congressistas republicanos pedem a Trump que considere seguir com o
financiamento à OMS – desde que caia o diretor-geral da Organização, Tedros Ghebreyesus.
Uma carta com essa demanda foi escrita por 17 deles e enviada ao presidente.
Imagem: Bolsonaro com novo ministro da saúde, Nelson Teich | Marcello Casal Jr /
Agência Brasil
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1 comentário:
Cadê as imagens que provem a carência de vagas ou a não existência delas? Tenho dúvidas em relação as informações estampadas pela a prefeitura de São Paulo. Informaram 61 mortes na região da Sé. Moro no centro e ando em vários condomínios, inclusive noutros bairros. SE REALMENTE, HOUVESSEM ESSAS MORTES, EU SABERIA, POIS TENHO MUITOS AMIGOS ZELADORES, PORTEIROS E COMERCIANTES. Estão mentindo e gastando dinheiro de forma questionável com esses tais hospitais improvisados. Vamos ser criteriosos no que divulgamos e naquilo que absorvemos daqueles em que confiamos nos trazer informações. Em tempo, os tais anteveres dos especialistas alarmistas deram em erros. O pior pode ser a paralisia financeira. Após a peste vem a miséria. O presidente esteve errado em solicitar o retorno ao trabalho de quem tivesse condições? Abraços!
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