sexta-feira, 15 de maio de 2020

Maioria no parlamento timorense acusa presidente daquele órgão de vários crimes


Díli, 15 mai (Lusa) -- As bancadas da Fretilin, PLP e KHUNTO, que representam a maioria no parlamento timorense, acusaram hoje o presidente daquele órgão de crimes de "abuso de poder, contra o Estado e de subversão" por paralisar o funcionamento parlamentar.

"Arão Noé Amaral, de forma premeditada e intencional, quer paralisar funcionamento do Parlamento Nacional para trazer benefício político ao CNRT, procurando obrigar Timor-Leste a fazer eleições antecipadas", afirmaram os partidos num comunicado conjunto enviado à Lusa.

"Este ato de paralisação do funcionamento do Parlamento Nacional constitui um crime de abuso de poder, um crime contra o Estado e um crime de subversão", apontaram.

Os deputados acusaram Arão Noé Amaral de estar a representar apenas os seus interesses pessoais e do seu partido, o Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), uma "minoria no Parlamento Nacional", quando "a maioria absoluta quer que o parlamento funcione bem e normalmente".

Os deputados acusam ainda os parlamentares do CNRT de "boicotarem as atividades das comissões especializadas" e que "alguns funcionários tiveram ordens para boicotar a atividade da comissão, com a intenção de paralisar o funcionamento do parlamento".

"Quem comete este ato, desde o senhor Arão Noé Amaral até aos funcionários, tem que ser presente à Justiça para responder por crimes que cometeram contra o Estado".


As bancadas -- que representam 36 dos 65 deputados - reiteraram a exigência ao presidente do Parlamento para que cumpra o regimento e agende o debate de um pedido da sua destituição do cargo.

"Este requerimento tem que ser obrigatoriamente debatido e votado no prazo máximo de cinco dias", prazo que já foi ultrapassado, refere-se no comunicado.

"Por isso, hoje, os 33 deputados voltaram a escrever ao presidente do Parlamento Nacional para que convoque de imediato uma sessão plenária para votação do pedido de destituição", indica-se na nota conjunta.

Os deputados da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), do Partido Libertação Popular (PLP) e do Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) consideram o agendamento obrigatório, citando o regimento.

Esse texto determina que para a destituição tem de ser apresentado um pedido "devidamente justificado" num "requerimento subscrito por um mínimo de 10 deputados", que terá de ser votado numa sessão plenária "a ter lugar num prazo não superior a cinco dias".

A destituição é aprovada "com o voto da maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções", tornando-se efetiva imediatamente.

Arão Noé Amaral, presidente do Parlamento Nacional, deixou passar o prazo previsto no regimento sem agendar qualquer reunião plenária, argumentando, entre outros aspetos, que o pedido não está devidamente justificado, que o país está em estado de emergência e que o Presidente deveria dissolver o parlamento porque o país está há mais de 60 dias sem Orçamento Geral do Estado (OGE).

Os deputados notaram que Arão Noé Amaral rejeitou, em conferência de imprensa, os argumentos dos deputados "que representam a maioria absoluta do parlamento", mas que isso não dá lugar "a que não agende o plenário para a votação da sua destituição".

"Se o senhor Arão tem mesmo razão e conseguir convencer os deputados que não cometeu nenhum erro, tem que agendar o debate no plenário e, no fim, decide-se com os votos de todos os deputados que estiverem presentes", refere-se na nota conjunta.

As bancadas consideram que ao não convocar sessão plenária, Arão Noé Amaral está a faltar à sua responsabilidade enquanto presidente do Parlamento Nacional.

"O presidente do parlamento não tem poder absoluto, não pode usar a sua competência para retirar ou ignorar o poder dos deputados. Nas tomadas de decisão o presidente representa unicamente um voto, porque as decisões do parlamento são decisões colegiais", sustentaram.

Em vez de cumprir o regimento, que obriga ao debate da destituição em cinco dias, Arão Noé Amaral "ignora" o pedido dos deputados, estando o parlamento "há três semanas", sem Conferência de Líderes ou sem plenários, salienta-se.

Ao mesmo tempo acusaram Arão Amaral de "mentir ao público" ao considerar que o Presidente tem que dissolver o parlamento e convocar eleições pelo facto de o país estar sem orçamento há mais de 60 dias.

Por tudo isto, os deputados explicam que a única solução é que os vice-presidentes do parlamento convoquem e agendem uma sessão plenária, considerando que têm competências para substituir o presidente "nas faltas ou impedimentos deste".

"Esta substituição é uma substituição automática com caráter de interinidade. Só precisam de delegação de competências para desempenharem funções de representação", frisam.

Esse pedido, explicam, foi já formulado pelas bancadas aos vice-presidentes numa carta enviada na quarta-feira, esperando que estes assumam as funções "rapidamente".

Apesar do país estar em estado de emergência devido à covid-19, os deputados consideram que "os órgãos de soberania têm que manter o seu funcionamento".

A votação da destituição visa "garantir o funcionamento normal do parlamento, para procurar um caminho para acabar com o impasse político em que o país está há três anos" e para ajudar o Governo no combate à covid-19 e nas suas consequências económicas.

ASP // JMC

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